P.O.V. Katniss.

Já ouviu aquele ditado “a curiosidade matou o gato”? Não que eu seja uma gata, nem que eu tenha morrido, mas tem o mesmo sentido. Depois que Peeta saiu, eu fiquei pensando no que ele disse. Eu fiquei curiosa, ele tinha dito que as pessoas estavam voltando, e que estavam reconstruindo o distrito. E confesso que o fato de ele achar que eu precise de sol influenciou um pouco também. Em fim, eu resolvo seguir o seu conselho e me arrumei, penteei os cabelos e os deixei soltos e coloquei o casaco de meu pai, e as botas. Quando sai pela porta demorou um tempo para que meus olhos que já haviam se acostumado com o escuro se acostumasse com a visão do sol. Ele não chegava a ser forte. Estava escondido atrás de varias nuvens que anunciavam que a noite seria chuvosa. Mas a claridade apenas, me cegou. Minhas pernas também não estavam acostumadas a andar mais do que a distancia entre os cômodos vazios de minha casa. Depois que meus olhos se acostumaram eu comecei a andar e senti uma leve fraqueza, mas continuei. Ele disse que se eu apenas saísse na vila já veria a mudança e é verdade. Tem movimento nas casas, pessoas entrando e saindo, gente andando, janelas abertas, cheiro de comida, tem algumas crianças brincando na frente das casa mais próximas ao portão de saída, bem longe da minha casam e é por isso que eu não as percebi, mais perto seria impossível tal ato, elas correm, gritam, caem, choram. Enquanto vou andando devagar, cabeças se viram em minha direção e eu abaixo a minha e olho para o chão até sair da vila.

Tem construções por todo o lado em volta da vila, estão construindo novas vilas? Têm algumas já prontas, que também tem movimento. Eu vou andando e visualizando. E quanto mais eu ando, mais pessoas aparecem, elas olham para mim, e quando eu olho para elas, elas sorriem, uma mulher velha de uns 80 anos me faz parar e aperta a minha mão então vai embora sem falar nada. Estão sorrindo para mim, acenando. Dizendo “como é bom vê-la” por que eles estão fazendo isso? Eles não sabem que eu sou uma assassina? Eles me viram matando gente, todos viram. Eu aguento só por mais alguns passos, mas quando chego próximo a praça vejo que tem mais gente. Devo ter visto pelo menos umas 50 pessoas, não vou aguentar ouvir as 50, então eu dou a volta e obrigo as minhas pernas já cansadas a correrem.

Enquanto eu corro lagrimas escorrem. Quando eu comecei a chorar? Por que eu estou chorando? Ouço um som abafado de algo batendo no chão repetidas vezes, eu entro em casa e fecho a porta mas não consigo trancá-la, me sento no chão.

— Katniss? — Peeta irrompe pela porta, e não me vê não chão, a força com que ele empurrou a porta me empurra também. — Ai meu Deus desculpa eu não vi você ai! — limpo rápido as minhas lagrimas, e ele me ajuda a levantar. — O que houve? Eu vi você na praça, e ai do nada você começou a correr, eu te chamei, mas acho que não ouviu!— ouvi? Eu nem ao menos o tinha vista lá. — O que aconteceu? —ele repete.

— Eu não consigo Peeta! — eu só o tenho aqui! Mesmo que ele não vá me entender pelo menos eu vou estar melhor por ter falado com alguém. — Eu não consigo!

— você conseguiu, você foi longe!

— Não, eu não posso ir lá.

— As pessoas estavam te tratando bem, ninguém está te julgando!

— Mas deviam! — mais lagrimas caem e eu não consigo contê-las, estamos parados frente a frente perto da porta. — Eu fui a culpada, pela morte de metade das famílias deles. Eles deviam me odiar. — Choro tanto agora que minha garganta produz ruídos guturais. Ele se aproxima.

— Ei, vai ficar tudo bem! — ele se aproxima mais e eu me afasto, ele também devia me odiar, eu matei a família dele.

— Não Peeta não vai! Eu ando na rua e as pessoas me olham como se eu fosse uma heroína! Como se eu tivesse feito um favor enorme para elas. Mas eu não fiz! Tem sangue em minhas mãos Peeta! Sangue de gente inocente que não devia ter morrido!

— Pare Katniss!

— Não Peeta! Essa é a verdade! Eu sou uma assassina! As pessoas me dizem que o sacrifício dos que morreram foi para um bem maior, que não foi em vão, que vai ficar tudo bem. Mas não vai! Eu matei aquelas pessoas! — a essa altura eu já estou gritando— Elas estão mortas por minha culpa! Quase não sobrou ninguém lá fora! Eu matei todos, eu perdi todo mundo! Até a minha família!

— Eu sei como você se sem....

— Não você não sabe! — eu o interrompo — Eu fui o tordo. Eu podia ter evitado aquilo tudo, mas eu não fiz nada!

– você não devia ter feito nada! Você foi lá fora, você viu como as pessoas estão se reerguendo, veja o que você causou!

— Eu posso ver aqui dentro o que eu causei! E sabe o que eu vejo? Nada, ninguém! Minha família não está aqui. Ou eu os matei ou eu os afastei! Você não sabe como é isso!

— Minha família também está morta! Não me diga que eu não sei como é. Eu também não tenho mais ninguém lá fora!

— Mas não foi você que os matou! Fui eu!

— Não, não foi! Foi a capital, foi Snow, foi Coin, e todos eles já pagaram por isso!

— Vai embora Peeta! — eu grito para ele e me viro para a sala, se ele continuar a falar eu não vou aguentar! Ele está me deixando mais nervosa. Ele está adicionando gente a minha lista. Coin, Snow! — ele me segue, e agora estamos parados na sala.

— Katniss nós só temos um ao outro agora! Não me afaste, ou então nós dois estaremos sozinhos! — ele grita e se aproxima, eu me afasto e ele se aproxima mais rápido, ele me abraça e eu o empurro, mas não tenho força suficiente, ele pega meu pulsos e me abraça mais forte. Eu começo a chorar novamente, e minhas pernas sedem, eu começo a cair então ele nos empurra até o sofá. Penso que ele vai me soltar no sofá e vai embora, mas ele se senta no sofá comigo ainda me abraçando, eu sedo e o abraço de volta. Como senti falta de seu corpo, do seu calor, do seu cheiro. Ele tem cheiro de segurança, de paz, de família, e melhor ainda, ele tem cheiro de amor, carinho, afeto. Não sabia o quanto eu estava carente até esse momento. Deve estar sendo constrangedor para ele. E se ele estiver nesse momento lutando contra a sua vontade súbita de me matar? Mas eu sou egoísta, eu preciso desse momento. Então eu repito o que me acalmou da ultima vez. A lista.

— Glimmer — eu falo com a voz rouca e baixa e abafada, por estar com a cabeça esmagada em seu peito. — Marvel, Cato. Twill, Bonnie, Cinna, Mags, Gloss! — Ele aprendeu da ultima vez a não me interromper, me deixar no luto com as mortes em minha lista, sinto que ele estava se preparando para falar, dizer que Cinna e Mags não foram minha culpa mas ele para, e eu agradeço por isso, ele começa a afagar meus cabelos. — Pollux, Cressida, Mesalla, Boogs, Leeg1 e 2, Finnick. Prim! — Ele se mexe de novo ao ouvir esse nome, mas de novo desiste de falar, somente afaga mais os meus cabelos — Coin, Snow, seus pais, seus irmãos — ele me abraça mais forte o que eu achava ser impossível, e beija os meus cabelos, e volta a acariciá-los. — Nossa antiga vida! — e é a ultima coisa de que eu me lembro antes de cair no sono ali em seus braços, e seu que não terei pesadelos, porque ele está aqui de volta!