Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 96
Sempre Perto de Ti.




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Se qualquer pessoa perguntar onde essa história começou e quando ela teve início a resposta seria no início de todos os tempos. O início assinou seu próprio fim da mesma forma que do fim se dá ao início. A trajetória curta entre o início e o fim parece longa para nós, mas é algo que se percebe mais facilmente quando se tem o cérebro necessário para entender essa conexão tão próxima entre fim e início.

 

São seres bidimensionais que não conseguem enxergar um objeto tridimensional e seres tridimensionais não conseguem enxergar um objetivo e um caminho da quarta dimensão. Seres que não possuem mentes conscientes do universo não conseguem enxergar o caminho que ele trilha e o quão próximo está tudo.

 

Quando se está tão próximo assim de enxergar caminhos que nunca enxergou e ver coisas que nunca se imaginou, as coisas vão se mostrando aos poucos... Robin era capaz de ver algo próximo do que deveria ver quando alcançasse totalmente o que estava para alcançar. Ainda restava tempo e nesse tempo muito descobriria sobre si mesmo e sobre o mundo

 

Mas por que a história de Robin se baseia em sua jornada de introspecção? Por que Robin não se comunica com outros que mostram interesse em viver a vida humana comum. Ao que se parece, Robin vive exclusivamente como o herói que o universo precisa. Isso não é completamente verdade. Robin ainda faz compras e ainda ajuda velhinhas nas compras. Ainda caminha pelas ruas e vai aos supermercados. Ele não é um herói. Ele é o seu homem comum do dia a dia porque histórias são sobre homens comum do dia a dia desde que se inventaram histórias porque os homens comuns do dia a dia adoram ver representações dos homens comuns do dia a dia mesmo que essas representações sejam alienígenas e durante o dia sejam repórteres e quando surge um perigo, Tcharam! Tornam-se super heróis sem óculos e com roupas coladas.

 

Tá, Robin não é isso. Robin é algo diferente.

 

 

Robin sofre um pouco porque tudo no mundo se conecta a ele. Não tem nada que não diga algo a ele mesmo que isso não indique enunciado de palavras diretamente por uma boca. As paredes não tem bocas, mas ainda assim elas dizem para eles o que elas geralmente ouvem quando ninguém mais está ouvindo. A maioria das paredes nem é tão fofoqueira, falam mais sobre o fato de estarem tão chateadas por terem que estar ali e estão ali há tanto tempo. Há muito tempo atrás eles eram pedras em algum lugar distante dali e sentiam falta de onde eram e de sua família. Perguntavam-se em qual parede estava seu filho Corn.

               

Robin importava-se sim com todos os problemas do mundo e também com a saudades da parede John do seu filho Corn. Mas não queria prestar atenção nisso agora e nem podia. Ele queria comprar batatas para assar batatas. Precisava recuperar os carboidratos. Os cientistas podem tê-lo transformado em um ser humano super poderoso e com poder ilimitado mas ele ainda precisa recuperar o carboidrato que ele perde quando voa por aí pela cidade. Talvez seja por isso que ele tenha parado de voar tanto por aí. Agora que o espírito de herói tinha sumido, ele se sentia tão estranho enquanto voava.

               

— São... Cinco batatas e...

               

— Eu sinto falta do meu tio José tanto, mas tanto.

               

Robin já tinha entendido que a parede sentia saudades das outras pedras que moravam com ele. Ele queria conseguir ignorar isso.

              

  É pior quando ele consegue escutar os átomos vibrando e conversando. Isso geralmente acontece de noite, quando está próximo de tentar pegar no sono. Agora estava próximo de paz. As batatas não estavam falando e nem as geladeiras. Não tinha muitas pessoas então não se preocupava muito. As atendentes do caixa eram as únicas presentes no sacolão. Elas estavam conversando entre elas sobre a partida de futebol da semana passada que a caixa A infelizmente perdeu e a caixa C não sabia o que responder porque não se importa nem um pouco com futebol. Era mais fácil para o Robin não escutar o que as pessoas estavam dizendo através de sua energia quando elas estavam enunciando palavras com as suas bocas. Ele nem gostava muito de ouvir porque sentia muita falta de privacidade.

               

— Mas você não acha falta de privacidade estar ouvindo o que estou dizendo – disse a parede.

              

  Robin não sabia que a parede era consciente de que Robin podia ouvir o que ela dizia.

               

— Mas você não estava dizendo isso tudo para mim?

               

— Mais ou menos – respondeu a parede, e olhou para baixo caso tivesse olhos. Não, as paredes não tem olhos nem bocas porque se tivessem seriam horripilantes demais. Era apenas uma parede normal. Assim como batatas não tem bocas.

               

Robin casualmente ficava pensando no que o sapo chefe da academia dos sapos daquela ilha lá que ele não lembra onde fica tinha dito. Tinha dito que precisava derrotar o Xupa Cabrinha do outro universo quando esse fosse atrás de Xupa Cabrinha. Robin tinha uma espécie de sentido herói que conseguia dizer a ele onde Xupa Cabrinha estava e se caso ele estivesse em perigo o seu sentido herói o diria. Era assim que funcionava e foi assim que encontrou Xupa há alguns capítulos anteriores em um bar enchendo a cara. O que será que Xupa estaria fazendo agora?

               

Mas, antes de Xupa e antes de se preocupar com problemas que envolvam a morte do universo ou qualquer outra dessas baboseiras o herói se surpreendeu ao perceber que uma pessoa tinha entrado e estava olhando as cenouras. Que estavam a frente das batatas. Então Robin tinha alguém em sua frente.

               

Robin se sentiu tão invadido. Ele estava tendo pensamentos tão importantes sobre tudo e batatas e paredes com boca e de repente alguém tinha aparecido. Ele se acalmou ligeiramente e recuperou sua seriedade para analisar quais batatas levar. Ele não estava realmente as analisando porque não sabia analisá-las, geralmente Frota que fazia as compras quando moravam juntos. Ele queria voltar a morar junto com Frota.

               

— Essa cenoura aqui tá boa? – perguntou a outra pessoa. Maior em altura do que Robin. Robin se sentiu intimidado.

               

Ele não sabia dizer se a cenoura estava boa ou não.

               

— Eu acho que está – chutou.

               

A pessoa considerou bastante a opinião de Robin e a averiguou enquanto averiguava o estado da cenoura. Foi procurar as cebolas. Parecia ser uma cliente regular do salão porque sabia com precisão sem precisar olhar antes onde estava tudo que precisava.

               

Robin sentiu uma cebola falando. Uma cebola que a moça alta tinha colocado em sua mão.

               

A cebola falava coisas horrorosas. A cebola falava de um plano maligno de matar essa moça e descobrir onde estava seu projeto.

               

Robin achou isso muito estranho enquanto olhava para a moça que colocava a cebola na bolsa de plástico. Ela se dirigia ao caixa.

               

Ele devia avisar para a moça sobre o plano maligno da cebola? Desistiu porque provavelmente ela confiaria mais na cebola do que num maluco dizendo que uma cebola quer matar ela.

               

Tem que focar nas batatas.

               

Nas batatas.

               

Colocou duas batatas na sacola.

               

Antes que percebesse estava em frente à jovem. Ela não era tão jovem assim, na verdade, tem muitos anos de idade da mesma forma que os outros deuses também tem.

               

— Por que você diz isso? – perguntou Edésia, estava confusa. Não sabia que cebolas podiam falar e que podiam tramar planos contra pessoas.

               

Essa é uma cena muito complicada de entender porque Robin por um breve período foi possuído pelo espírito de herói e correu atrás da jovem até alcançá-la do outro lado da rua. Ele quase foi atropelado no caminho. Ele acusou a cebola, ainda possuído pelo espírito heroico, de formação de quadrilha e homicídio culposo. Ele não lembrava disso, mas com alguns segundos encarando os olhos bonitos de Edésia enquanto as pessoas passavam por eles pelo canto do asfalto curto naquela rua apertada de subúrbio percebeu o que tinha acontecido. Foi que nem quando acabou matando aquele vilão estranho em armadura supostamente indestrutível.

               

— É que...

               

Edésia o encarava estranhamente. Ele notou que segurava o braço da jovem com muita força. Ele desfez disso e olhou-a nos olhos, decidiu retirar-se e voltar. Precisava pagar pelas três batatas e duvidava que o herói tinha feito isso.

               

— Eu acredito em você. – Edésia acreditava em Robin porque ele era o protagonista. Ou alguma coisa parecida como um protagonista.

               

Robin voltou a olhar para ela e esperou que ela dissesse algo mais. Ele estava muito sem graça e estava começando a corar bastante.

               

— Por que acredita em mim?

               

— Por que você disse que essa cebola quer me matar?

               

— Porque eu escutei ela dizendo isso.

               

— Eu não sabia que cebolas conseguiam falar.

               

— Sim, acho que você devia esquecer que isso aconteceu.

               

— Mas ela falou, não falou? – persistiu Edésia. Ela estava cheia de insegurança nesse novo mundo que acordara.

               

— Falou – disse Robin.

               

— Eu sei o motivo dela ter feito isso. Foram os outros deuses.

               

Robin não sabia o que responder porque parecia que ela estava falando coisas piores do que uma cebola querendo matá-la. Parecia que ela estava dizendo que os deuses mandaram uma cebola matara.

               

— Muito obrigado – ela agradeceu e jogou a cebola no chão.

               

Robin decidiu perguntar por que os deuses decidiriam mandar uma cebola para matá-la.

               

— Eles não conseguem me matar diretamente. Eles não conseguem me encontrar nunca.

               

— Então como essa cebola te encontrou? Pra te matar. Ela não te encontrou. Foi mais você que encontrou ela.

               

— Eu não sei. Certamente essa cebola não é especial. Ela não tem vontade própria. Ela se tornou assassina porque eu a toquei.

               

— Por que os deuses querem te matar?

               

— Os outros deuses querem meus estudos. Eu... sonhei com isso. – Edésia não sabia o quão estranha estava soando porque era natural para ela falar sobre os deuses. E para alguns humanos também é natural falar sobre os deuses.

               

— Que deuses?

               

— Eu sonhei com Arquimedes e...

               

— Mas Arquimedes é um filósofo grego.

               

— Sim, e eu também tenho o nome da filósofa grega Edésia pois jurei o amor ao saber.

               

— Meu nome é Robin Wood. – Julgou ser um bom momento para se apresentar.

               

Ela olhou para a cebola jogada no asfalto e por algum motivo se sentiu culpada. Olhava com um olhar tristonho. Então olhou de volta para Robin.

               

— Ela não diz mais nada, agora.

               

— Alguma outra cebola disse algo?

               

— Não.

               

— Muito obrigada, Robin Tennyst Wood.

               

— Está tudo bem. – Robin sentia-se incrivelmente tocado. Como esse encontro tivesse mudado a sua vida, ele se despediu de Edésia trocando olhares com a mesma. A jovem que é procurada por deuses virou à esquerda depois de andar alguns metros e nunca mais ela e Robin se encontraram.

               

Como muitos personagens que gostam de viver a vida comum, Edésia gostava. Ela se parece bastante com Quenium, que coincidentemente trocou bom dias algumas ruas enquanto caminhava. Ela não tinha dinheiro para pagar nenhuma passagem de ônibus ou um carro. Deuses não trabalham para ter dinheiro.

               

Ela caminhou vagarosamente, com toda a paciência que podia, por aquelas ruas limpas e bonitas. Estava no centro daquela cidade. O centro era bonito. Mas mais bonito que o centro, para Edésia, eram todas aquelas pessoas que se movimentavam. Ela podia entender muitas coisas, mas não entendia que todas aquelas pessoas não achavam bonito estarem ali ao mesmo tempo naquelas ruas apertadas. O centro era apertado demais para tamanho movimento.

               

Ela não entendia que elas estavam suadas e estressadas e tinham apenas alguns minutos para almoçar antes que voltassem ao trabalho. Muitas pessoas ali andavam de terno, o que era engraçado. Ela se esbarrou em muitas pessoas e uma delas tentou enfiar um canivete nas costas de Edésia. Ela deixou isso pra lá. Mortais não podiam feri-la. Claro que a cebola assassina também era mortal, mas ela poderia matá-la por dentro. Robin tinha realmente salvado a sua vida. Ela não precisava comer, é verdade, mas queria fazer fígado de boi acebolado. Ela admira bastante bois, mas acredita que também deve comê-los já que estão mortos. Não pode deixar que eles morram por nada. Se morreram, deve fazer bom uso de seu sacrifício para a continuação do ciclo infinito do universo. Apesar de que... São tratados tão mal...

               

Ela tinha desistido de comer fígado não porque tinha ficado sem apetite de tanto ver documentários sobre como animais são colocados em situações horrorosas na indústria alimentícia, mas porque ela não sabia se podia confiar nos fígados de boi. Ela tinha algumas cebolas e faria alguma coisa que pudesse comer com elas. Não sabia algo gostoso que se fa só com cebolas, mas tentaria fazer.

               

Ela sem querer esbarrou com alguma pessoa qualquer. Essa pessoa não tentou matá-la. Só se desculpou. Ela perdeu uma cebola se esbarrando na pessoa.

               

Ela não sabia mais se podia confiar nas pessoas ou nas cebolas. Ou nos fígados. Ela precisava ter cuidado em tudo que tocava.

               

Ela tinha alguns quilômetros para caminhar e quando encontrou um banco de ponto de ônibus se sentou. Era estranho. Ela amava tanto vida, mas... Deve ser meio fora de contexto de dizer repentinamente mas, acredite, não é o autor depressivo dizendo isso. Ela sentia que aquele mundo estava tão sem vida.

               

Fazia um tempo que ela não tinha os pesadelos...

               

Tinha uma pessoa lendo um jornal sujo de café ao seu lado. A pessoa lia a parte de futebol. Ela não se importava muito com futebol principalmente porque não conseguia lidar com o fato de não conseguir entender essa tal coisa do impedimento. Edésia achava isso engraçado.

               

Algumas outras pessoas estavam em pé no ponto de ônibus e não se sentavam ao lado de Edésia que queria que elas se sentassem ao seu lado. Não tinha nada de estranho em Edésia. Era apenas uma moça altinha de cabelos longos enrolados e presos com rabo de cavalo. De pele morena, nariz fofo e engraçado e usando um vestido que ia até seu joelho. Era um vestido verde. Usava chinelos e gostava bastante deles. Eram bastante confortáveis.

               

As pessoas sentar-se ou chegarem o mais próximo possível do banco do ponto de ônibus porque começou a chover e o banco tinha uma leve cobertura feita de alumínio. Todo o banco era feito de alumínio. Alguns cantos pareciam enferrujados e sujos, mas era natural pelo fato da decadência econômica do país e ninguém tinha nojo disso. Edésia se sentia mal. Nem estava para pegar um ônibus e as pessoas que estavam pegavam um pouco de chuva. A cobertura não era grande o suficiente para cobrir uma pessoa da chuva.

              

  Elas pareciam agitadas. Conversando sobre como os ônibus demoram e sobre como um motorista muito mal educado tinha tratado mal a mãe de alguém que uma das pessoas conhecia. A outra pessoa, que não conhecia quem estava reclamando e muito menos a mãe dessa pessoa, concordava. As pessoas tendiam a falar bastante.

              

  Edésia viu no jornal a imagem de Aristóteles. Um homem muito parecido com Aristóteles e com um terno bem medonho. Ela olhou concentrada para a figura no jornal.

               

— As cebolas não conseguiram te matar – disse Aristóteles.

               

— Não.

               

— Mas no próximo ônibus, alguém chegará e te matará.

               

— No próximo ônibus?

               

— É, o próximo ônibus que passar.

               

— E por que está me dizendo isso? Eu não iria fugir? – Edésia julgava ser uma alucinação.

               

Aristóteles suspirou. Ele olhou para cima como se estivesse olhando o homem que estava lendo o jornal. Suspirou de um modo como se estivesse chateado pelo fato de Edésia não parecer estar levando-o a sério.

               

— Edésia, acabou. Renda-se e nos dê o Projeto para que possamos voltar para o Alto das Constelações.

               

— Não.

               

— Um homem ungido pelo Caos está a caminho pela Ordem e virá te atacar. Você vai morrer. Não é um homem normal. Eu não queria te matar.

               

Edésia parecia calma, mas disse que queria matar Aristóteles.

               

— Mas eu já estou morto.

               

Ela pareceu confuso, mas depois pareceu entender apesar de não ter entendido.

               

— Minha faísca entrou em sincronia com a sua... Acontece.

               

— E se você não está vivo e não está planejando isso tudo, como sabe que irei morrer? Como que me alcançaram agora se não foi você que os disse que estou aqui? Quem os guiou até aqui?

               

— Ah, você sabe quem foi.

               

— Não sei.

               

— Você foi comprar cebola, não foi, Edésia?

               

— Fui, queria fazer fígado acebolado.

               

O homem que lia o jornal lambeu a ponta do dedo e passou a página do jornal. A traseira da página que ele lia, que era o que Edésia encarava desde o princípio e onde estava Aristóteles, agora era outra. Mas Aristóteles ainda estava lá. Só que estava em um local da página que Edésia não conseguia ver direito, mas conseguia ouvi-lo.

              

  - Foi você que me fez ter os pesadelos?

              

  - Não sei nada disso – Aristóteles pareceu ter achado a pergunta engraçada.

               

— Olha, eu sei que eu e Arquimedes e muitos outros fomos muito escrotos com você por muito tempo e queremos nos desculpar. Agora, por favor, me dê o Projeto para poupar a sua vida. O próximo ônibus não vai demorar pra passar. Uns dois minutos.

              

  - Como você... Sabe disso? Você pode ver o futuro? Você é onisciente? Você está morto. Como está falando comigo?

               

— Foi o que o B me contou.

               

— O que. – Foi uma daquelas perguntas que a gente não sabe perguntar porque não faz sentido perguntar. Então a gente esquece de soar como se fosse uma pergunta porque não conseguimos aceitar que estamos fazendo uma pergunta. Edésia não conseguia aceitar a pergunta porque o contexto não fazia sentido. Quem caralhos é B.

             

   - E o B mandou você contar pra mim? – Edésia aceitou a existência desse tal B.

               

— Não.

              

  - E por que está contando para mim?

            

    - Porque eu... Eu não sei. É que eu sou parte de você há um tempo. Não quero que você morra também. Eu me sinto seguro e confortável na sua mente. Você é uma boa pessoa. Na verdade...

              

  Depois de alguns segundos, o homem do jornal percebeu que não tinha nada que valia  a pena ler naquela página e decidiu ir para a próxima. A chuva parecia estar mais próxima. Aristóteles fazia alguns barulhos quando as páginas eram passadas. Dessa vez o homem não lambeu a ponta do dedo porque estava apressado para ler a próxima página. Estava em busca de informações importantes. Conhecimento.

               

Novamente Aristóteles e Edésia estavam cara a cara.

              

  - Eu não sei o motivo de ter dito isso agora pouco. De ter dito que quero voltar para o Alto das Constelações. Eu não quero... Aquele lugar me fez ser cego e idiota e na sua mente eu consegui descobrir isso. Mas... Eu não acho que você esteja bem fora do Alto das Constelações. E oferece que você dê o Projeto para os outros deuses porque é o único jeito deles pararem de te perseguir e porque eu não quero que você morra. Quero ter uma vida tranquila no seu cérebro.

             

   - Eu não gosto que você viva no meu cérebro. Eu não sei o que dizer ou escolher, Aristóteles, mas o Projeto não foi feito para deusinhos egoístas usarem quando bem quisessem. O Projeto é importante. É o que pode salvar todo esse multiverso e a Vida.

             

   - É... Você está ficando doente também de tanto tempo distante do Alto das Constelações. Não percebeu? Toda a quinta coisa que você tocar irá querer te matar. É o que o mundo faz com os deuses quando eles estão distante do Alto das Constelações. Ele conspira contra nós. Ele conspirou contra Platão e, coitado, você não sabe como ele está agora. E eu só sei porque o B me contou.

             

   - Eu não vou me render. – Foi só isso que Edésia disse. Como se estivesse ignorando toda essa alucinação.

              

  Então, o ônibus chegou. Era um ônibus indo para Burroughsville, mas estava escrito que era para Moby Dick. O motorista tinha esquecido de mudar a placa do ônibus mas as pessoas sabiam que era para Moby Dick porque aquele motorista em especial sempre esquece e todo mundo já sabe disso.

              

  Edésia decidiu sair dali porque temia o que Aristóteles tinha dito. Aristóteles a olhou levantar-se.

               

Você precisa saber que, quando começou a chover, ela teve que se apertar entre duas pessoas: a moça que reclamava dos motoristas de ônibus pouco educados e o homem que lia o jornal sedento pelo conhecimento esportivo. Ela tinha sentado, antes disso tudo, no banco de alumínio e, antes disso ainda, tinha se esbarrado com outra pessoa.

               

A quinta coisa que encostou desde que tentaram matá-la da última vez foi uma pessoa que descia do ônibus. Que aparecera para matar Edésia.


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