Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 95
Pais e Filhos.




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  Numa terra distante, o gelo domina. Num outro universo. Lá está Mormada, agora líder da tribo que o salvou. Mormada não sabia como tinha chegado a essa posição e simplesmente aceitava que agora aquela era a sua vida. Num outro universo, sem seus filhos, sem o seu trabalho, sem o seu dinheiro... O dinheiro não fazia falta. Dinheiro era um lixo que tinha se acostumado durante a sua vida. O que fazia falta, em todos os seus dias desde que se desencontrara, era o seu filho: Quenium.

 

Ele nunca mais veria Quenium e sentia isso. Ele pensava em seu filho de vez em quando, quando o frio e suas obrigações o permitiam. Por ser líder, estava quase sempre ocupado ouvindo as pessoas da tribo.

 

Não é como se tivesse algo para resolver naquelas terras geladas. Ele simplesmente conversavam com as pessoas que chegavam a ele. Com o tempo, aprendeu que elas só queriam um pouco de esperança para sair daquelas terras geladas. Eles diziam que moravam antes, há muito tempo, em terras tropicais. E que homens como Mormada chegaram e os expulsaram. Esses homens eram conhecidos como a Ira do Grande Xamã.

 

— O Grande Xamã os enviou para que libertasse aquela terra de nós. Não éramos mais merecedores de uma terra tão fértil e colorida. Viemos parar nesse vazio gelado. Comemos o que conseguimos, sobrevivemos.

 

Mormada não acreditava nisso porque não tinha o dedo do Grande Xamã nesses acontecimentos. Nunca negaria a figura divina daquela tribo de xamãs, mas negava mentalmente que aquilo tinha sido feito pela vontade de um ser superior. Aquilo tinha acontecido porque... Bem... Ele estudou história em sua infância e sabia que os homens brancos tomavam as terras férteis dos nativos e notou que nesse universo não era diferente. Era assim aqui também.

 

— Vocês não podem ficar assim, ficar pensando que eles fizeram mal porque vocês mereceram. Aquela terra foi onde vocês nasceram e deveriam continuar – diria Mormada, caso tivesse a coragem e a cara de pau de falar isso. Mas não tinha e não queria negar aos xamãs tudo que eles acreditavam. Então continuava calado. Isso mesmo, ele não disse nada, apenas ouvia a súplica dos outros.

 

— E nós encontramos você. Obrigado por aparecer. Você é a nossa esperança. Um sinal do Grande Xamã que um dia sairemos daqui. Um enviado do Grande Xamã.

 

Ele não podia negar àquelas pessoas que tinham dificuldades para continuar vivendo a esperança. Eram poucos. Eram menos de vinte pessoas e elas precisavam de esperança para continuar vivendo.

 

Ele queria poder ajudá-las. E por agora as ajudá-la com o que podia.

 

Vocês sabem como as coisas acontecem nessa história, né? De uma forma bem clichê, que nem em todas as histórias. Era um dia normal e Mormada estava ouvindo Chollone, que reclamava que a sua filha dormia durante as noites onde os mitos sobre o Grande Xamã eram contados. Mormada não tinha nada a dizer sobre isso, por ele a menina poderia dormir o quanto quisesse e não deveria seguir nenhuma tradição que não quisesse, mas ele se sentia tão intrometido e impotente perante a cultura dos nativos que ele não conseguia dizer nada, apenas olhar Chollone nos olhos.

 

— A Monoria não está ajudando...

 

— Ok, eu não tenho o que dizer, deem-me a parte em que algo estranho vai acontecer porque eu to precisando – não disse Mormada.

 

Dois vigilantes da tribo que andaram além da floresta congelada chegaram correndo porque algo estranho tinha acontecido. Eles tinham encontrado um homem careca e com barba. Eles estavam chocados.

 

— Venha, venha, Grande Líder!

 

Mormada lentamente levantou-se de onde estava sentado. Estavam em uma caverna gelada, mas menos gelada do que lá fora. Vestiam-se com peles de animais peludos. Os guerreiros, menos do que os outros. Mormada vestiu sua pele ao redor de seu corpo e a segurava para que continuasse fechada enquanto caminhava no seu ritmo para fora da caverna. Não estava com pressa, nem curioso. Uma vez tinham encontrado sacolas plásticas flutuando e tinham-no chamado para predizer o que aquilo significava. Ele não queria acabar com a empolgação dos nativos então disse que era o sinal de que algo bom aconteceria.

 

Na entrada da caverna, que não era tão longa assim, Mormada encontrou alguém barbudo e careca e com um tapa olho.

 

— O quê? – Ele estava surpreso. Ele reconhecia aquele homem. Era um homem conhecida em seu universo. Um herói de guerra, só não lembrava o seu nome.

 

Molly estava desacordado, sendo carregado por dois guerreiros.

 

— O que faremos com ele, Grande Líder?

 

Mormada não sabia o que dizer. Nunca sabia. Não era um líder, nem um Grande Líder. Era um banqueiro e um investidor em busca de seu filho que foi roubado por sua realidade alternativa de outra dimensão que já tinha morrido e tinha programado o seu filho para se tornar um guerreiro contra o Caos.

 

— Eu não sei. Vamos ajudá-lo a se recuperar. Ele não parece bem.

 

Molly não estava morto. Ele tinha chegado àquele universo, mas não pudera retornar. Vocês lembrar dessa história, né? Faz alguns capítulos, mas acho que vocês lembram que esse Molly com barba de outro universo se encontrara com Ramon e com nosso conhecido Xupa Cabrinha. E não havia teletransportadores o suficiente para poder fazer com que todos retornassem para a sua dimensão.

 

Molly estava sem um braço, também. Molly morreria no frio. Mas logo que desmaiara foi salvo pelos bravos guerreiros xamãs. Agora, seria tratado. E viveria tranquilamente.

 

Quenium tinha falado em entender o que tinha visto no Imaterial. Entretanto lembrava o que a coloração rosa enigmática e sinistra, ao mesmo tempo reconfortante e gentil, tinha dito a ele. Tinha aconselhado Quenium a viver a vida. Quenium viveria a vida para onde pudesse. Era uma pessoa livre e tinha a liberdade de poder viajar para onde quer que quisesse nesse multiverso.

 

Ele foi para onde mais queria ir. Para entre as pessoas. Ele queria tomar chá com as pessoas, queria ser feliz e poder aproveitar o dia a dia. Queria que elas conversassem com ele e vissem que o Imperador do Universo era também uma pessoa. Ele não queria ser tratado não como nobreza,mas como qualquer outra pessoa. Queria conversar sobre qualquer coisa.

 

Ele lembrava que o seu pai tinha-lhe dito o nome de um lugar bom para se ir. Terra. Ele disse que foi na Terra que Quenium tinha nascido, e era para lá que ele queria ir. A primeira coisa que Quenium diz, esperando que o semáforo abrisse para os pedestres, foi bom dia para um cidade que parecia estar estressada com um tanto da vida. Estressada e preocupada.

 

Quenium disse:

 

— Bom dia.

 

A cidadã olhou-o de volta com seus olhos cheios de fúria e raiva e impaciência e com, no fundo, saudades. Ela não respondeu de volta, mas quase tinha respondido. Quase tinha dito bom dia. Mas não era um bom dia para ela, não enquanto não encontrasse Edésia. Já estava quase lá. Estava no universo certo.

 

Uma outra senhora que tinha voltado da feira com um saco de batatas tinha desentendido o bom dia de Quenium e achado que o bom dia dele era para ela. Ela respondeu com um bom dia de volta, mas Quenium não tinha percebido que a senhora estava respondendo-lhe.

 

Ele não ficou chateado por não ter sido respondido. Ficou com pena e preocupado com a mulher de nome Hipátia, esperava que ela ficasse bem. Ele era esse tipo de líder. O tipo de líder que se preocupa com cada um de seus cidadãos. Ele se perguntava o que poderia fazer para que a vida de todos fosse melhor, e decidiu tomar café enquanto pensava nisso. Ele acabou olhando para as pessoas, pensando na vida, pensando no visual daquela cidade. Ele se perdeu em vários pensamentos.

 

Era tudo tão novo para ele. Ele estava tão feliz. Ele gostou que o atendente da cafeteria tinha respondido-lhe igualmente com bom dia, apesar de que já era tarde há muito tempo. Ele pagou seu café com seu hipersupercartão interestalar.

 

Ele se sentia tão feliz. E sabia que as pessoas reconheciam-no na rua. Porque sempre o encaravam por alguns segundos e ficavam com vergonha, voltando a olhar para o caminho que seguiam.

 

Não reconheciam não. Até porque ele não era Imperador desse universo. Ele não sabia que não estava mais no seu universo. Ele era Imperador apenas de seu universo, um universo sem cidadãos. Quenium, infelizmente, é um personagem que está sendo enganado demais e só queria ser feliz. E ele estava sendo.

 

Esse dia estava tão bom. Ele comprou um apartamento mobiliado à venda em seu cartão hipersuperinterestelar e dormiu em sua nova cama confortável. Sentia a falta de Mendel um pouco, mas estava feliz em sua nova vida. Ele chamaria Mendel depois, agora dormiria em sua cama nova e aproveitaria a sua nova vida de cidadão comum. Assim que acordasse, logo cedo, queria provar aquilo que os terráqueos provam de manhã. Queria comer como o seu povo. Ser gente como a gente.

 

Quenium será livre até se encontrar novamente com o Caos. Ou com qualquer coisa que tenha sido programado para julgar como o Caos. Depois disso...


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