Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 43
Mestre do Universo.




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De fato existem muitas formas de vida do mundo. Mas esse capítulo trata especialmente de apenas um. Seu nome era muito estranho, mas não tinha ninguém para julgá-lo na galáxia onde se encontrava. Vivia sozinho, não por vontade própria, mas por obrigatoriedade. Sua função era guardar as galáxias ao redor, observando de sua casa flutuante cujas esferas maiores daquela galáxia giravam ao redor. A sua casa não tinha um quintal e muito menos um mundo para que pudesse vigiar. Literalmente era uma casa no meio de uma galáxia. E era uma casa tipicamente comum. Do estilo ocidental mesmo.

Feita de madeira porque é bastante comum as chuvas de meteoro em certas épocas do ano e madeira normalmente é bem resistente a esse tipo de chuva. Mestre do Universo, como era chamado, normalmente gostava de tomar café às três da tarde no horário terrestre e almoçar às duas da manhã no horário de Plutão. Tirando esses momentos, ele não costumava esquecer-se de seu trabalho. E nem devia fazê-lo enquanto digeria seus líquidos, mas Mestre do Universo os adorava. Principalmente café. Adorava o planeta Terra por isso. Até porque era o único planeta que Mestre do Universo conseguia ver alguma coisa interessante. O restante normalmente não era nada além de normal, ou alguma civilização de bactérias lutando a corrente de ar para conseguir se proliferar ou alguma civilização alienígena super moderna e democrática e com valores altamente cristãos fazendo tudo certinho sem nenhum erro. A Terra era algo diferente. A Terra estava sempre prestes a explodir, mas não era o dever de Mestre do Universo impedir que ela se autodestruísse com as guerras estúpidas e engraçadas da raça humana.

Mestre do Universo não tinha o costume de comer pipoca, mas comia enquanto assistia algumas guerras no planeta Terra. Divertia-se com a estupidez daquela civilização que se julgava avançada, mas tinha tomado o caminho errado no corredor das eras e estava se tornando cada vez mais bárbara e primitiva. Não podia ajudá-los, não era o seu dever. Na realidade o Mestre do Universo não tinha muita certeza do que era seu dever. Não se lembrava do seu passado. Um dia acordou, só sabia disso, e estava azul. Não lembrava que estivera azul antes, na realidade não se lembrava de nada. Mas estava azul e sarado, e peludo no peitoral e com um corte de cabelo bem ousado. Olhou pela janela para saber onde estava e percebeu que tudo girava em torno de sua casa. Então chamou-se Mestre do Universo. Não sabia se esse era seu nome verdadeiro, mas achou que era bastante interessante.

Descobriu mais tarde que seu nome era realmente Mestre do Universo, recebeu uma carta que dizia o seguinte:

“Master of Universe, I’m glad you are already awakened. You can now see what is happening with my planet. It’s sooooo hilarious. Everybody is so stupid and primitive. You will like, principally about the civilization that I’m in. I’m waiting your orders to continue the plan and over it. But, forgetting the plan for a while… HERE’S SOOOO FUNNY. I CAN’T STOP LAUGHING. ROFLOLOLOLOLOLOLOLOLOLOL.”

A realidade era que Mestre do Universo já tinha esquecido esse tal plano de vez. Queria mandar uma carta para esse tal de espião infiltrado no planeta Terra, mas não sabia seu endereço e não tinha a mínima ideia de onde esse cara morava. Não estava muito certo sobre o sistema de frete na galáxia em que atualmente vivia. Então, olhou pro lado, decidiu realmente esquecer esse plano e se divertir. Viu que tinha várias câmeras naquela parte de sua casa.

Sentou na poltrona e preparou um café para ver aquela bagunça. Quatro anos depois, Mestre do Universo ainda não tinha se entediado com a história daquele planeta que dava voltas e voltas. Os humanos eram burros, mas preferia as baratas. Se as baratas conseguissem força política certamente aquele planeta mudaria perfeitamente, na maneira em que as outras civilizações alienígenas de valores cristãos e democráticos. Mas logo se tornaria só mais um planeta sem graça. Então era contra o partido das baratas, mesmo vendo que elas eram sempre esmagadas nos processos eleitorais pela maioria humana.

Os golfinhos também não eram má gente. Eram inteligentes, mas tinha um pouco de humano deles. Eles são o tipo de pessoa que Mestre do Universo via e pensava “nossa, que legais”, mas a responsabilidade dos golfinhos sempre caia um pouco mais a noite. Era nessa parte do dia em que os golfinhos soltavam seu lado humano e saíam fazendo merda pelo mar. Aquilo não era engraçado, era deprimente. Os golfinhos eram realmente maus. Então Mestre do Universo continuou observando os humanos. Eram os mais interessantes.

Alguns humanos faziam com que ele risse mais, e outros faziam com que Mestre chorasse. Algumas histórias eram realmente tristes. Orfãos, mendigos, não eram os piores. O mais triste eram os casos de amor. Mestre do Universo também amava. Tinha um olho especial para uma esfera branca que rodava em volta daquele planeta. Não sabia o nome dela, para que fosse lá e perguntasse qual era o seu número. Mas viu que isso era apenas desculpa. Podia ir muito bem lá e pedir o número. “Com calma, amigo, quando chegar a hora você saberá.” Já havia assistido muitos encontros de casais terráqueos como se fossem filmes, e sabia mais ou menos o que fazer. Na realidade havia lido alguns livros terráqueos que um nerd de apartamento havia comprado sobre como lidar com as mulheres, mas sentia que quando chegasse na hora H ele teria aqueles problemas de sempre. Aquele friozinho na barriga, o bafo de café começaria a se sobressair e sabia que sobressairia porque era o que acontecia quando começava a ficar nervoso. Enquanto não aprendesse a se controlar, não poderia se apresentar à esfera branca, bater um papo e se pá conseguir aquele número. Mais tarde ligaria e marcaria aquele encontro à luz de velas, apenas para dizer “Eu paguei pelas velas mais caras no restaurante mais caro, mas elas não conseguem esconder a luz de você”.

Mal sabia Mestre do Universo que a luz da Lua não era dela mesmo. Era de seu maridão, Sol, que estava logo atrás. Na realidade a Lua e o Sol tinham um relacionamento bem difícil, e isso não será descrito aqui. Mas depois de vários milhões de anos furando encontro, Sol percebeu que a Lua era o seu satélite favorito mesmo que não comparecessem ao encontro.

Tinha um humano que ele não conseguia rir, por mais que ele assumisse que algumas coisas que Molly Tennyst Wood fizesse fossem bem babacas, não era o tipo de coisa que ele gargalharia. Eram coisas bem sérias, mas as outras pessoas não conseguiam entender isso, e então Mestre do Universo ria e ria mais. Mario era engraçado também, mais do que o normal. Guardava o momento do chá para observar Mario, porque chá sempre lhe fazia rir mais do que o normal. Com Mario em sua vista, seria aquela gargalhada sem fim.
Mestre do Universo não teve mais notícias do tal espião e a missão provavelmente fora esquecida na imensidão do espaço. Mas Mestre do Universo ainda queria saber sobre o passado, e teve que viajar pelos oito planetas que giravam ao redor de sua casa para que cada chama de sua memória voltasse a se acender. E eram memórias dolorosas.

Sim, seu nome era Mestre do Universo. E suas memórias diziam que muitas pessoas também se chamavam Mestre do Universo quando a sua civilização ainda existia. Eram muitas pessoas, e dentre as mais de 10 bilhões, pelo menos 7 bilhões se chamavam Mestre do Universo. Isso não era legal, mas essa não era a parte mais dolorosa. Mestre do Universo descobriu que sua vida era como a dos humanos. Que sua civilização era como eles. Usavam da natureza ao máximo em prol do avanço científico que no final acabava indo para a porta errada e se autodestruiu.

Mestre do Universo era um astronauta ou alguma coisa assim, e precisavam de dois voluntários para uma missão de reconhecimento na casa que era o centro daquele sistema solar. Muitos tinham medo daquela casa, até porque aquela raça vivia em iglus de gelo e de terra. Mestre do Universo se voluntariou porque sua vida estava uma droga e não fazia diferença morrer ou não. Se voltasse vivo com resultados da pesquisa, teria uma menção honrosa em alguns jornais e uma medalha bastante importante para sua carreira. Se morresse, seria apenas mais um que teria sua história descontinuada pelo destino.

A viagem de Mestre do Universo até a casa duraria 20 anos, mas estaria em repouso numa máquina de preservação atômica, então acordaria do mesmo jeito que havia fechado os olhos pela última vez – na decolagem da espaçonave. Vinte anos foi o suficiente para que a civilização que se encontrava em seis diferentes planetas vivendo pelo menos três delas em ambientes artificiais começasse uma guerra atômica e se autodestruíssem. Se houvessem realmente sobreviventes, estariam em outras galáxias tomando um copo antigo e bem caro de vinho branco, daqueles que os Maltusianos fazem no talento.

Aparentemente a nave de Mestre do Universo estava sendo coordenada por alguns funcionários engenheiros diretamente do espaço. Eles que traçavam o caminho sem que a nave se chocasse com nenhum asteroide, ou fosse arrastado pela força gravitacional de uma estrela qualquer. Entretanto mais ou menos no momento em que a nave estava aterrissando na casa os engenheiros foram mortos por um ataque atômico na cidade em que o centro de astronomia se encontrava. A espaçonave acabou caindo e Mestre do Universo acordou, exatamente como antes e ainda se lembrando de tudo. Então Mestre do Universo olhou para cima e viu o buraco em que havia caído, olhou para a janela próxima da porta fechada de dentro e viu toda a galáxia que sua raça dominava.

Era uma bela visão, pensou. Mas naquele momento aquela visão começou a acabar. O belo cenário foi destruído por várias explosões em cada planeta. Mestre não acreditou e quase surtou, perguntava a si mesmo o que estava acontecendo. O que havia perdido nesses 20 anos? A guerra que findou seu mundo, apenas, alguém respondeu. Olhou para trás e percebeu que havia um homem de raça diferente. Era um humanoide também, exatamente humano. Mas era rosa. Esse homem bateu um papo com Mestre do Universo e disse alguma coisa que Mestre devia fazer a partir daquele momento, ou melhor, quando acordasse. Porque o Homem Rosa deu uma pancada no Mestre do Universo tão forte que faria com que ele esquecesse de todas as suas memórias. E de fato esqueceu.

O Homem Rosa havia dado na realidade para o Mestre a tal missão que fora mencionada na carta alguns dias depois. Só que o Homem Rosa disse que para que Mestre do Universo pudesse trabalhar nesse projeto ele teria que esquecer o seu passado. Só que Homem Rosa calculou errado e acabou contando o plano antes da porrada. Enfim.

Mestre do Universo não gostava de como as coisas estavam indo na Terra e sabia que tinha alguém que podia confiar e dizer o que essa pessoa devia fazer. Havia um homem igual ao Mestre que também espiava a vida dos terráqueos, e esse homem já havia salvado essa civilização diversas vezes sem o devido mérito por isso. Muito antes da Guerra do Fim do Mundo, Mestre chegou ao templo hiperdimensional de Don Ramon para dizer-lhe sobre o que deveria fazer.

— Você deve guiar os humanos.

— E quem é você?

— Eu sou... O Mestre do Universo – e saiu triunfalmente.

E de fato Don Ramon havia feito isso. Havia treinado os Imperadores Solares e também havia mudado suas mentes. Ao invés de soldados assassinos se tornaram homens que prezavam a paz e lutavam em nome dela. Mas eram poucos. Pelo menos o mundo humano inteiro deveria passar um tempo ouvindo as palavras de Ramon para que fosse convertido em uma civilização que abriria a porta correta no corredor e não se destruísse. Um desses discípulos de Ramon morreu para que evitar que essa autodestruição acontecesse, e para isso ironicamente teve que se autodestruir. É um preço a se pagar pela paz momentânea.

Anos terrestres haviam se passado e Mestre voltou a ficar preocupado com toda a situação. Mestre do Universo tinha que falar novamente com Don Ramon, só que desta vez não se encontrariam mais no mesmo cenário. Ao invés de estar observando tudo no seu templo nos confins da galáxia, Don Ramon estava prestes a interferir drasticamente na história da humanidade. Mestre do Universo tinha que bater um papo com ele, não gostava de interferir assim até porque achava meio errado. Não fazia parte disso tudo, mas queria ajudar mesmo assim.

Mestre do Universo abriu a porta de sua casa e pulou no seu jardim que era a sua galáxia. Caiu por alguns instantes e passou por algumas outras galáxias, para enfim chegar a hiperdimensão que era fronteira entre o mundo terráqueo e o destino de Don Ramon. O velho caminhava em sua armadura que Mestre achou bastante elegante. Na realidade o homem azul não tinha muito a dizer ao sábio humano de coração congelado.

— Você sabe que depois que cruzar esse caminho não há mais volta – disse Mestre do Universo.

— Eu sei, já refleti milhares de vezes sobre a situação que nos encontramos e tenho certeza que essa é a decisão mais estúpida.
— Então por que a faz?

— Porque sou humano, afinal.

— Então você finalmente percebeu que você é sim um deles. Mas um pouco tarde. A morte está do outro lado daquele portal.

— Humanos são estúpidos e são suas escolhas que fazem com que a seu mundo continue entrando em guerra. Mas essa minha decisão... Não vai mudar que eles irão fazer, provavelmente. Não sou o bastante para confrontar esse tipo de ser.

— Hm, então talvez você não é um humano. Sua decisão estúpida não tem a intenção de continuar com essa destruição.

Ramon por um instante refletiu.

— Sim, é verdade meu amigo. Então por isso minha decisão não é tão idiota.

— O que?

— Vamos. Juntos.


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