Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 33
A conclusão e a libertação.




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Quando Molly acabou tudo estava acabado, mas o templo não tinha se desmoronado nem aquele universo destruído pela batalha de Wilson e de Hian. Obviamente Molly não sabia quem era Hian, porém era de uma aura muito familiar. Era como Terry, o homem que Molly enfrentara antes de “morrer”.

O caolho não conseguia entender o que havia acontecido, havia desmaiado após tentar desafiar o intruso e então acordara. Sentia que a luta havia sido fatal. Olhando para os lados não encontrou nem o intruso – o que já esperava – e muito menos Wilson. Levantou-se lentamente e se dirigiu com o corpo pesado para fora do templo.

Entre o templo de Don Ramon e o mundo que muitos julgam real existe um longo caminho, não é qualquer um que consegue traçá-lo. Deve-se ter paciência, força e um coração decerto puro para atravessá-lo. Molly não julgava que o intruso tinha todas essas características positivas, muito menos a última, para que tivesse adentrado nesse mundo da forma convencional.

Molly então pensou, seria possível que Wilson teria levado o inimigo a outro lugar nesse universo para que a batalha se acabasse? Isso era ruim, Molly não saberia o resultado da batalha por um bom tempo. Não era todo dia que se encontravam, e ainda tinha a oportunidade de nunca mais se encontrarem... Molly preferiu não pensar muito nisso. Se Molly aparecera naquele templo naquele dia era para encontrar Ramon, que aparentemente não estava ali também... O caolho não tinha ideia de onde o ancião poderia estar e, para não complicar mais ainda as coisas, decidiu dar as costas ao templo e voltar para casa. Não era um caminho fácil. Voltar para casa assim na iminência de saber se um velho companheiro estaria morto ou não e além do desaparecimento de um mestre. Não tinha ideia do que fazer no momento, apenas esquecer isso tudo até porque parecia algo importante demais para se envolver.

Antes de apagar Molly lembrava brevemente de que Hian queria alguma coisa e o caolho sabia perfeitamente o que era. Só há uma coisa que alguém pode querer invadindo aquele templo, apesar de serem poucas as pessoas que sabem que essa coisa se encontra lá. Era uma partícula de energia Vril, uma das energias mais raras e poderosas do universo.

Uma vez foi dito que a energia Vril foi o pico para que o universo se formasse. Não exatamente dessa forma, mas é uma energia que realmente estava envolvida nesse processo e é muito difícil de ser canalizada – apesar de se encontrar em cada átomo desse universo. Mas sempre fora encontrada em pequenas partes e aquela partícula era uma das maiores encontradas no universo desde então. Era uma energia perigosa, Molly já havia a experimentado.

Não fazia ideia do que Hian queria com aquilo e não tinha como saber. Persegui-lo seria impossível uma vez que teria que jogar no escuro. Não é fácil encontrar UMA pessoa num mundo tão grande.

Molly caminhava de volta ao caminho. O Caminho das Sombras pode ser um caminho traiçoeiro quando se caminha com agonia no coração como Molly nesse momento. Mas nada traiçoeiro aparecera para Molly. O caolho apenas via um portal se abrindo paralelo ao caminho reto que todos fazem para entrar ou para sair do templo. Molly não sabia para onde aquele portal o levaria, mas sentia um cheiro muito familiar. Era Wilson. Não hesitou em correr para aquele portal e entrar. Não precisava saber quem havia o aberto ou porque o fizeste, apenas queria ajudar um velho amigo e talvez até mesmo salvar o universo. Queria saber onde estava Ramon. Molly passou pelo portal e o mesmo fechou-se então.

O que Molly encontrou naquela dimensão não fora o esperado. Não havia Wilson, não havia Hian e não havia partícula Vril. Molly sentiu seu corpo pressionado como nunca havia sentido anteriormente e então se perdeu na imensidão do espaço.

No que o Imperador Solar errou para morrer assim? Confiou em seus instintos, tentou ajudar seus amigos caindo em uma ilusão de que o universo queria que ele fosse o herói que salvaria Wilson e traria a energia Vril de volta ao templo fazendo com que o universo voltasse ao normal. Não que isso seja algo ruim. Molly foi emotivo, apenas isso. Talvez o fato de há anos não ver seu antigo amigo e de há anos não sentir tanta vontade de fazer justiça que o fizera ser tão emotivo assim. Mas, de uma forma ou de outra, não há o que indagar. Nada mudaria o destino de Molly.

Uma das únicas certezas da vida que se tem é a morte e Molly não a julgava de outra forma. Desde pequeno, enquanto vivia nas favelas Molly via a morte em sua esquina em muitos dias. Pessoas mortas. As pessoas morriam por causas bobas, era o que sua mãe sempre dizia. Molly, não entre nesse lado da vida, não seja um marginal que nem esses homens Molly... Você não merece isso, tem um belo homem, deixe seu legado para sua família e para seus amigos algo bom. Não seja só mais um corpo na rua que encontramos e pensamos “Meu deus, por que ele foi se envolver com esse tipo de gente?”.

Molly não teve tempo para pensar, mas se tivesse pensaria sobre o legado que teria deixado para seus amigos, uma vez que sua família estaria no outro mundo. Ino era uma bela mulher, e mais que isso, uma pessoa que não precisava viver por baixo do nome de sua família. Acreditava que Rick podia cuidar do caso e ajudar Ino a derrotar aqueles idiotas. Mas a missão idiota que fora deixada para Molly não era o que mais pensaria. Pensaria no que realmente tinha importância para os outros naquele momento, quando descobrissem que Molly estava morto.

Ou melhor, nunca descobririam. O corpo de Molly apenas vagaria pela eternidade sem ser decomposto pelo vácuo. Molly não tinha mais vida. Não era mais nada. Mas então que se abre a questão: o que se é? Molly nunca pensou ser grande coisa, apesar de ser um grande herói de guerra Molly sabia que nada disso devia ser agregado a sua pessoa. Não conseguia pensar que fora ele que ganhara a guerra, junto com os outros Imperadores Solares. Isso faria todos pensarem que os outros soldados, homens comuns, apenas participaram da guerra por participar – o que não era realidade. Molly também tinha amigos que eram simples soldados e nem por se tornar um Imperador Solar parou de conversar com eles.

Frota provavelmente ia se virar na vida. Molly não acreditava que essa coisa de Xupa Cabrinha ir contra o governo iria durar muito tempo. Essa facção ia terminar e as coisas logo se ajeitariam. Xupa Cabrinha redescobriria quem era mais cedo ou mais tarde. Mas Frota... Frota era um bom homem. Molly sempre pôde contar com Frota, foram bons tempos aquele no deserto. Óbvio que os dois tinham uma grande amizade, uma vez que Molly até se sacrificara pelo bem de Frota. Mas Molly sentia que Frota estava indo para o caminho errado... Mas quem era Molly para julgá-lo? Frota era um bom garoto, apesar de todos os problemas que tivera em sua vida. Molly pouco sabia sobre Frota desde seu mártir, até pelo fato de estar morto não fazia ideia do que havia acontecido na vida de seu grande amigo.

Molly queria conversar mais. Não só com Ino, ou com Frota, mas com todos que passara sua vida. Havia acabado de retornar e ainda assim não tivera tempo para conversar. Logo que voltara tivera que ir para essa missão ridícula. Molly sabia que Xupa não tinha matado o presidente. Essa era uma acusação ridícula. Molly apenas tinha que cumprir uma parte de sua missão e então voltar dizendo “Eu não consegui localizá-lo”, mas as coisas fugiram um pouco do controle. Muitas coisas estavam circulando por aquela missão e essas coisas fizeram com que ela se estendesse. Mas por fim, acabou assim. Não haveria um relatório da missão, não haveria uma batalha – Molly não participaria dela, pelo menos, e esperava que tudo desse certo para Ino que muito provavelmente assumiria a missão.


O que ela pensaria de seu mestre? Que teria abandonada essa missão e tinha fugido das suas responsabilidades? Molly temia isso, mas sabia que qualquer que fosse o julgamento de sua discípula, seria justo.

A morte de Molly fora bastante injusta. Um homem que procurava apenas ajudar acabou sendo destruído pela trapaça do Caminho das Sombras. A realidade é que a vida nunca é justa, e muito menos a morte quando chega. Não é que Molly morrera chorando a toa, mas Molly sentiu. Molly sentiu que entrar naquele portal era arriscado, mas Molly não pensou duas vezes. Não julgava justo, chegar ao templo e sair assim, como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse falhado em frente ao inimigo e acabado deixando toda a responsabilidade para seu velho amigo. Não sentia isso justo, por isso não hesitou. O caolho entrou no portal sabendo das possibilidades. O caolho já havia aceitado a morte, ou qualquer coisa que viria, porque preferia morrer sentindo que havia feito o possível do que ido embora, dando as costas, não fazendo tudo o que podia.

Molly já havia sentido a morte uma vez, e não tinha medo de senti-la outra vez. Molly já fora nada, Molly já havia morrido e sabia que não havia vida após a morte. Molly era um homem decidido, mas nesse dia Molly fora covarde.

Nessa noite Molly retornou ao que chamava por enquanto de casa. Preparou um café bem quente e o tomou enquanto refletia na cadeira de sua casa o que é que poderia ter feito. Nada, não poderia ter feito nada. Ainda nesse dia Molly sentiu um aperto em seu coração. Pela primeira vez na vida Molly sentiu-se um covarde e então viu que deveria ter entrado naquele portal. Tudo que imaginara era uma possibilidade, e uma possibilidade muito remota uma vez que sentira a energia de Wilson do outro lado da passagem.

Molly tomou a segura decisão de voltar para casa, de costas para tudo. Não sentia que era seguro atravessar aquilo sem nenhuma precaução. Estava no Caminho das Sombras e sabia que sempre era traiçoeiro quando qualquer um o atravessava com o coração quebrado. Mas... E se não fosse obra do Caminho das Sombras? E se Wilson tivesse utilizado toda a sua energia para que criasse aquele portal interdimensional para que Molly pudesse salvá-lo? E se Molly havia sido covarde demais?

De uma forma ou de outra, Molly não sentia como se tivesse feito tudo o que poderia ter feito para ajudar Wilson, onde quer que o velho amigo esteja. O caolho nem podia mais julgar se o velhote ainda estava vivo, e se estivesse vivo... Provavelmente não conseguiria encará-lo novamente. Se estivesse morto, muitas coisas mudariam a partir de agora.

Se Wilson morrer, é provável que Ramon também estivesse morto. E com ambos mortos Molly sentia que não havia muito a fazer contra Hian e os outros. Pois Molly sabia que havia outros. Ninguém age assim invadindo um templo procurando uma partícula sem que haja um plano, sem que haja outras caras por volta disso.

Talvez fosse por estar enlouquecendo por estar percebendo que havia sido fraco e abandonado Wilson, e que muitas coisas aconteceriam a partir de agora. Mas ainda nesse dia Molly viu uma figura antiga de um amigo, um amigo de guerra que havia se sacrificado para que mais pessoas inocentes morressem. Molly conversou com esse amigo, tal como Molly queria conversar antes de morrer, mas sentia que a morte dessa vez estava distante – diferentemente caso tivesse escolhido entrar naquele portal. Molly cumprimentou o velho amigo e Molly ouviu algumas palavras dele.

Primeiramente Molly não conseguiu acreditar muito no que via ou nas palavras de Krom Hellrock, mas depois percebeu que o mundo é realmente uma bagunça e não se deve julgar o que você acredita pelo que você vê. Se você vê um antigo amigo de guerra dizendo coisas infames sobre o futuro, então, por que não acreditar, não é? Afinal você está o vendo.

Foi por estar conversando novamente com um velho amigo que Molly pensou em dizer algumas palavras sobre a decisão que tinha tomado no dia de hoje. Molly disse o que havia acontecido no templo e Krom reagiu com um simples “hm” como se fosse um robô programado e essa conversa não estivesse em seu roteiro.

– Acho que seria melhor eu ter entrado naquele portal e ter morrido do que deixar a oportunidade de ajudar um velho amigo.

“Mas você não pode morrer ainda Molly, ainda tem muito a fazer”.

– O que eu faço qualquer um pode fazer também.

“Cada passo... Cada pequeno passo do que as pessoas fazem, por mais que haja milhões e milhões de pessoas no mundo, reflete na formação das coisas. E se eu te disser que se você não tomar esse café, se você não estivesse tendo essa conversa comigo, uma guerra ocorreria em Pinball Wizard amanhã? Eu não estou supondo, eu apenas estou dizendo fatos. Não que as pessoas comecem uma guerra porque Molly não tomou seu café... Mas as coisas estão predestinadas. Você não deve morrer até que chegue seu tempo”.
Molly tomou o gole de seu café.

“Você vai se encontrar com um homem que veio do futuro, e você vai descobrir o que aconteceu com Wilson.”

Mario.


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