Logan e Brian alcançaram o Castelo Bellator rapidamente. Serena avistou-os da Torre de Observação. Ela montava guarda sozinha, pois trocara de turno com Logan, que estava na Zona treinando com Elizabeth. A loira esperava que os dois só saíssem dali pela noite (lembrando que Mirty era responsável pela ilusão de dia,noite e tempo, pois em Cineres o tempo não passa), mas ao vê-lo com a transmorfa nos braços, começou a se preocupar.

Por telepatia, Serena falava com Logan.

O que houve com Elizabeth? perguntou, com medo da resposta. Ouvira dizer que até mesmo os bellators, os mais fortes depois das damas, já morreram por causa da magia da Zona. Esperava que nada demais tivesse ocorrido a Elizabeth.

Ela desmaiou depois de um combate com fogo, Logan respondeu.

E para onde vocês vão agora?

Enfermaria. Nos encontre lá?

Serena mordeu o lábio, cautelosa.

Quem vai vigiar as terras em meu lugar?

Tente com Sahé. Ela não está treinando agora, ele sugeriu.

Serena suspirou, aliviada.

Encontrou Sahé, a líder dos Milites, treinando com espadas, sozinha, na arena.

– Posso te pedir um favor? - a loira perguntou. Sahé, arfando, sentou-se no banco e ergueu a cabeça, assentindo. - Preciso que monte guarda na Torre por mim. Eu vou encontrar Elizabeth na enfermaria.

Sahé tirou a armadura de um prego na parede e vestiu-a. A armadura de cobre realçava seus fios castanhos avermelhados e sua pele de jambo. Os cabelos cacheados e rebeldes caíam, curtos, nos ombros, dando-lhe um ar de guerrilheira. Havia, também, uma cicatriz em sua sobrancelha, e no pescoço, perto do busto. Sahé era uma ótima líder, séria e brava, sabia bem lidar com os trogloditas que lutavam em seu batalhão. E acredite, era mesmo um batalhão.

– Tudo bem. Mas você vai ter de me dever uma - Sahé pediu, abrindo um sorriso esperto. Serena respirou fundo. - Quero que treine o batalhão amanhã .

A loira arregalou os olhos.

– O batalhão? Inteiro?

Sahé rolou os olhos.

– Não, só alguns. Que tal quinze garotos? São novatos e estão no quinto batalhão, então sabem, hum, nada. Eles caíram em Cineres faz uma semana.

– Fechado - Serena apertou a mão da líder. - Mas eu não sei se sou a melhor pessoa para ensinar luta.

A morena ergueu as sobrancelhas.

– Garota, você as vezes honra a cor desse cabelo. Você é a melhor lutadora dos bellators! - Sahé se despediu: - Agora estou indo, espero que Elizabeth fique bem.

***

– E então? - Logan perguntou, aflito.

Elizabeth estava sendo examinada por uma mulher responsável pela enfermaria, ela era uma velhinha de cabelos grisalhos e mãos enrugadas, no entanto, isso não a desabilitava de cuidar dos Elementares: afinal, ela era como Brian, uma mágica.

Serena adentrou a sala correndo.

– E então?

A velhinha suspirou, cansada de tantas perguntas.

– Não há nada demais com ela. Não foi a magia da Zona que a afetou - respondeu.

– Foi culpa minha, mesmo? - Logan perguntou, desesperado. - Não pode ser, eu...

– Quieto! - a velhinha bronqueou. - Elizabeth está fraca, mas isso não tem nada a ver com você. Na verdade, sinto que seus poderes de transformação enfraqueceram.

Serena aproximou-se da amiga e tocou seus cabelos.

– Mas como isso pode ter acontecido? Há algum motivo?

A enfermeira se voltou para a pia de medicamentos, desconversando.

– Hum... E aí? - Serena insistiu, mas ela não respondia. - A senhora está surda?!

Logan olhou para Serena, arqueando as sobrancelhas.

– Então talvez devamos ajudar Elizabeth nós mesmos - Serena falou, cautelosa.

– Ótima ideia. Eu a levarei para Maya, a dama da terra, ela certamente saberá o que fazer - Logan alfinetou.

De repente, a velhinha virou-se para eles e já não era mais a mesma velhinha de antes. Seu rosto havia se transformado no rosto de um monstro.

– NÃO! A GAROTA É MINHA! - o monstro gritou.

Logan puxou a espada da armadura e ameaçou-o, colocando-se na frente de Serena e Elizabeth.

– Quem diabos é você? - exclamou.

Eu levo Elizabeth! Serena pensou, e Logan assentiu.

O monstro tinha a aparência de uma mulher jovem muito bela, porém, com chifres, asas de morcego com pontas ossudas e um rabo.

– Chamo-me Amber, mas logo me chamarei Elizabeth, garoto - ela gargalhou alto, partindo para cima do Bellator.

Logan defendeu-se com a espada, fazendo um pequeno corte no braço do monstro. Ela, ou ele, seja o aquilo fosse, gritou alto quando o corte foi se abrindo e chamas começaram a consumir sua pele.

– Eu até tinha me esquecido do que essa espada pode fazer! Uau! - Logan se divertiu vendo a mulher queimar. - É, eu gosto de fogo.

O monstro abriu as asas e voou para cima de Logan, que tentou cortá-las, mas era muito difícil: as asas pareciam ser feitas de aço.

Amber tentou cravar as unhas no estômago dele, mas sua armadura repeliu-a. Desesperada ao ver seu corpo virando cinzas, Amber cravou as unhas na coxa de Logan, que gritou de dor. No entanto, quando ele ergueu a espada para atravessar o bicho, ouviu um ganido e então ele sumiu. Virara pó.

– Hey! - ele gritou o mais alto que pôde. - Socorro!

A dor lancinante em sua coxa rapidamente espalhou-se por seu corpo inteiro. Logan tentou resistir, gritando por socorro, mas assim como a voz, suas forças se esgotaram e ele caiu no chão de pedras.

***

Diana tremia de raiva em seu trono. As cinco damas de branco haviam se reunido para conversar sobre o que andava ocorrendo em Cineres. Depois que Gabriela caiu, tudo desandara.

– Já foram Gabriela, Elizabeth e Logan. Engraçado o fato de nada ter acontecido a Angelo... - Ashley falou.

– É só questão de tempo. Angelo é o grande amor da Imortal, será como um prêmio poder matá-lo, quem quer que esteja tentando fazer isso - Mirty comentou.

Alanis franziu o cenho.

– Quais os suspeitos? - a dama de fogo perguntou.

Mirty balbuciou.

– Freia, os servos das sombras, ou os irmãos das sombras.

Diana levantou-se e andou até a ponta do círculo dos tronos, observando Logan. Ela já havia contatado Tevon do que acontecera e esperava que o bellator fosse logo levado para elas.

– Nossos inimigos são óbvios, apesar de poucos - Diana comentou. Sua voz, dura e metálica, expressava o quão enfurecida estava. - Eles nunca nos fizeram algo assim. Devem estar querendo alguém ou alguma coisa que temos.

Ashley gargalhou.

– É claro que querem alguém. Gabriela!

– Não acho que seja ela. Gabriela é uma imortal marcada por Freia. Antes de tentarem matá-la, seria inteligente observar que, além de quase impossível de ser morta, Gabriela é extremamente poderosa. Nós sabemos, irmãs, que nem ela sabe dos poderes que têm - Diana disse.

As damas ainda discutiam quando Tevon pediu a Diana para subir ao Trono.

Quando Logan apareceu em seus braços, Alanis correu até o garoto.

– Deixe-me vê-lo! - pediu, levando-o até o seu trono, que subitamente transformou-se numa espécie de cama de neblina. Logan gemia, inconsciente. - Logan?

Alanis olhou para Maya com lágrimas nos olhos, obviamente, pedindo sua ajuda, já que por ser a dama da terra, conhecia todos os tipos de cura possíveis para qualquer coisa. Maya se aproximou de Logan e abriu as mãos, fazendo surgir um frasco cheio de líquido verde.

– O que é isso? - Alanis perguntou. As damas sabiam que Alanis era extremamente protetora e ciumenta com seus elementares, e esperavam sua reação depois que o garoto acordasse. Sim, aquilo seria interessante.

– Flamma. Vai desinfetá-lo do veneno do súcubus - Maya disse, delicadamente derramando, em seguida, sobre a ferida na coxa de Logan, o líquido verde. O garoto gemeu alto quando o líquido começou a borbulhar, entrando em sua pele. Ashley virou os olhos para não vomitar.

– Súcubus? - a dama do fogo perguntou. - Isso é... Mitológico?

Maya deu de ombros.

– Talvez, para os humanos. É um monstro que se alimenta da energia sexual dos homens, e surgiu no período medieval.

– Sim, - Mirty completou - na época em que a Dimensão nasceu.

Ashley baixou a cabeça. Sabia que, para Mirty, falar sobre o tempo da Dimensão era algo incômodo.

– Mas se ele se alimenta... disso aí, que queria aquela coisa com Elizabeth? - Ashley indagou, fazendo uma careta.

– Não faço a mínima ideia - Maya respondeu, depois de um tempo pensando.

Enquanto Logan acordava e sua ferida sarava, as damas viraram sua atenção ao garoto. No entanto, Mirty guardara aquele caso do súcubus em sua mente. Descobriria o que um monstro tão antigo e incomum como aquele queria com a transmorfa. Ah, descobriria. Custasse o que custasse.

Mirty sempre descobria. Os mistérios pertenciam à ela. Não seria muito difícil.

***

Anoitecera em Cineres, e Elizabeth já havia acordado. Serena a levara para o Pavilhão, esperando que Maya pudesse ajudar, no entanto, a bellator acordou sozinha. Fora uma surpresa e tanto, considerando que a "enfermeira" era, na verdade, um monstro. Mas Elizabeth acordara, e bem. Como se nada tivesse acontecido. No entanto, nenhuma das duas desconfiava do que havia, realmente, acontecido a ela.

E ficariam por um bom tempo sem saber.

***

Morgan, a serva das sombras, caçava lebres na Floresta Cinza, junto com Levi, o anjo das sombras. Vestidos com capas negras e flechas mergulhadas em veneno, os dois, silenciosamente, se esgueiravam pelas árvores, procurando os animais.

Caçar lebres era o passatempo preferido dos servos das sombras. As lebres, no entanto, não eram animaizinhos fofos e inofensivos como no mundo dos humanos. Ali embaixo, principalmente na Floresta Cinza, eles tinham algo diferente. Algo como...

– Cuidado com as unhas! - Morgan gritou ao ver uma lebre pular no corpo de Levi, pego de surpresa. Ele agarrou o animal pelo pescoço e o esganou. Um ganido alto ecoou pela floresta.

– Quase - Levi abriu um sorriso malicioso.

– Ei, ali - ela sussurrou, vendo outra lebre passar por entre arbustos baixos ao lado do anjo. Ele tirou uma flecha do arco, mirou no bicho, e atirou.

Outro ganido ecoou pela floresta.

Levi andou rapidamente até o arbusto e pegou o animal nas mãos. Honestamente, como essas lebres são horríveis.

– Vamos levá-la para Gwen. Acho que ela vai gostar para fazer novas poções - Morgan sugeriu.

***

Gwen estava sentada em seu trono, no Salão Principal do castelo, lendo o pergaminho sagrado e tentando fuxicar a vida dos Elementares, quando, subitamente, Levi e Morgan adentraram os portões.

Ao sentir o cheiro de Morgan, Gwen suspirou. Droga, aquela espião outra vez. Quando vou poder ficar sozinha com Levi?

– Gwen - Morgan cantarolou seu nome. - Trouxemos algo para você. Talvez seja útil.

A metros longe dali, Gwen pôde sentir o fedor da lebre. Ela esperava que aquilo não passasse de uma brincadeira, caso contrário...

– É uma lebre morta? - perguntou, com os olhos baixados. Morgan assentiu. - E para que?

– Talvez você possa extrair o veneno do animal para fazer suas poções... - Morgan respondeu.

Gwen levantou-se e rapidamente se aproximou dos dois, tirando o animal das mãos da serva e despedaçando-o com suas mãos duras. Morgan mordeu os lábios. Era impossível agradar Gwen.

– Eu não preciso disso. Eu sou a rainha das sombras. Eu invento o poder da ponta dos meus dedos - ela respondeu, ríspida, dando-lhe um sorriso mecânico.

***

Quando Morgan voltou para a pensão onde outros servos das sombras moravam, Levi ficou no castelo, à mercê de Gwen.

– E você... - ela pegou em seu queixo e o levantou na ponta das unhas. - Quando vai se render?

Levi sentiu seu estômago se contrair. Gwen era a mulher mais cruelmente linda que ele já vira na vida: alta, esbelta, de cabelos negros e olhos fatalmente azuis elétricos. Nem no meio dos humanos Levi vira alguém tão bela quanto Gwen. E apesar dela o enlouquecer, ele tentava se afastar. Gwen cheirava a maldade, havia sido uma poderosa bruxa há muito tempo atrás. No entanto, seus poderes foram aniquilados pela mentalista de Cineres, Mirty, num confronto ocorrido há mais de mil anos. Rancor, ódio, crueldade e frieza pareciam preencher Gwen por completo. Mas também sedução, sensualidade, astúcia e poder. Ela era agridoce, mas fatal. Seu beijo poderia causar uma parada cardíaca.

E ali estava Levi, sabendo de todas as regras e de todos os perigos, e ainda assim continuava a brincar com fogo.

Gwen puxou seus lábios e os beijou, mordendo seu lábio até que sangrasse. Levi fechou os olhos para apartar a dor, mas acabou puxando-a de volta e beijando-a novamente. Ele empurrou Gwen na parede e puxou seus cabelos negros, sentindo o cheiro de rosas que exalavam.

De repente, Levi abriu os olhos e viu que estava parado no meio do Salão Principal. Gwen o observava de seu trono com um sorriso malicioso.

– Você é um brinquedo divertidíssimo, Levi - ela zombou.

Outra ilusão. Maldita Gwen.

***

Depois de treinar com Angelo pela tarde inteira, Gabriela subiu as escadas do castelo Bellator em direção a seu quarto. O jantar seria servido no Pavilhão ás nove horas - sim, mais cedo, por ordem de Diana, devido aos acontecimentos suspeitos que ocorreram durante o dia.

Ao chegar no terceiro andar, onde ficava, Gabriela sentiu vertigens. Ela se apoiou no corrimão, tentando recuperar o foco.

– Hey, o que houve? - Angelo perguntou, colocando sua mão atrás de sua cintura para apoiá-la.

– Acho que treinei demais - ela riu baixo. - Droga, a vertigem está... piorando - Gabriela fechou os olhos e deixou que Angelo a guiasse pelo corredor.

– O que está sentindo? - ele perguntou.

– Parece que algo me enfraqueceu de repente.

Angelo respirou fundo, pensando em algo pra fazer.

– Talvez seja só o cansaço - ele sugeriu, abrindo a porta de seu quarto e deitando-a na cama. - Deite aqui e descanse. Pedirei que Serena fique com você, tudo bem?

– Não - Gabriela pediu, apertando suas mãos. - Fique aqui. Não me deixe sozinha nem um minuto. - ela massageava as têmporas, tentando afastar aquela terrível sensação.

Angelo sentou-se ao seu lado e começou a passar a mão por seus fios dourados, esperando que ela melhorasse logo ou caísse no sono. Sua mente divagava por respostas àquela repentina e forte vertigem, quando, de repente, ele se lembrou de algo: o encontro entre Gabriela e o Anjo das Sombras. Logo depois, Mirty ditou uma profecia a respeito do elemento e da sombra... Como era mesmo? ele tentava lembrar.

"A sombra e o elemento

Se unirão para por fim á morte

Acontecerá antes mesmo que a Escolhida

Seja entregue á própria sorte"

Angelo não conseguiu se lembrar do resto - mas nem precisou. Estava claro que Gabriela, sua Gabriela, e o Anjo das Sombras estavam ligados. Tudo por causa de um encontro acidental. Acidental?

Algo aconteceu com o anjo das sombras. E Gabriela sentiu.

***

Quando Levi tentou se esquivar das ilusões de Gwen saindo pelos portões de seu castelo, sentiu um gosto horrível em sua boca. Não conseguiu mais enxergar.

– Levi... - ela cantarolou seu nome.

Durante o beijo daquela ilusão, Gwen o havia envenenado.

" E eu vou ter que te provar que ninguém manda em mim" ela dissera para Kyle.

Aparentemente, Gwen já havia começado a provar. Levi sempre foi próximo dela e de Kyle, considerado como um outro irmão. E se Gwen o traíra daquela forma... Do que ela era capaz?