Passar o inverno no Mundo Inferior para Bianca com certeza não era a melhor dica para um inverno perfeito. Para começar, lá nem parecia inverno.Era quente, árido, e muito... Vermelho é a palavra certa?

Infelizmente Bianca estava lá, naquele lugar infernal. Ou, dizendo melhor, as celas do castelo de seu tiozinho querido – Plutão. Como foi parar lá? É que sua melhor amiga Emilly McFee – uma filha de Netuno – e ela andavam por Las Vegas, já que o Acamamento Júpiter as tinha liberado por um tempinho. O tempinho mais longo de suas vidas. Quando estavam passando por um dos mil cassinos, uma cratera se abriu no chão e, bem, ali elas agora estavam.

E, desde que ali chegaram, Bianca não parava de pensar numa hipótese. Será que Plutão as tinha pego de propósito? Quer dizer, Bianca era filha de Júpiter e Emilly filha de Netuno, e lá no Acampamento andavam falando que estava tendo uma rebelião no Olimpo entre os três grandes. E particularmente Bianca acreditava muito nisso. Seu pai e seus tios andavam brigando sempre, e cada vez se intensificava mais. E como ela sabia? É que os mares estavam com ondas maiores, chuvas com mais intensidade e... Bem, com tudo isso, mais mortes. E isso era sinal de que as coisas não estavam muito boas no Olimpo.

- Bia, quer parar de ficar andando de um lado para o outro? Isso está me agoniando. – Disse Emilly, fitando os passos de Bianca pela cela ao lado. Pelo menos elas tinham ficado em cenas uma ao lado da outra.

- Di Immortales, eu não consigo ficar mais nem um minuto aqui! – Respondeu Bianca, fitando o teto da cela. O piso úmido e o cheiro de mofo lhe davam ânsia de vômito.

- Idem. Você não pode, sei lá, sair voando? – Perguntou Emilly, apontando para o final da cela que não chegava ao teto, mas tinha uns 2 metros do chão.

- Você sabe que eu morro de medo de voar. Desde... Você já sabe. – Disse Bianca, fitando o chão. Ironia, não? Uma filha de Júpiter ter medo de voar... Mas ela tinha um motivo. Quando Bianca tinha uns 14 anos, ela voou para pegar a pipa de uma criancinha do Acampamento. Mas a pipa estava entre os fios elétricos, então ela levou uma grande carga elétrica. E ficou exatos três meses no hospital. E desde aquele dia Bianca começou a ter medo de altura.

- Outra pessoa com medo de altura? – Perguntou alguém na cela a frente da minha. A garota veio um pouco mais a frente e Bianca pôde ver suas feições. Ela usava uma capa prata, tinha o cabelo preto, olhos azuis como os de Bianca, e parecia atordoada e ao mesmo tempo cansada.

- Quem é você? – Perguntou Bianca.

- Thalia Grace. – A garota respondeu, se sentando na porta da cela e se apoiando na parede. – E você é...?

- Bianca McQueen. – Respondeu Bianca. – Por acaso você é filha de Júpiter?

- De Júpiter? Júpiter, Júpiter... Ah, a forma romana de Zeus? Não, sou filha da forma original dele. – Thalia respondeu.

- Greacus – Murmurou Emilly.

- Então você é grega, não? – Perguntou Bianca, ignorando o comentário de Emilly.

- Não, sou americana mesmo, mas sou parte grega por causa de Zeus. – Respondeu Thalia. – Você também é americana?

- Não, sou romana. Filha de Júpiter. – Respondeu Bianca.

- Claro, notei os olhos azuis – Disse Thalia. – Mas por que veio de tão longe?

- Longe? Roma fica a oeste, a quilômetros daqui – Bianca respondeu.

Que garota tola, como não sabia disso? – Pensou Bianca.

- Oh ok... Eu não sabia – Disse Thalia.

- Thali, não tem nenhuma chance de Lady Ártemis vir nos resgatar? – Perguntou uma garota na cela ao lado de Thalia.

- Lady Ártemis não tem permissão para adentrar o Mundo Inferior. E acho que ela deve estar ocupada agora. Temos que sair por nós mesmas. – Respondeu Thalia à garota.

- Ótimo, mais greacus – Disse Emilly, e Bianca fez um “shhh” para ela.

Gregos não eram tão maus quanto nas antigas lendas romanas - Pensou Bianca.

Então a Equidna apareceu. Ela parecia uma bela mulher, mas da cintura para baixo tinha uma cauda de serpente. E ela estava de guarda das celas, mas fazia o pequeno favor de lhes levar água e um lanchinho de três em três horas.

- Não tem nada além desta sopa nojenta para comer? – Perguntou uma garota mais no fundo da sala, e a Equidna apenas sibilou.

- Acho que isso foi um não – Disse outra garota, também no fundo da sala.

A Equidna sibilou novamente e se retirou dali. Bianca já não comia à três dias e iria continuar não comendo. A sopa tinha gosto de sapo podre e cheiro de urubu defumado. Aquilo não seria atrativo para as pessoas normais, isso ela garantia.

Bianca empurrou sua tigela de sopa para fora da cela e se escorou na parede.

- Que bela droga de vida eu tenho. Como eu queria ser apenas mais uma adolescente normal! Isso é pedir demais? – Murmurou Bianca.

- Vejo que temos algo em comum – Disse a garota da cela ao lado de Thalia. Ela tinha pele super pálida, olhos verdes como o mar, tinha o cabelo preto caído sobre o ombro e usava uma capa prata igual a de Thalia.

Bianca ficou olhando para a parede e se lembrando de seu patético passado. Lupa lhe havia dito “Esta jornada não será fácil, minha jovem semideusa. Mas nada na vida é fácil, e se tudo fosse fácil, que graça teria viver?” Aquelas palavras ecoavam por sua cabeça.

Quatro dias. Já haviam se passado quatro dias desde que elas chegaram ali. E nada havia mudado desde então. Bianca já havia emagrecido, pelo menos, dois quilos, o que era muito para ela. Haviam retirado sua espada de Ouro Imperial, então não tinha nada do que fazer, o que era um problema pelo seu TDAH. A Hiperatividade já fazia com que Bianca ficasse louca. Foi quando a Equidna veio, abriu as celas e guiou as sete semideusas por um corredor, e elas chegaram até onde parecia ser uma Sala do Trono. E Hades estava sentado em seu trono, com sua esposa, Persófone ao seu lado.

- Ora, ora, o que temos aqui. As filhas dos meus irmãos imprestáveis. Imagino que não saibam porque eu as trouxe aqui. – Disse Hades. Todas negaram com a cabeça.

- Muito bem – Continuou Hades – Eu as trouxe aqui porque... Digamos que eu queira me vingar de meus irmãos. Um fica com os céus, outro fica com os mares e eu fico com o que? Com isso aqui, o Mundo Inferior! Que genial, não? Eles ficam com a melhor parte e eu fico aqui, trancafiado com os mortos. Mas as coisas estão prestes a mudar.

Bianca ouviu um grito de guerra. Olhou para trás e viu Jason – seu meio irmão, também filho de Júpiter -, que havia enfiado sua espada da Equidna, que se desfez em pó. Bianca pegou sua espada, que agora estava no chão – porque a Equidna se fora –, viu Jason dando um “OI”e um abraço rápido em Thalia e depois se virou para Bianca e para Emilly.

- Pisem nesta pérola e pensem em ir para o Acampamento Júpiter – Ordenou Jason, colocando uma pérola perto do pé de Bianca e outra do de Emilly. As garotas assentiram, pisaram nas pérolas, fecharam os olhos e, quando os abriram novamente, viram que estavam no Acampamento Júpiter. Mas aquela não foi uma visão tão boa quanto Bianca esperava que fosse.

A torre de sentinela estava em chamas. Fogo chamuscava sobre praticamente todo o gramado, fazendo todos os campistas correrem ou buscar baldes de água. Bianca ficou perplexa com aquela visão, ela nunca tinha presenciado tamanha desordem e fogo em toda sua jornada no Acampamento. Olhava para cada pessoa que passava por ela, alguns com baldes d’água, outros com mangueiras, e faziam de tudo para extinguir as chamas. A face de preocupação e transtorno era inevitável em todas as pessoas. Se aquilo fosse um pouco mais adiante... O Acampamento Júpiter inteiro seria extinguido.

Bianca passou os olhos por todo o arredor para identificar o que estava causando tudo aquilo. Então ela olhou para o céu, e lá estava ele.

Um dragão sobrevoava o Acampamento e atiçava ainda mais o fogo.