As trinta portas se abriram ao mesmo tempo no pátio circular, quatorze de um lado e dezesseis do outro. Uma pessoa saiu de cada quarto, algumas rápido, agoniadas, e outras mais devagar, analisando o lugar.

Todos olharam em volta, procurando entender onde estavam. Mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, as portas se fecharam atrás deles ao mesmo tempo que fortes luzes brancas se acenderam no teto. Uma voz tomou conta do pátio:

“Olá, queridos”. Essas primeiras palavras assustaram a maioria das pessoas ali. Era uma voz feminina, parecia vir de cima. Mas ao olhar, ninguém viu nada a não ser as luzes. “Fico muito feliz de receber vocês aqui. Sejam todos muito bem vindos! Esse lugar será como sua casa daqui pra frente, então por favor, sintam-se à vontade”.

Algumas vozes protestaram, estranhando o que ela dizia, mas se calaram para ouvir o resto.

“Bem, eu não poderia perder a chance de falar pessoalmente com vocês! Depois de tanto trabalho para juntar esses jovens brilhantes, eu preciso ao menos me apresentar. Podem me chamar de R. Estou no comando desse lugar. Eu vou dar as ordens básicas antes de cada desafio.”

“Enfim... Como já sabem, a partir de hoje deverão lutar pelas suas vidas. Mas não se preocupem, aqui não é o mais forte fisicamente que vence. Vocês logo vão entender isso” ela fez uma pequena pausa. “Todos aqui já leram as regras do nosso “jogo”, então não preciso falar sobre elas. Aliás, tudo que vocês precisam saber estará em seus braceletes o tempo todo, e isso inclui as regras, então não se preocupem se esquecerem alguma coisa”.

Algumas pessoas olharam o bracelete, desbloquearam com a senha ou mexeram no menu principal por um instante. R continuou:

“É sobre isso que eu preciso falar. Não tinha nada sobre eles no papel que vocês leram, então eu mesma vou dar algumas informações. Esses braceletes servirão para tudo a partir de agora. Primeiramente deverão conectar o seu ao do seu parceiro. Não é complicado, basta abrir o menu e selecionar a opção “conexão”. Os dois devem fazer isso ao mesmo tempo. Quando finalizarem, poderão ouvir a voz um do outro pela mente.”

Os curiosos fizeram o que R disse: entraram no menu e selecionaram “conexão”, mas nada aconteceu.

“Por enquanto eles estão bloqueados” ela avisou para os que tentaram. “Serão liberados logo. Continuando, o bracelete também serve para bloquear a conexão temporariamente. E com ele, vocês podem rastrear seus companheiros de equipe em algum desafio que vocês tenham que se separar”.

Companheiros de equipe? Dessa eles não sabiam. Também não tinha nada nas regras. Só sabiam de suas duplas, nada de equipes. Esperaram que R explicasse, mas ela não disse mais nada.

“Mas enfim, as outras funções dele vocês vão acabar descobrindo sozinhos” continuou. Vendo a curiosidade dos selecionados, ainda acrescentou: “e sobre as equipes que eu mencionei, vocês logo terão as devidas explicações.”

Ela fez uma pausa propositalmente longa. Enquanto isso, alguns tentavam lembrar de qualquer coisa sobre equipes nas regras, e outros mexiam sem parar nos braceletes.

“Não vou me estender muito por enquanto, deixo vocês com isso. Como sabem, você e seu parceiro devem trabalhar juntos para sobreviver, então terão meia hora para se conhecerem. Depois disso, as equipes serão formadas e a primeira prova já vai começar. Boa sorte a todos! Se precisarem de qualquer coisa, estamos à sua disposição”.

Ela parou o áudio do lado esquerdo do pátio. Ninguém disse nada por lá. Mas antes que pudesse parar do lado direito também, uma voz a interrompeu.

XxX:Espera aí!

Um garoto gritou. Ele olhava pra cima, sabendo que a voz vinha de lá. Tinha a pele morena e o cabelo escuro. Em suas bochechas, havia duas marcas vermelhas triangulares.

“O que foi, Kiba?” R perguntou.

Kiba:Cadê o Akamaru? – ele perguntou de volta, a voz cheia de raiva.

“Você não precisa se preocupar com ele agora” foi a resposta que ele teve. Isso só o fez ficar ainda mais nervoso.

Kiba: O que? – ele fechou as mãos com força – e eu tenho algum motivo pra não me preocupar?

“Você o verá em breve”.

Kiba: Não foi isso que eu perguntei – grunhiu – eu quero saber onde ele está e o que você fez com ele.

“Não precisa se preocupar com ele ago—” ela tentou, mas foi interrompida.

Kiba: Você é idiota? – ele gritou, furioso por ela não responder – me diz onde ele tá agora!

“Me desculpe, não vou dizer nada”.

Kiba: O que??

“Por favor, não se exalte. Não quero problemas”.

Kiba: Devia ter pensado em problemas antes de pegar o Akamaru – devolveu – olha, eu não sei quem você é, mas se mexer com ele...

“O que?” R o desafiou. “O que você vai fazer?”

Kiba: Eu vou acabar com a sua raça!

Ele gritou tão alto que sua voz continuou ecoando por alguns segundos. Quase alto o suficiente para que o outro lado do pátio ouvisse. R não disse nada por um tempo, deixando um silêncio perturbador no ar.

“Não fale o que você não pode fazer, Inuzuka” ela respondeu, quebrando parcialmente a tensão. Sua voz estava cautelosa, mas ameaçadora.

Kiba: Não posso? – ele deu uma risada – vem aqui e deixa eu te mostrar!

“Tente. Tente me atingir” ela o desafiou mais uma vez. Ao ver que não teria resposta além dos grunhidos de raiva de Kiba, ela continuou, com tom de deboche: “Você nem ao menos sabe onde estou”.

Kiba: Se esconder é fácil – respondeu, irônico – me ameaçar falando aí de cima onde eu não posso te alcançar é moleza. O que foi? Não tem coragem de descer aqui?

“Mesmo que eu não me escondesse, não pense que tem alguma vantagem. Aqui, você é fraco”.

Isso foi o suficiente para acabar com a pouca paciência dele.

Kiba: Você não me conhe— – ele tentou, mas ela não deu tempo para que terminasse a frase.

“Sim, eu te conheço. Te conheço muito bem. E é por isso que eu digo que você não tem poder nenhum nesse lugar. Aqui, quem manda sou eu. Entendeu? Tudo aqui está na palma das minhas mãos. Então pense duas vezes antes de me desafiar, ou coisas bem piores que simplesmente morrer vão acontecer com você”.

Ele ficou sem palavras. Queria protestar, queria rasgar a cara dela, mas não conseguiu dizer nada.

Mesmo assim, ainda precisava saber o que fizeram o Akamaru. Ele juntou coragem e tentou perguntar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela o cortou:

“Akamaru está bem. Como eu disse, você o verá em breve. Mais alguma coisa?”

Ninguém disse nada, inclusive Kiba. Estavam amedrontados demais.

“Ótimo” finalizou. “Daqui a meia hora começará a primeira prova. Vejo vocês lá”