Eu já estava perdendo a paciência quando o dia amanheceu. Não esperava mais um minuto para começar a minha jornada. Eu já havia perdido tempo demais.

Há dois anos atrás, quando tinha dez anos, seria o dia em que tudo se iniciaria. Mas eu ainda não estava madura. Na última hora, eu não me sentia preparada para iniciar uma jornada tão longa e demorada. E se eu não treinasse meus pokémons direito? E se eu fosse um fracasso? Era muita pressão para meu eu de dez anos. Então eu esperei até a hora em que eu me sentisse realmente preparada.

Até lá, eu estudei bastante: como treinar Pokémons, como alimentá-los, qual seria o caminho que iria percorrer ou até quais animais existiam no Safári. Agora era a hora.

Como era de se esperar, eu estava nervosa e não consegui dormir. Durante a noite, eu lia e lia, com a esperança de absorver algo que não sabia. Mas não havia nenhuma sequer palavra que eu não havia lido. E nenhuma que eu não me lembrasse.

Finalmente, minha mãe entrou no quarto quase partindo a porta ao meio, com o mesmo entusiasmo que eu.

– Não dormiu filha?– diz, sem estar tão surpresa. Eu digo “não” com a cabeça. Ela me olha por alguns segundos e sorri: – Então vamos nos arrumar!

Minha mãe me acompanhou esses dois anos de preparo, sempre me incentivando.

Não são todas as garotas da minha cidade que escolhem ser treinadora Pokémon (como moro em Violet, as garotas preferem apenas ficar olhando o Falkner, líder do Ginásio de Violet) mas mesmo assim, sempre me apoiou.

Visto-me adequadamente, tentando acalmar minha ansiosidade.

Em poucos minutos saio de casa com minha mãe e pegamos o trem para a cidadezinha de New Bark, onde pegarei meu primeiro Pokémon.

O trem não está cheio. Olho para cada um no trem. Um garoto com olhos azuis e cabelos morenos, mais ou menos da minha idade, não sei dizer, estava olhando para mim de rabo de olho. Quando o vejo finge que está lendo. Olho para a capa do livro: “Pokémons de Johto”. Fico surpresa, seria ele um treinador Pokémon de outro continente? Fico curiosa e involuntariamente eu me levanto, fazendo um barulho razoavelmente alto. Ele olha para mim mas rapidamente esconde o olhar. Eu fico com vergonha, pois todos do trem estão olhando para mim com uma cara de “juízo, menina”.. Eu sento desajeitadamente, com vergonha.

– Está tudo bem, filha? – sussurra minha mãe.

– Sim.. – respondo.

Depois de algum tempo monótono, uma voz metálica diz: “Cidade de Cherrygrove”.

Eu me viro, pra ver se alguém sai nesta estação. A maioria de meus amiguinhos passageiros, inclusive o menino de olho azul me deixam. Agora basicamente só restam eu, minha mãe e um carinha excluído no canto do vagão. A próxima parada era New Bark.

Finalmente, depois de tanto tempo, me encontro nessa cidadezinha que irá mudar minha vida. Desço do trem. Olho em volta: Pidgeys voando, árvores por todo lado... O cheiro de grama molhada invade minhas narinas. “Esta aqui é uma cidade do interior”, penso.

Me volto para minha mãe:

– Mãe, estou pronta para começar minha jornada.

– F-filha, você – ela não acaba a frase, pois começa a chorar. Logo, nós duas estamos afogadas em lágrimas.

– Eu vou sentir sua falta! – eu digo, abraçando-a.

– Eu te amo filha! Você vai ser uma ótima treinadora, nesses anos sinto que você nasceu para isso. – ela diz, limpando minhas lágrimas.

– Obrigada por tudo!

Então damos um último abraço. Minha mãe embarca no trem de volta para Violet. Não suporto a idéia que vamos nos separar. Mas esse é o meu caminho, o caminho para qual, segundo ela, eu nasci.

Dou um suspiro bem fundo e limpo as lágrimas que me restam no rosto. Vejo-a partir. Aceno devagar até o trem sumir de vista. Retorno meu olhar para o caminho que me leva ao coração da cidade, ao laboratório. Este é o meu caminho a partir de agora.

E assim começa um novo capítulo da minha vida.