Sinos, guirlandas e esferas multicoloridas enfeitavam o quartel. Por onde eu passava sempre havia algo que lembrasse o clima natalino, era tudo muito bonito apesar das dores em meu estômago. Amy que andava ao meu lado pelos corredores do dormitório percebeu meu sofrimento e se aproximou, colocando sua mão em meu ombro direito.

— Lin, você está bem...? — senti sua preocupação no tom de voz, coloquei a mão esquerda sobre minha barriga e fiz um aceno de leve com a cabeça, mostrando para a dançarina que eu não estava nada bem. Ela apenas suspirou e pegou meu braço direito, fazendo com que meu corpo se apoiasse no dela. — Logo hoje, na véspera de Natal você fica assim. Como pode ter tanta sorte?

— Nem eu sei... — respondi enquanto começava a andar vagarosamente com a ajuda da rosada até a porta de meu quarto. No momento em que adentrei o local, me soltei dos braços de Amy e corri desajeitadamente até o banheiro, colocando meu rosto acima da privada, o que aconteceu em seguida nem necessito descrever.

— Você está muito mal, hein amiga? Como vai passar o Natal assim? — ouvi a voz dela vindo da porta do banheiro, não virei meu rosto e nem respondi, ainda continuando a fazer minhas necessidades. — Acima de tudo, como você vai dar essa terrível notícia a “ele”? — o tom sério me pegou em cheio, eu sabia exatamente do que ela estava se referindo mesmo que não tenha falado diretamente.

— Amy... Depois nós conversamos apropriadamente... — falei com um tom suplicante ainda visualizando a privada, alguns segundos depois que a dor em meu estômago resolveu dar uma trégua, dei a descarga e fui até a pia, limpando minha boca e escovando meus dentes, certificando de não estar com um bafo ruim. — Pronto... — sussurrei olhando para o meu reflexo no espelho em minha frente, reparando que Amy ainda se encontrava parada na porta do banheiro.

— Melhor agora...? — a rosada perguntou meio receosa, sua expressão demonstrava o nojo que ainda deveria estar sentindo ao ver o que aconteceu minutos atrás. Suspirei e virei em sua direção com um sorriso meio torto e cansado, minhas pernas ainda estavam meio bambas devido à pequena corrida que eu dera até o banheiro, mas nada muito grave para que eu não conseguisse me deslocar sozinha na volta ao meu quarto.

— Acho que sim, meu estômago parou um pouco de doer, mas nada garante que ela não vá voltar tão cedo — comentei, passando por minha amiga indo em direção ao armário, na qual abri as portas de correr e peguei o vestido vermelho que já estava separado, troquei ali mesmo. Se fosse outra pessoa, eu entraria no banheiro para me trocar, mas como era uma amiga, por que eu ficaria com vergonha? — Um vestido para usar somente hoje... — comentei quando terminei de colocá-lo.

— Mas é lindo, tenho até vontade de roubá-lo para mim — Amy se aproximou e começou a me rodear, analisando os detalhes. — Mas como eu sei que esse Natal será especial, não farei isso. Aliás, por que eu faria isso com uma amiga? — ela bufou logo em seguida caindo em risos, não resisti e fui na onda, dando algumas risadas baixas. O clima estava bom até a dor voltar, tive até que apoiar minha mão esquerda no armário para não cair.

— Ai... — reclamei baixinho, me abaixando aos poucos até ficar de joelhos no chão. Meu vestido novo ficaria todo amassado antes mesmo da festa começar, mas eu não tinha escolha, a dor era muito forte. — Como irei encará-lo desse jeito...? — sussurrei, alto o suficiente para Amy ouvir.

— Eu não sei amiga, mas seja forte... Você tem que dar essa notícia de qualquer jeito, já chega de adiar — ela falou bem baixinho, me ajudando a levantar e ir até a beirada da cama, onde sentei e apoiei minha cabeça em seu ombro. Como eu estava parada, a dor diminuiu e consegui pensar melhor em suas palavras.

Depois que entendi meus verdadeiros sentimentos, percebi que eu não podia mais continuar em silêncio com meu namorado, sei que já tínhamos um mês de namoro, mas coisas inesperadas sempre aparecem na vida das pessoas e eu não fui uma exceção. Nunca tive coragem de dizer a ele como eu me sentia, mas sei que isso não pode mais continuar, darei para ele essa terrível notícia mesmo que o Natal fosse uma data de amor, paz e alegria...

— Espero que ele aceite essa tragédia... Ou eu nunca vou me perdoar — falei fitando o chão, não ouvi uma resposta da dançarina, mas senti uma mão quente acariciando minha cabeça. Algumas lágrimas começaram a brotar de meus olhos, não conseguia mais conter a raiva e a tristeza que sentia de mim mesma.

— Acalme-se Lin. Tenho certeza de que ele entenderá o seu lado e os seus verdadeiros sentimentos — Amy disse em um tom suave tentando me acalmar. A dor em meu estômago já começava a desaparecer aos poucos, mas eu ainda sentia algumas pontadas. — Se ele não aceitar sua decisão, me fale que eu darei um cascudo nele!

Não respondi, apenas dei algumas risadas baixas e suaves enquanto limpava as lágrimas. Agradeci várias vezes por ela ter ficado ao meu lado quando eu mais precisava, agora sim tinha mais confiança em falar com meu namorado para dar essa terrível notícia. Terminei de colocar os últimos acessórios de meu conjunto natalino e segui com ela até o salão onde todos os outros integrantes esperavam ansiosos o relógio bater meia noite.

— Olha ele ali no canto. Boa sorte amiga, estarei aqui torcendo por você! — Amy disse baixinho dando um sorriso, agradeci a força e segui até a pessoa mais afastada do resto da festa.

O caminho até meu namorado parecia ficar cada vez mais longo, as dores em meu estômago pareciam voltar, mas me acalmei para que eu não saísse correndo de última hora para o banheiro, agora que o momento da revelação chegou, eu não podia mais fugir. Respirei fundo várias vezes e me foquei em conseguir chegar até ele como se nada de ruim fosse acontecer. Quando fiquei a apenas cinco passos do rapaz, chamei seu nome para que ele virasse em minha direção. — Zero...

O garoto de cabelos cinzas se virou, os óculos escuros destoando a roupa vermelha que utilizava naquela data tão especial. Eu não conseguia encará-lo, virando meu rosto para o lado com a dor querendo atacar novamente meu frágil estômago. Mesmo não o observando diretamente, percebi que ele corou ao ver meu novo visual.

— Lin... Você está linda... — ele comentou baixinho, virando seu rosto para o lado oposto do meu, senti meu rosto corar pelo elogio, mas eu sabia que não estava mais vermelha do que ele. Antes que o insurgente pudesse continuar a falar, resolvi me antecipar para que eu não desistisse no meio do caminho. — Zero, eu preciso te falar uma coisa...

Um silêncio ficou no ar, comprimi meus lábios e apertei minha mão direita sobre meu braço esquerdo, o nervosismo começando a dominar meu corpo. Eu tinha que falar, dar logo a terrível notícia, sabia que iria me arrepender depois, mas ele tinha que saber da verdade, dos meus verdadeiros sentimentos. E assim, abri meus lábios lentamente dizendo as palavras proibidas:

— Zero, estou grávida...