Emergency escrita por Mackz
Capitulo II
Primeiro Sorriso
Acordei com a fraca luminosidade vinda da janela do meu quarto. Levantei-me lentamente, vesti o vestido que já tinha preparado para o dia de hoje. Olhei-me no espelho, e passei a escova. Os cachos, na ponta dos meus cabelos, sobreviveram á passagem da escova.
Desci as escadas, e dirigi-me á sala de jantar. A mesa estava a ser posta pela nossa criada de meia-idade, Mary, enquanto o meu pai estava a ler o jornal sentado na cadeira. Deparei-me com a minha mãe que vinha logo atrás de mim. Sentamo-nos na mesa, quando Mary terminou.
- Então querida, como passaste a noite? – perguntou-me a minha mãe.
O meu pai pousou o jornal e começou a dar atenção á conversa que tinha acabado de ser começar.
- Bem… - respondi – já tinha saudades do conforto da minha cama. – acrescentei com um sorriso triste.
Durante o restante tempo do pequeno-almoço, conversamos assuntos banais. Estava tão ocupada a conversar, que a minha mente não tinha tempo para trazer pensamentos ou imagens assustadoras. Apesar de não ser uma grande adepta da conversa, e gostar mais do silêncio, agradeci internamente por conseguir manter-me ocupada.
Duas batidas na porta da casa, soaram. Mary foi atender, e trouxe o convidado até a divisão onde nos encontrávamos.
- Carlisle – cumprimentou o meu pai – Bom Dia.
- Bom Dia Charlie. – respondeu Carlisle.
- Queres tomar algo? – perguntou a minha mãe.
- Não, agradecido. Venho apenas buscar a Bella.
Levantei-me quando acabei de almoçar e virei para Carlisle.
- Vou só lá em cima buscar as minhas coisas. – disse-lhe.
Carlisle assentiu com um aceno de cabeça.
Subi as escadas rapidamente, e peguei na minha mala e no meu casaco.
Desci-as tão rapidamente, como as tinha subido e dirigi-me á porta, onde Carlisle me esperava.
- Pronta? – perguntou.
- Sim, acho que não me esqueci de nada.
Com isso, dirigimo-nos para o seu carro. Carlisle apesar de viver sozinho, era muito rico. Apenas famílias ricas podiam comprar os carros. Eram um novo meio de transporte. E era muito caro. O meu pai sonhava um dia comprar um, mas ainda não tinha meio financeiros para tal.
Não conhecia muito de Carlisle, apenas que era médico, vinha de Inglaterra, morava sozinho e tinha 29 anos. Era-me ainda estranho, o facto de alguém tão bem parecido, e com uns olhos tão cativantes, pudesse estar solteiro.
Carlisle, para mim, era apenas um grande amigo. Imaginava-o como meu pai, melhor amigo e até mesmo um irmão. Nada mais do que isso. Ele sempre me deu o apoio necessário. Não sei quantas lágrimas é que as suas mãos já limparam, quando estas corriam pelo meu rosto.
Em pouco minutos, chegamos ao hospital. A porta deste estava cheia de pessoas. Algumas a chorar, outras com as mãos na cabeça em sinal de desespero. Olhei para elas confusas. Não consegui perceber o porquê de tanto nervosismo. Carlisle percebeu a minha confusão.
- São as famílias dos doentes com a epidemia. – explicou-me.
Olhei para ele com os olhos arregalados e com a boca aberta.
- Há… - engoli a seco – Há assim tantos doentes? – consegui perguntar.
A expressão facial de Carlisle demonstrou compaixão por aqueles seres desesperados por noticias do ou dos membros da sua família. Doentes, e com grande risco de morrer.
Famílias arruinadas, amores destruídos, pais com o coração partido. Era assim que essas pessoas estavam. Senti-me tão mal por eles. Queria conforta-lhes e dizer-lhe que ia ficar tudo bem. Mas não era verdade. Como tudo estava a correr, estava a andar mais para o lado pessimista.
- O pior… - falou Carlisle – é que se não nos despachar-nos. Se não encontrarmos uma cura. Vamos lotar. E vamos ter que rejeitar pessoas.
Não respondi, continuei em silêncio enquanto a voz suave de Carlisle e carregada de tristeza soava aos meus ouvidos.
Saímos do carro, e dirigimo-nos para o hospital. Quando nos aproximamos deles, víamos os enfermeiros a impedir a passagem aos familiares das vítimas da epidemia.
Cederam-nos a passagem. Carlisle indicou-me o quarto onde eu me deveria vestir. Entrei no quarto, que era parecido com um balneário. E peguei na minha roupa branca de enfermeira e coloquei-a.
Saí, para ir ao encontro de Carlisle. Este já estava vestido com sua bata branca típica. Ele começou a caminhar e eu segui ao lado dele, sempre em silêncio. Chegamos a uma porta, e Carlisle entregou-me uma mascara para me proteger da propagação do vírus.
A mascara tapava-me apenas o nariz e a boca. Deixando o olhos á mostra.
Entramos no quarto, e reparei que Carlisle não tinha colocado a mascara. Ia avisa-lo, mas não consegui, quando me apercebi da situação em que estava.
Várias camas de um lado e do outro, colocadas em paralelo. Nelas, estavam pessoas cheias de suor. Umas tossiam, outras remexiam-se na cama, outros respiraram com tanta dificuldade, que qualquer um podia ouvir.
Carlisle pediu que eu apenas molha-se o pano que estava colocado numas pequenas mesas entre as camas dos pacientes, e colocá-los na testa. Isso poderia ajudar a abaixar a febre.
Assenti e aproximei-me da primeira cama da fila do lado esquerdo. Estava nela, deitada um homem, que aparentava os seus 40 anos. Respirava dificilmente, como outros. E a camisola branca com que estava vestido, estava encharcada de suor. Coloquei a bacia que outras enfermeiras me tinham dado, na pequena mesa. E molhei o pano. Escorri-o, e coloquei-o na testa do homem. Instantaneamente, o homem abriu os olhos ao sentir o frio na sua testa. E lançou-me um sorriso agradecido, ao qual eu retribui com outro triste.
Fiz isso, nas restantes camas. Uns mantinham-se inconscientes, mesmo quando coloquei o pano frio e molhado. Outros acordavam, e pediam auxílio. Mas o que eu poderia fazer?
Continuei na outra fila, e as mesmas reacções da parte dos pacientes. Quando terminei, mandaram-me para outro quarto, para a minha surpresa.
Entrei no segundo quarto. Apesar deste ter menos doentes, ainda conseguiam ser bastantes.
Os quartos eram rectangulares, espaçosos e compridos. O que fazia que coubesse mais pacientes.
Continuei com o mesmo procedimento que o outro quarto. Aqui os pacientes, infelizmente eram mais novos. Com as idades entre 15 e os 25.
Mas por outro lado, não se encontravam crianças. O que, apesar de ainda continuar mau, melhorava um pouco.
Eu não sabia se a epidemia tinha apanhado crianças. E se tivesse, elas talvez teriam morrido logo. Porque pelos pacientes adultos, respirar era um movimento tão difícil que para eles decerto devia ser mais fácil parar de o fazer.
Cheguei à última cama, da fila direita. E o paciente agarrou-me o pulso brutamente. Assustei-me e tentei afastar-me. Mas mesmo doente, ele conseguiu impedir-me de me mexer dali. Aparentava ser novo, talvez os seus 18, senão menos.
Ele abriu os olhos, que tinham um verde muito bonito, mas sem brilho. Talvez por causa da doença. Encarou-me, não com raiva, mas como pedisse ajuda. Ia lhe dizer que não podia fazer nada, quando ele interrompeu-me.
- Ajuda-me. – disse-me baixinho e ofegante. Respirou fundo e acrescentou – eu não quero continuar aqui. Já pedi ao médico que me tirasse a vida, mas ele recusou.
- E a sua família? Como é que ela vai ficar? – perguntei-lhe num sussurro.
- Morreram. O meu pai e a minha mãe já morreram. Pelo mesmo motivo que eu estou aqui. – respondeu-me não deixando de me encarar e sem soltar-me o pulso.
Encarei-o de volta. Senti as lágrimas a apoderarem-se dos meus olhos. Eu não conseguia imaginar-me sem o meu pai, nem mesmo sem a minha mãe. A dor era horrível. Ele devia estar a sofrer imenso. Mais pela morte dos pais, do que da epidemia.
A dor psicológica é sempre mais forte, do que a dor física.
- Eu sinto muito. – continuei a sussurrar. Se aumentasse o tom, ele ia notar a minha voz de choro.
- Não sinta. – respondeu-me bruscamente – apenas ajude-me.
- Eu não… - respondi-lhe rapidamente quando uma voz interrompeu-me.
- Edward, solta-a. – falou Carlisle ao meu lado.
Ele soltou-me e eu pus a mão no meu pulso, onde ele me tinha agarrado.
Peguei no pano e molhei-o. Retirei o demais, e virei na sua direcção. Ele tinha fechado os olhos. Aproximei-me, um pouco assustada. Sentia o olhar de Carlisle nas minhas costas.
Coloquei o pano na sua testa suada. E ele continuou com os olhos fechados. Carlisle afastou-se e continuou a fazer a sua ronda.
Estava-me prestes a afastar, quando ele falou.
- Perdoou-me. – disse-me enquanto me encarava calorosamente. – Eu fui indelicado.
Virei-me na sua direcção.
- Tudo bem. – tranquilizei-o. Antes de me afastar lancei-lhe um sorriso triste, ao qual ele retribui com outro.
Ele era bonito, muito bonito por sinal. Devo imaginar, que ele tivesse muitas pretendentes. Principalmente, daquelas meninas ricas.
Afastei-me da sua cama. E saí do quarto sem olhar para atrás. A minha mente era apenas povoada pelo seu sorriso, o primeiro, o sorriso de Edward.
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Peço imensa desculpa pela demora x: Voltarei a postar mais regularmente.
Obrigada por todo o apoio que me deram nas reviews.
Mais cedo, do que esperam vai estar o terceiro capitulo postado x)
Bisôus.