Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 8
A sua casa de verdade


Notas iniciais do capítulo

--> Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.

Boa leitura ;3



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Enquanto Erica Montrio e o príncipe contornavam a calçada até a rua de trás ela se repreendia mentalmente por ser tola à ponto de contar à Zeke onde ficava sua casa.

Desceram a rua em silêncio após virar a esquina e passaram por vários casebres, dois bares e um ateliê caindo aos pedaços e com a pintura desgastada, na frente do qual uma moça tirava a neve da calçada. A moça acenou para Erica e voltou ao trabalho.
Nos bares, os bêbados jogavam beijos à garota, todos loucos e inconscientes do que estavam fazendo, dopados pela bebida. Erica ria e retribuía, sabendo que no dia seguinte eles mal se lembrariam do que fizeram.
Passaram por uma velha estalagem, e o balconista saiu à rua para dar à Erica um grande abraço. Pouco tempo depois aparece uma criança, uma menina com enormes olhos verdes, a pele manchada por sardas e os compridos cabelos ruivos presos em tranças, uma de cada lado. Erica bagunçou-lhe a franja e a garota corou e riu.

Zeke observava tudo por baixo do capuz do agasalho enquanto eles desciam e se maravilhava com o fato de Erica ser tão adorada naquelas partes do reino. Era conhecida por todos e amiga de todos. Repentinamente, o príncipe pôs-se a contar mentalmente os amigos que tinha.
Conseguiu ocupar três dedos da mão direita. Um para seu pai, um para seu irmão mais velho e o outro para seu ferreiro particular. Entristeceu-se ao perceber que não sabia os nomes das pessoas que o saldavam em seu próprio reino.

Erica sabia o nome de todos que a cumprimentavam. Ezekiel consolou-se com o pensamento de que talvez a garota só tivesse uma boa memória, mas no fundo duvidava disso.
Erica já o havia surpreendido demais naquele dia. Ela a julgava, até então, como uma garota pobre e tola que lutava na Arena porque não sabia fazer nada além de derrubar inimigos para ganhar alguns tostões.
Porém, ao fim daquela tarde e depois do anoitecer, suas opiniões sobre a garota já haviam se alterado, e muito.

Chegaram ao fim da rua e Erica parou bruscamente em frente à uma minúscula construção de troncos e pedra bruta.
Zeke tirou o agasalho e o devolveu à garota. Agora podia sentir na pele como Erica deveria estar morrendo de frio.

– É aqui - ela disse, vestindo o agasalho de cobrindo a cabeça com o capuz. - Feliz agora, príncipe? Pode ir embora.

A garota abriu a porta e ia entrando quando Zeke puxou-a pelo braço:

– Espere - ele disse, sério. - Necessito saber se me ajudará ou não.

– Não está nos meus planos. Me solte e volte para a segurança dos muros do seu castelo.

Zeke soltou o braço de Erica no exato momento em que algo pulou em suas costas. Um vulto alaranjado passou diante de seus olhos tão rápido quanto um relâmpago e pulou nos ombros da garota. Era um gato rajado com olhos curiosos e amarelados como um âmbar.

Ele saltou do ombro da garota para o chão, passou pelo vão da porta entreaberta e pulou em um monte de feno no fundo da casa, aninhando-se como uma bolinha grudado ao corpo de uma criança.
Era o irmão de Erica, que dormia encolhido de frio. Os longos cabelos castanho-escuros caíam sobre seus olhos, e sua pele extremamente pálida (como a da irmã) assumia o tom alaranjado da lareira.

Zeke lembrou-se daquela manhã, na sala dos tronos, quando o senhor seu pai Daragh havia questionado Erica sobre sua família.

Tenho um irmão que tomo como filho, ela havia dito. É por isso que vou à Arena, precisamos do dinheiro.

– Posso lhe pagar pelos seus favores - ele sugeriu. O príncipe tinha o dinheiro que Erica precisava, e estava desesperado por ajuda, ainda que não quisesse assumir aquilo.

Erica limitou-se à revirar o olhos:

– Há várias maneiras de se conseguir dinheiro aqui. Ainda posso voltar à Arena sem que seus guardas saibam.

– Não estou falando de 170 fontanos, Erica - Ezekiel objetou. Foi esta a primeira vez que a chamou pelo nome. - Estou oferecendo muito mais que isso. Tanto dinheiro que as próximas cinquenta gerações de sobrenome Montrio serão ricas como você jamais sonhou que seria.

A moça olhou para trás, para seu irmão adormecido em um monte de feno, encolhido de frio, e ponderou a oferta por um instante.

Pensou nas coisas que nunca tiveram e no dinheiro à muito custo acumulado, que usariam para sair daquele reino e encontrar um lugar melhor para viver.

Olhou para o seu próprio estado, desanimada. Vestia roupas velhas e finas, calçava o mesmo sapato à bastante tempo, suas costas e pernas viviam doloridas por causa do esforço que fazia na Arena e há anos já não dormia direito, portanto havia ganhado belas olheiras debaixo dos olhos.

Sua casa estava caindo aos pedaços e tudo ali era improvisado. Naquele reino quase sempre estava nevando e a lareira até esquentava bem, mas muitas vezes, quando ventava, o fogo se extinguia no meio da noite sem que ela e seu irmão percebessem. Por várias vezes Erica chegou perto de ter que arrancar fora a própria orelha ou um dos dedos devido ao congelamento.
Nos tempos de chuva havia goteiras pela casa toda e uma enxurrada entrava pela porta e deixava as paredes de pedra tão úmidas que a casa acabava criando lodo e ficava cheirando à mofo o resto do ano.

Nunca houve e nunca haveria um dia de verão sequer naquele reino. O tempo estava sempre fechado, e o sol que de vez em quando brilhava ali não era tão bonito quanto em outros lugares dos quais ela ouvia falar.

Enfim, vivia uma vida miserável de merda...

***

Ela e Zeke discutiram durante mais algum tempo e, no fim, tudo estava combinado.

Erica bateu a porta na cara do príncipe e o deixou lá fora, no frio.

Tirou os coturnos e deitou-se na cama junto de seu irmão. Antes de dormir, xingou-se mentalmente pelo acordo que acabara de fazer.


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Notas finais do capítulo

Reviiiiews, galera! :3



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