Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 7
A sua casa


Notas iniciais do capítulo

--> Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.

Boa leitura ;3



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Havia poucas coisas que Ezekiel detestava, e quase nenhuma que temia, mas aquele lugar definitivamente não era do gosto do rapaz.

Erica andava cautelosamente pelas ruelas escuras e fedorentas, parando de vez em quando para se certificar de que ele estava bem. Pela primeira vez parecia mais preocupada com o príncipe do que com ela mesma, Zeke percebeu.

Observou-a da cabeça aos pés. Ainda lembrava-se dela como Eric, e lembrava-se de como apostara contra ela na Arena.
Dizia a si mesmo que era tecnicamente impossível um homem com aquela estatura ganhar uma luta sequer.
Mas agora que sabia que não era um homem, estava confuso. Como poderia uma mulher ter chegado tão longe na Arena?
Ela, é claro, não golpeava de verdade. Apenas derrubava os inimigos. E também não era nenhuma dama.
Mesmo assim parecia inexplicável que uma garota como ela tivesse conseguido avançar tanto nos combates.

Enquanto pensava nisso, flagrou-se admirando as curvas de Erica.
Quando pensava que ela era um homem, apenas achava que era magrelo demais, pequeno demais, fraco demais.

Agora que a via com outros olhos, percebera que era dona de um corpo femininamente bem esculpido, porém sujo e jogado embaixo de roupas largas e masculinas.

Ela tinha os braços nus cruzados sob os seios, e não usava nada além de uma blusa branca encardida e sem mangas e uma calça preta rasgada nos joelhos. Estava tremendo de frio. Suas botas arrastavam-se pesadamente nas pedras cheias de lodo da rua e havia neve recém-caída em seu cabelo, mas Erica continuava andando e vigiando o príncipe, preocupada.

Por um momento, Zeke agradeceu à Ophélia por estar com ela.

Não que ele gostasse de Erica. Ele detestava a garota. Detestava.
E odiava o fato de precisar dela. Mas agora o sol havia se posto completamente, e ele não conhecia aquela bandas. Por isso, sentia-se grato por estar com Erica.

E, ao mesmo tempo, sentia raiva pelo fato de ter sido separado de sua espada e armadura.
Aquela garota desgraçada...

***

Erica parou repentinamente diante de uma porta de madeira com dobraduras de ferro e um pequeno visor. A porta estava contornada por linhas luminosas alaranjadas, indicando que algo estava aceso lá dentro.
A garota bateu na madeira três vezes, trêmula de frio.

O visor se abriu, revelando grandes olhos castanho-escuros cheios de olheiras e bolsas, e um par de enormes sobrancelhas, grossas e negras, com fios espessos como os pelos dos lobos-da-mata.

– Erica! - A voz gritou do outro lado, rouca e grossa. Soara tão alta que Zeke pensou que talvez tivessem ouvido o homem lá do Palácio.

Ouviram o barulho de várias trancas se abrindo até finalmente verem a maçaneta girar e a porta se abrir, revelando uma sombra de dois metros de altura.

O homem se inclinou para frente, grudando seus olhos em Zeke, que tentava se esconder para não ser reconhecido.

– Quem é o camarada? - Perguntou o homem, passando os dedos pela barba negra que lhe crescia, desgrenhada.

– Se chama Zeke. Está comigo - Erica respondeu, abreviando o máximo que podia a conversação. Ela só tinha olhos para a lareira acesa dentro da casa.

Sentou-se em um banquinho de madeira bem na frente do fogo, e se lembrou de Sören, o gato, e de seu irmão.

O homem puxou Zeke para dentro da casa, fazendo-o sentar-se em uma pilha de feno. Serviu à Erica uma tigela de caldo de alguma coisa que o príncipe não sabia o que era, mas que tinha um odor delicioso.

– Está com fome? - Erica perguntou à Ezekiel. Sua voz estava alterada porque seu queixo tremia, e ela esfregava compulsivamente suas mãos diante do fogo.

O príncipe não mentiu: estava faminto. Fez que sim com a cabeça, desesperado por qualquer coisa que pudesse mandar goela abaixo.

O grandalhão arqueou as sobrancelhas grossas. Zeke tinha certo medo daquele homem. Era maior do que ele, muito maior, para todos os lados, e tinha cara de poucos amigos e grandes mãos calejadas. Usava uma blusa marrom, feita da pele de algum animal, e uma calça de algodão bege. Por cima de tudo isso, um avental branco, chamuscado, como se tivesse sido usado para apagar o fogo de um incêndio.

– É um viajante? - Ele perguntou. Seu vozeirão não ajudava a acalmar os nervos de Ezekiel.

Erica suspirou. Levantou-se e foi até a janela; certificou-se de que as ruas estavam desertas. Fechou as cortinas grossas, feitas de pele de boi, e voltou-se para Zeke:

– Pode tirar o capuz.

O rapaz teve certo receio, mas segurou as bordas do capuz com os dedos e puxou, vagarosamente, revelando seu rosto. As bochechas, altas e ossudas, estavam vermelhas à luz da lareira, e seu maxilar se contraiu devido ao nervosismo.

– Vossa Alteza?! - O homem disse, rindo. - E eu achava que já tinha visto de tudo na vida... Tome, é caldo. Não deve ser tão bom quando a comida do Palácio, mas dá sustância para enfrentar esse tempo.

Em circunstância normais, Zeke perguntaria de que o caldo era feito, mas estava tão esfomeado que mal usou a colher. Praticamente virou a tigela como uma taça, mandando tudo para dentro da boca. Erica riu, deleitando-se com o fato de ver o príncipe se portando com os modos de seu irmão caçula.

– Esse é Baruc - ela disse enquanto dava um soco no peitoral do homem. - Ele é ferreiro, muito conhecido nessa região. Sabe milhares de técnicas para se forjar uma arma, e poderia forjar qualquer espada que você quisesse.

Baruc prendeu a cabeça de Erica sob um braço e deu um cascudo nela com a mão livre. Ela riu e se endireitou, esfregando a cabeça onde levara o golpe.

– Não me agrade muito, garota - ele disse, e depois olhou para Ezekiel, intrigado. - Tenho até medo de perguntar o que você está fazendo com esse aí...

"Esse aí"..., Zeke pensou. Aquele homem era idêntico à Erica; não tinha respeito pelos seus superiores, nenhum pudor...

– É uma longa história - Erica resmungou. - Não podem saber que ele veio até aqui, Baruc. Não podem nem sonhar com isso.

O homem acenou com a cabeça, sério:

– Juro manter silêncio. Têm a minha palavra.

Erica aliviou-se. Baruc virou-se para o príncipe:

– Quer que eu te leve de volta ao castelo?

Zeke pareceu ofendido:

– Posso encontrar meu caminho de volta, senhor. Muito obrigado.

– Não agradeça, rapaz - o ferreiro resmungou. - Só estava sendo educado.

Erica terminou de tomar seu caldo e encarou Ezekiel, fria.

– Então, pode ir agora. A minha casa fica na rua de trás; você já me trouxe.

– Na rua de trás? Então esta não é a sua casa! - Zeke disse, triunfante. - Vamos logo. Ainda temos que nos resolver.


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews! :3



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