One and Only escrita por Jessie Austen
John se despreguiçou e ao fazer isso sentiu o pescoço doer. Abrindo os olhos viu o sol invadir a sala.
Levantando-se viu na mesa canecas vazias e logo em seguia escutou risadas vindo do seu antigo quarto, o que o motivou a ir até lá para questionar a razão de terem esquecido dele para o café.
– ...e eu não te esqueci mesmo depois de todo esse tempo, sabia.- ouviu Trevor sussurrar e isso fez o seu coração disparar.
Ao parar na frente da porta, viu Sherlock deitado sobre Victor com sua calça e camisa social de cor escura, como se estivesse pronto para sair, enquanto este, sem camisa e coberto com seu antigo cobertor o abraçava forte pela cintura, beijando-o nos lábios enquanto os dois sorriam.
Assim que ambos o encararam na porta seus sorrisos desapareceram e John despertou com Victor chacoalhando-o com força.
O médico se sentou enquanto Trevor se afastava, sentando-se na mesa da cozinha com sua caneca de chá bem quente.
– Você estava resmungando. De nada. E bom dia...tem chá. Deus, eu senti falta desse chá inglês...
– Onde o Sherlock está? – o loiro perguntou ainda meio atordoado.
– Sei lá. Saiu cedo. Não o vi...acordei a uns vinte minutos também. Cara, você tá bem? Tá pálido, parece que vai vomitar...
– Não, é...to sim.
– Pesadelo?
– Mais ou menos. Que horas são?
– Sete e vinte.
– Legal. Consigo tomar café aqui antes de ir. – disse indo até o banheiro. Ao voltar, Victor disse:
– Por favor. Me acompanhe...nunca acerto a medida de água e sempre acabo fazendo bem mais.
– Obrigado. – John respondeu enquanto sentava à sua frente ainda se lembrando do que acabara de sonhar.
– Então, eu gostei de ontem...quero dizer, até onde eu me lembro. – brincou - Me senti como uma criança ao acordar e me ver coberto em um quarto quentinho. Valeu.
– Você pesa uma tonelada. Nunca mais faça isso. – Watson tentou sorrir.
– Bem, não vou prometer. Ansioso para o casamento?
– Casamento? Oh, sim. Definitivamente. E está tão perto agora... – John respondeu enquanto mordia uma torrada.
– Será um homem sério. Ainda mais do que já é. Você quer ter filhos e essa coisa toda?
– Sim, quero ter filhos e essa coisa toda. Sou careta.
Victor encarou por alguns instantes e sorriu antes de dizer:
– Tem algo de errado no meu rosto, John?
– Por quê?
– Porque você está me encarando de um jeito diferente. Eu sei que sou idiota, mas eu falei ou fiz algo que incomodei ontem? Me descul...
– Não. Eu que peço desculpas. Não. Eu só estou com dor no pescoço. Me ignore. – John respondeu disfarçando e encarando o pote de geléia.
– Oh ok. Vai trabalhar hoje?
– Não. Só segunda agora.
– Legal. Podíamos fazer algo, o que acha? Acho que Sherlock não deve voltar tão cedo.
– Sinto muito. Terei que ver algo sobre o bolo com Mary.
– Oh. Entendo. – Trevor respondeu com um sorriso educado.
Watson então aproveitou que este bebericava seu chá para encará-lo. De repente tudo parecia muito claro. Não havia nada de errado com Victor, além de considerá-lo um narcisista convencido com tendência a vícios, mas ele teve a certeza que nunca poderia suportá-lo.
Não depois dele ter transado com Sherlock.
De ter sido o primeiro. E o único.
De os dois terem continuado a amizade mesmo apesar de tudo.
De ele estar de volta em Londres e de tudo ter se tornado nebuloso e bagunçado depois e sua chegada.
Dele ter dormido no quarto que havia sido seu, por cinco anos.
Por ele ter beijado Sherlock no sonho. E na vida real. Por quantas vezes isso teria acontecido?
E de repente, como um desabafo e antes que pudesse pensar duas vezes, disse:
– Ontem Sherlock me contou sobre vocês dois, quando mais jovens.
Victor o encarou de maneira divertida e mordeu pacientemente sua torrada antes de responder:
– É mesmo? E o que ele contou?
– Tudo.
– Tudo? Bem, isso não seria possível. Ele deve ter deletado algumas partes, muitas partes. Aquelas que ele considera relevante, mas que pessoas como eu e você sabem que são importantes também.
– Como quais, por exemplo?
– Como o nosso segundo beijo. Que foi cem por cento sóbrio, sem forçar a barra e com ele tomando a iniciativa. – Trevor sorriu – Ou como quando ele me disse que eu era o tipo de pessoa que “merecia o melhor que o mundo podia oferecer” antes de me abraçar muito forte no aeroporto, antes do meu voo para a França. Aquele simples abraço me desmanchou, John. E eu quase implorei para ele ir comigo. Como amigo. Só isso. Bem, faz dez anos. Ele definitivamente não se lembra mais.
– Eu quase não pude acreditar quando ele me contou. Soa quase que absurdo...
– Claro que sim. Sherlock naquela época era só um garoto magricela muito atraente com seus olhos grandes e curiosos. E eu era outra pessoa também, de certa forma.
– Você não é exatamente o tipo de cara que eu imagino sendo amigo de Sherlock. Não me interprete mal, eu não imagino ele sendo amigo de ninguém, para dizer a verdade.
– Eu sei. Eu entendo. Nosso Sherl é mesmo uma figura sem igual, não é? Mas ele é fascinante. – Victor respondeu encarando John que concordou – Ele é inesquecível. E indescritível. Eu já fui apaixonado por muitos caras, e uau, ele sempre esteve ali. Em alguma parte, lembrando-me a todo tempo de ele era o dono daquilo tudo, sabe? Não importava o que eu fizesse ou com que eu dormisse e onde vivesse...
– Você ainda é apaixonado por ele?
– Definitivamente. É um estado permanente, John. Não tem volta uma vez que você prova aquela droga chamada Sherlock Holmes. – Trevor riu.
– É por isso que você voltou então? – John não conseguiu deixar de perguntar.
– Eu voltei porque meu trabalho me exigiu a isso. O amor se transforma, doutor. Eu sou um homem apaixonado, mas eu não sou sadomasoquista. Eu não voltei para tentar conquistá-lo ou algo do tipo se é isso que te incomoda. – este respondeu brincando, e de fato incomodou e muito o loiro.
– Desculpe se estou sendo...
– Não se preocupe. Minha vida é um livro aberto. É claro que se o Sherlock mudasse de ideia eu iria adorar. Mas acho que isso não irá acontecer. Levou alguns anos para perceber isso. Ele é meu amigo e fico feliz por isso. – este sorriu tristemente.
John então sorriu de volta e pigarreou, levantando-se, lavando suas louças e colocando seus sapatos. Neste meio tempo trocou algumas palavras de forma automática com Victor. Após disso saiu em direção de sua casa. Decidiu ir a pé mesmo, apesar de toda distância. Precisava de ar, de espaço e de tempo para pensar.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Gostaram?! *_* Espero que sim! Até a próxima! :*