One and Only escrita por Jessie Austen


Capítulo 6
Quinto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Dobradinha pra comemorar a volta do Nyah! Espero que gostem! ;*



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John subia a escada apoiando-se na parede enquanto Sherlock se apoiava no corrimão, ambos carregando de maneira desajeitada a Victor que estava completamente apagado entre os dois.

– Seu amigo além de maluco é pesado. Você tem que entrar...primeiro para eu conseguir... isso. - o loiro riu enquanto o detetive caminhava de maneira impaciente.

– Eu não consigo. Me ajude aqui... – Holmes resmungou enquanto agora os dois arrastavam Trevor até a poltrona.

– Pronto. Podemos deixa-lo assim, não podemos? – o loiro brincou enquanto os dois observavam Victor jogado de mau jeito com sua cabeça apoiada nos braços da poltrona.

– Sim, se quisermos que ele fique com torcicolo amanhã e um ódio eterno de nós dois pelo resto da sua vida.

– Não! Não queremos isso...vou arrumar meu quarto para ele.

– Mas e você, John? Não vai dormir aqui hoje?- Sherlock perguntou enquanto este sumia no corredor.

– Sim! Vou pegar umas cobertas e dormir no chão da sala mesmo.

– Se quiser pode dormir no meu quarto. Quero dizer, não vou dormir hoje...tenho alguns testes para fazer e quanto mais cedo eu começar mais rápido os resultados saem.

– No seu quarto? Não, Sherlock, vá descansar...daqui a pouco teremos que acordar mesmo e daí você começa seus testes. Não se preocupe comigo. – Watson voltou com três colchas, dois cobertores e um travesseiro, ajeitando-os perto da lareira.

– Pois bem. Vamos levá-lo? – Holmes disse e então os dois o fizeram, ajeitando-o e deixando-o no quarto que era de John.

Assim que voltaram, o médico acendeu a lareira e se deitou cobrindo-se, encarando o teto.

Sherlock que fingia tomar água observou a tudo com muita atenção e tinha que reconhecer que estava feliz por ver aquela cena. John ali, na Rua Baker com ele novamente. Sem Mary, exatamente como nos velhos tempos.

A luz que a lareira fazia deixava-o com o olhar ainda mais brilhante e ele mal conseguiu disfarçar quando John o encarou de volta.

– Obrigado. Por me deixar ficar aqui hoje à noite. – este disse baixinho.

– Agradecimentos não são necessários. Você sabe.

– Você vai ficar mesmo acordado para seus experimentos malucos então?

– Sim, eu acho que vou.

– Bem, ainda não estou com sono também. Senti falta disso, sabia? De ficar aqui. Eu gosto do consultório e da minha nova vida, mas puxa...uns dos melhores dias da minha vida foram aqui, com você...sabe, com os casos e todo o mistério. – o médico sorriu e Sherlock não conseguiu dizer nada além de dar um sorriso sem graça.

Aproximando, ele se sentou na poltrona e ficou encarando o fogo na lareira que tinha pequenas faíscas agora de cor muito azul.

Alguns minutos em silêncio se passaram e ele não saberia dizer exatamente quantos. E este silêncio foi quebrado assim que John disse de uma maneira forçadamente simpática, como se tivesse ensaiado como cada palavra soaria:

– Então...você e o Victor tiveram muitas aventuras na faculdade, hã?

– O quê? Oh. Sim. Pode se dizer que sim.

– Engraçado...- este sorriu, mas havia algo muito sério em seu olhar.

– O que é engraçado, John?

– Você. Vocês. Tendo aventuras quando mais novos. Quero dizer, eu jamais poderia imaginar isso, certo? A minha faculdade foi um saco, bem, Medicina é um saco até para quem gosta, que é o meu caso.

Os dois se entreolharam e John se ajeitou no travesseiro. Havia algo incomodando-o muito porque ele fazia isso com frequência desde que Sherlock se aproximou.

– Eu, por incrível que pareça, não era social na faculdade. – este continuou após um tempo, ao perceber que o moreno não falaria nada em resposta.

– Não fico surpreso.

– Não?

– Não. Você tem problemas com confiança. Já teve algumas experiências por conta disso, é normal que tenha tido sua fase mais suscetível, que é adolescência e os primeiros anos da vida adulta, dessa forma, reclusa. – Sherlock respondeu.

– Sim, pode ser. Quero dizer, é exatamente isso, mas você fumando maconha e bebendo...essa eu não consigo imaginar. Nunca consegui fazer você jogar videogame comigo e esse beberrão aí dentro conseguiu te viciar em drogas e nicotina. Não sei se eu o parabenizo ou o condeno! – John sorria, mas o tom de sua voz agora era ainda mais sério.

– Ele pode ter sido a pessoa pelo qual eu tive acesso às substâncias tóxicas de maneira fácil, mas eu sou o único responsável, por experimentar às vezes...

– Periodicamente, eu diria...frequentemente.

– Substâncias tóxicas. – Holmes completou e os dois se entreolharam novamente.

– Sim, pode ser. Bem, um viciado nunca assume que é viciado.

– Eu faço experimentos, John. E sei exatamente o que estou fazendo todas às vezes. Só isso. Quantas vezes...

– Ok, Sherlock...e quais outros tipos de experimentos vocês tiveram juntos? – Watson perguntou agora apoiando em seu braço, enquanto o encarava atentamente.

Por algum motivo Sherlock sentiu falta de ar. Sentiu um aperto no coração. Lembrou-se da sua primeira vez, que havia sido com Trevor. Do sorriso idiota que ele deu seguido de “essa experiência você pode ter comigo quantas vezes quiser”. Lembrou-se também do dia de sua partida para a França, e das lágrimas que ele segurava em seus olhos quando os dois disseram adeus.

– Por que isso agora, John?

– Bem, curiosidade. Estranheza, talvez. Você causa isso em mim desde o primeiro instante que eu te conheci – este respondeu decidido – e porque Victor ficou declarando a todos que vocês dois já foram bem mais que amigos...

– Nós sempre fomos só amigos.

– Uau. E que amizade! Então...me conte. Porque nós nos conhecemos a um bom tempo e eu acho que somos amigos suficientes também para você me contar certos tipos de coisas.

– E qual seria o ponto disso? Já se passaram mais de dez anos desde então. – Holmes respondeu, mas John não disse nada, apenas piscou.

Sherlock então o observou, como sempre fazia desde sempre. E aquela vulnerabilidade, aquela dúvida o invadiu, o acertou como um soco no estômago.

Ficar perto de John Hamish Watson sempre havia sido intrigante, mas ultimamente era uma tortura. Sim, porque tudo nele era convidativo, era um mistério a ser urgentemente desvendado.

De repente seus pensamentos já estavam em como seria a textura da sua pele, seu beijo, seu toque...o pouco álcool que havia ingerido o dominava e isso não era nada bom. Podia sentir suas pernas hesitarem e seus sentidos o confundirem e era por isso que ele nunca consumia álcool.

Mas o que o desconcertou mesmo foi perceber que John estava neste mesmo modo.

– Se você quer saber se nós tivemos relação sexual, sim. Nós tivemos. – respondeu encarando John que lambeu seus lábios em resposta – Foi apenas uma vez. Foi uma confusão. E foi o bastante para causar problemas. Problemas pelos quais eu não queria ter respondido. Uma das poucas experiências pela qual eu me arrependo.

– Você gostou? – Watson questionou isso de uma maneira que Sherlock achou secretamente deliciosa.

– Como eu posso gostar de algo confuso? Que me trouxe problemas?

– Você sentiu prazer? É isso que eu quero saber...dizer. – John questionou muito sério, fazendo os dois se olharem, desta vez demoradamente.

– Sim.

John então encarou o teto, a lareira e o chão antes de suspirar e dizer:

– Quando eu acho que já vi de tudo nesta vida...

– O que quer dizer?

– O que quero dizer é que eu jamais poderia pensar isso de você!

– Isso o quê?

– Isso que você acabou de me contar, ué? Que você transou com um cara como o Victor e ainda gostou...

– Onde você quer chegar?

– Eu achava que você iria querer alguém a sua altura...quero dizer, eu nem ao menos sabia que você era gay, nunca tive certeza e depois daquela história com a Irene eu...

– Essa necessidade de classificar pessoas pelos seus interesses como se tivesse ajeitando um catálogo de cores é medieval, John.

– Ok, Sherlock. Pode falar o que quiser...mas você sabe que eu...quero dizer...

– As coisas não são tão simples. – Sherlock disse muito sério.

– Sim, obrigado por falar por mim. Deus, eu sei! Eu sei...desculpe se fui invasivo. Eu...eu...muita informação inesperada para um dia só. – Watson tentou parecer calmo.

Sherlock então encarou de novo a lareira e John passou mais um tempo em silêncio até quebrá-lo novamente:

– Você disse uma vez só? Se gostou...porque não continuaram...vocês não namoraram ou algo do tipo?

– Sim. Por que não. Não. São as respostas. Respectivamente.

– Mas por quê, Sherlock? Você se permitiu uma vez...

– Apenas por curiosidade e por uma dose elevada de álcool. Hormônios podem confundir os nossos sentidos de realidade, John. Você mais do que ninguém deve saber disso. – o detetive tentou brincar, mas o loiro apenas concordou com a cabeça, muito pensativo.

– Ele gostou também, quero dizer era apaixonado ou algo do tipo? Quando vocês se envolveram?

– Foi só uma vez, pelo amor de Deus.

– E como foi? – o médico perguntou determinado.

– Por quê...

– Sim, como foi? – este repetiu.

Sherlock se ajeitou antes de dizer, em um sussurro:

– Foi nas férias de final de ano. Victor estava brigado com os pais só para variar e achou que a melhor ideia era se rebelar contra eles. Nos hospedamos no hotel, no mesmo que hoje ele está hospedado, e ficamos lá por uns dias. Eu não queria voltar para casa, de qualquer modo, Mycroft estava ainda mais chato naquela época. Um dia, numa tarde entediante, aconteceu.

– Como?! – John perguntou ainda um tanto quanto incrédulo.

– Você quer detalhes?! – Sherlock questionou, adorando ver como aquela conversa deixava o loiro, com sua respiração acelerada, seus olhos abertos, seus lábios levemente molhados. Sim, álcool era um elemento perigoso em circunstâncias como aquela que ele vivia ultimamente.

– Bem, não. Claro que não. Não os detalhes, mas como ele te convenceu...e...

– Nós estávamos chapados, John. Provavelmente foi algo bem rápido, físico e nada romântico.

– Você não lembra? De nada?

– Eu só me lembro do que importa. O que definitivamente não é o caso.

– E por que você teve consequências? Com quais problemas você teve que lidar?

Holmes suspirou fundo antes de olhá-lo impacientemente e responder:

– Tudo aquilo era uma experiência para mim. Tudo. Mas para Victor não. E ele estava em uma fase complicada naquela época. Quando eu percebi isso era tarde demais. E eu assisti tudo de perto. Ele chegou a surtar e teve uma overdose no vestiário masculino. Descobriram que ele saia com o professor de Química e os pais dele imediatamente quiseram tirá-lo da faculdade.

– Foi nessa época que ele mudou para França?

– Oh, não. Foi quase um ano depois. Após o final do curso.

– Mas...esse caso que ele teve com o professor...você não ficou...

– Ele é e sempre foi só meu amigo, John. Não queria e não poderia exigir nada. Deixei claro isso também.

– E ele saiu da faculdade então?

– Não, mas acabou se afastando definitivamente dos pais. Arranjou um emprego para conseguir pagar seus estudos e contas sozinho. Nesta época, ele colocou a ideia na sua cabeça que o motivou no final das contas a ir para a França. – Sherlock respondeu.

– Que ideia?

– De que ele estava apaixonado por mim. – o moreno respondeu muito sério enquanto os dois se encaravam.

– E você...

– E eu deixei bem claro que nada iria acontecer entre nós. Nunca mais. Brigamos algumas vezes porque ele achava que eu negava o que sentia, ou que não queria tentar porque era covarde. No fim ele achou melhor se afastar, conseguiu contatar um parente que morava aos arredores de Paris e se mudou. Foi logo após a Colação Grau.

– E foi por isso que vocês não tiveram contato desde então...

– Escolha dele. Eu apenas aceitei.

John parecia querer perguntar muito mais, mas hesitou e se deitou encarando o teto novamente. Mordia seu lábio inferior, parecendo se esforçar muito para colocar tudo aquilo que tinha escutado em ordem nos seus pensamentos. Sherlock entendia, afinal de contas, nem ele próprio se reconhecia em tais histórias.

– Bem, depois dessa preciso dormir. Só vou escovar os dentes...- Watson se levantou repentinamente e quando voltou Sherlock estava tão entretido nos testes que os dois trocaram um simples “boa noite”.


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