"Onde estão minhas peças? Não importa pra onde eu vou, meu peito me sufoca e não consigo respirar. É intolerável" – Lost My Pieces, Tommy Heavenly6.

Hinata pareceu desabar, o mundo dela pareceu desabar. Em dado momento, ela se pareceu uma boneca de trapos, parecia que se ventasse muito forte, a ventania levaria o seu corpo magro e frágil pelos os ares. O olhar dela se tornou vago e sem refletir nenhum pensamento, nenhum resquício do que deveria ser uma alma. Apenas vazio. Naruto realmente se viu preocupado, ele pensava se havia falado besteira. Talvez houvesse, era a conclusão mais lógica e óbvia naquele momento. Mas, então, Hinata voltou a manter uma alma em seu olhar - não dizem que os olhos são a janela da alma? -, ela havia se tornado até mesmo feroz, com uma ousadia incomum. E ela sorriu, mais um sorriso convencido de alguém que tinha certeza do que queria.

"Eu quero ele", ela pensou.

Ela perigosamente aproximou a face da do loiro, lentamente, fazendo com que tal momento parecesse ser eterno. Lentamente e lentamente os olhos lindos e perolados da menina se aproximavam dos comuns e azulados olhos do garoto. Lentamente e lentamente... seus lábios... se aproximavam. E, nesse ritmo, eles logo teriam um beijo. O primeiro beijo de Naruto, foi exatamente isso que aconteceu. Os lábios deles entraram em choque e não foram apenas os lábios... quando isso aconteceu, um choque elétrico pareceu percorrer o corpo de Naruto, ele sentiu um arrepio. Ela realmente havia colado os seus lábios nos dele.

Mas eles não se conheciam, não é? Ele era apenas o senpai desequilibrado dela e ela apenas a kouhai desequilibrada dele, mas por alguma razão parecia que eles se conheciam há um bom tempo. Hinata abriu os lábios e Naruto, naquele momento, percebeu que deveria fazer o mesmo, também abrindo os dele, e Hinata começou a chupar o lábio inferior do loiro e a mordiscar, como se ela fosse o novo alimento dela. Os dois iniciaram um beijo desajeitado, Naruto se sentiu feliz por uma fração de segundo, aquele era o primeiro beijo dela. Dele também, e por isso os lábios de ambos faziam movimentos sem muita certeza do que fazer, até que a língua da Hyuuga penetrou a boca do Uzumaki, que sentiu mais um arrepio ao constatar tal fato.

Os dois iniciaram uma dança de línguas, quase uma batalha, em movimentos rápidos, cada vez mais rápidos. Naruto se controlava para não babar demais, isso tornaria o beijo nojento. E então falta o ar, depois de um longo momento ambos se veem sem fôlego o bastante pra continuar. E Hinata se separa, olhando para ele de maneira vazia de novo. E então sorri alegremente.

– Estou tão feliz! - ela disse com um ar encantador e meigo que fez Naruto corar levemente.

– P-por quê? - ele perguntou.

– Finalmente alguém me perguntou o que é Isnopsia da maneira certa! Eu sabia que você era diferente, Naruto-kun! - e ela dá uma piscadela após dizer o nome dele. Naruto apenas olhava para a garota abobado, sem saber o que fazer, sentir ou pensar. - Esse foi o meu primeiro beijo, mas tinha que ser com você.

– Por que comigo? - ele perguntou, ainda sem se sentir em terra firme. Hinata rapidamente saiu do colo de Naruto, ficando de pé. Ela ergueu o dedo indicador da mão direita e fez uma cara travessa, de uma forma que só ela conseguiria fazer.

– O Golaz me disse - foi o que ela falou.

– Golaz?

Ela então se agacha rapidamente, ficando na altura do loiro. Ela aproxima sua face da dele e então abaixa a voz, como num sussurro.

– Sim, Golaz. Ele é de Isnopsia - ela dizia, sussurrando. - Desde os meus sete anos ele me diz o que fazer e sempre que eu faço o que ele manda, algo em minha vida muda drasticamente.

Hinata falava como se aquilo fosse um brilhante segredo e talvez o fosse.

– Hinata, isso é coisa da sua cabeça, seja lá o que Isnopsia for... - Naruto ia começar a dizer, mas o dedo indicador de Hinata o impediu, já que ela o repousou em seus lábios.

– Naruto-kun, o que realmente define as ilusões mentais? - ela perguntou. Naruto ficou brutalmente confuso com a pergunta, mas logo tudo se tornou muito claro: ela tinha esperança de que ele a respondesse, de que ele soubesse a resposta. Ela depositava essa fé nele.

– O Universo é só uma ilusão - ele respondeu, convicto. - É como os gráficos de uma imagem: são uma sequência de números que formam o resultado, no caso, a imagem. A Realidade é a mesma coisa, uma ilusão com números. A mente é o resultado de ondas eletromagnéticas do cérebro e é formada por funções ou ilusões chamadas "pensamentos", que nada mais são do que um reflexo da Realidade numérica.

– Exato! - Hinata exclamou. - Ilusões mentais são a Realidade porque a Realidade é uma ilusão! - Hinata realmente estava animada, ela tinha certeza que Golaz estava certo, de que Naruto seria capaz de a compreender.

– Também penso assim - Naruto confidenciou, mas logo fechou os olhos e bufou irritado, se levantando do chão. - Mas da próxima vez, não beije alguém só porque alguém da sua Realidade mental te disse, isso é muito insensível.

– Ué, esquizoides não costumam ser insensíveis? - ela perguntou, num tom brincalhão. - Mas ouça, Naruto-kun, esse meu primeiro beijo realmente tinha que ser com você, pois você é o primeiro que entende exatamente o que eu quero dizer.

Naruto a encarou analiticamente, notando como ela era bela, mas aquele não era o seu objetivo, era? Ele precisava ver se encontrava um brilho de loucura nela, alguma insanidade, e realmente encontrou, mas ele parou para refletir e tal insanidade da garota à sua frente estava aliada com esclarecimento. Ela estava se provando apta para realmente entender o que todos ignoravam, ela era alguém que presenciava tais coisas, como ele. Naruto se sentiu encantado por um breve momento com a ideia, mas logo largou esse pensamento de lado para então falar.

– Mas você ainda não me disse o que é Isnopsia - ele disse. Hinata sorriu mais abertamente que antes.

– Façamos assim: saia comigo nesse sábado e eu te conto - mas ainda era terça-feira, demoraria demais e também... sair com ela? Ela realmente falava sério?

– Me desculpe, mas eu recuso - Naruto disse, Hinata arqueou uma sobrancelha. - Sinto muito, Hinata, mas eu não sou normal. Não consigo e nem gosto de ficar perto das pessoas, as únicas pessoas com quem falo são minha mãe e meu psicólogo.

Hinata se aproximou novamente, Naruto quase fechou os olhos, crendo que seria um outro beijo. Mas ela apenas o tocou no tórax com ambas as mãos, olhando para os olhos do mesmo com um olhar rígido. Ele desviou o olhar com o contato.

– Então por quê você fala comigo? Não entende? Somos parecidos! Eu sou a única no mundo que pode te entender! - ela disse, como se explicasse algo simples e completamente real para uma criança.

– Existem outras pessoas com transtornos mentais no mundo... - ele dizia, olhando para o lado, mas foi interrompido.

– Mas eu sou a única que pode te entender! Por favor - ela pegou Naruto pela a camisa sem muita força, mas mesmo assim o forçando a olhá-la nos olhos -, seja o meu namorado por um dia!

Naruto apenas a olhava impressionado, percebendo que o sinal do fim do recreio tocara.