My Soldier escrita por LilyCarstairs


Capítulo 20
Chapter XX


Notas iniciais do capítulo

Sei lá o que dizer, boa leitura. ;)



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Foi a vez de Julie perder parte do sono por causa da melhor amiga. Eu não conseguia pensar em outra coisa que não Jonathan. Ele estava voltando. Tentei pensar positivo usando o “Ferido, mas não morto”, e lembrei-me de ter pensado isso quando Seth estava no hospital... Um calafrio percorreu minha espinha.

Fiquei nesse ciclo vicioso de otimismo-pessimismo até o sono me vencer, no meio da noite.

Acordei com Max e Julie discutindo lá embaixo. Revirei os olhos enquanto saia da cama. De onde eu estava, era possível ouvir o motivo bobo da briga. Ele havia comido todo o sucrilhos que ela queria.

– Parem de discutir. – resmunguei. – É muito fácil ir até o supermercado e comprar mais, sabiam?

Julie informou que a perícia sobre a morte de Seth estava acontecendo agora lá no Domo. Max pareceu incomodado com o assunto, a morte do amigo ainda era recente e incômoda para todos nós.

– Fique aqui com o socador de paredes. – avisei, levantando-me. – Eu vou até lá, descobrir o que aconteceu e contar para vocês.

Nenhum deles discordou, então segui meu rumo até a escola. O vento parecia cada vez mais gelado nesse inverno. Hoje, precisei cobrir parte do meu rosto com um cachecol para não congelar. Quase não ouvi alguém chamar meu nome por conta da ventania.

– Elizabeth! – olhei em direção à voz. Rose.

Ela começou uma falação infinita sobre finalmente ter vendido meu quadro. Concordei com a cabeça, mas não estava realmente prestando atenção. No fim das contas, ela me entregou um envelope, avisando que conseguira vender o quadro por quinhentos dólares. Pediu desculpas por não ter sido uma oferta tão alta, mas agradeci mesmo assim, guardando o dinheiro na jaqueta.

Quando ela se despediu, continuei meu caminho, atravessando o gramado da escola de cabeça baixa por causa do vento.

O time de hóquei se aglomerava em frente ao Domo, assim como os professores, o diretor e alguns peritos, que já estavam saindo do local. Aparentemente, já haviam descoberto o problema. Aproximei-me e perguntei para um dos jogadores o que acontecera.

– Um curto circuito. – ele respondeu triste. – Isso causou o incêndio no vestiário.

Pensei no que responder, mas nada me ocorreu. Então, um simples curto circuito tirara a vida do capitão do time. Injusto, de fato.

Sem querer, avistei Natally correndo para trás do Domo. Estranhei aquilo e por isso fui até lá ver o que ela estava fazendo.

A garota estava chorando embaixo de uma árvore. Suas lágrimas escorriam pelo rosto vermelho por conta de todo o frio que fazia naquele dia. Ela não se importou que eu a visse chorando, apenas sentou-se e continuou a chorar.

– Você soube? – ela perguntou, em meio às lágrimas. – A perícia te contou o que matou meu doce Seth...? Um maldito curto circuito... – sua frase foi interrompida pelo choro.

Ajoelhei ao seu lado e tentei abraçá-la. Ela se encolheu, mas não fugiu do abraço.

– Eu me sinto tão culpada... – ela lamentou.

– Natally, acidentes terríveis, fatais e bobos acontecem assim o tempo todo. – tentei confortar a garota, mas não sabia o que dizer. – Não é culpa sua, nem de ninguém... Não há motivos para se sentir culpada.

Ela voltou a tristeza do cemitério de olhar para o chão em silêncio. Essa era a hora em que eu me despedia e a deixava aos prantos? Ajudava com palavras? Abraços? Eu não fazia ideia do que fazer. Nada era fácil quando se tratava de Natally. Deduzi que ela precisava do seu tempo chorando para superar isso.

– Eu lamento que se sinta assim. – falei, levantando. – Não deveria se culpar por algo que não teve culpa.

Seu tímido sorriso foi o agradecimento que recebi. Entenda que: Vindo de Natally, um sorriso, por menor que seja, é um grande gesto.

Sai de lá, deixando-a com sua tristeza. Corri para casa a fim de contar tudo. Céus, eu não aguentava mais correr assim. Todos os dias era isso. Resolvi que compraria uma bicicleta com o dinheiro dos quadros.

Após contar o que havia descoberto, eles me olharam tristes. Aquele mesmo olhar do time de hóquei, da Natally, dos professores e do diretor. O olhar de “Um maldito curto circuito matou o nosso querido Seth?”.

Max deitou no sofá e fez sua melhor cara de tristeza. Seus olhos cinza estavam tão tempestuosos quanto o céu lá fora. Ele fechou os olhos e eu não soube se estava dormindo ou apenas fingindo.

Julie e eu trocamos um olhar triste. Nenhuma das duas conseguia animar o pobrezinho, então sentamos no outro sofá, para assistir televisão e tentar entreter nossas mentes.

~

No fim da tarde, meu celular tocou, trazendo toda minha agitação de volta. O identificador mostrava o número da mãe de Jonathan, Anna Marie. Lembrei-me que meu lindo jogador de hóquei estava voltando da guerra hoje. Atendi ansiosa.

– Querida, Jonathan acabou de chegar aqui. – ela disse. – Acho que você gostará de vê-lo.

Sequer esperei ela terminar a frase. Avisei que estava indo e puxei Julie comigo, de volta às ruas do Maine. Minha melhor amiga sequer protestou.

Cheguei lá nervosa. Não sabia o que esperar ou o que veria lá. Anna Marie deixou que eu passasse, sem se importar de eu não parar para cumprimentá-la durante muito tempo, ela entendia minha ansiedade.

– Ele está no quarto dele. – ela avisou, enquanto subíamos as escadas.

Meu coração falhou uma batida quando cheguei lá. A porta de seu quarto, assim como o cômodo lá dentro, era coberta por coisas de hóquei. Pôsteres de jogadores, de times e todas as coisas imagináveis. Senti Julie apertar meu braço, como uma forma de me apoiar. Suspirei e abri a porta lentamente.

Meu Jonathan estava deitado na cama. Até onde eu conseguia ver, estava com ataduras pelo lado esquerdo do corpo. Não dava pra dizer até onde aqueles curativos iam, já que ele estava coberto. O seu lindo rosto estava parcialmente coberto por ataduras, como eu vira na última chamada de vídeo de Julie com Ryan. Seus olhos estavam fechados, mas ele estava acordado e perguntou quem estava lá.

– JoJo... – minha voz parecia ter sumido.

Seus olhos se abriram lentamente ao ouvir minha voz. Ele estava olhando para mim depois do que pareceu uma eternidade. Eu não conseguia me mexer, então fiquei algum tempo encarando-o, sem reação.

– Não vai me abraçar? – ele perguntou, sorrindo. Fez uma careta de dor ao sorrir, os machucados no rosto o impediam de sorrir.

Julie me empurrou, fazendo com que eu começasse a caminhar para abraçá-lo. Tentei não apertar o abraço para não machucá-lo ainda mais. Senti as lágrimas de alívio saírem como loucas dos meus olhos, ao abraçar meu amor de novo. Meu Deus, aquele abraço que eu tanto senti falta. Ele também parecia feliz, apertando o abraço com o braço direito.

Eu não queria me afastar dele nunca mais. Então notei que seu corpo estava quente, quente demais.

– Você está com febre? – perguntei, preocupada, sentando-me ao seu lado.

– Não comece com isso. – ele reclamou. – Apenas me abrace, Lizzy.

Sorri para ele ao ouvir meu apelido novamente. Lizzy.

– Vou, sei lá, falar sobre cabras com Anna Marie. – Julie avisou, sem jeito, saindo de lá e nos deixando a sós.

Olhei para ele, que estava se sentando com dificuldade.

– Lizzy. – ele chamou.

– O que foi, JoJo? – perguntei, tentando não parecer uma boba melosa com muitas saudades de seu namorado.

– Eu te amo. – ele disse, fazendo-me sorrir muito.

– Eu também te amo. – olhei para ele.

Cheguei perto dele e não contive a vontade de beijá-lo. Não me importei em sentir o gosto do remédio contra as dores que ele estava tomando. Eu finalmente estava beijando meu Jonathan novamente. Sorri para ele quando separamos nossos lábios. Seus olhos brilhavam como estrelas. Ambos estávamos muito felizes.

Aconcheguei-me em seu braço direito e fechei os olhos. Algo frio tocou meu rosto e abri os olhos. Uma dogtag, aquelas correntes de identificação que soldados usam. Ele notou o que eu estava encarando e mostrou-a para mim.

– Bem legal, né? – perguntou, orgulhoso.

– Não é legal, Jonathan. – tentei não parecer brava. – Você foi pra guerra e agora tem uma correntinha, isso não é legal!

– Ei...

– Não me venha com ei! – reclamei. – Espera que eu comemore porque você quase perdeu a vida e agora tem essa porcariazinha que pode mostrar pros seus parentes bobocas que gostam de ir pra guerra e... – ele interrompeu meu chilique me puxando para um abraço.

– Não brigue comigo, eu estou aqui agora. – disse.

– Mas poderia não estar... – eu não sabia se estava brava ou aliviada com toda a situação. Sentimentos estranhos passavam pelo meu coração.

– Mas estou. – ele apertou o abraço com seu braço direito. – Estou aqui te amando.

– Eu também te amo, sabe disso, Jonathan. – respondi. – Te amo tanto que não te abandonei quando teve essa ideia boba de ir para a guerra.

Ele olhou para baixo constrangido. Tentou sorrir, mas a careta de dor voltou. Espero que ele possa voltar a sorrir logo. Eu amo seu sorriso infantil e tudo o mais.

– Aliás, vai me contar como conseguiu todas essas ataduras? – perguntei.

– Estilhaços de uma granada. – ele explicou. – Fiquei na base até que eu estivesse melhor, ou bem o suficiente para me manter consciente. O comandante notou que eu não podia mais manejar uma arma com o braço machucado, então me mandou de volta junto com mais alguns soldados.

– Esse ataque à base... Ryan também está ferido? – não pude conter a pergunta. A imagem da minha melhor amiga chorando pelo namorado era triste demais.

Jonathan concordou com a cabeça, triste. Esperei que ele continuasse a história.

– Eu não sei para onde ele foi ou como está, sequer sei se está muito ferido... Eu espero que ele esteja bem. Tudo o que eu sei é que Ryan também foi atingido por estilhaços daquela granada...

Ele não sabia como o amigo estava. E isso me lembrou de que Seth estava morto e Jonathan não sabia. Céus, ele nem fazia ideia do que acontecera com o capitão do time... Eu tentei contar, mas simplesmente não podia fazer isso agora. Mas ele não podia deixar de saber... A dúvida ficou em minha mente durante algum tempo, então resolvi contar.

– Seth morreu em um incêndio há poucos dias. A causa disso foi um curto circuito na fiação do Domo. Ele foi para o hospital, mas não resistiu. – falei rápido, antes que perdesse a coragem. Sua expressão mudou de feliz para surpresa, e então desolada. – Eu sinto muito, Jonathan...

– Ele está morto? – seus olhos estavam marejados, e sua expressão incrédula. – Por favor, me diga que isso é uma piada de muito mau gosto...

Permaneci séria, mostrando que estava realmente falando sério. A expressão dele foi dolorosa, realmente terrível. Jonathan deitou-se no meu colo e fechou os olhos.

– Eu também sinto muito. – ele lamentou. Sua voz cheia de tristezas.

Não chorou, mas também não disse mais nada. Ele puxou a minha mão e segurou-a firmemente. Silêncio e mais silêncio, dor e mais dor. Tudo o que eu conseguia pensar é que acabara de estragar nosso reencontro com uma notícia terrível, mas que não poderia ser evitada.


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Notas finais do capítulo

Se gostou/não gostou/tem dúvida/sugestão só mandar reviews, ou mandar mensagem, ou me contatar em algum lugar.
Até a próxima. :)