POV Aline

Como assim eles tocavam piano? Bom, isso não importa, pela fresta entre as portas, percebi que o rei parou de tocar e Logan, que também estivera dedilhando algumas teclas, fez o mesmo.

– Filho, hoje você esteve muito quieto, depressivo... O que houve?

– Digamos que, se uma selecionada tivesse dito que queria ser minha amiga nos primeiros dias da Seleção e eu acabasse beijando ela, o senhor acha que ela estaria com raiva de mim? O senhor acha que ela me acharia, atirado demais?

– Esse seu digamos que, não é uma suposição. Quem foi a selecionada?

– Aline Castrien. Mas o senhor não está ajudando!

– Oh! Você disse que a selecionada era a Aline Singer Castrien, certo? Bom, eu conversei com sua mãe sobre as selecionadas e ela não gosta dessa garota, agora que você disse isso, que ela quer apenas ser sua amiga, não acha melhor mandá-la embora? Ela é uma oito, pelo visto, ela está aqui somente pela comida e pelo dinheiro!

– Pai! Ela nunca falou isso! Com certeza, foi obrigada pelos pais a se inscrever! E mesmo que ela não goste de mim do jeito que eu gostaria, eu não quero que ela vá! Eu, eu... acho que estou apaixonado por ela. Podem ter sido poucas semanas desde o início da Seleção, mas eu acredito em amor a primeira vista! O senhor não é bom em dar conselhos, esperava mais, vindo do senhor pai, vejo que não poderei falar com mamãe. Com licença, vou falar com tia Marlee.

– Não gosto que você fale com Marlee! E ela não é sua tia Logan! Volte aqui!

Rapidamente, olhei o corredor a procura de um lugar para me esconder e entrei em um armário de produtos de limpeza. Era bem apertado, mas consegui sentar em cima de um balde virado para baixo.

Então a rainha não gostava de mim? To pouco me lixando pro que ela pensa. Ela pode ser a rainha, mas não passa de uma fresca que só se importa consigo mesma, adora andar com nariz empinado como se todos ao redor não merecessem um minuto do seu tempo. Pronto, falei. E quem o rei pensa que é pra dizer que eu só estou pela comida? (N/A: Ele é o rei dãh) Eu sei que ele é o rei, mas não me conhece! Escutando ele falando assim até parece que eu sou uma morta de fome! Será que ele não se toca? Se ele pensa isso de mim pela minha antiga casta, porque não resolve fazer alguma coisa? Tipo, melhorar a qualidade de vida das pessoas com casta baixa? Meu pai disse uma vez que houve um tempo que era distribuído comida as castas baixas. Porque o rei não volta com isso? A mão dele vai cair?

E o Logan... será que eu ouvi direito? Ele disse com todas as letras que está apaixonado por mim? Opa, pera aí, ele disse acho...

Mas ele disse isso mesmo depois de eu ter dado um fora nele, não foi bem um fora, na minha opinião, mas depois de eu ter dito que só queria ser amiga dele após ter retribuído o nosso beijo, o acho estava de bom tamanho.

Depois de uns cinco minutos, resolvi que era hora de sair do armário de limpeza. Abri a porta da sala de música, afinal, era por isso que estava ali, para relaxar com um pouco de música.

A minha surpresa era que o rei ainda estava lá.

Merda.

Desculpem o palavreado, mas o que ele ainda estava fazendo lá? Achei que tivesse ido atrás do filho! Estava enganada.

POV Logan

Procurei tia Marlee e a encontrei limpando os pratos do jantar na cozinha. Uma senhora a ajudava. Pedi para que saísse e ela o fez, sem questionar. Comecei a ajudar titia na limpeza. O ato fez-me lembrar de Aline e do nosso 1º encontro, por assim dizer. Percebi que ela me olhou de soslaio, suspirou e disse:

– Diga Logan.

– Tia. – ela me olhou com cara de repreensão. Ignorei. Já tínhamos tido aquela conversa. Eu a considerava uma espécie de mãe, mas ela só me permitiu que a chamasse de tia, meu pai não gostava que eu me aproximasse dela, mas gosto de ir contra ele às vezes. – Eu briguei com papai.

Ela permaneceu quieta. Tínhamos terminado de limpar as coisas, ela começou a andar em direção à ala dos funcionários que ficava do outro lado da cozinha. A segui. Ela entrou em um dos quartos, que tinha uma cama de casal e um beliche, além de uma poltrona e um banheiro pequeno. Sentei na poltrona e ela sentou na cama.

– Daqui a pouco vai começar as rondas. Creio que você gostaria de conversar em um lugar mais reservado. Não se preocupe, meu marido está na enfermaria, se recuperando de uma gripe, Caio está na ronda e Louise foi à cidade visitar uma amiga. Agora, pode contar querido.

E eu contei a ela tudo. Desde o dia que conheci Aline até a briga com meu pai. Ela me ouviu sem me interromper, uma de suas virtudes, ela era uma boa ouvinte.

– Então, tia, o que a senhora acha que eu devo fazer? Eu não sei.

– Nossa, olha a hora! Passamos muito tempo sem conversar não é mesmo? Querido, se você gosta mesmo dela, dê um tempo para ela pensar. Enquanto isso, saia com as outras selecionadas, muitas reclamam que você não está dando atenção suficiente a elas. Daqui a uma semana, converse com Line, é assim que você a chama né? Então, converse com ela, peça desculpas pelo ocorrido e pergunte se vocês podem esquecer aquilo e voltarem a serem amigos. Eu só acho que, da mesma forma que ela te deu um presente, você poderia dar um a ela, em sinal de reconciliação. Se quiser, posso te ajudar. Vamos fazer uma Fuga do Príncipe de novo?

Sorri. Já disse que amo tia Marlee? Se não, estou dizendo agora. Marcamos de nos encontrarmos amanhã nos estábulos. Fuga do Príncipe era uma espécie de esquema que ela havia criado quando eu tinha oito anos.

Flashback ON

Estava brincando com Caio nos jardins. Estávamos jogando futebol, eu tinha feito cinco gols e ele, sete. Cansados, fomos para a cozinha pegar um lanche. Estávamos suados e com fome. Tia Marlee trouxe dois copos de suco de laranja e um prato com vários pães de queijo.

– Eu estou com vontade de comer um McChicken! Mãe, quando poderemos ir lá de novo? – perguntou Caio.

– Não sei filho. Depois você fala com seu pai!

– Do que você está falando? – perguntei.

– Semana passada, foi o aniversário da Louise aí minha mãe e meu pai levaram a gente pro McDonalds pra comemorar. Eu comi um sanduíche bem grande e era muito gostoso! Pena que não tem no palácio. E tinha uma batata frita...

– Poxa, eu queria ir nesse lugar. Minha mãe não deixa eu comer essas coisas. E ela com certeza, não iria comigo à cidade só para isso! Mas e se sua mãe me levasse?

Depois de muita insistência, tia Marlee disse que me levaria para a tal lanchonete. Foi preciso até chorar. Ela disse para tomarmos banho enquanto pensava em um jeito de sairmos do palácio sem sermos percebidos, pois estava fora de cogitação perguntar se podia sair para meus pais. Fui até o quarto deles na Ala dos Empregados e tia Marlee estava segurando uma das roupas de Caio e um boné. Era uma roupa simples, mas vesti do mesmo jeito. Coube direitinho. Pus o boné, tia Marlee pegou um pouco de dinheiro em uma caixinha, mais tarde eu quebraria meu porquinho para repor o dinheiro dela. Nós fomos até o portão do palácio, o guarita cumprimentou a gente e nos deixou sair, ele nem percebeu que eu era o príncipe.

Andamos bastante até que chegamos ao centro de Angeles, a cidade era bastante bela, era raro encontrar mendigos na rua, a maioria dos moradores era da casta quatro pra cima. Muitos nos olhavam com repugnância. Dei língua para uma perua que andava com um poodle. Logo chegamos em frente a uma lanchonete chamada McDonalds, entramos, pedimos os sanduiches, batatas fritas e refrigerantes. Tia Marlee pagou e nos sentamos em uma mesa. O lanche estava fantástico.

– Isso é muito bom! – falei.

– Concordo. Operação Fuga do Príncipe concluída. – disse Caio.

E o nome pegou. Sempre que queria sair do palácio, conversava com tia Marlee e ela me levava até a cidade.

Flashback OFF

Fui para meu quarto e dormi. No dia seguinte, acordei e fui tomar café junto com meus pais e as selecionadas. Puxei conversa com algumas delas, falei com minha mãe que começaria a sair com algumas garotas e ela me deu uma lista das meninas que eu teria que conhecer melhor, pois não se saíram bem com suas funções na organização da festa e até o final da semana, escolheria algumas delas para dispensar. Conversei com meu pai normalmente. Retirei-me antes de todos e fui me encontrar com tia Marlee.

Ela me deu uma das roupas do marido, pois eu estava mais alto que Caio e suas roupas não davam em mim. Era uma camiseta simples e uma bermuda. Pus uns chinelos e um chapéu. Eu havia passado em meu quarto para pegar uma bolsa com roupas mais sociais e minha carteira, aproveitei, passei no antigo quarto de Alyssa e peguei um vestido e um sapato dela.

Eu e titia fomos para os portões. O guarita nos deixou passar. Fomos para um dos shoppings centers de Angeles e paramos no banheiro para trocarmos de roupa, afinal, ninguém deixaria uma pessoa com vestes velhas entrar em uma loja com pessoas da casta dois.

– Logan, espero que ninguém sinta falta desse vestido e desse sapato.

– Não se preocupe, ninguém mais vai ao quarto de Alyssa!

Demos uma volta por todo o lugar, paramos em várias lojas, entramos em uma joalheria, mas tia Marlee disse que seria um pouco exagerado.

– Vendedora, eu gostaria de algo mais simples. Acontece que a minha “amiga” não gosta muito de joias. Porém, eu gostaria que fosse algo digno de uma dama.

Ela demorou um tempo até que trouxe uma caixa cheia de pingentes. Um, em particular, me chamou atenção. Peguei-o e mostrei para a vendedora.

– Boa escolha, senhor! É de platina com uma pedrinha de diamante. Sua “amiga” vai adorar!

Ela frisou bem a parte amiga.

– É lindo! Mas por que esse Logan?

– Tia, a Aline me disse que aprendeu com os avós a tocar piano e violino. Ela seria uma musicista se pudesse! E é lindo não acha?

Fui ao caixa fazer o pagamento e pedi para colocarem o pingente em uma caixinha de presente. Antes de sair do shopping, trocamos de roupa e voltamos ao palácio.