E mais um ano se iniciava e lá estava eu, sentada junto de Rony e Harry no vagão que nos levaria a Hogwarts. Eu estava ali, meu corpo estava ali, mas meus pensamentos estavam longe, havia tanta coisa acontecendo ao nosso redor e nós nem sequer havíamos nos dado conta disso. Nosso último ano em Hogwarts, depois disso tudo mudaria, e ali estávamos como se fosse só mais um ano.

            Senti que Rony me cutucava, provavelmente para saber quão longe eu me encontrava, o ignorei, era mais fácil assim. Desde o ano passado eu sabia dos sentimentos nutridos por Rony sobre mim, e decidi que não iria iludi-lo, era mais fácil ignorá-lo e tentar fazê-lo ver que eu meus sentimentos eram distintos, eu via nele um amigo e não poderia continuar ao seu lado, como sua grande amiga e acabar dando esperança a algo impossível, pelo menos de minha parte.

            Sim, eu tinha certeza de que nada aconteceria, porque meus pensamentos estavam longe, meu coração estava longe e não era Rony que o fazia acelerar a ponto de parecer saltar por minha boca a qualquer momento, até minhas pernas estremecerem e dominar meu pensamento, não era Rony que fazia isso.

            Mas de qualquer jeito isso não importava, não importava quem faria meu coração bater mais rápido, porque eu havia decidido, com todas as minhas forças, esquecê-lo. Eu estava realmente disposta a isso, e assim faria.

            Eu a vi passar pelo corredor no trem, e por um segundo até me dispus a chamá-la, eu a queria comigo. Mas ela não passava sozinha, e não era a minha mão que ela segurava.

            Wisley.

            Argh, meu sangue fervia só de vê-la perto dele, como era possível que Hermione se sujeitasse a tal coisa? Não, meu orgulho ainda fala mais alto. Eu poderia chamá-la, mas o amiguinho dela não concordaria, óbvio que não, e atrás vinha o Potter também, outro que não concordaria. E eu bem conheço essa ladainha toda, Potter e Wisley diriam que ela deveria ficar com eles porque eu sou sempre o vilão da história.

            Revirei os olhos, entediado com isso, já parecia tão clichê, tão banal. Era mais fácil ignorá-los, nem que para isso eu tivesse que ignorá-la também.

            Quando finalmente chegamos ao castelo eu sentia que iria vomitar, não no sentido literal, mas a verdade é que vê-la sempre ao lado deles, argh, isso me embrulhava o estômago. Potter parecia já saber o que eu sentia, porque em momento algum ele se afastava dela.

            Eu sorri encostado a uma pilastra, meu momento chegaria, logo os treinos de quadribol começariam e tanto o Potter quanto o Wisley estariam ocupados demais para ficarem tomando conta de Hermione, não que ela realmente precisasse, e eu teria a minha chance.

            No banheiro lavei meu rosto na pia, eu começava a suar, e ao erguer-me meu coração disparou, maneei a cabeça e a imagem desapareceu.

            - Está enlouquecendo Malfoy – eu sussurrei para mim mesmo.

            Era isso que acabaria acontecendo se continuássemos assim, afastados. Eu enlouqueceria. Ou então eu a enlouqueceria.

            E se fosse para enlouquecê-la, que fosse de paixão.

            Torturá-la, assim como eu vinha me torturando nos últimos tempos.

            Mas para isso um dos dois teria que dar o braço a torcer, esse era o complicado.

            Orgulho x Coração. Uma árdua batalha que eu não sabia como acabaria.

            Quando o trem parou meu coração disparou, Hogwarts estava cada vez mais perto e eu sabia o que isso significava. Significava voltar para o castelo, voltar para as aulas, voltar a vê-lo.

            No corredor meu olhar cruzou com o dele, Malfoy, e eu senti estremecer tudo. Oh, ele tinha o poder sobre mim, e só ele não se dava conta disso.

            Ergui meu rosto, tinha de seguir em frente e pronto, tinha ao menos que fingir que tudo estava realmente bem. Rony me sorriu e retribui reprovando a mim mesma por apaixonar-me por alguém que não me dava o menor valor, enquanto ao meu lado havia um homem que saberia me amar e cuidar realmente.

            Coração estúpido.

            Sentei-me entre Harry e Rony, como de costume, na extensa mesa da Grifinória, vendo como eles sorriam e conversavam, brincavam com a comida hora ou outra até os alunos novos chegarem e serem distribuídos para suas casas. Então chegou Gina, eu lhe sorri e ela sorriu de volta, então se afastou, e no fundo eu sabia que ela tinha seus motivos, motivos esses que envolviam Rony.

            Eu o havia feito sofrer, eu sei disso, ela também sabia e reprovava-me por isso.

            Decidi não prolongar muito o jantar, no dia seguinte logo pela manhã teríamos aula e eu não queria me atrasar, além do que, Harry e Rony pareciam bem entretidos em algum assunto sobre quadribol e, de qualquer jeito, eu não conseguia absorver assunto nenhum.

            Apesar de tudo eu continuava pensando nele.