Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 85
Jovens Mestres-cuca


Notas iniciais do capítulo

O dia do concurso chegou. Qual levará o grande prêmio ninguém sabe, mas todas sonham com o jantar no Alcidamo.
O momento culinário é de muita diversão e muito estresse.
O que será que vai dar? Sabe-se lá.



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 #16/03#

O grande dia chegou. Um a um os alunos foram chegando e naquele sábado, diferente dos dias normais de aula, ninguém se atrasou, apesar de terem que entrar às 7h00 ao invés das 9h00, para que todos tivessem tempo de sobra para fazer suas receitas. Cada minutinho era precioso.

Castiel foi ao apartamento de Emília para poder ajudar a levar as coisas, mas nem tiveram dificuldade; Maitê os levou de carro. Tanto ela quanto Emília estranharam o rapaz estar de touca e com o cabelo todo escondido dentro dela, ainda mais o dia não estando frio, mas depois de uma resposta seca e malcriada resolveram deixar para lá. Era visível que ele estava de mau humor naquela manhã e Sol não queria se arriscar a ele desistir no último momento porque se estressou com ela. Depois de deixá-los na frente da escola Maitê foi levar alguns currículos nas cidades vizinhas; ela tinha algumas entrevistas agendadas para aquela manhã.

Por mais que algumas garotas reclamassem do peso de suas sacolas, ninguém se atrevia a deixar um colega carregá-las; naquele dia todos eram concorrentes, adversários. Em poucos minutos a cozinha experimental da escola estava tomada pelas duplas. Os balcões de trabalho estavam cheios de caixas e sacolas, porém o assunto daquele momento não era o concurso e sim a máscara que Lys estava usando para evitar que sua gripe se espalhasse entre os colegas, presentinho da Rosa, que comprou naquela manhã, na feira[1], numa barraquinha de importados asiáticos, motivo este que a fez se atrasar, chegando na escola por volta das 7h30, encontrando o cunhado a espera dela, sentado na escada.

— O Lys não está uma graça com aquela máscara, Charlotte? — perguntou Li a sua parceira.

— Ele está parecendo um garotinho do primário isso sim. Ele podia ter escolhido uma máscara menos infantil. — comentou enquanto tirava as coisas da sacola.

— Pois para mim ele está kawai! — Charlotte virou os olhos para cima, dispersando a atenção, pois ela tinha mais o que fazer naquele momento.

— Está vendo Lys, eu disse que você estava muito fofo com esta máscara. Coelhinhos combinam com você. — disse Rosa ao cunhado, que só trocou a sua máscara simples pela decorada porque foi um presente dela e não usar seria uma desfeita. — As meninas estão adorando.

— Tudo bem, Rosa. Agora vamos trabalhar! Dê-me o frasco com álcool e a flanela pra eu limpar o balcão. — pediu, fazendo a assepsia do seu espaço de trabalho. Ele não ligava para o que as pessoas pensavam sobre a máscara dele. Ele só não gostava de coisas muito kawai.

Mas quem realmente roubou a atenção foi Emília e sua volta a escola. Suas amigas queriam saber todas as novidades, afinal de contas ela passou parte da semana tendo aulas particulares com Lysandre e a semana inteira com o Castiel enfiado dentro do apartamento dela por conta do concurso. Ela passou a ser a garota mais invejada entre as meninas do 3ème e 2ème, mas nem todas as garotas nutriam uma inveja saudável.

Ouvir os cochichos das garotas levantando suposições da relação entre o ruivo e a "bisbilhoteira" estava deixando Ambre louca. Nath não estava nem ai; ele estava convencido que entre aqueles dois não rolava nada a não ser amizade. Nada iria estragar seu bom humor. Bom humor que estava longe de passar pelo ruivo, cuja carranca afastou até mesmo Iris.

— O que deu no Castiel, Sol? Ele está com cara de que mataria um se pudesse. — perguntou.

— Não faço a mínima ideia, Iris. Ele já chegou em casa assim. Até com a minha tia ele foi malcriado. — disse, disfarçando ao olhar para ele, pois não queria irritá-lo ainda mais. — E olha que ele se dá super bem com ela, melhor até que comigo. — comentou mostrando um leve incomodo ao mencionar aquilo, levando a amiga a supor "coisas."

— Você está com ciúme do Cast com a sua tia, Sol? — perguntou com um sorrisinho malicioso.

— É c-claro que não! — afirmou de imediato. — Até parece que eu vou ter ciúme desta peste! — ralhou. Mentira, ela tinha ciúme sim, mas não o tipo de ciúme que Iris imaginou, na verdade ela tinha ciúme da tia.

— Vai me dizer que você não tem uma quedinha pelo ruivo?

— O q-que? É claro que não! — respondeu, mas suas bochechas vermelhas não convenceram Melody, que estava louca para empurrar o ruivo para a amiga. — De onde você tirou isso, sua louca?

— Sabe o que é, Sol. Depois que Cast passou a frequentar a sua casa...

— Você não tem mais o que fazer não, Iris? Sua parceira está sozinha arrumando as coisas. — ralhou Cast, evitando que ela falasse demais a ela. Por estar tão envolvida na conversa com a Sol, Iris não o percebeu se aproximar. — Igual você, Emília! O TRABALHO ESTÁ TE ESPERANDO! — elevou a voz, apontando para o pedacinho de balcão que pertencia a eles e que ainda precisava ser arrumado. Ela também não o percebeu se aproximar. Ele sabia ser silencioso quando queria.

Ter sido chamada pelo nome fez Sol engolir a resposta. O ruivo estava realmente muito irritado. Quietinha ela foi para o seu espaço de trabalho, tendo a sua direita Lysandre e Rosa e a sua esquerda Kin e Violet. Ao lado delas estavam Bia e Peggy, enquanto do Lys e da Rosa estavam Nath e Ambre. Charlote e Li estavam na bancada da frente, assim como Melody; sua parceira estava conversando com Castiel. As quatro bancadas da cozinha experimental estavam cheias. Por sorte algumas duplas foram desclassificadas já na fase anterior, deixando-os com mais espaço para trabalhar; alguns porque não entregaram o trabalho escrito, outras porque gastaram mais que o estipulado. Teve até quem ousou comprar alimento pré-cozido, achando que a prof.ª Nancy aceitaria.

— Nada me tira da cabeça que tem alguma coisa entre vocês dois. — disse Iris ao ruivo. — E por falar em cabeça. Por que a touca? O que você aprontou neste cabelo? — perguntou tocando na touca dele. Ela conhecia bem o amigo e sabia que para ele estar de touca sem estar muito frio, seu cabelo só podia estar horrível.

— Meu cabelo vai bem, obrigado. E tira a mão daí. — respondeu dando um tapa na mão dela, afastando-a da sua proteção de lã, deixando-a sozinha. Ele estava cansado daquelas especulações e não queria acabar brigando com ela.

— Você está melhor, Lys? — perguntou Sol ao amigo, que ela também achou que estava super fofo com aquela máscara de coelhinho. — Eu quis te visitar, mas não pude. — disse. Ela não queria contar que Rosa havia lhe dito que ele não gostava de receber visitas.

— Eu estou bem, Sol. E não tem problema você não ter me visitado. Eu não gosto muito de receber visitas quando estou doente. Mas fiquei feliz em saber que me ligou e se preocupou.— contou. — Obrigado. — Ele sorriu, mas não tinha como ver através da máscara, que também escondeu suas bochechas coradas, após ouvir o comentário seguinte da amiga.

— É claro que me preocupo com você, Lys. Eu já disse que é um amigo muito especial pra mim.

— Especial? Humm. — Rosa gostou de ouvir aquilo, sua cabecinha fervilhou.

— Vocês querem parar com esta rasgação de seda. — ralhou Cast. — É bom você começar a fazer a sua parte, Emília! Eu só estou aqui hoje por sua causa. Deixe as coisas nas minhas costas para ver se não te largo aqui, sozinha!

— Vamos trabalhar Rosa. Temos que arrumar as coisas na bancada para facilitar nosso trabalho. — disse Lys, envergonhado, tentando evitar que Rosa começasse a especular, e ao mesmo tempo incomodado com a forma que o amigo falou com a Sol. "Seria ciúme?" Foi seu pensamento.

"Eles estão passando tanto tempo juntos. Talvez..." A reação de Emília o fez dispersar o pensamento.

— Quer saber, Castiel. Se é por falta de adeus, pode ir! — disse Sol ao ruivo chateadissima, com os olhos começando a marejar. — Eu não te fiz nada para você me tratar deste jeito! — reclamou, saindo da cozinha a passos largos, esbarrando com a professora na porta, correndo para o toalete feminino no piso térreo. Ela não queria chorar na frente dele, nem de ninguém, mas também não ia segurar. Essa lição ela já havia aprendido.

Nath teria ido atrás dela se a irmã não o tivesse segurado pelo braço.

— Olha a bandeira! — cochichou, querendo evitar que ele se expusesse. Ela não queria que ninguém soubesse da paixão dele pela "magricela".

— Não enche, Ambre. Me solta! — disse a ela, baixinho, puxando o braço. Mas para sorte da loira Nancy não deixou mais ninguém sair da sala. Ela tinha que dar as últimas orientações antes de liberá-los para iniciarem os trabalhos.

— Castiel. Onde sua parceira foi? — perguntou, preocupada, pois Sol esteve afastada por problemas de saúde. — Ela está bem?

— Ela só foi ao banheiro. — respondeu com cara de bunda. Mais uma vez ele havia pisado na bola e sabia.

— Tudo bem. Depois você passa as orientações pra ela.

Nancy explicou como as coisas deviam acontecer e como os alunos deveriam se comportar até o final do concurso, lembrou-os que os pratos deveriam estar arrumados em seus devidos recipientes e prontos para servir às 11h45, assim como os espaços limpos e organizados.  Entre 13h30 e 14h00 seria anunciada a dupla vencedora.

— São 8h30. As duplas do 1º grupo podem começar a trabalhar, enquanto as duplas do 2º grupo podem ir ao pátio e relaxar um pouco. Daqui uma hora haverá a troca. — disse ela dando inicio ao concurso.

Castiel e Emília eram do 1º grupo, pois seu prato era frio. Ele não podia ir atrás dela, então pediu a Rosa que fizesse isso por ele.

— Eu só vou fazer isso porque ela se esforçou pra estar aqui hoje. Mas saiba que você foi um cavalo com ela. — falou, saindo dali com Lysandre. Eles eram do 2º grupo, assim como Nath e Ambre, pois seus pratos tinham que ser servidos quentes.

— Eu devia ir pra minha casa, isso sim. Ele não pode falar daquele jeito comigo só porque está de mau humor! — disse Sol a Rosa, saindo do banheiro, enquanto esta tentava lhe acalmar.

— Mas você se esforçou tanto. Não pode desistir porque brigou com o Castiel, de novo.

— Olha só, você mesmo está dizendo, "de novo". Nós sempre brigamos e isso não vai mudar. Ele é um idiota e não sei por que aceitei ser amiga dele. — constatou.

— Talvez porque você saiba que ele não é tão ruim quando se mostra ser! — disse Lys com sua voz abafada pela máscara, aproximando-se dela.

— Por favor, Rosa. Deixe-nos a sós por um instante.

— É claro, Lys-fofo. Vou comprar um chá com limão pra sua garganta. — disse ela sorridente, saindo em seguida.

— Vem comigo, Sol. — chamou-a, conduzindo-a pela mão até a cozinha experimental. Sol não disse nada, apenas se deixou conduzir. A presença de Lys sempre a acalmava, talvez por sua natureza tão serena.

— Sol, eu sei que o Castiel é estúpido às vezes; é a natureza dele. Mas ele amigo, leal e sincero. Ele nunca vai te trair e sempre vai estar por perto quando você precisar dele. — disse a ela enquanto caminhavam. Eles passaram por Nathaniel, que os seguiu com o olhar até subirem a escada para o 2º piso.

"É claro que me preocupo com você, Lys. Eu já disse que é um amigo muito especial pra mim." Esta fala de Emília não parava de ecoar em sua mente. "O que existe entre eles afinal?" Esta era sua dúvida.

— Você diz isso porque ele é seu amigo e não te trata com estupidez.

— Não, Sol. Eu digo isso porque é verdade. Se fosse diferente, se ele fosse ruim só metade do que você acha que ele é, nós não seríamos amigos. E não pense que ele não é grosseiro comigo, porque é, mas nossos gênios são diferentes, então não discutimos, porque ele ia acabar brigando sozinho. Ao contrário de vocês dois.

— É verdade. — percebeu ela, dando um sorriso, o primeiro desde a grosseria do ruivo.

— E quer saber, ele deve estar muito irritado com alguém ou por causa de alguém ou alguma coisa, e acabou sobrando pra você, porque calhou de ser você a ficar com ele hoje.

— Mas se ele está irritado, soque a parede, mas não desconte em mim.

— O problema é que sempre que ele está assim, ele não vem pra a escola. Ele fica na dele, isolado, pois sabe que fica insuportável. Mas hoje é o dia do concurso e se ele não viesse vocês dois seriam desclassificados. Provavelmente ele não quis te prejudicar e por isso veio. — contou, fazendo-a refletir.

— E olha só a cara dele. — disse a ela, mostrando-lhe o ruivo, da porta. Ele estava com cara de pesar, sem ânimo para começar a cozinhar. — Eu conheço aquela cara. Ele está se remoendo de remorso pelo que fez. Mas não espere um pedido de desculpas. Você vai ter que aprender a reconhecer as desculpas dele nos gestos e atitudes. — comentou empurrando-a para dentro da cozinha, indo em seguida para o pátio externo.

— Cast. — chamou-o, fazendo-o olhar para ela. — Se você não estiver bem e quiser embora, tudo bem. Eu entendo. Não quero que seu copo transborde. — falou ao se aproximar dele. Ela ficou preocupada depois de ouvir o que Lys falou sobre ele estar mal por algum motivo e ter ido ao S.A. apenas por causa do concurso. — O concurso não é o mais importante. — ela não queria que acontecesse com ele o mesmo que aconteceu com ela por causa do acúmulo de estresse.

Ele se sentiu pior do que já estava. Depois de todas as grosserias ela o tratou daquela forma.

"Eu sou um cavalo mesmo." pensou.

— Eu estou bem, Sol. Nada que uma vitória não cure. — disse com o que ela quase entendeu como um sorriso sincero, pois ela só conhecia seus sorrisos debochados ou irônicos.

— Então vamos lá, Cast. Se a vitória vai acabar com seu mau humor, vamos vencer este concurso em grande estilo. — animou-se, sorrindo para ele, fazendo um coque no cabelo para poder colocar a touca. — Diga-me o que tenho que fazer e mãos a obra, ou melhor, na massa. — descontraiu, tentando colocar o avental, sem conseguir, perdendo-se com as alças enormes, sem saber como amarrá-lo.

— Vem cá. Deixe-me fazer isso. — disse ele, calmo, pegando o avental pela alças, parando na frente dela. — Não é difícil de colocar. Você joga as alças para trás e cruza nas costas. — explicou, jogando as alças por cima dos ombros dela, puxando-as por baixo dos seus braços, de forma a se cruzarem nas costas. — Depois as passa por estas casas laterais. A alça direita na casa esquerda e a alça esquerda na casa direita. — continuou, passando as alças nas fendas da cintura.

Sol podia sentir a respiração dele pertinho dela, mas o que a fez corar foi a forma carinhosa que ele falava com ela. Mesmo de bom humor ele era debochado. Mas daquela vez ele estava diferente.

— Depois você puxa para trás e amarra. Mas se mesmo assim as alças ficarem grandes, você cruza novamente, traz para frente e amarra. — finalizou dando o laço na frente.

Sol sentiu as mãos dele encostarem em sua cintura enquanto puxava as alças para trás e depois para a frente, como se quisesse abraçá-la, fazendo sua pele arrepiar e a face ruborizar ainda mais. Sem graça, ela não se atreveu a olhar para ele, que percebeu que ela sentiu alguma coisa e estranhamente ficou sem graça com aquilo, sem conseguir soltar o laço, olhando para ela, que fitava o peito dele, perguntando-se na sua cabecinha confusa o que estava acontecendo, porque ele não soltava aquele laço.

— Sol. — chamou-a, fazendo-a olhar para ele, fazendo-a ver que ele também estava ruborizado e que seu semblante estava diferente do que ela estava acostumada a ver. Aquele não era o Castiel que ela conhecia. — Quando eu disse que só vim para cá por sua causa, eu falei sério... — reiterou, respirando um pouco. — Eu nunca te deixaria na mão. — revelou soltando o laço, voltando aos seus utensílios de cozinha. Sol entendeu aquilo como um pedido de desculpas.

"É bem como o Lys falou." pensou olhando para o ruivo. "Ele sabe ser gentil quando quer, mas não consegue dizer apenas: "Me desculpe!". Dispersando o pensamento ao ver o olhar de Iris e Melody para eles. Ambas pareciam surpresas.

"Eu sabia. Ai tem coisa e ele não quer me contar." Especulou Iris na sua mente criativa.

Melody torceu para que houvesse algo entre Sol e Cast.

Li deixou sua parceira por um instante e correu para contar a Ambre, que quase teve um surto ao saber, amaldiçoando Emília. Ela teria contado ao irmão, mas corria o risco dele se chatear de tal forma a não conseguir mais participar do concurso, então se calou, mas jurou a si mesma que naquele dia mesmo Sol ia se dar mal.

— Hoje aquela salope vai saber quem eu sou, ah, vai! Por mim e pelo meu irmão! — resmungou, mandando Li ficar de olho nos dois. Enquanto isso ela pensaria em alguma coisa para se vingar daquela que ela não conseguia engolir. — Hoje eu arranco esta espinha da minha garganta!

Durante aquele primeiro horário as duplas do 1º grupo prepararam suas receitas com dedicação e carinho. Alguns as tinham anotado num pedaço de papel, outros, como Castiel, as tinham gravadas na memória. Aqueles que não eram bons na culinária ajudavam como podiam, como a Sol, que ia lavando cada utensílio utilizado, descascando limões em tiras fininhas e ralando algumas cascas, derretendo chocolate meio amargo, vigiando o tempo de geladeira para não perder o ponto para o recheio do pudim, que eles passaram a chamar de surpresa gelada, pois, depois de ver Sol triste por ter errado feio ao tentar fazer o doce esquisito dela, o ruivo resolveu lhe fazer um agrado, sem dizer que fez aquilo por ela, é claro. No centro de cada pudim havia um morango coberto com chocolate.

Faltando 10 minutos para findar aquele horário, Nancy, que estava sentadinha no canto da sala observando os alunos trabalharem, pois precisava ter certeza que as receitas eram práticas e rápidas, levantou da sua cadeira e avisou que só tinham mais 10 minutos e que já deviam limpar o espaço para o outro grupo, que entraria na sala às 9h30 em ponto. Sabendo disso os participantes não deixaram a sujeira acumular. Cada minuto era precioso.

Nancy conferiu cada um dos pratos, vendo que todos já estavam prontos, aguardando apenas esfriar ou gelar e arrumar para servir. Ninguém seria desclassificado naquele grupo. Os alunos saíram e o outro grupo entrou. O cheiro na cozinha, dos pratos que já estavam prontos, alguns nas geladeiras, outros sobre o balcão da dupla, deixou o 2º grupo com água na boca.

— São 9h35. Às 10h35 vocês têm que estar com os pratos prontos. Depois todos vocês, incluindo o outro grupo, poderão arrumar e decorar os pratos para servir. — informou-os, liberando-os para trabalhar.

O processo foi o mesmo. Todos de avental, luvas e touca descartável, salvo Lys que também estava de máscara. Os que não sabiam cozinhar ajudavam como podiam, mesmo Ambre estava sendo uma ótima assistente, cortando as berinjelas sem reclamar, enquanto Nath picava a cebola, não porque ela não queria, mas porque era mais habilidoso com a faca. Clara, sem sombra de dúvidas, o ensinou bem. Ele e Lys eram o alvo das atenções não só de Nancy. Curiosa, Li espiava pela porta. Ela daria qualquer coisa para estar no lugar de certa garota.

O perfume dos pratos quentes era, sem dúvida, mais sedutor que os dos pratos frios, os aromas se misturavam no ambiente e buscavam as narinas daqueles que estavam naquele andar. Os alunos das outras turmas e professores que não participariam da degustação repetiam a si e aos colegas que ter aula naquele dia era tortura.

Mas não foi apenas o aroma que seduziu Nancy. Enquanto cozinhava, Lys cantarolava baixinho um rock romântico qualquer. Ela não entendia de Rock in Roll, pois gostava mesmo era de New Age; mas a voz de Lysandre era tão melodiosa e envolvente que não tinha como não gostar de ouvi-lo, mesmo sem conhecer a letra, que por sinal era linda. Ficou claro para ela que Lysandre gostava de cozinhar, ele sentia prazer fazendo aquilo.

Assim que o tempo encerrou, Nancy conferiu os pratos, salivando a cada um que olhava, ou melhor, sentia o perfume de pertinho, e constatando que tudo estava pronto, liberou-os para montar os pratos para servir, chamando o outro grupo, que entrou na cozinha sentindo suas papilas gustativas gritarem por comida.

Cada dupla tomou seu lugar nas bancadas e começou a trabalhar. Ao todo eram dez poções, montadas nas suas devidas travessas iguaizinhas, como um cardápio de restaurante. Cada dupla enfeitou suas receitas como quis; mas os doces eram os mais elaborados. O canto de Lysandre continuou a embalar o clima. Na verdade ele não estava prestando atenção em ninguém, sua dedicação era total a sua receita. Mas ao contrário do que Nancy imaginou, Rosa o ajudou bastante, principalmente na decoração dos pratos. Depois que ele colocava a poção na pequena tigela de porcelana redonda com três dedos de altura, estilo vitoriana, ela, com um garfo enrolava uma fita do talharim e depois soltava com a ajuda de um hashi, formando um cachinho, que ela enfeitava com um talinho de cebolinha cortadinho em tirinhas finas, como um tufinho de grama, depois colocava sobre a bandeja. Por fim Lys regou as dez poções com um pouquinho de azeite de oliva extra virgem.

Outro prato que também chamou a atenção de Nancy foi o de Nathaniel e Ambre. Eram como pequenos barcos de berinjela, recheados, arrumados com simplicidade e bom gosto, cujo perfume do parmesão misturado ao orégano fez ela imaginar o sabor especial que o frango desfiado e refogado com condimentos teria.

As sobremesas pareciam uma mais saborosa que a outra. Mas foi a do Castiel e Emilia que lhe despertou a atenção. Ela era branca com uma camada transparente e cristalina o envolvendo e no meio, bem centralizado tinha algo marrom, que ela só conseguia ver um pedacinho, pois aparecia na parte transparente, imaginando ser uma gotinha de chocolate, sem desconfiar que tinha uma surpresinha especial dentro do doce. Por cima havia raspas e uma fitinha de casca de limão enfeitando, e ao redor, sobre o pirex, um anel de chocolate derretido com um espiral de casca de limão do lado do pudim.

Ainda bem que ela não era jurada, pois correria o risco de ser tendenciosa.

Às 11h00 em ponto os jurados foram para a sala de Artes. O aroma que pairava naquele corredor deixou todos eles ansiosos para aquela "árdua" tarefa. A Sra. Shermansky, Sartre, Faraize, Boris, Fran, Leonel, Dajan, Jade e outros dois professores compuseram a banca julgadora. Assim como os alunos participantes, Nancy só ia degustar aquele cardápio depois do concurso finalizado, na comemoração deles.

Os alunos foram até a sala de Artes para uma apresentação formal das duplas, depois foram liberados para irem ao banheiro, pois assim que começassem a servir não poderiam mais sair da cozinha, pois cada dupla tinha que tomar conta da sua receita e servi-la pessoalmente aos jurados.

Enquanto todos foram aos toaletes, rapidamente Ambre correu para a cozinha. Li ficou do lado de fora tomando conta, mas ao ouvir o canto de Lys na direção da escada correu para vê-lo, esquecendo-se da amiga, que foi flagrada por Castiel. Ela já tinha regado vinagre na poção extra da comemoração e em cinco das dez sobremesas do ruivo que seriam servidas aos jurados. Ele, que já estava virado por causa do cabelo, ficou enlouquecido de raiva, mais vermelho que pimenta. Sua vontade foi bater nela, mas conteve os punhos, diferente da língua, proferindo-lhe mais ofensas que os ouvidos dela podiam suportar ouvir dele, o grande amor de sua vida.

Cada xingo do ruivo soou aos seus ouvidos como uma farpa afiada e longa. Ela saiu correndo da cozinha, aos prantos, esbarrando no irmão que retornava a cozinha, assim como os outros, indo direto para o banheiro. Ele foi atrás dela, preocupado, parando na frente do toalete feminino. Ele teria batido na porta e a chamado, mas ao se aproximar, como a porta estava entreaberta ouviu a conversa da irmã com Charlotte, que estava no banheiro quando a amiga chegou.

— Ele me di-isse coisas horrí-íveis, Charlo-otte. — disse aos prantos, magoada. — E tu-udo por causa daquela-ziinha. — culpou Emília, morrendo de raiva dela.

— Desculpe-me Ambre. Eu não gosto da Emília tanto quanto você, mas desta vez a culpa foi sua.

Ambre não gostou de ouvir aquilo da amiga.

— C-Como assim, minha culpa? — ralhou engolindo o choro.

— Você lavou a receita deles com vinagre. Você quis tanto prejudicar a Emília que esqueceu que ia prejudicar o Castiel de tabela.

— AHHHH! Que droga! — gritou, voltando a chorar, percebendo sua burrada.

— Por que você fez isso? — perguntou. — A receita do Nath tem grandes chances de ser a vencedora. Vocês não precisavam disso.

— Eu na-ão queri-ia que eles tivessem um enco-ontro no Alcidamo. Ele não po-ode ter um enco-ontro com aquela coisinha. — contou entre soluços.

— Seu ciúme do Castiel te deixou cega, Ambre. Agora que você não vai conseguir conquistá-lo. Se você tinha alguma chance com ele, enterrou hoje. E ainda corre o risco dele contar a prof.ª Nancy.

— Cala essa boca! — ralhou, com medo mais de perder o Castiel, mesmo ele não pertencendo a ela, para sempre, do que ser denunciada a professora. Àquela altura o Alcidamo era seu menor desejo em risco.

Nathaniel ficou indignado. Ele odiava trapaça e para ele, independente dos motivos que levaram a irmã a fazer aquilo, era trapaça.

Na cozinha Emília estava desolada. Apenas com metade das poções eles não poderiam participar do concurso. Regra era regra. A única chance de Nancy abrir uma exceção era se eles entregassem a Ambre, mas Sol não deixou ninguém fazer isso, pois ela não queria prejudicar o Nathaniel. Ela tinha certeza que ele não tinha nada a ver com a aquilo.

— Não chore mais, Solzinha. Aquela oxigenada da Ambre não merece. — disse-lhe Rosa abraçada a ela, tentando consolá-la. Castiel e Lys tentavam dar um jeito, mas nem Lysandre conseguiu salvar o pudim dos amigos. Mesmo tirando todo o vinagre, o sabor já havia sido alterado. Metade do trabalho deles foi para o lixo.

Castiel podia matar um. Por sorte Nathaniel não estava ali ou ia acabar sobrando para ele. Charlotte entrou na cozinha e fingiu que não sabia de nada.

— Onde está a Ambre? — perguntou Li num sussurro.

— Nem queira saber! — foi sua resposta num sussurro igualmente baixo e disfarçado.

Faltando poucos minutos para o cardápio começar a ser servido, Nancy entrou na cozinha e os mandou se preparem. Todos conheciam a ordem que os pratos seriam servidos.

Castiel respirou fundo para conter a irritação e assim conseguir contar a professora que havia ocorrido um problema com a receita deles sem delatar a loira e o mauricinho, mas antes mesmo dele abrir a boca, ela resolveu o problema.

— Castiel e Emília, vocês serão os últimos a servir, assim terão um pouco mais de tempo para resolver o pequeno probleminha e vocês.

— Como a senhora soube? — perguntou Sol, enxugando as lágrimas.

— Nathaniel me contou o que a irmã fez. Ele me pediu que permitisse que vocês participassem, mesmo que só com uma poção, visto que vocês foram vítimas de um boicote.

Ouvir aquilo fez o coração de Emília bater forte. Nathaniel denunciou a irmã e intercedeu por eles. Castiel odiava receber favores do loiro, mas Emília queria tanto participar que não questionou.

— Agora, eu pergunto. Vocês têm o que servir?

— Sim, professora. Ainda temos metade. — respondeu o ruivo de cara fechada.

— Ótimo. Divida cada poção em dois. — orientou-os, saindo da cozinha, deixando-os por dois minutinhos apenas, retornando para chamar a primeira dupla, Peggy e Bia.

— Professora. — chamou-a. — Nath e Ambre são os próximos, mas eles não estão aqui. — disse Sol, preocupada com o amigo.

— Eu sei Emília, mas não se preocupe com isso. Eles não vão mais participar. — contou, fazendo todos olharem para ela.

— Mas o Nath não tem nada a ver com isso, professora. Não é justo com ele. — comentou com os olhos voltando a marejar.

— Mas a decisão foi dele, Emília. Nathaniel pediu que eles fossem desclassificados, visto que Ambre queria muito o prêmio.

— Mas mesmo assim, é injusto. Ele não podia ser punido junto com ela.

— Como eu disse, a escolha foi dele. E não se preocupe com isso. Ambre terá um castigo a altura.

 

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Notas finais do capítulo

[1] Na França também tem feira na rua, igual as nossas. Só não sei se tem pastel...rs


Créditos da imagem original (eu só coloquei a máscara): https://sakuradubstepgirl.deviantart.com/art/Lysandre-Lysandro-Amour-Sucre-436896662



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