Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 173
Os primeiros a saber


Notas iniciais do capítulo

Melhor do que beijar na boca é contar para alguém que fez isso....rsrsrs



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# 05/04 #

Doce. Assim estavam os lábios de Emília, doces e convidativos, tanto que ele não resistiu e a beijou. Não teve como não perceber que ela era inexperiente, pois enquanto ele saboreava aquele doce sabor de morango com chocolate os lábios dela se moviam com certa timidez.

Suave, assim era o beijo de Lysandre, suave e envolvente. Gostoso de sentir. Até que algo roubou o ar da jovem Emília. Surpresa ela apenas arregalou os olhos, sem saber como corresponder aquilo, mas nem precisou.

Macio. Assim era o beijo de Emília. Macio, doce e tímido. Gostoso de provar. Mas ainda assim, faltava algo.

Da mesma forma que Lys se aproximou e tocou os lábios de sua amiga ele encerrou aquele beijo e se afastou um pouco. Ela estava sem graça, com as bochechas coradas e quentes e sem saber se sorria ou não. Suas mãos não queriam ficar quietas, então tocou seu próprio braço. Seus olhos não sabiam se olhavam para os olhos dele ou para outra direção qualquer. Ela queria dizer alguma coisa e ao mesmo tempo não queria dizer nada; ela não sabia se devia dizer alguma coisa. E se o fizesse, o que diria?

— S-Sol, e-eu... — ele também não sabia o que dizer, ou melhor, sabia, mas será que devia? A face dele estava tão vermelha e quente que se a tocassem achariam que estava febril.

Assim que ela ergueu os olhos, ele sentiu que não.

— E-Eu tenho que ir. N-Não quero aborrecer o Leigh.

— E-Eu também n-não quero aborrecer minha tia. — ela sentiu que ele estava tão ou mais sem graça que ela.

— Então tá.

O momento não podia ter sido mais inibidor. Ambos não sabiam como se despedir, se apenas com o tão comum tchau e que eles já estavam cansados de fazer ou com um selinho.

— T-Tchau. — despediu-se Lys, por fim, dando um beijo na bochecha de Emília, perto da boca, sabe-se lá porquê, saindo em seguida.

— L-Lys! — chamou-o. Ele nunca tinha sentido aquilo.

— S-Sim, Sol.

— M-Minha mochila.

— Ah, s-sim, claro. — voltou ele os poucos passos que deu e a devolveu, despedindo-se novamente, com um acenar de mão e um sorriso estranho, indo embora.

Sem entender muito bem aquilo tudo Sol entrou no prédio e foi para o seu apartamento. Sua tia estava dormindo no sofá, ainda com a toalha enrolada no cabelo.

Ela entrou sem fazer barulho, guardou a mochila e foi direto para o banho. Ao sair foi para a cozinha preparar algo para comer, mas nem precisou. Maitê já havia feito o jantar. Nada mais que arroz branco com alguns legumes cozidos. Haoqi não parava de miar no pé dela, querendo carinho.

— Ai, Haoqi, não morde. — resmungou, pegando a gatinha no colo depois de ter levado uma mordidinha no pé.

— Emília. — o barulho da garota na cozinha acabou despertando Maitê. — Uaaaaah! — bocejou, visivelmente cansada. — Que bom que chegou. Da próxima vez que você for para a casa de alguém depois da escola, avise-me, por favor. — percebível até na sua fala baixa e sonolenta.

— Está bem, tia. — Sol ainda estava desconfortável diante da tia, sem saber se ainda estava chateada ou apenas magoada, ou mesmo os dois.

— Vou fazer um filé de frango a parmegiana pra você... Uaaaaah! — deu outro bocejo longo — Não deixei pronto porque ia esfriar.

— Não precisa. Eu mesma faço.

— Está bem, então. Vou me deitar. Boa noite, querida.

— Boa noite, tia.

Desde que mudara Sol não tinha visto a tia tão cansada. Voltar à rotina de trabalho diário devia estar sendo bem cansativo.

Como era de praxe, Sol deixou sua marca na cozinha, um rastro de sujeira, do balcão da pia ao pequeno forno elétrico. Até ficou bom, mas pelo excesso de queijo e molho a bandeja ficou com uma crosta grudada, difícil de limpar.

Depois de jantar, louca para contar a novidade para suas amigas, em primeira mão, ela colocou água com um pouco de detergente na bandeja e deixou dentro da cuba da pia, acompanhada do prato, copo e talheres. Depois ela lavaria.

Emília nunca imaginou que seu primeiro beijo pudesse causar tanto furor entre suas duas amigas especiais, principalmente Mila. Ainda bem que elas estavam há quilômetros de distância, ou naquele instante os gritos delas estariam ecoando no seu quarto. Pelo menos no tablet ela podia abafar a “euforia” com um fone de ouvido. Tinha horas que digitar ao invés de usar mensagens de áudio seria melhor, mas não teria a mesma emoção.

— Bem saidinho esse seu amigo Lysandre, em Sol. Foi se chegando e levou seu BV. — comentou Mila, empolgadíssima.

— Confesso que às vezes eu ficava desconfortável perto dele. — comentou, com as bochechas começando a esquentar.

— Como assim? Ele é do tipo saliente?

— Não, Mila! O Lys é super reservado, um cavalheiro.

— E...

— É que... — Sol estava muito sem graça com tudo aquilo, sorrindo a toa.

— É que o quê? Vai, Sol, desembucha logo! Como é esse tal de Lysandre? O que ele fazia afinal?

— Nossa, Mila. Para de ser tão enxerida. Ela não tem que nos contar todos os detalhes. — por não querer ser pressionada a contar tudo sobre suas experiências amorosas, quanto as vivesse, Ana não se sentia bem em querer saber demais das experiências das amigas. Ela confiava totalmente nas duas, mas se dava o direito de poder escolher o que contar.

— Ah, nem vem. Eu sei que você também está curiosa. E nós somos melhores amigas, mais que isso, como irmãs e sempre compartilhamos tudo. Eu não escondi nada de vocês quando beijei na boca pela primeira vez.

— Mas a Sol não é você!

— Está tudo bem, Ana. Eu não ligo de contar. É só que... é estranho... o Lys é meio estranho.

— Como assim, estranho?

— Há! Ficou curiosa, não é. — debochou Mila.

— Não enche, Mila. Deixa a Sol falar, chata!

Literalmente, Sol não sabia se ria das discussões bobas daquelas duas, e que ela morria de saudade, ou se falava do Lysandre. Era melhor falar do Lysandre ou Mila não a deixaria mais em paz.

— Quando nós ficávamos sozinhos, do nada ele mudava, ficava me olhando de um jeito que me deixava sem graça, e sempre tocava no meu cabelo, ou no meu rosto, e até mesmo segurava minha mão.

— E o que isso tem de estranho, Sol? Se ele gosta de você e já tem certa intimidade, normal ele tentar uma aproximação diferente, para demonstrar que queria algo a mais.

— Não é isso, Ana. Também acho que seria normal, mas às vezes dava a impressão que ele estava longe, olhando pra mim, tocando-me, mas com a cabeça longe.

— Mas pelo que você diz ele é meio distraído. Não é?

— Sim, Ana, ele é. — referiu, sorrindo ao lembrar da cara dele quando não sabe onde colocou determinada coisa.

— Mas, tá, enrolação à parte, queremos saber como foi. O que você sentiu quando ele te beijou? Foi bom? A boca dele é macia? Ele te abraçou? Foi apertado? — Mila queria um relatório completo. Ana também, apesar de não pressionar. Ela deixava isso para Mila, a "parceira má" do quarteto, sendo o Ken o bobo, ela a séria e Sol a chorona.

— Ah, foi bom sim... — disse, sorrindo e mordiscando a unha, sem roer, pois não estava nervosa, — Ele me abraçou, mas não foi apertado, foi envolvente, carinhoso, como o beijo dele; e a boca é macia sim. — e sim, meio envergonhada, tirando uma lasquinha quando lembrou dos últimos segundos daquele beijo. — Mas...

— Mas o quê, Sol? — Ana havia se rendido. Ela queria muito saber todos os detalhes.

— Teve uma hora que ele... — titubeou um pouquinho, corando a face toda — me puxou pra mais perto dele, da gente ficar colado, mordeu meu lábio e colocou a língua na minha boca.

— AHHHHHHHHHHHHHH — enquanto Mila gritou no quarto, fazendo a mãe entrar no aposento e a mandar fazer menos barulho. Ana fez cara de “meu Deus”, chocada. Ela perguntou o que a amiga fez e a resposta fez Mila fazer cara de “só podia”.

— Eu travei! Fiquei sem ação, sem saber o que fazer.

— Pois eu o teria afastado e dito pra ir mais devagar. Ta vendo só, seu amigo é assanhadinho, sim! — disse Mila, que embora fosse a mais descolada e ousada das três, não era fácil. — Se no primeiro beijo já tenta te encoxar e coloca a língua na sua boca, imagine nos próximos. — Como ele vai te dando um beijo tão íntimo, e erótico, logo de cara, no primeiro beijo de vocês? Ainda mais você sendo BV?

— O Lys não é assim, Mila. Tanto que ele parou de me beijar na hora e acho até que ficou com vergonha, pois ficou estranho e logo foi embora, até porque ele tinha hora pra voltar pra casa.

Mila não falou nada. Por ser a mais desconfiada das três achou meio suspeita a atitude dele.

— Deve ser, Sol. Você sempre diz que ele é gentil e cavalheiro. Ele deve ter se empolgado e quando se deu conta ficou sem graça. Certo, Mila?

— Querem saber, mesmo? O que eu sei é que agora só falta você mudar de fase, Ana. Quando é que vai beijar na boca em? — brincou, querendo fugir do assunto. Ela não ia jogar água fria no dia feliz da amiga, até porque, pelo que Sol dizia Lys parecia ser um garoto descente. — Se quiser arrumo algum gatinho pra você.

Como sempre a responda de Ana àquilo foi:

— Vai a merda, Mila!

As três conversaram por um longo tempo. Sol contou que estava chateada com a tia e seus motivos, mas as amigas acharam que ela estava exagerando, então ela contou que apanhou. Ana ficou com pena, achando que Maitê havia pisado na bola ao bater nela, que não precisava, mas Mila já viu por outro lado. Ela questionou se Sol não havia feito por merecer e claro que a jovem dissera não.

— Tem certeza, Sol? Sua tia não ia te bater de graça. Você consegue ser bem teimosa e birrenta quando quer.

— Eu não sou birrenta! — reclamou — E minha mãe nunca fez isso comigo!

— Mas sua mãe e sua tia são diferentes. — referiu, preferindo não dizer que a mãe não lhe batia, mas também não lhe dava atenção.

— Você diz isso porque não foi você que levou as chineladas. Minhas coxas tem duas marcas vermelhas sabia. — contou, indignada.

— Ah, Sol. Nem vem. Você esqueceu quem é a minha mãe? Lembra daquela vez que nós assustamos meu primo fingindo que a Ana era a loira do banheiro? Quem de nós três levou uns tapas bem ardidos da mamãe? Euzinha. E quando eu saí com o Júlian depois da escola, dizendo que ia na sua casa, e meu irmão me viu na praça com ele. Eu fiquei com as marcas do chinelo nas coxas por uns três dias. Pra não falar de quando ela me pegou batendo papo numa sala de imagens de hentai na internet. Acho que até o cinto dela sentiu doer naquele dia, da sova que levei. Você realmente quer falar de levar umas chineladinhas comigo?

— Mas você ficou com raiva dela que eu lembro. — Sol não estava disposta a dar o braço a torcer. Ana só ouvia. Ela não fazia nada para a mãe querer bater nela e se algum dia fez, a mãe passou tanto tempo presa a sua depressão que nem notou.

— Não senhora. Eu fiquei foi chateada por ter apanhado. Ninguém gosta de apanhar, mas eu não fiquei com raiva da minha mãe. Fala sério, Sol. Você realmente acredita que não fez nada para merecer? Eu odiei ter apanhado, mas eu sabia que tinha feito merda. Meu priminho tem medo da loira do banheiro até hoje, o Júlian era tudo de bom, ok, mas eu menti pra ficar com ele, e tem um monte de pedófilo fingindo ser adolescente nestas páginas de bate papo. Minha mãe só fez isso porque eu vacilei e ela se preocupa.

— E você, Ana? Não diz nada? Você também acha que eu estou exagerando?

— Ah, Sol. Não sei o que dizer. Eu nunca passei por isso, mas a Mila tem um pouco de razão. Nós conhecemos sua tia e ela te ama muito. Será mesmo que ela te bateria sem motivo?

Sol ficou pensativa por um instante, perguntando-se o que teria feito para motivar tal atitude. Só o que vinha a sua cabeça era a porta que deixou fechar na cara da tia. Mas será que tinha mais coisa? Ah. Era tanta coisa na sua cabeça. Toda aquela história com o Lys, a postura da Melody e do Nathaniel mais cedo. Nathaniel. Por que ela tinha que lembrar dele.

— O que foi, Sol? Por que ficou muda? Não vai ficar chateada com o que eu falei agora não é? Eu só fui sincera.

— Sol? Você está bem? A Mila é assim mesmo, fala o que vem na cabeça. Você sabe disso. — como a amiga não enviou nenhuma mensagem de áudio em resposta Ana também se preocupou.

— Eu não estou chateada com você, Mila. Nós somos melhores amigas e entre nós não tem isso. Podemos falar o que pensamos, sempre. – respondeu. Ela não conseguiu disfarçar a voz.

— Então que vozinha é essa? O que foi, Sol? — perguntou Ana, mais afavelmente. — Sabe que pode se abrir com a gente.

— É que... eu me lembrei do Nath. — disse começando a ficar chorosa, contando a elas o que havia acontecido no refeitório.

— Baptême, Sol. Que chato.

— Bota chato nisso. — concordou Mila. — Mas quer saber, Sol. Dane-se a “crush” dele e ele. Se esse tal Nath não te quer tem quem queira!

— Nossa Mila, que coisa legal de se dizer!

— Eu só falei a verdade.

— Eu vou desligar, meninas. Estou com sono. Depois nos falamos. Beijus. — enviou Sol sua última mensagem, antes de sair do grupo.

Ela nunca imaginou que pudesse ficar tão confusa. Sua cabecinha e seu coração não sabiam o que pensar ou sentir. Naquela noite Haoqi dormiu na cama, aninhada perto do travesseiro.

 

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— Cadete Roux. Cadete Roux. — chamou-o o colega da cama ao lado. — Ketin! — puxando-lhe a colcha visto que por estar com o fone de ouvido não o ouviu chamar. — Você ficou louco? Desliga este celular e vai dormir. — aconselhou-o quando teve sua atenção. — O cabo já pega no seu pé sem motivo. Não vacila. Quer dar um motivo pra ele te punir de novo?

Sem dizer nada o jovem cadete fechou certo grupo no Watts, que visitava constantemente, embora não enviasse nenhuma mensagem, enrolou o fio do fone no celular, e o colocou no chão ao lado da cama, para evitar fazer barulho ao tentar abrir a porta do armário sem levantar da cama. Depois se enrolou na colcha, virou de lado e buscou adormecer antes de seus olhos molharem demais a fronha. Por sorte ele estava sempre exausto e o sono vinha rápido.

 

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Notas finais do capítulo

Embora o beijo de língua seja chamado de beijo francês (ou beijo linguado em Portugal), tanto na França quanto em outros países da Europa, ele é considerado erótico e visto como um apelo e até um convite sexual. Os franceses adoram, justamente pelo erotismo. Beijar de língua quer dizer que existe intimidade entre o casal, mesmo ainda não havendo o sexo.
Em algumas culturas, beijar de língua em público não é bem visto por muitas pessoas por conta da conotação sexual atribuída a ele. E há culturas que o consideram nojento. Na verdade, segundo pesquisas, apenas 46% dos povos estudados beijam na boca, sendo que na América do Sul, onde está o Brasil, das 21 culturas analisadas, apenas 4 beijam na boca (a nossa esta neste meio, claro....rs) Um dos motivos dos brasileiros serem considerados eróticos é justamente o fato de adorarem beijar na boca e de língua...rs

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Curiosidade sobre as conversas da Sol com as amigas: Elas costumam usar o skype, face e watts, preferindo mais o watts por conta da facilidade de conexão e conversa em grupo. Sol gosta de usar o tablet por ser maior que o celular, então ela coloca o chip no tablet para poder usar o aplicativo. O grande problema de se falar num grupo é que todos tem acesso ao conteúdo da conversa. Elas deveriam lembrar disso e mais ainda, que o Ken(tin) também faz parte dele, embora não entre, quer dizer, não responda. (por isso o título esta no masculino, não foram apenas as meninas a saber da novidade...)



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