Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 172
Doces morangos.


Notas iniciais do capítulo

Uma parte do texto esta em espanhol, pois é diálogo do Nath com a Clara. Não fiz a tradução, pois achei desnecessário, além de que ia poluir o texto. Fiz as referências as falas de forma a entender o diálogo. Se acharem que não dá para entender, me avisem, para que na próxima vez eu mantenha a tradução junto.



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# 05/04 #

— Sol. Já está indo para casa?

— Sim, Lys. Por quê?

— É que o Leigh veio me buscar. Nós te levamos para casa.

Ao saber que iam sair mais cedo ele ligou para avisar o irmão e dizer que não se preocupasse com o almoço, pois ia fazê-lo quando chegasse em casa.

—  Não precisa. Vou de ônibus. Não quero incomodar seu irmão.

— Não se preocupe, Emília. Não é incomodo nenhum te levar para casa. — disse Leigh surgindo atrás deles. Como Lysandre demorou para sair ele foi ver se estava tudo bem.

— O-Oi, Leigh. — ele não devia assustar garotinhas daquela forma.

— Vamos indo? — chamou-os, caminhando na frente. — Eu comprei salmão fresco e se demorarmos demais na rua o carro vai ficar com cheiro de peixe. — indo para o carro que estava há uns 20 metros do portão da escola.

No caminho Lys perguntou o que ele queria que fizesse com o salmão e Leigh disse que estava com vontade de comê-lo grelhado. De resto Lys podia surpreendê-lo, como sempre fazia quando cozinhava.

— Do jeito que seu irmão fala você deve cozinhar bem mesmo, em Lys. — comentou Sol, sentando no meio do banco de trás para ficar entre os dois, lembrando do sabor do prato dele no concurso culinário. — Não é a toa que venceu o concurso.

— Você quer almoçar conosco, Emília?

— Ah... N-Não. Obrigada, Leigh. — recusou, sem graça, achando que ele pensou que ela estava se auto convidando.

— Você almoçou aquele cachorro quente? — perguntou Lys, que não era do tipo que trocava uma boa refeição por lanches; só mesmo quando não tinha opção e ainda assim preferia mais um sanduíche grego ou lanche natural que hambúrguer ou cachorro quente.

— Na verdade não. Só uns pedacinhos. — contou, lembrando-se do que Mel havia lhe feito.

— Então almoce conosco.

— Ah, está bem Lys.  — aceitou, querendo espantar a tristeza de uma vez. Estar com eles não a deixaria pensar no que havia acontecido no refeitório. — Mas já aviso que eu sou comilona. — brincou.

— Qualquer um fica comilão com a comida do Lysandre. – comentou  Leigh, olhando-a pelo retrovisor interno. Ambos riram.

Chegando em casa, Leigh pegou a sacola da peixaria e levou para a cozinha, depois fez companhia a Emília, na sala, enquanto Lysandre tomou uma ducha rápida. Depois ela se ofereceu para ajudá-lo na cozinha, mas ele não aceitou, pois isso o distrairia e ele corria o risco de perder o ponto. Ela ficou na sala conversando com Leigh.

— É sempre o Lys que costuma cozinhar pra vocês? — perguntou.

— Sim. Eu não gosto de cozinhar e não vou mentir, sou péssimo. Quando meu irmão não cozinha eu acabo pedindo algo por telefone.

— Mas e a Rosa? Ela não cozinha pra você? — perguntou, esquecendo por um instante que os dois haviam se desentendido.

—  Ela ainda é pior do que eu na cozinha. — respondeu, meio triste por lembrar dela. — Mas gosta de tentar.

— D-Desculpe-me por falar dela, Leigh. Eu esqueci que vocês brigaram. — Emília odiava dar aqueles foras. Ela parecia ter o dom para falar sobre o que não era para ser falado.

— Não tem problema. Você sabe me dizer se ela está bem? Ela ficou muito magoada com o que eu disse não foi? — perguntou, já sabendo a resposta, pois ela não tê-lo procurado até aquele momento já indicava o quão magoada estaria com ele. — Ela não atende minhas ligações.

— Ficou. Ela chorou muito naquele dia e ontem também. Hoje ela nem foi pra escola. Ainda deve estar triste. Você devia se desculpar.

— Eu vou fazer isso. Hoje à noite irei vê-la.

— Que bom. Espero que façam as pazes.  E leve flores. Garotas gostam de flores.

— Vou levar, pode deixar. — aceitou a dica, aproveitando para pedir que ela não contasse ao Lysandre sobre aquilo. Ele não o queria se culpando por aquele problema dele com a namorada. Depois que ele se entendesse com Rosalya contaria ao irmão. Sol concordou, pois também não queria que Lys se culpasse por algo cuja culpa era só do Leigh.

Eles conversaram por um uma meia hora, até que a boca de ambos começou a salivar. Leigh tinha razão. Só o aroma da comida do Lysandre já abria o apetite.

— Hummm. Você tem razão, Leigh. O cheiro da comida do Lys é delicioso. O que será que ele fez?

— Eu disse a você. — respondeu, lembrando daquele aroma.

— Leigh.

— Sim, Lysandre.

— Arrume a mesa para almoçarmos, por favor. — pediu enquanto pegava dois refratários de porcelana na cristaleira, voltando à cozinha para terminar o especial do dia.

Leigh tirou o caminho de mesa, presente de sua mãe, e estendeu uma pequena toalha branca sobre metade da mesa de 6 lugares, pois os três não ocupariam mais do que aquele espaço, depois arrumou sobre ela os pratos do mesmo jogo usado por Lysandre, os talheres, as taças de vidro para água e os guardanapos. Sol ficou admirada com a forma que Leigh arrumou a mesa. Ela só esperava lembrar alguma das coisas que o padrasto havia tentado várias vezes lhe ensinar sobre etiqueta à mesa e que ela nunca prestara muita atenção.

Assim que os refratários com a comida foram postos sobre a mesa Leigh olhou para o irmão. Lys havia conseguido surpreende-lo.

— Quando o perfume tomou conta da casa eu logo desconfiei. — comentou.

— Desde o réveillon que não faço o pappardelle com posta de salmão ao pesto de manjericão e salsinha da vovó, então, como tínhamos todos os ingredientes, resolvi fazê-lo. Eu sei o quanto você gosta.

Leigh não gostava do pappardelle da Cecília, ele adorava, assim como Lysandre. aquele macarrão especial tinha um sabor de nostalgia para os dois e eles não se faziam de rogado para comê-lo.

Emília experimentou um pouco e estava tão bom que se deixou dominar pela gula, comendo uma poção generosa.

Depois de comerem, Sol ajudou a tirar a mesa e Leigh lavou a louça. Ele não deixou Sol ajudar por ser uma convidada. Depois ele foi descansar um pouco e Lys reabriu a loja. Leigh ficava meio preocupado de deixá-lo totalmente sozinho na loja, mesmo que por uma ou duas horas, mas ele precisa descansar e principalmente, confiar nele.

Quando tomava conta da loja Lys ficava diferente. Ele ficava mais sério e fazia tudo de forma metódica. Emília estranhou e achou até que estava atrapalhando quando falou com ele e não foi respondida.

— Sol. — chamou-a ao vê-la indo na direção da porta da loja. — Está indo embora sem se despedir de mim?

— Desculpe-me. É que você está tão concentrado no trabalho que eu não quero atrapalhar.

— Eu te ignorei, não foi?

— Só um pouquinho. Mas eu entendo. Você está trabalhando e não pode me dar atenção.

— Desculpe-me. Não foi por mal. Para evitar esquecer ou perder algo não posso desviar a atenção do que estou fazendo, até terminar. — explicou. — Se alguém falar comigo nessa hora eu acabo não dando atenção.

— Nossa. Isso que é funcionário dedicado. 100% concentração no trabalho. — brincou, voltando para perto do balcão, colocando a mochila sobre ele.

— Na verdade, não é bem assim. Eu preciso fazer dessa forma.

— Como assim? — não entendeu, achando até que Leigh devia ser um patrão chato e muito exigente.  

— Bom. Como sabe eu costumo esquecer onde coloco as coisas e por isso estou sempre perdendo algo. Para evitar isso a psicopedagoga que me atendia quando eu era mais novo, na minha antiga escola, disse que eu tinha que ser metódico, colocar as coisas sempre no mesmo lugar e anotar tudo o que fosse importante lembrar. Foi assim que eu ganhei meu primeiro bloco de notas. — contou, deixando- a intrigada.

— Você já se tratou com uma psicopedagoga? — perguntou, tentando não fazer cara de surpresa, pois na cabecinha dela psicopedagogos eram como psicólogos, só que trabalhavam nas escolas. E psicólogo só cuidava de pessoas que tinham problemas psicológicos. — Por quê? Já teve depressão?

— Psicopedagogos não são como psicólogos, Sol. Eles são profissionais da Educação especializados em ajudar pessoas com problemas de aprendizagem.

— Mas você é tão inteligente. Como pode ter problema de aprendizagem?

— Hoje eu não tenho problemas de aprendizagem. Mas já tive, quando criança. — contou, surpreendendo-a, pois ela achava que ele era tão CDF quanto Nathaniel. — E nem sempre a dificuldade de aprendizagem está ligada a baixa inteligência. Por razões específicas há pessoas que precisam de ferramentas diferentes das tradicionais para conseguir aprender. — explicou. — Eu tenho déficit de memória e por isso fiz acompanhamento psicopedagógico. Como minha memória curta é falha eu tive que aprender formas de estimular meu cérebro a gravar as informações.

— Então é por isso que você é tão distraído? Porque seu cérebro não guarda as coisas!?

— Não. Minha distração não tem nada a ver com meu déficit de memória. Tem a ver comigo mesmo. Faz parte da minha personalidade. Eu não consigo prender minha atenção às coisas que não me atraem de alguma forma e se eu fico entediado me distraio, e se me distraio, esqueço. — explicou. — Para não me distrair antes de terminar o que estou fazendo e evitar esquecer eu me desligo do que está a minha volta até terminar. É por isso que te ignorei. Eu me concentrei em arrumar o balcão para o Leigh e se eu te desse atenção naquele momento eu ia acabar me distraindo e esquecendo alguma coisa. 

— Isso tudo parece tão confuso. Como você consegue lembrar das coisas que aprende na escola, lembrar de tantas músicas e esquecer onde guarda as chaves?

Parecia que ele havia dado um nó do cérebro dela. Ela confusa era tão fofa aos olhos dele. Ele achava linda a expressão que ela fazia quando queria entender algo.

— É simples. Nós pensamos e sentimos as coisas, certo!? Então, o pensamento é rápido e passageiro, enquanto o sentimento é lento e duradouro. Nossa memória também registra as informações desta forma. Quase tudo aquilo que eu penso, esqueço, mas tudo o que sinto, eu lembro. — disse ele, saindo de trás do balcão, aproximando-se dela, deixando-a inquieta e se perguntando o porque ele tinha que ficar tão perto toda vez que falava com ela, ainda mais olhando-a daquele jeito.

— É assim que o meu cérebro funciona e por sorte, é assim que eu sou, muito mais sentimentos que pensamentos. E é até por isso que eu me distraio tanto.

E o porquê ele tinha que tocá-la, como se qualquer fio de cabelo que tocasse seu rosto o incomodasse, ainda mais de forma tão suave? Ele a deixava ansiosa.

— Eu tenho uma necessidade enorme de sentir tudo a minha volta e se o que eu estiver vivenciando no momento não me despertar sentimento algum, eu vou buscar na minha mente algo que me dê prazer, e tudo o que sinto eu eternizo num pedaço de papel, porque eu sei que cedo ou tarde alguém vai me "trazer de volta" e corro o risco de esquecer.

— A-Acho que entendi. — disse ela, dando um passo para trás, fugindo da proximidade dele. — É m-melhor eu ir pra casa, p-pra não te distrair, q-quer dizer, t-te atrapalhar. — ela é quem estava se atrapalhando toda.

— Você não me atrapalha, Sol. Eu gosto da sua companhia.

— M-Mas...

— Por favor. Fique mais um pouco. Até o Leigh voltar. — pediu — Se eu ficar sozinho aqui vou acabar me distraindo com meus pensamentos. — por querer ficar mais tempo com ela e também por não querer ficar sozinho na loja.  Rosa era sua companhia e na ausência dela seria difícil não devanear quando não tivesse nada para fazer; e ali não era lugar para devaneios.

— E-Está bem. Mas só até o Leigh chegar. — concordou. — E eu vou ajudar fazendo alguma coisa, como arrumando aquelas roupas. — apontando para uma das araras cujas roupas estavam fora dos cabides, querendo manter certa distância, não por medo dele, mas por não saber como agir se ele resolvesse tentar alguma coisa. Era mais fácil quando ela não sabia o que ele sentia por ela.

Lys sorriu e também procurou o que fazer na loja, que por sinal estava bem bagunçada. Leigh devia realmente estar cansado para não se importar com as coisas fora do lugar. Na verdade ele passou a manha tentando falar com a namorada, sentindo-se péssimo pelas coisas que disse a ela. Ele não teve cabeça para a loja.

Leigh retornou a loja por volta das 16h00. Como ele tinha que dar continuidade na confecção dos vestidos de formatura foi para o ateliê, deixando Lys à frente da loja. Emília continuou lhe fazendo companhia. Na verdade ela estava enrolando para voltar para casa, sem saber como encarar a tia.

Por volta das 17h30, mais ou menos, o celular dela tocou. Era Maitê, preocupada por ela não ter voltado para casa no horário, deixando-a ficar com Lysandre, desde que não passasse das 20h00 na rua.

Sol ficou na dúvida se ficava mais um pouco ou ia para casa.

— Tem certeza que está tudo bem se eu ficar no ateliê, Lysandre?

— Tenho, Leigh. O movimento está tranquilo hoje. Se eu precisar de ajuda o chamo.

Ela ficou.

Assim que o relógio marcou 19h00 Leigh resolveu fechar a loja, 1 hora mais cedo, para poder ir ver a namorada. Sol resolveu ir para casa, pois estava cansada e louca para tomar banho. Já bastava de rua para ela naquele dia, apesar da companhia ter sido ótima e dela ter se divertido ajudando a atender as clientes. Lys realmente sabia atender e tinha gosto para moda, um gosto que agradava as clientes mais maduras. Já as mais jovens pareciam mais interessadas no vendedor que nas roupas da loja. De certo elas deviam ser atendidas pela Rosa, pensou ela, achando graça na forma que Lys lidava com a situação. Ele era tão formal que parecia um velho falando.

— Obrigado pela ajuda, Emília. Quando a Rosa não está aqui para ajudar as coisas acabam ficando meio bagunçadas, pois ou o Lysandre atende e fica de olho nas clientes ou ele organiza a bagunça que elas deixam.

— Não precisa agradecer, Leigh. Até que foi divertido. Mas agora eu tenho que ir. Não quero aborrecer minha tia.

— Eu te levaria, mas preciso fechar a loja. Mas o Lysandre te acompanha.

Ao ouvir aquilo Lysandre nem pensou, só pegou a mochila da amiga, colocou no ombro e a conduziu, pela mão, para fora da loja. Ela não entendeu nada, ainda mais quando Leigh disse, alto:

— Eu ainda não esqueci viu, Lysandre!

Na calçada ela perguntou o que estava havendo, achando que ele queria fugir da arrumação da loja.

— Não é isso, Sol. É que eu estou de castigo e não posso ficar na rua. É de casa para a escola e da escola para casa, por tempo indeterminado, até o Leigh esquecer o que eu fiz. Eu quis sair rápido da loja para não dar tempo dele pensar melhor e me pedir para fechá-la enquanto te leva de carro.

— Olha só, que danadinho. Tentando fugir do castigo. — brincou, fazendo-o rir.

— Na verdade eu queria, ou melhor, quero, ficar um pouco mais com você. — disse ele, ajeitando a mão e entrelaçando os dedos dele aos dela, que baixou o olhar, rubra como a cor no semáforo que os impedia de atravessar o cruzamento de frente à loja. Ele apenas sorriu e a conduziu para casa, levando sua mochila pendurada no ombro.

Lysandre sabia que se os pais não voltassem atrás ele não veria mais a Emília, a não ser quando fosse visitar o irmão, sendo assim, cada minuto a mais que pudesse passar com ela, aproveitaria.

 

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— ¿Qué es eso en tu mano, Nathanielzinho? — perguntou a cozinheira enquanto espremia umas laranjas para fazer um suco fresquinho para seu patrãozinho favorito.

— Es un peluche, Clara. Es uno de los conejitos que las mujeres están haciendo el club para dar a los niños este año. — contou ajeitando o vestidinho de retalhos da coelhinha branca de longos braços e pernas. 

— Que son muy caprichosos. ¡Esta lindo!

— Son sí, Clarinha. — concordou, pois que também achava as senhoras do clube super caprichosas. — ¡Pero esto es especial! — ele tinha um brilho diferente nos olhos.

— Especial por qué? ¿Puedo saber? — perguntou, desconfiada de que tinha mulher naquela história.

— ¿Por qué no tiene y no tendrá otra como esta. Pedí abuela Grazi hacer una especial para mí. — respondeu, revelando que havia pedido a avó paterna para fazer uma coelhinha diferente para ele dar a Emília.

— ¿Especial para ti? ¿Es porqué?

— En realidad es para una chica. — contou, corando a face.

— Y tu madre saber?

— No, no se puede saber. Si se entera de que la abuela Grazi hizo un conejo para mí dar una chica, será un gran problema. — disse, guardando-a de volta numa sacola de papel pardo, escondendo-o embaixo da mesa. Se sua mãe descobrisse ele teria dois problemas, um por causa da garota e outro por causa da avó.

— Una chicaaa... — empolgou-se, enchendo o copo com o suco e servindo-o. — Es tu novia? — quis saber.

— N-no. — respondeu, perdendo um pouco daquele brilho nos olhos, lembrando que provavelmente ela nem gostava dele.

— ¿Qué es, querido. Parece triste. Ella no le gusta?

— No sé, Clara.

— Hum... — como ele sabia se a garota gostava dele ou não? Ela teria dito? — Pero se le dijo que ella te gusta?

— N-no. — respondeu, dando numa golada grande no suco, sem graça por sua falta de coragem em dizer a garota que gostava o que sentia por ela.

— ¿Pero por qué? Ella tiene un novio? — perguntou sentando ao lado daquele jovem apaixonado.

— No. E-Ella no tiene novio. — respondeu, olhando para o copo.

— ¿ Por qué no decirle te gusta ella? ¿Qué le impide?

Era melhor dar outro gole grande antes de responder aquela pergunta, para a boca não secar. Clara não gostava de vê-lo chateado e principalmente, de vê-lo tão inseguro de algo.

— T-Tengo miedo de ser rechazado por ella. S-Sé que es mi cobardía, pero me gusta tanto que sólo pensar que me podría rechazar, Clarinha, duele.

Nathaniel estava chateado com ele mesmo e não com a garota e isso era mais triste aos olhos de Clara. Ela não entendia os garotos daquela juventude contemporânea, tão corajosos para coisas estúpidas como pular da ponte com uma corda elástica amarrada aos tornozelos, mas acovardados diante de uma garota.

— ¿Por lo tanto, porque tiene miedo de escuchar un no, prefiero no arriesgar, dejando espacio para otros chicos valientes decir y conquistar?

Nath não disse nada, nem tomou mais o suco; apenas olhou para o lado e suspirou, lamentando em sua mente por sua inércia. Inércia que ia acabar jogando Emília nos braços de outro, provavelmente um garoto metido a poeta do século XIX.

— ¿Qué va a doler más, Nathaniel, la oyó decir que no te quiere ni verlo con otra, sin siquiera intentarlo?

Se apenas pensar naquelas opções ele já se sentiu triste. Ver Sol com outro sem nemao  menos ter tentado ou se arriscar e levar um fora? Como seria se as vivenciasse? Ele não queria pensar naquilo – como se desse para evitar.

— ¿Por que el amor es tan complicado, Clarinha?

— El amor no es complicado, Nathanielzinho. Se necesita valor para asumir riesgos. A veces las cosas funcionan, otros no lo hacen. Pero nunca se sabe si nunca terntar. Sé que cuando nos gusta alguien es difícil, pero más difícil es vivir en la duda.

Como era de se esperar, Clara tinha razão. A única forma de saber o que Sol sentia por ele era se arriscando. Enquanto continuasse se acovardando pelo medo de ser rejeitado ele continuaria vivendo aquela dúvida, preso àquele sentimento. Ele precisava tomar coragem e agir, fosse para ficar com ela ou esquecê-la.

— ¡Usted tiene razón. Usted siempre tiene la razón! — disse a sua amada cozinheira, abraçando-a. — ¡Voy a tomar mis posibilidades! — prometendo a ela que se arriscaria e diria a ela o que sentia no domingo de Páscoa, quando lhe entregasse a pelúcia.

— ¿Domingo de Pascua? ¡Pero tan lejos! ¿Por qué no hacerlo hoy? — aos olhos de Clara a Páscoa estava muito longe e o melhor dia para se declarar era aquele mesmo.

— H-Hoy en día? — assustou-se. Ele não estava preparado psicologicamente para encarar aquele momento naquele dia mesmo. — Creo que esto exige que salga, mañana o el domingo, o hablar con ella en la escuela, 2ª feria. — ele queria preparar o terreno antes, algo como por 1, 2 ou 3 dias.

— ¡No señor! Si usted tiene que hacer, hazlo pronto! Mañana puede ser demasiado tarde. El amor en un apuro! — Clara era daquelas que não deixava para depois o que podia ser feito no dia, ainda mais no amor, um sentimento tão frágil e fácil de sumir.

— P-Pero, Clarinha ...

— Sólo dime uma cosa. ¿Hay otro chico interesado en ella?

 O que ele ia dizer? Sim, tem, e eu acho que ela também está interessada nele? Não. Pensar aquilo e até ter quase certeza daquilo era uma coisa, dizer em voz alta era outra. Então se calou e seu silêncio foi sua resposta.

— Su cara lo decía todo ya. Hablar con ella hoy! No hay que esperar a perderlo para decidir! Cambiarse de ropa, de mejora bella y fragante como hago un embalaje muy bonito para que su conejo. A continuación, vaya a la misma y abre tu corazón.

— P-Pero, Clarinha ...

— Si es para que ella sea la suya, Nathanielzinho, nada más que a sí mismo se puede empujar, entonces, confiar más en usted y solicitar su felicidad.

Clara realmente sabia o que dizer e como dizer. Ele sorriu para ela, confiante, e correu para o quarto. Minutos depois ele desceu, arrumadinho e perfumado e disse a mãe que ia sair um pouco e logo voltava. Como era 6ª feira e ele costumava ir a academia as 4ª, 6ª e por vezes aos sábados, não fez perguntas.

Na cozinha Clara lhe entregou uma sacola de papel pardo com quase o dobro do tamanho da anterior, mas antes de passar pela porta o pai o chamou e perguntou onde ia. Ele ficou tão nervoso que gaguejou enquanto pensava numa desculpa.

— Nem pense em mentir para mim, Nathaniel! — Jhonatan sabia que o filho gaguejava quando estava escondendo ou tentando lhe esconder algo. — Aonde você vai e a essa hora?

— E-Eu vou visitar uma a-amiga da escola, pai. — ele sabia que tinha sido pego e se mentisse o pai ia saber e ai seria "olá castigo". Falar a verdade era a única forma de, quem sabe, ter uma chance de poder sair.

— Uma amiga!? Há essa hora!? — Jhonatan não era bobo, sacou na hora que tinha algo entre ele e a tal amiga, provavelmente a garota do cinema. Do contrário, porque ele estaria todo arrumadinho e perfumado? — O que tem nessa sacola?

— N-Nada de mais, pai. É só uma pelúcia. — disse, entregando-lhe a sacola. Ao abrir viu que tinha outra embalagem dentro, uma sacola cor de rosa com estampa de rosas e um laço de cetim amarrado nas alças. Ele nem precisou abri-la para ver que se tratava de um coelho pelas enormes orelhas que estavam para fora da sacola decorada.

— É um dos coelhos das crianças? Você pegou uma das pelúcias sem a sua mãe saber? — perguntou, bravo, pois era óbvio que Nicole não sabia. Ela nunca daria a ele uma pelúcia para ele presentear uma garota, assim como ele nunca pediria uma a ela para tal fim.  — Que tipo de comportamento é esse?

— N-Não, pai. E-Eu não peguei nada. — disse rapidamente, com medo até do pai lhe dar uns tapas, pois ele nunca aceitou que os filhos pegassem nada sem permissão, principalmente sabendo que a pessoa não emprestaria ou daria. Aquilo, aos olhos dele, era furto. — F-Foi a vó Grazi que me deu!

Jhonatan não sabia se o repreendia pelo que ele havia feito ou se não se metia naquilo, imaginando o tamanho da dor de cabeça que teria por sua mãe estar envolvida.

 — Eu espero que essa garota valha a pena, Nathaniel. Porque quando sua mãe descobrir você terá um problemão. E se isso gerar mais um conflito entre ela e a sua avó, é bom você estar pronto, porque você vai ter que se virar para resolver, do contrário, nós dois teremos uma conversa, de homens! — repreendeu-o, devolvendo-lhe a sacola. — Agora saia daqui antes que sua mãe apareça e desconfie dessa sua sacola!

Nathaniel pegou a sacola e saiu rapidamente, parando um instante na calçada, para pensar no que havia acontecido. Seu pai não o questionou sobre a garota e não falou nada sobre ele não poder namorar por causa dos estudos. E mais que isso, não o proibiu de sair para vê-la e pelo que pôde entender, não contaria nada a sua mãe. Ele foi repreendido sim, mas porque o pai achou que ele tinha pegado a pelúcia sem pedir e por ele ter envolvido a avó naquela história toda sabendo que sua mãe e ela viviam se desentendendo. Um sorriso largo enfeitou seu rosto e a sensação que a noite ia ser perfeita ocupou seu coração.

Jhonatan, assim como Nicole, proibiu Nathaniel de namorar, pois acreditava que isso o faria se desconcentrar dos estudos. Mas ao contrário de Nicole, ele viu que o garoto cresceu e sabia que não dava mais para impedi-lo de se envolver com as garotas. Ele já tinha 16 anos e seus hormônios, naturalmente, estariam à flor da pele. Proibi-lo de namorar era o mesmo que dizer “namore escondido alguma garota que de certo eu não aprovaria e a engravide”. Era melhor ele permitir e vigiar de perto. Fora que seu filho, aos olhos dele, já era um homem e como tal não dava mais para se contentar com a imaginação. Claro que em se tratando da Ambre a coisa era bem diferente. Ia demorar muito até que ele permitisse que ela namorasse. Ah, se ele soubesse.

— Fue usted quien preparó el paquete no era, Clara?

E agora? O que ela diria? Sim, fui eu quem fez o embrulho, usando uma sacola que tinha guardada? Ela sabia que os patrões não queriam o garoto se distraindo com garotas.

— Quiere saber. ¡No importa! Ya preveo suficiente dolor de cabeza sólo porque ya han participado Graziela lo posee. Si Nicole sospecha que también esto para complacer a Nathaniel, esta casa se convertirá en un infierno y voy a estar obligado a interfirir, que me va a salir muy, muy estresado. — disse ele, já se imaginando sendo obrigado a resolver o problema, tendo sua esposa de um lado e a mãe e a empregada, duas alcoviteiras, do outro. Qualquer que fosse sua escolha ele teria dor de cabeça.

Clara apenas ouviu sem dizer nada. Assim que o patrão saiu da cozinha ela soltou o ar que estava preso nos pulmões e prometeu a si mesma que a participação dela naquela história tinha terminado ali. Se a patroa descobrisse que ela estava dando conselhos amorosos ao patrãozinho ia perder a confiança nela e isso seria um risco ao seu emprego.

Do lado de fora, Nathaniel retirou a sacola decorada de dentro da outra, que jogou no cestão de lixo de um dos vizinhos e foi em busca da sua felicidade.

Na mente dele um turbilhão de pensamentos. Seu coração não sabia se acelerava ou diminuía o ritmo, com medo de se magoar e ao mesmo tempo confiante que não seria assim. Literalmente ele estava em meio a uma crise de ansiedade.

 

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Enquanto caminhavam Lysandre foi tão natural que Emília rapidamente se acostumou com a sensação dele segurando sua mão. Eles conversaram sobre os planos para a Páscoa e Lys contou que ia para a fazenda com Leigh, passar o final de semana de feriado com a família, que sempre se reunia nas datas especiais e se Leigh e ele não fossem seus pais se chateariam, pois seus tios, primos e avós, todos paternos, estariam lá. Ele preferiu não contar que corria o risco de não voltar mais.

Ao chegarem no parque tinha uma senhora vendendo espetos de morangos cobertos de chocolate. Sol comentou que adorava e resolveu comprar com o dinheiro da condução que economizou. Lys não quis. Depois seguiram para o prédio dela.

Lys sorriu o caminho todo vendo-a comer aqueles morangos. Parecia uma criança querendo fazer o doce durar a vida inteira com suas mordidinhas e mastigadas vagarosas para sentir o sabor por mais tempo.

Assim que chegaram na frente do prédio Sol tinha apenas um único morango no palito.

Como Lys não parava de olhar para ela, ficou sem graça e ofereceu a ele seu último morango.

— Eu não quero, Sol, pode comer.

— Tem certeza? Está muito gostoso. — ela nem se envergonhou de não ligar por ele não querer, pois ela gostava tanto de morangos com chocolate e fazia tanto tempo que não comia, que ele não querer significava mais um para ela.

— Tenho, Sol. Eu só estou te olhando comer porque você está muito fofa. Parece uma criança com seu doce favorito. — comentou, limpando uma sujeirinha de chocolate perto da boca dela.

Por que ele tinha que falar aquelas coisas para ela e ainda a tocar? Tocar. Ela se deu conta que ele segurou a mão dela o tempo todo, o caminho todo. Ela voltou a ficar nervosa, tanto que enfiou o morango inteiro na boca, mastigando-o enquanto olhava para baixo, rubra como a parte interna daquele doce, com olhar fixo na mão dele segurando a sua, mais que isso, acariciando a sua, sem saber se a puxava e entrava no prédio ou se ficava ali esperando sabe-se lá o quê. Ela soltou a mão dele e ajeitou o cabelo, tentando disfarçar o real motivo de ter feito aquilo. Ela sabia o que ele sentia e o que ela sentia. Ela não sabia se escutava seu coração, que repetia o nome do Nathaniel, ou se ouvia sua razão, que repetia o da Melody.

Enquanto a olhava mastigar seu último morango com sabor de chocolate, sem coragem para encará-lo, visivelmente sem graça, Lysandre só conseguia pensar numa coisa, que talvez ele não a veria mais depois de 5ª feira, noite em que viajaria com o irmão para Chenéraillés.

— Pensando bem, acho que vou querer um pedaço do seu morango. — disse a ela, ajeitando a alça da mochila no ombro, pois estava escorregando.

— D-Desculpa. Eu já comi. — falou, sem saber se olhava para o rosto dele ou não, receosa dele estar novamente com aquele olhar.

— Na verdade, Sol. Eu não preciso do morango para sentir o sabor dele. — disse, tocando-lhe o queixo, fazendo-a olhar para ele, passando a ponta do dedo nos lábios adocicados dela.

Aquele olhar... Por que o rosto dele tinha que se aproximar tanto do dela?

O coração dela gelou, mas não por medo,

— Eu só preciso disso. — quando os lábios dele tocaram os dela.

O coração dela disparou. No primeiro instante ela não sabia se fechava os olhos e se deixava envolver ou se o afastava. Mas a mão dele em seu rosto era tão macia e os lábios dele tocaram os dela com tanta leveza que não tinha como ser diferente. Os olhos dela fecharam ao mesmo tempo que seus lábios abriram para receber os dele.

Ela nunca tinha sido beijada e nem sabia se sabia beijar, mas ela não estava insegura; não mais; embora a timidez não a abandonasse. Sempre que ele se aproximou demais ela teve medo do que podia acontecer, mas naquele minuto ela queria ficar mais perto, então se deixou envolver pela cintura enquanto os lábios dele degustavam do doce sabor do morango com chocolate que ainda havia na boca dela.

Estava sendo tão estranho e ao mesmo tempo tão bom beijar Lysandre; uma mistura de sensações. Uma vontade enorme de sorrir enquanto o beijava e de abrir os olhos e ver se ele também estava de olhos fechados, misturados a uma vergonha de descobrir que ele estava de olhos abertos, olhando para ela.

Ela não sonhou com aquele beijo, mas estava sendo como um sonho.

 

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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo e da imagem (desculpem Nathanietes, meu coração vitoriano falou mais alto...rs)
E agora? O que vai dar tudo isso?



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