Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 150
Um lindo dia, uma manhã amarga


Notas iniciais do capítulo

Emília, Emília......



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# 03/04 #

7h30. Enfim a 4ª feira chegou para os estudantes. Nada como um dia de folga dos estudos no meio da semana para recarregar as baterias dos jovens franceses. O sol brilhava forte e o céu em sua cor azulada, tão claro e limpo, parecia anunciar que o dia seria maravilhoso.

— Eu já disse que vou ligar para o seu amigo, Emília. Espere eu terminar de tomar café, por favor!

— Mas a senhora disse isso há meia hora e ainda não ligou.

Sol não aguentava mais de ansiedade. Ela pouco dormiu naquela noite, pois a cada vez que fechava os olhos, a imagem de seu sonho vinha a sua mente e uma sensação ruim se apoderava dela. Aflição. Uma angústia sufocante que a fez pensar no amigo até o sono a dominar.

Ela sabia que era só um sonho, mas pareceu tão real que por mais que desejasse falar com Lysandre, tinha medo de pegar no telefone e ligar, pois em seu sonho a notícia lhe chegara através daquele pequeno aparelho.

— É, eu disse. E disse também para esperarmos um pouco, pois se a Lemaitre abre às 9h00, deduz-se que às 7h00 seu amigo e o irmão ou estão dormindo ou acordando. Às pessoas tem o direito de descansar bem, sabia?

Era bom Maitê começar a "pisar em ovos" com as palavras, pois depois do episódio do hospital e da mentira sobre o trabalho, Sol ia levar ao pé da letra tudo o que ela dissesse, interpretando à sua forma, claro. E mesmo ela não sendo grosseira, a garota ia dar um peso negativo a cada frase que não fosse o que ela desejasse ouvir.

— Não precisa falar assim comigo. Se não quer ligar é só dizer. A senhora não precisa fingir que se importa com o que eu sinto só para me agradar. — reclamou, voltando para o quarto, pisando duro e batendo a porta. Maitê respirou fundo, pois a vontade que teve foi de dar uns tapas naquela birrenta.

— Dê-me paciência, Senhor, porque se isso continuar o dia todo, vai ficar difícil não brigar com ela.

Deixando sua salada de frutas com iogurte desnatado, mel e flocos de aveia sobre a bancada da cozinha, ela foi até o telefone e o tirou da base.

— Deixe-me ligar logo para esse rapaz e acalmar aquela menina, antes que isso vire um drama mexicano e eu perca a paciência.

Como na memória do fixo só tinha salvo o número da loja, foi para lá que ela ligou. Ao ouvir a voz do Castiel, rezando para alguém atender, pois pela hora o estilista poderia não estar na loja, achou ter ligado para o número errado.

Não era o momento de ficar ansiosa e nem tinha motivos para isso - ou tinha? - Mas ficou e isso a emudeceu por um instante, breve demais para o ruivo questionar o silêncio do outro lado da linha, mas longo o suficiente para ela lembrar das palavras dele e da força que colocou na mão ao levá-la ao seu rosto. Ela não queria ter feito aquilo; ele não devia ter dito o que disse.

— Alô!? — aquele instante de silêncio teria feito o rapaz pensar que se tratava de Lysandre se não fosse o número no visor e que ele reconheceu, deduzindo ser a Emília. Mas foi a voz da violácea que fez seu coração, ainda magoado, gelar.

— Bom dia, Castiel. Desculpe ter te incomodado logo pela manhã. Eu devo ter discado seu número sem querer. Eu preciso ligar para a Lemaitre.

— O-Oi. Maitê... Você discou certo. Eu estou na casa do Lysandre. — ele ainda não estava pronto para falar com ela. Ele ainda não queria falar com ela. — Mas a loja não vai abrir hoje.

O desapontamento não foi apenas dele, pois assim que o aparelho tocou os outros sentiram uma ponta de esperança. Leigh só não atendeu porque estava longe do aparelho, mas teria corrido e tomado da mão do ruivo se tivesse ouvido que era seu irmão do outro lado da linha.

— Você está bem, querido? Sua voz está tão estanha. — por mais que tentasse disfarçar, Castiel fraquejou ao falar com Maitê. Sua voz estava desanimada e cansada, pois além de preocupado com o amigo e um pouco sonolento por ter virado a madrugada acordado, ouvir aquela voz afável o fez lembrar do toque da mão dela, não o ardido e gelado em sua face, mas o macio e quente sobre sua mão. Ele só queria desligar aquele telefone e encerrar aquela conversa. — Aconteceu alguma coisa com seu amigo? Ele está bem? — antes de a máscara cair.

O clima na casa estava pesado, tenso, todos estavam cansados e tentavam relaxar um pouco enquanto aguardavam notícias da polícia ou uma simples ligação do platinado, visto que a busca noturna deles não resultou em nada. O único que não conseguiu dormir nenhum minutinho se quer foi o Leigh, que estava uma pilha de nervos; silencioso, apelando para o café forte misturando com um pouco de refrigerante a base de xarope de cola, para se manter acordado, assim como Castiel, mas este não conseguiu beber da mistura louca do estilista, pois Kage não deixou. Este sim cochilou um pouquinho, assim como Jhonatan, pegos pelo cansaço, naquele sono leve que vem e vai a cada barulhinho que se ouve. Nathaniel, devido a medicação para dor de cabeça que tomou antes de sair de casa, dormiu mais profundamente, apagando sobre o sofá. Ele até tentou brigar com o sono, mas logo depois das 5h00 este o dominou totalmente

— Nós não sabemos. Ele ainda não voltou para casa e... ninguém s-sabe de-ele. — não dava mais pra segurar. Ele afastou o telefone do ouvido, prendeu um pouco o ar, com o dorso da mão que segurava o aparelho sobre sua boca, fechando inclusive suas narinas, pois não queria deixar o choro escapar, depois respirou fundo e encerrou aquela conversa, — Desculpe-me, Maitê, m-mas... t-tenho que desligar... Não posso manter a linha ocupada... Tchau! — antes de trair a si mesmo e deixar a máscara cair de vez.

— Vá lavar o rosto, Cassy. — Kage ouviu parte daquela conversa, sem querer, pois estava saindo do banheiro. — Leigh está se segurando a muito custo. Se você fraquejar agora ele vai cair e vai ficar difícil manter o foco dele na procura. — ele não queria o clima na casa mais pesado do que já estava. Não ia ser bom para ninguém. — Vá pra casa e descanse um pouco. O dragon precisa dos seus cuidados e você aproveita pra deixar isso ai sair. Vai te fazer bem.

— E-Está bem, tio Kage. Só vou lavar o rosto.

Castiel não queria sair dali sem notícias do amigo, mas estava difícil segurar, ainda mais depois de falar com Maitê.

Kage o levou para casa e o deixou lá, sozinho com seu cachorro. Ao voltar para a casa dos Lemaitre levou alguns pães e queijo fresco para o desjejum.

— Você devia comer alguma coisa, Leigh.

— Não se preocupe comigo, Kage. Eu estou bem! — como poderia Leigh sentir fome com seu irmão ainda perdido e, talvez, com fome e sem dinheiro para comer. Só o que ele queria era encontrá-lo.

— Kage tem razão. Você precisa se alimentar.... — inteirava o Sr. Chevalier, mas Leigh nem esperou ele terminar de falar para sair. Ele não queria ser mal educado e nem percebeu que foi, mas uma ansiedade já estava começando a lhe tomar de conta e se ficasse mais tempo perto daquela mesa posta para o café da manhã ia acabar fraquejando e ele precisava se manter firme, para encontrar seu irmão.

— Eu espero que o irmão deste rapaz apareça ainda hoje e que esteja bem. — comentou Jhonatan com Kage, entendo a postura do estilista. — Pois ele não chega até a noite sem perder o controle.

Se tinha uma coisa que Jhonatan conhecia eram as reações de tensão. O mundo dos negócios era assim. E por falar em tensão, ele tinha uma reunião inadiável para presidir.

Ele acordou o filho, cuja dor de cabeça já tinha passado, e avisou que ele teria que ficar na casa, esperando por notícias, pois ele iria para a empresa, Leigh e Kage haviam saído para procurar e Castiel havia ido para casa descansar um pouco. Difícil ia ser acalmar a esposa quando dissesse que o garoto ainda não ia voltar para casa.

Ainda sonolento pelo efeito da medicação, pois ele não tinha dormido as 8 horas necessárias para seu corpo descansar, sozinho na casa, Nath resolveu tomar uma ducha, com a água mais fria que morna, para despertar. Ele já estava acostumado com os banhos puxados para o frio da academia, que vivia com os chuveiros do vestiário com problemas - raro quando este estava quente.

A ducha foi rápida, pois ele não se sentiu muito a vontade; ali não era sua casa, tampouco seu quarto e seu banheiro. Embora estivesse usando o banheiro social, para visitas, não tinha pedido permissão. Pior ainda ter que colocar a mesma roupa. Por sorte, ou melhor, graças ao ar condicionado da sala, ele não transpirou à noite e suas roupas não estavam suadas.

Depois do banho ele secou o banheiro, tomou seu café rápido e desceu até a lavanderia, para lavar a toalha que usou, pois não ia deixá-la para outro lavar. Por sorte Gina lhe ensinou como lavar roupas na mão e como ele usou a toalha apenas para o banho, a lavagem foi rápida e simples, dando mais trabalho para torcer. Mas nada que punhos fortes não fizessem com facilidade. Mas mal pendurou o tecido felpudo no varal o interfone tocou.

 

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Uns 45 minutos antes, aproximadamente:

— Cast?

O rapaz desligou o telefone tão rápido que Maitê nem teve tempo de dizer "tudo bem, querido, eu entendo." Pensar que ele estava sofrendo pelo amigo a fez esquecer o que houve na noite anterior. A mágoa que ela sentiu ao ouvir as grosserias dele ficou pequena diante do sentimento de preocupação que nasceu ao ouvir sua voz chorosa ao telefone. Ele até tentou disfarçar, mas ela conhecia o tom e tipo de voz dele.

Mas não foi apenas o Castiel que a preocupou. Embora tivesse falado com Lysandre apenas uma vez e bem pouco, pois este fugiu para a área de serviço, ele era amigo de sua sobrinha e esta sempre falava dele com muito carinho. Saber que ele estava sumido a fez pensar nos tantos perigos que a juventude se expõe todas as noites ao saírem de casa. E para piorar ela tinha em casa uma jovenzinha dramática, que via um tsunami numa marola qualquer. Como contar a ela? Maitê podia ser boa com as palavras, mas com o humor que a garota estava, provavelmente, não ia conseguir evitar o drama.

— Emília. Posso entrar? — perguntou, com a mão na maçaneta, pensando nas palavras certas. Se bem que as palavras certas já causariam preocupação na garota, que não respondeu, mas abriu a porta. Enquanto Maitê entrou no pequeno aposento com a cama ainda desarrumada, ela fechou seu diário e o guardou na gaveta.

— Pelo visto você se adaptou bem ao diário. Está sempre escrevendo nele.

— Foi fácil me adaptar, é só escrever, guardar e não esperar nada dele. — alfinetou, voltando para a cama.

Ah, se não fosse a situação delicada daquele momento... Maitê era paciente, mas nem tanto e respirar fundo para acalmar não ia dar certo o tempo todo. Emília estava brincando com a sorte.

— Eu liguei para o seu amigo.

— Ele está bem? A senhora falou com ele? — Emília só faltou pular sobre a tia para saber como o amigo estava, de tão ansiosa. — Anda, tia. Fala! Como ele está?

— Eu não falei com ele, Emília. — o tom de voz ameno, mas meio que preocupado, da tia já deixou a garota apreensiva. — Eu falei com o Castiel. — mas ela ter dito que falou com o Castiel a deixou confusa.

— E por que a senhora falou com o Castiel?

— Ele está na casa do seu amigo.

Se a tia não estivesse com uma expressão de "vou te abraçar" no rosto e não tivesse sentado ao lado dela na cama, Sol teria achado que o ruivo foi lá para uma visita, afinal de contas aqueles dois eram como unha e carne, mas ao contrário disso, sua imaginação fértil foi fazendo o seu trabalho.

— E p-por que ele está lá? — Maitê não resistia aquele bico que a sobrinha sempre fazia - desde pequena - quando estava preste a chorar. Ela achava fofo e engraçado quando era por bobeira e/ou manhã, irritante quando por birra, e lhe cortava o coração quando era por algum sofrimento real. — Ac-conteceu alguma coisa com o L-Lys, não é? Alg-guma coisa ruim...

— Calma, querida, não se precipite. — falou, limpando o rosto dela das primeiras lágrimas que caíram. — Se Deus quiser, e Ele quer, não aconteceu nada com o seu amigo. — esquecendo de pensar antes de falar, usando uma combinação de palavras não muito favorável, deixando a sobrinha mais assustada. — O Castiel disse que o Lysandre ainda não voltou pra casa e nem entrou em contato. Ele está lá por causa disso.

— E-Então o Lys sumiu?

— É o que parece, Emília. Mas já falei, não se precipite. Ele pode estar na casa de alguém e esqueceu de avisar o irmão. Muitos jovens fazem isso. — completando em seguida, sem dar chance para a jovem se verter em lágrimas, colhendo as poucas que caíam.

— M-Mas o Lys não faria isso.

— Vai saber. Ele é jovem. De repente está com uma garota, se empolgaram, e ainda não acordou para dizer que está bem.

Demorou um pouquinho para Sol entender o sentido do "se empolgaram", enrubescendo a face quando se deu conta.

— M-Mas... ele não tem namorada! — comentou, lembrando da forma que ele olha pra ela. — Eu acho... — concluindo num sussurro confuso, afinal Lys era sempre tão reservado; uma incógnita para ela.

— Nem todos precisam estar namorando ou apaixonados para fazer certas coisas, Emília, ainda mais garotos.

Levando o dedão a boca para roer a unha, Emília se perguntou se a tia estava certa, querendo que sim, embora a ideia do amigo de cabelos cor de prata nos braços de alguma garota e fazendo "aquilo" não lhe agradasse muito. Ciúme? Talvez. Afinal de contas, ele jogava charme pra cima dela e seria muita sem-vergonhice dele fazer aquilo estando com outra garota.

— Mas e se não for isso? E se tiver acontecido alguma coisa com ele, de verdade? — deixando este pensamento de lado rapidamente, pois Castiel provavelmente saberia caso Lys estivesse saindo com alguém. — Liga de novo. Por favor!

— Eu não vou ficar aborrecendo eles, Emília. O Castiel já falou rapidinho comigo porque eles não querem deixar a linha ocupada, de certo para evitar que seu amigo ligue e não consiga falar com ninguém. Mais tarde eu ligo, prometo.

— Então vamos até lá! — disse, deixando a tia na cama e indo ate o guarda-roupa.

— Nem pensar! Você tem que ficar quietinha, aqui em casa! Você precisa descansar.

Maitê conhecia a sobrinha e caso o clima estivesse muito tenso na casa do Lysandre ela ia ficar nervosa e se melindrar, mais atrapalhando que ajudando.

— Mas eu quero saber como ele está e aqui eu não vou saber de nada. — se fosse para ir à escola ela não teria se trocado tão rápido. — E lá eu posso ajudar em alguma coisa. — saindo do quarto.

— Ajudar em quê, Emília? Às vezes a melhor ajuda é não atrapalhar, ficando em casa! — disse Maitê, indo atrás dela, na sala.

— Por favor, tia. Me leve até lá!

— Não! Eu vou ligar de novo pra eles se isso te acalma, mas você não vai a lá. O Leigh - ela era cliente dele - já deve estar nervoso demais para você aparecer na casa dele. Gente demais especulando coisas que podem ter acontecido com o irmão dele não é ajuda, é tortura.

— Mas, tia...

— Eu já disse não, Emília! — reforçou, pegando o telefone. — Fora que você ainda precisa descansar. — discando o número da loja.

— Eu já descansei, ontem, no hospital. Lembra!? — respondeu, num tom seco, bancando a malcriada de novo. — E ele mora perto. — com um bico nada choroso nos lábios, bico que Maitê ainda ia estapear se aquilo perdurasse até a paciência dela findar. — Eu posso ir sozinha! — saindo de casa a passos largos, ignorando o que a tia falou.

Maitê não acreditou naquilo. Ela sabia que a garota já tinha bancado a mal criada com a mãe algumas vezes - poucas -, mas com ela estava sendo a primeira vez.

De havaianas nos pés a jovem tia contrariada pegou as chaves de casa, trancou a porta e foi atrás da sobrinha, cujos passos rápidos davam a impressão que queria correr - e queria mesmo. Maitê teria que acelerar os passos para alcançá-la, mas não ia correr atrás da "aborrescente" que atravessou o parque e não parou nem para olhar para os lados antes de atravessar a rodovia, com medo da tia a alcançar e a arrastar pra casa. Por sorte não vinha nenhum carro; mas Maitê teve que esperar alguns passarem para ir atrás dela, perguntando-se o porquê não atirava sua havaianas na garota, dali mesmo onde estava.

— Se fosse a minha mãe você já estaria chorando pela tamancada* certeira na cabeça menina malcriada. — resmungou enquanto atravessava a rodovia. — Mas nós ainda vamos falar sobre isso, Emília. Há vamos!

Diante do portão da garagem do Lysandre Emília sentiu o coração acelerar, com medo até de tocar a campainha. Maitê chegou e parou ao lado dela, pronta para dizer: "Quando voltarmos para casa falaremos sobre essa sua rebeldia, mocinha." Mas ao dar de cara com aquele bico choroso pela preocupação com o amigo, desarmou-se.

— Se você realmente quer ajudar, Emília, muda essa expressão. Sua tristeza só vai deixar os outros mais tristes. — falou, apertando os olhos da garota para tirar qualquer lagrimazinha que tinha ali, antes dessas escorrerem. Tocando a campainha em seguida.

Ao ouvir a campainha Nathaniel titubeou por alguns segundos, depois abriu o portão social que estava trancado apenas com a trava. Ele teve uma pequena ponta de esperança que fosse o platinado voltando pra casa, sem suas chaves para entrar direto.

— N-Nath!? — o coração dela disparou mais que se fosse o amigo sumido. — O q-que faz aqui? — perguntou, achando-se uma idiota por ter perguntado aquilo, pois era óbvio que tinha a ver com o sumiço do Lysandre.

— O-Oi, Sol. — o coração dele seguia o mesmo ritmo que o dela. — M-Meu pai e eu viemos de madrugada, pra ajudar a procurar o Lysandre. — contou.

— E ele já deu notícias? — perguntou Maitê, tirando o foco do loiro da garota de olhar triste. — Como está o Leigh? — imaginando a dor do seu estilista.

Leigh não era amigo pessoal de suas clientes, mas tratava a todas de uma forma tão especial que elas acabavam nutrindo certo carinho por ele.

— Bom dia, Srta Berger. — cumprimentou-a, educado como sempre. — Infelizmente ele não entrou em contato e não conseguimos saber nada dele enquanto procurávamos. O Leigh saiu para procurar, novamente, com o tio do Castiel. Ele está segurando bem, mas não para, nem para comer. Ele está muito preocupado.

— E o Castiel? — ela não resistiu. Ela precisava saber como ele estava. — Está com você ou foi ajudar a procurar?

— Ele foi para casa. Tinha que cuidar do cachorro dele e descansar um pouco. — Nath sabia que o ruivo precisava se isolar um pouco para tirar a máscara, mas não ia falar nada para ela, pois não sabia que eles dois eram amigos. — Ele virou a madrugada acordado.

— V-Você acha que ele está bem? — Emília fazia um esforço enorme para não chorar. — E q-que ele vai aparecer logo?

Nathaniel queria dizer que sim, que ele estava na casa de fulano ou beltrano, mas não conseguia mentir.

— Eu espero que sim, Sol. — cortava o coração dele ver o olhar dela tão triste e ele não podia evitar ter uma pontada de ciúme. — E que ele passe por este portão ou que o Leigh ou o Kage volte trazendo ele junto.

 

 

Ela não resistiu ao toque da mão dele sobre seu rosto, colhendo aquela lagrimazinha metida que resolveu dar o ar da graça e que teria morrido solitária no chão ao pingar de seu queixo se não fosse aquele carinho.

— Por favor, Sol. Não fique assim. — disse, abraçando-a, querendo apertá-la em seus braços, acariciando seu cabelo ao invés disso, sentindo as lágrimas daquele choro silencioso molharem sua camisa. — Ele vai aparecer; você vai ver. — controlando-se para não se deixar levar. Que tipo de homem seria ele se aproveitasse aquela situação para beijá-la e dizer que gostava demais dela, ao ponto de pensar nela o dia inteiro, de querer estar com ela o tempo todo e pior, de sentir ciúme por ela chorar baixinho, triste daquele jeito, por outro cara. Era egoísmo demais.

Maitê percebeu o clima diferente pairando sobre eles. Estava na cara que o garoto sentia alguma coisa pela sobrinha dela, que por sinal, já havia comentado que o garoto tinha namorada.

— Vamos para casa, Emília. Você ainda está fragilizada e cansada por ontem. O Nathaniel nos manterá informadas, por telefone. — o melhor era levar a chorona para casa, antes daqueles dois se deixarem levar. Que ele rompesse com a namorada antes de querer qualquer coisa com sua sobrinha.

Nathaniel pensou que o "fragilizada e cansada por ontem" era por ter sabido do Lys quando Leigh foi até a casa dela procurar por ele. Ele ainda não sabia do incidente entre Rosalya e Charllote e que acabou deixando a garota de molho no repouso do hospital.

— Vocês podem ficar, se quiserem. Eu até agradeço se ficarem. É estressante ficar aqui sozinho, esperando por notícias. A companhia de vocês vai evitar que eu pense em coisas ruins. — ele não mentiu no que disse, mas o real motivo do pedido era querer ficar mais tempo com Emília, que praticamente implorou a tia que ficassem.

Para evitar mais estresse com a garota, Maitê concordou, mas pediu que ela mantivesse a calma, do contrário a levaria para casa.

— Está bem, tia. Eu vou segurar a onda. Prometo.

— Vamos lá para cima. — pediu, — Se o telefone tocar eu corro o risco de não ouvir daqui de baixo, ou então de não conseguir atendê-lo a tempo. — conduzindo Emília pela mão e com Maitê só de olho.

Nath não foi o único a se sentir egoísta. O calor do abraço e da mão dele era reconfortante.

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