Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 149
Deixando as desavenças de lado.


Notas iniciais do capítulo

Mais um....
Será que o Lys apareceu?



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# 02/04 #

— Eu sei que você quer procurar seu irmão, Leigh. Mas é bom que você esteja em casa quando ele voltar. O Castiel e eu vamos sair por ai, procurando.

— Desculpe, Kage, mas o Lysandre é minha responsabilidade! — ressaltou. — Eu não vou ficar aqui enquanto ele está vagando por ai, sozinho, sabe-se lá onde! — Leigh era forte, dificilmente chorava, e conseguia se manter frio diante de situações complicadas, mas nem ele era forte o suficiente para lidar com aquela situação. Estava difícil controlar o medo e a preocupação que estava sentindo. Lysandre era sua força, mas também sua fraqueza, seu calcanhar de Aquiles.

Kage não ia questioná-lo. Ele entendia. Procurar, de certa forma, mantinha a mente dele livre dos pensamentos mórbidos. Ele pediu ao sobrinho para esperar pelo amigo.

— Eu sei que você também quer procurar seu amigo, Cassy...

— Não me chama de Cassy. — reclamou em meio à explicação do tio. Ter que ficar na casa o deixou irritado.

— Entenda. Leigh precisa se manter em movimento para não começar a pensar no pior e alguém precisa ficar aqui caso o Lysandre volte. Leigh e eu procurado vamos cobrir uma área maior; enquanto se eu ficar e você for, terá que ficar com ele, no carro.

— Leva o celular. Aqui tem telefone fixo e eu também vou pegar o da loja e trazer pra cá. — apesar de não gostar da decisão, ele entendeu.

Enquanto Leigh, de carro, seguiu seu rumo em busca do irmão e Kage, na sua moto, seguiu em busca do mesmo, em direção contrária, Castiel desceu até a loja para pegar o telefone. Um pensamento passou por sua mente. Conhecendo o amigo como conhecia, era bem capaz dele estar na loja e todos procurando por ele, mas infelizmente não foi assim. Ele procurou em cada canto, no ateliê, copa, almoxarifado, provadores e até no toalete; Lysandre não estava lá. Leigh já havia feito isso, mas de tão preocupado, esqueceu de comentar.

Depois de conectar a base do telefone da loja numa tomada na cozinha, o jovem amigo preocupado ligou a TV, pois o silêncio faria sua mente pensar no que não era para pensar. Ele precisava ouvir vozes para evitar os mesmos pensamentos mórbidos que Leigh tinha medo que tomasse conta de sua mente.

Ele sentiu falta da companhia de uma foto...

 

***

 

— Finalmente, Lysandre! Onde você se enfiou? — Castiel atendeu o interfone do sobrado com entusiasmo, já apertando o botão da trava eletrônica do portão.

— Sou eu, Castiel. O Nathaniel. — sentindo a máscara de garoto forte soltar um pouco por não ser o amigo. — Meu pai e eu viemos ver se precisam de ajuda.

— Pode subir. — disse, respirando fundo para não deixar a preocupação o derrubar. A presença do loiro não ia lhe ser agradável, mas toda ajuda era bem vinda.

— Boa noite, Sr. Chevalier. — cumprimentou ao recebê-los na porta da cozinha.

— Boa noite, rapaz.

— Podem ficar à vontade. Tem café na cafeteira, caso queiram. — sem conseguir disfarçar o desapontamento.

— O Leigh está em casa, Castiel? — perguntou Nathaniel, pois precisava de algumas informações do Lysandre. Era a primeira vez que Nathaniel ia à casa do platinado. Lysandre não era do tipo que recebia amigos em casa. Apenas aqueles que ele considerava como amigos mais íntimos frequentavam sua casa e ele se sentia mais à vontade em visitar, ainda assim, se tivesse motivos para tal. Seus pais eram assim. Leigh era assim.

— Não. Meu tio e ele estão procurando. — respondeu, voltando para o sofá da sala. — Eu fiquei aqui, caso ele volte pra casa. — Nathaniel notou que ele estava estranho e achou que era por ele estar lá.

— Nathaniel.

— Sim, pai.

— Pegue as informações que te pedi com seu colega e depois me passe. — pediu, pois havia dito ao amigo do clube que ligaria novamente assim que se encontrasse na residência do rapaz. — Vou ligar novamente para o Dhomme e avisar que já estamos aqui. — deixando de lado o fato de aqueles dois terem trocado socos na escola, indo para a cozinha. Mas ficaria de olho.

— Quem é Dhomme? — perguntou o ruivo, ressabiado. — Por que seu pai tem que dizer a ele que vocês estão aqui?

— Dhomme é o delegado responsável pelo distrito policial daqui da região. Ele é amigo do meu pai.

— E por que seu pai tem que avisar a ele que vocês estão aqui? Aconteceu alguma coisa com o Lysandre e vocês estão sabendo? — questionou, assustado. — Fala logo, CDF! — enervando-se.

Jhonantan olhou para eles, mas não se manifestou, atendo-se a sua ligação. Ele preferiu observar o filho e ver como ele resolveria aquilo. Ele só tomaria a frente se fosse necessário.

— Calma, Castiel! Não é nada do que você está pensando. Nós não sabemos nada do Lysandre. Depois que você me ligou eu contei ao meu pai o que tinha acontecido, então ele ligou para o delegado Dhomme e pediu que ajudasse. Só isso!

Castiel sentou novamente e respirou fundo, tentando se acalmar. Nathaniel sentou ao lado dele.

— Eu sei que está preocupado com o Lysandre e entendo, Castiel, pois assim como você, eu também estou preocupado; ele também é meu amigo.

— O Lysandre não é só meu amigo, ele é meu melhor amigo, muito mais do que qualquer outro já tenha sido um dia. — falou, não perdendo a oportunidade de reforçar aquela rixa. — Você nunca vai entender o que estou sentindo! Você não sabe o que amizade, irmandade!

Castiel devia mesmo estar muito preocupado, com medo de perder o amigo, pensou Nathaniel, pois desde que eles brigaram por causa da Debrah que o ruivo não falava com ele daquela forma, fazendo referência a amizade que um dia eles tiveram. Ele teria levantado e o deixado sozinho, pois sabia que seria inútil dizer que não traiu a amizade deles, visto que este não acreditaria; e depois de tanto tempo e tantas brigas, não valia mais a pena.

— Olha, Castiel. Eu sei que nós temos as nossas diferenças e que você não confia em mim. Mas nós dois estamos aqui pelo mesmo motivo, ajudar a encontrar o Lysandre e essa desavença que existe entre nós não vai ajudar em nada. — mas a situação pedia que ele fosse mais maduro. — E eu sei que você sabe disso, do contrário não teria me contado a verdade sobre os motivos que fizeram o Lysandre sair de casa. Você teria dito apenas que ele não havia voltado pra casa. — Castiel odiava quando o ex-amigo estava certo - e quase sempre ele estava.

— E o que você sugere? — perguntou, sem olhar para o colega de classe. Ele apertava tanto os dedos das mãos que corria o risco de ter câibras.

— Até que o Lysandre apareça vamos nos tratar com respeito e vamos nos ajudar, para melhor ajudar o Leigh a encontrar o irmão. — disse, estendendo-lhe o punho fechado. — Não é pedir muito.

Castiel respirou fundo e, ainda sem olhar para o Nathaniel, de cara amarrada e mordendo o lábio inferior, completou aquele cumprimento, batendo seu punho fechado no dele, cima, baixo, frente, cumprimento que fizeram pela última vez no dia em que Debrah mudou o rumo da amizade deles, e que naquele momento, selava aquele acordo de paz.

Por um instante uma nostalgia pairou sobre os dois, nostalgia que dissipou em segundos, pois Cast levantou de forma brusca do sofá.

— E-Eu vou ao banheiro. — a máscara pesou e ele tinha que tirá-la um pouco, do contrário ela ia cair sozinha. Ele chorou um pouco pelo Lysandre, respirou fundo para se acalmar, lavou o rosto e se recusou a pensar numa amizade perdida. Não valia a pena. Com a máscara no lugar, ele voltou para a sala e deu o telefone do Leigh para o Nathaniel, pois ele não sabia com exatidão como o Lysandre estava vestido.

Apesar do tempo ter passado e deles viverem às rusgas, Nathaniel sabia quando a máscara do ruivo estava difícil de sustentar.

— Não se preocupe, Castiel. O Lysandre vai aparecer.

Castiel apenas se largou no sofá, voltando os olhos para a TV, para se distrair. Eles já tinham se falado o necessário.

Nathaniel não disse mais nada, apenas o deixou só. Ele deu o telefone ao pai e este ligou para o estilista, que rapidamente voltou para casa, pois o delegado Dhomme havia solicitado que uma viatura fosse a casa dele, para ajudar nas buscas.

Leigh chegou praticamente junto com a viatura. Ele entregou uma foto do irmão aos dois policiais e passou todas as informações solicitadas, como nome, idade, vestimenta, se tinha vícios, locais que costumava frequentar e tudo mais, repetindo umas 3 vezes que ele sofria de memória curta. Assim que eles saíram, ele agradeceu ao pai do Nathaniel. Ele havia ido a delegacia, mas como não havia passado nem 4 horas, não deram muita atenção, só registraram e disseram que iam ficar de olho pelas ruas.

— Isso não importa mais, Sr. Lemaitre. O que importa agora é que eles vão ajudá-lo. A foto será escaneada e enviada juntos com os dados aos policiais que estão pelas ruas, então as chances de encontrá-lo mais rápido ficaram maiores.

— Eu serei eternamente grato por sua ajuda, Sr. Chevalier. Não nos conhecemos, mas o senhor se preocupou com meu irmão, contatou seu amigo e pediu ajuda. Essa atitude eu não vou esquecer.

— Eu tenho filhos, Sr. Lemaitre. Eu sei o que está sentindo. — comentou, olhando para o filho que os observava na garagem, do alto do rol da escada. — E não importa o quanto tempo passe, mesmo ele estando bem, certos medos nunca passam. Eu só espero que ele não mude você, como mudou a mim.

— Por acaso o Nathaniel já se perdeu alguma vez, Sr. Chevalier? — intrigou-se. — Sr. Chevalier...

— Âh... — por um breve instante Jhonatan se perdeu numa lembrança que por muito tempo não o abandonou, mas que ele, há uns 3 anos, havia decidido deixar no passado, até aquele momento.

— O senhor dizia que...

— Ah, isso. Esqueça, por favor. Concentre-se apenas no seu irmão.

Leigh percebeu que ele falou sem pensar e que não queria ter falado sobre aquilo, então respeitou e deixou o assunto de lado.

Castiel sabia que Jhonatan era rígido demais com Nathaniel e que por vezes lhe batia, tendo chegado ao absurdo de surrá-lo certa vez. Ver a forma que o ex-amigo olhava o pai, cheio de afeto e orgulho, o fazia se perguntar se eles já haviam superado aquilo.

— Vamos, Nathaniel. — chamou-o. — Sua mãe já me enviou várias mensagens, preocupada com você.

— Preocupada comigo? Por quê?

— Coisas da sua mãe, Nathaniel. Não questione e vamos para casa!

— Mas nós não íamos sair para procurar? — ele não queria ir embora, ele queria ficar e ajudar.

— Eu vou fazer isso, Nathaniel, mas antes vou te levar para casa, para acalmar sua mãe.

— M-Mas, pai...

— Eu já disse para não questionar, Nathaniel. Pegue seu casaco, desça e vamos embora. — ordenou, firme, mas sem se exaltar. Nath obedeceu e desceu, sem dizer mais nada.

— Não faça essa cara, Nathaniel. Eu sei que você está preocupado com seu amigo, mas você não passou bem na escola. Você precisa descansar! — falou. Ele não conseguia ser carinhoso ao falar com o filho e seu tom de voz era sempre sério e fechado, mas era percebível para qualquer um que ele se preocupava com o primogênito. — E você conhece sua mãe. Ela não vai dormir enquanto você não estiver em casa!

— Seu pai está certo, Nathaniel. Vocês já fizeram muito pelo meu irmão. Vá para casa e descanse. — disse Leigh, agradecido.

— Por favor, Leigh, avise quando o encontrarem. — embora chateado por não poder ficar e ajudar, ele já havia pedido muito ao pai, que não tinha nenhuma obrigação de ajudar o Leigh. Era melhor ele voltar para casa e esperar notícias, com sua mãe.

— Sr. Chevalier. — chamou-o enquanto descia a escada. Castiel queria encontrar o amigo e toda ajuda era importante. — Eu sei que sua esposa está preocupada com o Nathaniel, mas será mais fácil identificar o Lysandre se ele estiver junto com o senhor, que só o conhece de vista. É noite e o Nathaniel o conhece bem e o reconhecerá de longe. — ele mesmo queria sair à procura do amigo e sabia o quanto estava lhe doendo não poder, pois alguém tinha que ficar esperando por ele em casa. Nathaniel podia ser como seus olhos nas ruas daquele e até de outros bairros.

Nathaniel olhou para o pai esperando que ele concordasse, mas não se atreveu a pedir.

— Você tem razão, rapaz.

Nathaniel esboçou algo que quase foi um sorriso, mas logo ficou sério novamente, pois a situação não era para alegrias. Mas ele não podia evitar sentir aquela alegria. Ele não se lembrava da última vez que fez algo importante junto com o pai que não fosse trabalho; ele nem sabia dizer se alguma vez o fez.

Enquanto Nath esperava no carro, Jhonatan avisava a esposa que o filho estava bem e que ficaria com ele. Em seguida os três, Nathaniel, Jhonatan e Leigh, saíram à procura.

— Encontrem-no! — murmurou, Cast, vendo-os saírem, voltando-se novamente para as vozes da televisão.

Cast sentiu um pouco de inveja do Nathaniel com os pais. Eles podiam ter todos os defeitos, mas eram presentes. Um amigo sumiu e a mãe do loiro ficou impressionada e com medo dele sumir também, o pai era super rígido e não demonstrava afeto, mas bastou ele passar mal na escola para este deixar transparecer que se preocupa. Já seus pais, que eram super carinhosos e amorosos - ele nem lembrava de quantas vezes levou uns tapas, tendo apanhado mais dos tios maternos que dos pais - eram ausentes e suas preocupações eram apenas palavras enviadas de longe e que ele lia no visor do celular.

Ele ligou para o tio. Ele precisava ouvir mais que as vozes da TV. E enquanto Kage comia um sanduiche qualquer e tomava um café quente num bar, para esquentar, anotando os lugares que já havia passado, Castiel tentava lembrar de algum outro que ele poderia ir.

Conversar com o tio não diminuiu sua aflição, mas manteve sua mente ocupada.

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Notas finais do capítulo

Cast e Nath tem suas desavenças, mas Lysandre não tem nada a ver com isso. Ele é amigo dos dois, embora tenha com Castiel uma relação mais forte, de irmãos.
Será que este frágil momento Lys vai fazer estes dois resolverem suas pendengas?
E pai e filho. O que será que aconteceu para fazer Jhonatan mudar? Posso dizer apenas que o Nath nunca fugiu de casa...rs