Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 105
Você não me deixa esquecer.


Notas iniciais do capítulo

E o que acontece quando Sol chega no cinema?



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# 31/03 #

A sessão já estava quase na metade. A fila do caixa estava grande, mas por sorte ninguém mais queria ver aquele filme, não naquela sessão. Sol pediu seu ingresso e a caixa estranhou.

— A senhorita tem certeza que quer um ingresso para esta sessão? — perguntou-lhe. — Já faz quase uma hora que ela começou.

— Sim. Eu vim encontrar um amigo, mas como me atrasei ele já deve ter entrado. — justificou, sem necessidade, pois para a moça do caixa bastava dizer sim ou não.

— Por sorte ainda temos duas poltronas vagas.

— Eu quero apenas uma!

Sol pegou seu bilhete e pagou com o dinheiro do ônibus, o que lhe renderia boas caminhadas até a escola na semana seguinte.

— Sala 4. — murmurou para si enquanto procurava a entrada, que ficava à direita do balcão das pipocas, cujo aroma lhe fez salivar, mas ela não tinha tempo para pensar em comer, ainda mais pipoca de cinema, tão cara. Ela devia ter prestado mais atenção. Seus olhos buscavam apenas um jovem loiro, as garotas lhe passavam desapercebidas.

— MOÇA! O SEU TROCO! — gritou a balconista com as moedas na mão, sem entender o porquê a jovem com olhos de safira saiu correndo, guardando de volta na caixa registradora. Se ela voltasse lhe seria entregue, se não, seria uma gorjeta de centavos.

— Oi, Nath. Voltei. — disse Melody ofegante, sentando ao lado dele.

— Que bom que você voltou, eu preciso ir ao banheiro. — disse ele, que ao tentar passar foi barrado por ela, que não tirou as pernas da frente.

— Nem perca seu tempo. Acho que eles estão limpando. Tem uns cones no chão, que tá todo molhado e ninguém pode passar. — mentiu, querendo evitar que ele se encontrasse com Emília do lado de fora. — Eu não consegui ir.

— Tudo bem, dá para segurar. — falou, sentando-se.

— Eu trouxe umas balas, daquelas bem azedinhas que você gosta. — ela ofereceu-lhe os doces, querendo desviar sua atenção da entrada, pois viu Sol no primeiro degrau das fileiras. — Quer uma? — derrubando todas no chão assim que ele colocou a mão no saquinho, propositalmente.

— Droga. — murmurou. — Desculpa, Mel. Eu pego.

Enquanto os dois recolhiam as balas, tateando o chão devido a pouca iluminação da sala, Sol subiu até a última fileira, passando os olhos nos diversos rostos que ali estavam.

"Casais ficam na última fileira." pensou enquanto subia.

— Só eu mesma. Se me atrasei ele entrou aqui sozinho. — disse a si mesma ao constatar que ele não estava nas últimas fileiras, desejando que ele estivesse em alguma das outras.

A cada degrau que descia ela parava e olhava cada nuca, cada rosto, com pouca esperança de encontrá-lo, começando a acreditar que ele havia ido embora.

— Eu teria ido no lugar dele. — murmurou, triste, — Que droga. — chateada. — Minha tia e o Cast tinham que demorar para sair. — culpando a tia e o amigo que ela nem imaginava que havia perdido, pelo atraso.

— Está difícil encontrar todas, Mel. Quando acender as luzes eu recolho.  — disse Nathaniel entregando-lhe algumas balas, erguendo-se e se recostando na poltrona.

— N-Não se preocupe. — respondeu, buscando Emília com o olhar, com medo dela ainda estar na sala. Um turbilhão de pensamentos e ideias malucas pareceu invadir sua mente. — São só algumas balas. — referiu, recostando novamente a cabeça em seu ombro. Ele manteve as mãos sobre os braços da poltrona. Ela tinha muito a perder e faria qualquer coisa para isso não acontecer, embora nada fosse dela.

— Nath. — chamou-o.

Ele não esperava por aquilo. Assim que olhou para ela teve sua boca pressionada pelos lábios macios de Melody, que lhe roubou um beijo, envolvendo-o com os braços, puxando-o para mais perto, pela nuca. Sem nem ter tempo para pensar ele sentiu sua língua invadindo-lhe a boca, forçando a passagem, obrigando-o a abri-la e sentir o gosto cítrico da bala que adoçou aquela língua minutos antes.

Ele sabia que os lábios da Melody eram macios e que sua boca era quente, mas seu beijo nunca foi apertado daquele jeito, ao ponto de sufocá-lo. Ele era calmo, lento; pelo menos era assim que ele lembrava.

Depois de deixá-la beijá-lo por um breve instante, não mais que um minuto, mas significativo para Melody, agora com a boca mais branda, Nathaniel segurou seus braços, soltou-os de seu pescoço e levantou a cabeça, desfazendo aquele beijo, fitando-a e vendo seus olhos azuis marejarem. Se não fosse a sala escura ele teria visto o rubor tomar conta de cada pedacinho da face dela quando a encarou, sério.

— Você não devia ter feito isso, Melody.

— M-Mas você gostou, eu s-sei que gostou. — falou chorosa. — Você me correspondeu.

— Ah, Melody. Eu não correspondi, eu apenas não te afastei de imediato pra não te constranger. Eu só esperei você relaxar um pouco, pra ficar mais fácil me soltar de você. — revelou à amiga.

— Shiiiu! — pediu silêncio o rapaz do lado.

— Tem gente querendo ver o filme! — reclamou o da fileira de cima.

Melody levantou e saiu da sala, chorando, cheia de vergonha e de tristeza. Ele foi atrás dela, puxando-a pelo braço antes dela chegar ao toalete, abraçando-a, deixando-a chorar.

— Vamos esquecer isso, ok. — pediu ele, que queria esquecer mais que aquele beijo.  — Vamos fingir que nada disso aconteceu. — disse. "Vamos fingir que este dia não aconteceu.", pensou, "Já que não posso fingir que aquele dia nunca aconteceu."

— E-Está bem. — aceitou ela, fungando, tentando controlar o choro, soluçando — S-Só não me peça para esquecer... o que eu si-into por você. — disse, "nem o que houve entre a gente." pensou, voltando a chorar.

Ele a envolveu mais em seus braços, sentindo-se o pior dos piores por ser o responsável por aquelas lágrimas. Ele a amaria se fosse uma opção de escolha, mas não era. Ele arrancaria aquele amor do coração dela se pudesse, mas não podia. Ele voltaria no tempo se fosse possível, mas não era, então viveria com aquele remorso, cuja pequena pulseira trançada em nós, de cordão acetinado azul e branco não o deixaria esquecer; Melody não o deixaria esquecer!

— Só tem uma coisa que não podemos esquecer. — comentou ele, tocando o queixo dela, levantando seu rosto, enxugando suas lágrimas. — Que nós somos amigos, apenas amigos. — Ela assentiu com a cabeça e se soltou dos braços dele, indo ao toalete lavar o rosto.

Diante do espelho ela lavou o rosto, secando-o com cuidado com as toalhinhas de papel.

— Pare de chorar, Melody! Pare de chorar! Pense. Você conseguiu sentir o gosto da boca dele de novo, depois de quase 10 meses. — disse a si mesma enquanto secava o rosto. — E ainda conseguiu afastar aquela falsa. — lembrando do motivo que a fez agarrar o Nathaniel: Sol os havia encontrado e estava a poucos passos da fileira deles. — Depois de hoje, só se ela não tiver vergonha na cara para correr atrás do meu Nath. — comentou com um sorriso de satisfação nos lábios.

Melody conseguia aceitar não ter o Nathaniel para si, contentando-se com a lembrança dos dias em que ficou com ele antes do verão passado, mas não conseguia se quer imaginar vê-lo com outra, quanto mais se fosse uma colega da escola. Para ela Sol não podia ter se apaixonado pelo loiro sabendo que uma amiga gostava dele, seja esta correspondida ou não, pois apesar dela não contar a ninguém, nem declarar aos quatro cantos da escola, todos sabiam e até lembravam do tempo – relâmpago – em que ficaram juntos.

— Você pode até não ficar comigo, Nath, e aceito isso. Mas você não pode apagar da minha mente o que nós tivemos, nem da sua! — disse diante do espelho, ajeitando o cabelo, saindo em seguida.

Nathaniel achou melhor ir embora e Melody também foi.  Ele estava tão distraído com seus pensamentos ao entrar em casa que não percebeu a presença da irmã na sala, que ao vê-lo chegar antes do previsto e com cara de velório, indo direto para o quarto, deduziu que o plano da Li havia dado certo.

Naquela noite ele não deu mais sinal de vida em sua casa, permanecendo em seu quarto, no escuro, no silêncio, sozinho, calado, pensativo, triste, zangado. Por vezes seus olhos fitaram o teto, outras o nada ao lado do guarda-roupa. Por vezes sua mente praguejou, xingou, questionou e até buscou justificativas, outras se repreendeu e se culpou, mas seus lábios não proferiram nenhuma palavra, nem mesmo um sussurro ou murmuro. Seus olhos avermelharam, arderam, umedeceram e até gotejaram um pouco, tendo como receptor daqueles sentimentos sua mão, que não deixava as lágrimas tocarem o travesseiro, sendo enxugadas antes; mas seu coração não soube identificar o motivo daquele sentimento, a culpa ou o bolo.

 

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