O hambúrguer e as fritas desceram como uma benção para seu estômago faminto. Teve de esperar até o fim da tarde para almoçar. Naquele fim de semana estava acontecendo uma exposição de fotografias do shopping e os corredores ficavam lotados. As vendas na banca subiam demais também, deixando os dois funcionários efetivos sem tempo para respirar.

Rony trabalhara das dez da manhã até as cinco sem intervalo, e achou que deveria ter ganhado o dobro do dia pelo esforço. Contudo, o proprietário da banca era mesquinho e tanto ele como Hank sabiam que não lhes daria nada além de alguns trocados a mais no vale-refeição.

Ele terminou seu lanche sentindo as pernas doerem. As vezes, estar trabalhando no shopping parecia tão cômodo. Não ter de acordar cedo, poder ler os mangás antes do resto... mas outras era quase uma perda de tempo. O que de proveitoso poderia levar dali para outro lugar?

Pensativo, começou a caminhar de volta para a banca, entretanto achou que não teria problema demorar-se um pouco mais, afinal Hank fizera uma hora de almoço e provavelmente não se importou em demorar.

O ruivo pegou as escadas rolantes e foi para o térreo, no imenso saguão central onde a exposição acontecia. Queria ver o que havia de tão interessante nas fotos que vinham atraindo as pessoas. Contornou as aglomerações e se pôs a percorrer monólitos de gesso que traziam as gravuras expostas. Era algo bem interessante.

Havia paisagens britânicas, algumas orientais, nativos australianos, todas cenas cruas e descontraídas. Quando chegou a um imenso quadro coberto de neve e uma belíssima tundra recortada por uma furtiva raposa vermelha, ficou boquiaberto. A nitidez e a vivacidade daquele retrato pareciam impossíveis para uma lente artificial captar.

— Alasca. — uma voz lhe falou as costas. Rony virou-se e identificou uma estonteante negra de cabelos cacheados. Era alta, esguia e sorridente.

— Como?

— A foto. — apontou para o quadro.

— Ah...

Ela aproximou-se mais e o rapaz percebeu que era alguns centímetros maior que ele. Cheirava deliciosamente bem e os olhos eram perspicazes e negros.

— Ficamos eu e meu grupo acampando com os alguns nativos numa região chamada Portões do Ártico. O frio era absurdo e achei que meus dedos congelariam a qualquer momento. Nunca comi tanto peixe assado. — confessou — As imagens que captamos compensou tudo. Essa foi de minha autoria, também a predileta.

— É... fantástica mesmo. — Rony admitiu. — Todas as fotos são suas?

— Não. As minhas estão com meu nome. — e apontou para uma plaquinha que dizia "Tamara Cook".

Ele achou-se estúpido pela pergunta. Sequer havia reparado.

— Legal. — enfiou as mãos no bolso.

— Gosta de fotografia?

— Acho que a última vez que me aventurei com uma máquina fotográfica foi quando resolvi remontar a luta do Shiryu com o Seya no Coliseu. — e riu. Tamara sorriu também, mas aquilo tratou-se de pura educação, porque deu na cara que não fazia ideia do que ele falava. Não demorou para o ruivo sentir-se envergonhado. Esqueceu-se de que não era Hermione ali com ele.

— Deve ter sido bem interessante.

— Coisa de criança. — desconversou — Eu estou matando meu tempo de almoço e achei essas fotos extraordinárias. Que tipo de lente consegue capturar com essa nitidez?

— Se eu te disser que é uma Nikon 18-200mm DX VR vai entender?

— Se você me der cinco minutos pra eu consultar um bom link no Google, talvez.

Ela riu, ele a acompanhou. Tinha uma risada larga e contagiante.

— Bom, por um acaso, estou precisando de um ajudante com bastante humor para trabalhar comigo no meu novo estúdio de fotografia. Você trabalha?

— Pode me encontrar ali em cima — e apontou para o primeiro andar — vendendo revistas de fofocas sobre a Rainha e os netinhos dela.

— Faz tempo que não venho para a Inglaterra, ela continua viva? — Tamara ironizou.

— Pronta para mais uns noventa e tantos anos de plena simpatia.

— Que ótimo. Mas, se por um acaso se interessar em coisas além de fofocas reais, estou recrutando um pessoal. Pago bem e meus funcionários almoçam antes das três da tarde. — e puxou um cartão de visita do bolso da calça para entregar a ele. — De quebra, aprenderá o que é uma Nikon 18-200mm DX VR.

— Obrigado. Fiquei tentado. — argumentou segurando o cartão.

Um rapaz chamou-a para dar atenção a outros visitantes. Tamara lhe piscou e fez aceno com a mão, se encaminhando para longe dele.

— Boa exposição. — desejou.

— Está à venda? — lhe perguntou apontando para o retrato, antes que ela fosse embora.

— Sim.

— Quanto?

— Oito mil libras, e esse é meu desconto especial pra você por causa dos seus lindos olhos azuis.