Chegando, como quem não queria absolutamente nada, pra perto do cabaré, percebi que mesmo de manhã as dançarinas e faxineiros já estavam de pé, mesmo que sem apresentar nenhum show.

Achei aquilo particularmente estranho, afinal cabarés abrem à noite; mas assim que passei pela grande porta_ que se encontrava aberta_ e vi, entre as demais garotas, Sophie, tive que parar para admirar.

De repente, a garota simplesmente sai do salão, como quem não quer nada. Já estava quase saindo da porta quando ela voltou.

Estavam todas cantarolando uma música animada, com uma roupa que parecia pijama, tomando café da manhã, umas em uma rodinha cercando a mesa, outras sentadas na escada e no próprio palco, todas olhando umas para as outras, com xícaras de café e biscoitos.

Já Sophie estava de pé. Inquieta, feliz, movendo de um lado para o outro como se fosse mais dançarina que cantora, com sua caneca na mão, sem muito se importar em bebê-la. Estava com uma roupa que não parecia menos pijama que as das demais, porém com um enorme decote, que revelava o que noite passada não foi percebido.

De fato, pouco me importava seu corpo. Eu nem mesmo estava ali por causa disso, e nem por outro motivo senão dúvida. Ela carregava um certo perigo naqueles olhos escuros, alguma certeza ou quem sabe falta de medo da morte acentuado demais para uma jovem como ela.

_"Now do you believe in rock and roll? Can music save your mortal soul?"_ Sophie cantava mais alto, afinal ela era a cantora verdadeira, sendo seguida pelas outras, que queriam apenas se divertir_ And... can you teach me how to dance real slow?_ ela se mexia suavemente, como se fizesse a pergunta para si mesma.

E sem eu perceber, uma das meninas me viu na porta. Ela tinha cachinhos e era morena, com um pijama verde.

_O senhor quer alguma coisa?_ disse, olhando bem no fundo dos meus olhos, tentando me fazer não resistir ao seu pedido.

Seu cheiro de sangue seria irresistível se eu não tivesse acabado de matar uma outra mulher no hotel de onde acabara de sair.

_Ah... não, não... obrigada..._ passei a mão na nuca, atrás dos cabelos_ eu... só estava observando.

_Ah, não seja por isso! Pois venha e nos acompanhe, venha!_ disse, já me puxando para dentro, com tanta animação quanta a que a das demais.

_"So bye bye, Miss American Pie!"

Parecia que eu estava entrando em um ambiente onde minha alma era consolada por tantas mulheres as quais por sua vez carregavam uma alma ainda mais doce que aqueles biscoitos.

Todas estavam tão ocupadas que quase nem mesmo notaram minha presença. Eu aproveitei_ já que era a ocasião apropriada_ para reparar ainda mais de perto Sophie.

Seus traços eram delicados e frios, sua pele mesmo sendo branca e seus cabelos loiros, ainda podiam refletir todo o perigo que escorria pelo seu corpo e pelos seus olhos escuros. Estava vendo seus movimentos, que pareciam de tanta formosura e precisão quanto os de Sarah, onde também poderiam ser encontrados seus mimos. Quando de repente, pego de surpresa, vejo a garota vindo rapidamente em minha direção, feliz.

_Quer? Tem um mocado, ainda..._ e olhou para a xícara de café em sua mão_ Vou levá-lo à cozinha!_ disse, recebendo um aceno da mesma moça a qual me recebeu, tendo assim uma certa permissão para me levar até lá.

Foi me puxando, assim como a primeira mulher, mesmo que eu não tenha dado nenhuma resposta. Me levou até a cozinha, numa despreocupação que parecia até mesmo que já me conhecia há muito.

Estava tudo quieto na cozinha, diferentemente do salão. Aquilo nem mesmo de cozinha poderia ser chamado, era uma espécie de salinha/quarto com pia, balcão, geladeira e um fogão velho no canto.

Catou uma xícara_ tão colorida como a dela_ e pôs na mesa.

_Sente-se aqui, por favor_ dizia, toda vaidosa.

Pegou café quente da chaleira, pôs na xícara, mas mesmo assim não havia me deixado sentar à mesa para bebê-lo. Sentou-se em cima de um balcão, deixando ainda mais seu decote à vista, me puxou para bem perto e sussurrou em meu ouvido, sorridente:

_Eu sei o que você é.