E se Eu não Tivesse Me Atrasado pra Formatura? escrita por Tati


Capítulo 24
Ele é exatamente como o Chuck




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A suave luz do Sol naquela quente manhã de verão a acordou. Instintivamente, ela se virou para abraçar o corpo dele que ainda estava, provavelmente, adormecido. Mas, além de lençóis desarrumados, a única coisa que encontrou ao se virar foi um bilhete que logo tomou em mãos:


Alex,

Eu acordei um pouco mais cedo e saí para comprar os remédios que o seu médico receitou. Não vou demorar.

Pierre


Mas ela sabia que ele ia demorar sim. Era domingo, se ele não quisesse voltar sem os remédios, teria que procurar muito. Mas pelo menos ele parecia se importar com a saúde dela. Ela havia deixado o hospital na noite anterior e ele já estava lhe comprando seus remédios... É, ela realmente não estava acostumada em ter alguém que se importasse assim com ela. Ela estava acostumada com o fato de que, se fosse Chuck, ele a mandaria sair e comprar e ela deveria agradecer que ele pelo menos iria dar o dinheiro. Iria demorar um pouco até que ela conseguisse realmente entender que Pierre era muito diferente do tipo de homem com o qual ela estava acostumada.

Vagarosamente, ela se levantou da cama e caminhou ao banheiro daquela suíte. Após um demorado banho, ela se vestiu com as roupas que tanto sentia falta depois de duas semanas internada e desceu as escadas para tomar seu café da manhã. Depois disso, deitou seu corpo sobre o sofá e fechou os olhos, tentando esquecer que ainda havia dor. Tentando recolocar a máscara que carregou durante todo aquele tempo para que ele não percebesse que ela ainda se sentia mal quando ele voltasse para casa. Ainda assim, já não era mais tão fácil fingir que estava bem. Deitada em uma cama de hospital, era fácil moldar uma pessoa nova. Era fácil repousar seu corpo na cama sem parecer que precisava se deitar para se sentir melhor enquanto, em casa, ela teria que executar suas mesmas atividades diárias com a mesma energia para que ele não lhe notasse a fraqueza, e isso não seria assim tão fácil. Além do mais, suas febres passaram a vir mais altas, mais constantes e mais demoradas e isso, ela temia, à longo prazo seria impossível de esconder mesmo que com maquiagem.

Ficou deitada no sofá por pouco mais de alguns minutos, quando começou a sentir um desconforto que já se tornara comum e teve de se levantar e se dirigir ao banheiro o mais rápido possível. Estava sentindo ânsia novamente. Seu próprio corpo já lhe dava certa vergonha. Tinha emagrecido demais, não conseguia mais comer sem acabar vomitando. Toda aquela ânsia escondida já havia lhe rendido a perda de alguns bons quilos. Quilos que ela não precisava perder. Ela mesma já se sentia magra demais e todos de sua convivência lhe aconselhavam ganhar alguns quilos, mas de que adiantava saber que precisava comer e que precisava engordar se seu corpo não queria mais aceitar nenhum tipo de comida? Não sabia mais como forçar a comida a ficar em seu estômago e aquilo, somado às febres e tonturas, começava a levá-la ao desespero. Ela não sabia como seria possível ficar pior do que já estava, mas percebia que, se tudo seguisse a linha lógica do que estava acontecendo, ela ia piorar cada dia mais. Mas ela não poderia deixar que os outros percebessem o que lhe acontecia pois sabia que Pierre ficaria realmente desapontado com ela se descobrisse sua mentira. Sabia, porém, que se continuasse emagrecendo nessa velocidade, ele perceberia que havia algo errado.

Sabendo que teria que dar um jeito de aparentar estar saudável logo em que ele abrisse a porta, ela voltou a deitar-se no sofá, esperando que algum descanso a fizesse melhor, porém, dessa vez, foi o telefone que lhe atrapalhou os planos. Ela decidiu deixar tocar mas a insistência de quem ligava a fez mudar de idéia. Parecia que o telefone não pararia de tocar enquanto ninguém o atendesse e, temendo que algo pudesse ter ocorrido com Pierre enquanto estava fora, ela decidiu levantar e atender ao telefone.

"Alô?"

"Por favor, o Pierre." Ela ouviu uma voz feminina pedindo na outra linha

"Ele não está. Quer deixar recado?"

"Não precisa, eu falo com você mesmo. Com quem eu falo? É a irmã do Pierre ou alguma coisa assim?"

"É a namorada dele. E com que é que eu estou falando?"

"Meu nome é Melody. Estou ligando porque eu esqueci o meu sutiã favorito aí e eu queria saber se você poderia..."

"Espera aí, que história é essa de esqueceu o sutiã aqui?"

"Foi o que aconteceu. Eu passei a noite aí na sexta-feira e esqueci meu sutiã. Eu não liguei antes porque a gente tinha marcado de se encontrar de novo no sábado, mas ele me ligou cancelando e eu não consegui falar com ele depois disso."

"Deve ser um mal entendido. Ele não iria fazer isso comigo. Eu acho que você ligou para a casa errada. Deve ser outra pessoa."

"O Pierre do qual você está falando é o Pierre Bouvier?"

"É."

"Então não tem engano nenhum. Escuta, eu não estou querendo te incomodar e nem te deixar chateada. Eu não quero nada sério com ele então não precisa se preocupar com nada. Eu só quero meu sutiã favorito de volta. Eu não estaria ligando se ele não fosse tão importante assim para mim."

"Eu não sei quem você é e eu também não sei que tipo de vantagem você leva se eu ficar nervosa com ele, mas eu confio no meu namorado. Eu não vou agir como uma louca e sair virando a casa de ponta cabeça atrás de um sutiã que eu sei que não existe porque eu sei que ele não faria isso."

"Ele já fez isso antes com a esposa dele, não fez? E eles já estavam juntos há anos. Além do mais, eu não tenho motivos para querer que vocês terminem, eu nem ao menos te conheço. A única coisa que eu sei sobre você é o que eu escutei na televisão e eu acho que você não pode se considerar namorada dele se ele ainda está casado. Você é amante, queridinha, e vendo a situação desse jeito, eu pensei que com você tudo valesse. Mesmo assim, eu não quero nada com ele e nem ele comigo, foi só sexo. Eu quero meu sutiã, e não o seu amante. Foi presente da minha mãe. Ela me deu quando eu tinha 15 anos, três meses antes de morrer, então eu quero de volta ou eu vou fazer com que ele te largue como ele largou da esposa!"

"Sua mãe te deu isso quando você tinha 15 anos e ainda serve? Quantos anos você tem?"

"18."

"Dezoito anos?! Você é dez anos mais nova do que nós dois."

"Provavelmente foi por isso que ele me escolheu. Mas eu não quero continuar conversando. Eu não tenho intenção nenhuma de te magoar só, por favor, se você encontrar, pede para o Pierre trazer de volta para mim. Ele sabe onde eu moro. É um sutiã meia taça, preto, com rendas rosa-choque."

Sem se importar em ouvir mais nada, Alex desligou o telefone e voltou a se sentar ao sofá. Ela confiava nele; não iria permitir que uma ligação de alguém que ela não conhecia estragasse aquele relacionamento tão especial que eles tinham. Ela não iria se levantar daquele sofá para procurar um sutiã que provavelmente não existia só para poder confiar nele. Mas... só dar uma conferida não faria mal nenhum, faria?

Ela tentou o máximo que pôde ignorar aquela ligação, mas logo teve que admitir a si mesma que aquilo era tudo que se passava em sua mente. Por que alguém telefonaria para ela e diria algo desse tipo sem motivo algum? A única pessoa que ela conhecia que seria capaz de fazer algo assim era Amanda mas, apesar de ter tentado se esforçar para se convencer disso, ela sabia que aquela voz não era nem parecida com a voz de Amanda. E o identificador de chamadas denunciava que a ligação veio de Montreal e não de Nova York.

Alex levantou-se do sofá e dirigiu-se ao seu quarto novamente, esperando encontrar o tal sutiã e perdeu pelo menos uma hora o procurando. Porém, após essa longa procura, ela sentia vontade de rir de si mesma por ter sido inocente àquele ponto em acreditar em um trote. Sentiu-se aliviada quando chegou a essa conclusão e começou a caminhar em direção à porta. Foi então que se lembrou que não havia olhado embaixo da cama. Tinha quase certeza de que não havia nada lá, mas, para conseguir ficar mais calma, ajoelhou-se e levou sua mão direita para baixo da cama enquanto apoiava seu corpo sobre a esquerda. Foi então que ela sentiu algo entre seus dedos. Algo que ela conseguia identificar a forma, mas tentava se enganar e fingir que não sabia o que era. Fechou a mão e começou a puxá-la de volta para onde poderia ver o que trazia entre os dedos e foi então obrigada a admitir para si mesma o que via. Era um sutiã. Um sutiã meia taça, preto e com rendas rosa-choque. Pior ainda: era um sutiã meia taça, preto, com rendas rosa choque e que não era dela.

No momento em que olhou para ele, lágrimas quentes começaram a lhe descer pelos olhos antes que ela as pudesse parar. Foi então que ela chegou à conclusão de que tudo o que Pierre parecia ser eram apenas aparências. Ele não a amava desde a época do ensino médio como ele afirmava. Na verdade, ele nem ao menos a amava, aquele romantismo todo foi apenas a maneira mais fácil que ele encontrou de conquistar mais uma garota. De conquistar a famosa garota difícil. Ela compreendeu então que o único motivo que o levou a terminar com Amanda foi saber que ela não era uma boa esposa e o que ele buscava agora, era alguém que não o tratasse como Amanda tratava e que pudesse ajudá-lo a manter uma boa imagem, que seria proveitosa para a sua carreira pública, mas não significava necessariamente que a mulher que ele tinha em casa seria a única ou mesmo que seria verdadeiramente amada. Em resumo, ela compreendeu que ela havia se enganado. Ele era, sim, exatamente como Chuck, por isso foram melhores amigos.

Ela já nem sabia mais como reagir a uma traição depois de tantas vezes em que deixou que tudo acontecesse sem reclamar de nada. Mesmo assim, ela não conseguia aceitar o que ele tinha feito. Ela estava acostumada a fingir não saber quando era o Chuck, mas sendo Pierre em seu lugar, ela não sabia porquê, mas era muito mais difícil perdoar e fingir que nada aconteceu. Ela compreendeu naquele momento que o amava ainda mais do que sempre pensou amar e que era muito mais doloroso ser machucada por ele do que por Chuck. Foi então que ela se levantou e começou a fazer suas malas. Ela não poderia perdoar aquela traição.

Em 10 minutos ou menos, ela descia as escadas no mesmo momento em que Pierre entrava na casa, sem os remédio que supostamente saiu para comprar.

"Alex, onde você vai?"

"Para bem longe de você." Ela respondeu "Ninguém sai para comprar remédios e volta sem nada. Onde você realmente foi?"

"Alex, você não vai acreditar, mas..."

"Você tem razão, eu não vou acreditar, então poupe a você mesmo de inventar uma desculpa esfarrapada agora. E não se esqueça de devolver essa porcaria para a Melody, parece que é muito importante para ela!" disse irritada, atirando-lhe o sutiã em mãos

"Devolver isso para quem? De onde é que isso veio?"

"Pára de fingir que não sabe de nada, mentiroso!" ela respondeu lhe dando um tapa no rosto "Ela telefonou. Espero que ela te faça tão feliz quanto a Amanda fez. Sabe qual é o seu problema? Você poderia ter a melhor garota do mundo com você, mas sempre iria querer ir atrás daquela que vai te machucar e te fazer chorar e, eu sinto muito, mas eu não me encaixo nesse perfil de garota perfeita para você."

"Alex, eu não estou entendendo o que está acontecendo. Quem foi que telefonou? Eu não conheço nenhuma Melody." Mas ele não recebeu resposta. Alex passou direto por ele e foi embora sem nem ao menos olhar para trás.


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