POV Leo

“Finalmente a guerra acabou!” – Era só o que eu conseguia pensar.

Eu estava voltando ao único lugar que eu pude chamar de lar desde que minha mãe morrera, o Acampamento Meio-Sangue.

Não sabia como o acampamento estaria depois de tudo o que acontecera na guerra. Será que muitos campistas haviam morrido? Será que novos teriam chegado?

Talvez eu estivesse usando essas perguntas como desculpa, porque na verdade eu queria saber como tudo iria se resolver entre mim e Calipso. Eu não tinha visto mais ela desde que eu saíra de Ogígia, mas eu soube que ela havia sido libertada de sua prisão assim que terminara a guerra. Eu não sabia se era verdade, mas acreditava que sim. Se não fosse, eu teria que dar um jeito de busca-la.

Eu estava com saudades dela, mesmo com todas as brigas quando nos conhecemos, acabei realmente gostando dela, até me apaixonara, mas confesso uma coisa, o meu coração não era dela.

É, eu sei, vocês devem estar me achando um idiota por não entregar o meu coração à única mulher que demonstrou querê-lo, mas acontece que ele não é mais meu.

Quando desci do meu navio, pude perceber como ele realmente estava danificado, porém, logo me distrai com a multidão que me cercara. A maioria dos rostos eu conhecia, mas muitos ainda teria que descobrir a quem pertenciam.

Mas então ela veio e meu coração parecia que havia reencontrado sua razão de existir.

O nosso primeiro encontro, devo dizer, não foi muito amigável, tanto que ela me esnobou a maior parte do tempo. Mas isso não tinha importância, agora ela vinha em minha direção, com um sorriso que só ela conseguia dar. Os olhos eram os mais lindos que eu já vira em minha vida, de um azul elétrico e hipnotizante. Sorri em resposta.

Captei em seu olhar um brilho de saudade, mas provavelmente fora só minha imaginação ou minha visão que já estava deturpada pela sua beleza. “Ela sempre foi linda assim?” pensei.

Então, sem pensar a abracei, provavelmente ela me daria um tapa por tal atrevimento, mas eu estava com saudade.

E para minha surpresa ela me abraçou em resposta e fez algo que decididamente fez meu coração dar um salto. Ela me beijou.

Um beijo calmo e apaixonado, que gerou uma descarga elétrica por meu corpo. Meu coração estava no limite de sua velocidade.

Ela se afastou cedo demais.

Olhei para seus olhos e falei:

– Essa recepção foi melhor do que imaginei!

Ela não me respondeu, simplesmente saiu correndo, como se estivesse assustada pelo que havia feito, me deixando sozinho com meus pensamentos girando em um turbilhão.

Depois de uma recepção muito calorosa por parte de meus amigos, fui caminhar na praia para desanuviar meus pensamentos.

Eu não havia visto ela depois do ocorrido e a todos para quem perguntei se sabiam onde ela havia ido, me respondiam que tinham visto ela correndo para o chalé de Zeus. Também perguntei se haviam visto o que tinha ocorrido, mas os que viram algo, responderam que viram apenas eu e ela em um abraço muito apertado.

Fui ao chalé de Zeus, mas estava trancado e ao bater, ninguém respondeu, então voltei a festa.

Estava tão concentrado em meus pensamentos que não vi uma garota parada na minha frente.

Olhei para cima esperançoso, mas meu coração, que havia disparado ao ver a garota, voltava ao ritmo normal decepcionado, pois não era quem eu queria que fosse.

Era Calipso.

Ela estava, se pudesse, ainda mais linda do que em Ogígia. Seu olhar não carregava mais a tristeza de uma prisão, e sim, uma alegria disfarçada. O cabelo voava solto ao redor do rosto. Usava um vestido branco e simples, mas que dava um belo contraste com sua pele levemente bronzeada. Mas algo em seu rosto dizia que ela havia mudado.

Ela sorria ao me olhar e retribui o sorriso. Eu gostava de Calipso, muito mais do que uma amiga, mas não a amava. Não do jeito que eu amava Thalia.

Ela correu até mim e me abraçou. Um abraço apertado, saudoso e apaixonado.

Quando me soltou, segurou minha mão e começamos a caminhar. Durante esse tempo, consegui afastar meus pensamentos de Thalia.

Depois de um tempo caminhando e conversando, ela parou na minha frente com um olhar inquisitivo e irritado. Uma mudança brusca de temperamento.

–Por que não foi me procurar Leo? Você prometeu voltar para mim assim que a guerra acabasse. Mas a guerra já acabou, e não foi hoje. Você não cumpriu sua promessa.

Sua fala me pegou de surpresa. Uma pontada de raiva apareceu em meu peito. Eu realmente pretendia procura-la quando tudo se acalmasse, mas não esperava que ela aparecesse para mim muito antes do previsto e me acusasse de tê-la esquecido. Iria responder quando ela falou num tom mais suave:

–Tudo bem Leo, esquece. Não deveria cobrar de você assim. A guerra mal acabou, eu deveria ser mais compreensiva. Sua cabeça ainda deve estar cheia de coisas. Prometo esperar antes de contar aos outros sobre o nosso namoro...

–Peraí, peraí, peraí...– interrompi. “Namoro, como assim? Desde quando?” – Calipso, desde quando exatamente estamos namorando? Você não tinha me dito isso ainda e acho que como um dos integrantes principais desse casal, eu deveria ser o primeiro a saber.

–Desculpe Leo, mas imaginei que você soubesse. Desde que nos beijamos em Ogígia, você passou a ser meu namorado.

–Então quer dizer que cada herói que passou pela sua ilha era seu namorado? – perguntei.

–Bem... não exatamente. Todos me deixaram sozinha, você foi o único, tanto quem eu vi depois de ter saído da ilha, como o único herói que eu beijei. – respondeu Calipso, mas acrescentou num tom desgostoso - Todos me trocaram por outras mulheres.

Um sentimento de culpa tomou conta de mim. Eu já havia trocado ela por outra mulher, mesmo que ela não me quisesse, e eu preferiria passar a vida sozinho do que com outra pessoa. Gostaria ter falado mais coisas a ela, mas ela se aproximou rápido demais e me beijou. Não foi como da primeira vez. Se eu ainda sentia alguma paixão por ela, evaporou quando percebi que Calipso não era a mesma.

–Adeus Leo. Nos veremos ainda. Eu te amo. – Falou ela num tom de despedida.

–Tchau Calipso. Eu... – enquanto falava, ela desapareceu no ar, mas mesmo ela não me escutando, disse baixinho o que estava entalado em minha garganta. – Eu sinto muito, mas não te amo mais.

Enquanto virava para voltar, vi a garota que realmente possuía meu coração. Ela me olhava com os olhos marejados. Provavelmente vira Calipso me beijando e ouvira o que ela me dissera, mas não conseguira escutar o que eu havia dito baixinho.

– Thalia... Eu... – Mas não consegui terminar, ela foi embora, não correu, mas foi chorando e vê-la assim, machucou meu coração.

Sentei na areia. Eu não sabia o que fazer. Era Thalia quem eu amava, mas ela não podia ficar comigo, além disso, estava magoada comigo. A única garota que realmente queria ficar comigo, eu não amava.

Deitei na areia. Uma lágrima escorreu de meu olho e adormeci. Um sono profundo e sem sonhos.