“A quem a velha alma persegue,

E de quem os olhos mais atenção chamar,

Deve saber que a távola redonda ainda há quem segue,

Pois Herdeira do corvo pode se considerar.

As estrelas tu deves consultar,

E assim descobrirá vossa origem,

Vossa família deveria acabar,

Tua morte eles exigem.

Sangue arturiano,

Origem rowena,

Vosso corvo não deveria mais voar...”

Fiquei parada, com aquele pergaminho velho na mão. O que aquilo queria dizer? Quem o havia me enviado? Algo assim nunca havia acontecido comigo. Raven voou de meu braço, saindo por uma grande janela. Todos estavam parados, tentando entender algo. A diretora caminhou até mim.

“Deixe-me ver isso, Helena?”

Eu estava sem palavras, simplesmente entreguei o papel. A senhora começou a ler, e em pouco tempo ficou pálida. Engoliu em seco.

“Está liberada das aulas por hoje, venha até minha sala. Os restantes alunos podem continuar sua rotina.”

Ela saiu andando com o papel ainda nas mãos, e eu a segui. Olhei para trás, Juliano olhava preocupado. Gesticulei com a boca “Tudo bem.” E ele assentiu com a cabeça.

Andamos pelos grandes corredores, passando por alguns alunos que me olhavam com compaixão. Só se podia escutar o eco do salto-alto da diretora no piso de mármore, e a minha respiração fumegante.

Entramos na sala dela, o chão de madeira e as grandes estantes me faziam relaxar um pouco. Um leve cheiro de eucalipto percorria o ar. Minha mão tremia um pouco, até que o silencio se quebrou.

“Pode se sentar.”

Ela virou de frente para uma estante, e pegou um livro grosso e empoeirado. Sentou-se em frente a mim, e começou a ler a carta em voz alta. Sua voz tremia um pouco, o que não ajudava. Quando terminou dirigiu aqueles quentes olhos castanhos para mim.

“Helena, você já viu aquele corvo antes?”

“Ele me segue desde que cheguei aqui, mas... Nunca apareceu em público”

Quase podia ver fumaça saindo da cabeça da diretora enquanto ela raciocinava.

“Seus pais... Alguma vez já te falaram algo especial sobre sua família?”

“Não que eu me lembre.”

“Deixe-me mostrar-lhe algo”

Ela pegou o grande livro e o abriu. Pude ver poeira dançando no ar. A senhora tentava parecer calma, mas eu via o quanto estava tensa.

“Esse livro foi escrito no século XV. Na verdade, ele não é original. Era um conjunto de pergaminhos, mas para sua conservação a escola decidiu imprimir algumas cópias dele. Cada escola de magia tem sua réplica. Esses pergaminhos foram escritos por Merlin, durante toda sua vida. Ele relatou detalhes da vida de Arthur, do Rei Arthur. O bruxo Merlin sabia mais da origem do garoto do que ele mesmo. Acontece que, algumas páginas dos pergaminhos misteriosamente sumiram. Só sobraram fragmentos delas, e essas páginas falavam sobre a origem de Arthur, não só sobre a família Pendragon, mas muito mais. Arthur era um bruxo, e bem, a origem de sua família ainda não é definida. Esse texto que está escrito na carta que você recebeu... É um pedaço deste livro, e as páginas anteriores que nos ajudariam a entender tudo, estão sumidas. Está vendo?”
Ela me mostrou o livro, onde no final da página estava escrito o poema que recebi.

“E o que isso quer dizer?”

“Eu não sei.”

“E agora?”

“Você decide. Essa carta pode ser só uma brincadeira, ou algo assim. Podemos ignorá-la, por enquanto. Agora pode voltar às aulas...”