A caverna era escura. Era possível ouvir o sussurro da água caindo pelas paredes úmidas e escorregadias e embora a cachoeira estivesse logo acima de mim, era quase inaudível. Ao avançar no breu, uma pequena faixa de luz se formou mais a frente, e a cada passo era possível ouvir o som de insetos sendo esmagados, outros correndo e até mesmo o barulho de ratos afugentados. Ao chegar perto suficiente, pude contemplar a criatura, que ao contrário das histórias, estava num estado quase cadavérico.

– Tens muita coragem de vir até aqui, garota. – Disse a criatura.

Sua voz possuía um timbre forte e lúgubre que me extasiou por alguns instantes. Quando voltei a realidade, avistei a pedra onde a mesma estava presa por finas correntes douradas e perguntei:

– Alguém já tentou te libertar?

A criatura fez uma expressão de surpresa. Agora que meus olhos haviam se acostumado à escuridão, podia analisá-la melhor. Seus dentes grandes e afiados ficaram a mostra com o sorriso que a mesma deixou escapar. As lendas contavam sobre um dos primeiros 16, o mais honrado e nobre de todos, o preferido da própria Gaia. A coisa que eu agora encarava, não passava de um Lobo de cerca de 7 metros, com os ossos aparacendo sob a pele. Sua pelugem estava gasta, suas garras sem brilho e portava um semblante melancólico e triste.

Era difícil acreditar que aquelas finas correntes douradas poderiam segurar uma criatura deste tamanho, mesmo que as lendas estivessem erradas e "isto" não tivesse a glória de nosso primogênito, correntes assim não prenderiam nem o mais jovem Garou de nossa tribo.

– Por que você não se solta dessas finas correntes e se liberta? Ou será que as lendas sobre o grande Fenris não passavam de mitos?

O Lobo deu um sorriso debochado com o canto da boca, e os pingos d’água caindo formaram uma sinfonia macabra, os ratos que antes corriam de um lado para o outro, se juntaram e correram na direção da entrada da caverna. Os olhos de Fenris brilharam e minha visão apagou.