Yellow escrita por finch


Capítulo 2
Quando falta o achocolatado


Notas iniciais do capítulo

OI GENTE TUDO BEM AQUI FICOU TUDO DESMORONADO GRAÇAS AO QUINTO LIVRO DE HERÓIS DO OLIMPO QUE TÁ CHEGANDO
este capítulo é dedicado especificamente aos adoráveis leitores: Angel of death, Bella Swan Cullen, Limonada de Maracujá, Lisa Jackson, Nea nii, thaliatmj, Thiliipe, Hey Jude, Lalabeth Jackson, Hermione Salvatore Malfoy, laysa e Letícia.
...
PS.: ponto de vista da irmã da annie pra vocês conhecerem um pouco da família dela mais de perto e um pouco mais dela em si, projetando ela sobre os olhos de outro alguém, nesse caso a irmã dela. leiam com atenção, ela fala bastante da annabeth e revela uns 85% da relação das duas nesse capítulo. é importante.



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“Uma última nota de sua narradora:

Os seres humanos me assombram.

A Menina Que Roubava Livros, Markus Zusak

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Capítulo I – Quando falta o achocolatado

Molly

Depois que eu já tinha levantado, segui pro banheiro. Não sem antes –, é claro, afinal eu aqui tenho sempre a sorte transbordando – tropeçar no nada. Só pode ser o sono desgraçado. Que ódio. Andei pro banheiro amaciando a parte que tinha batido e fiz minha higiene matinal. Mas, na real, eu só escovei os dentes mesmo. Daí aconteceu o que eu mais odeio. Como eu já disse, tenho uma puta sorte – e em vez de cuspir os resquícios de pasta de dente e saliva, eu engoli. Isso mesmo, eu engoli tudinho. Fiz uma cara de nojo incrível e saí do banheiro, sério, o gosto daquela coisa é muito, muito ruim.

Enfim.

Rumei pro meu armário, peguei um shorts jeans desfiado e uma blusa de estampa de elefantes bem larga, e após isso tirei a meia rosa e soquete (sim, eu durmo de meia) saí do meu quarto descalça mesmo. Desci a escada correndo para trombar com um malão gigante no pé da escada e vi que devia ser o da Annabeth idiota. Chutei ele sem nenhuma discrição e minha mãe viu. Como eu disse já duas vezes, repito. Minha sorte está sempre transbordando. Ela viria com um papo do tipo não foi assim que eu te criei e eu começaria à me irritar – meu gênio é um pouco forte – e começaria à gritar que já tinha entendido. E assim começaria outro berreiro onde minha mãe detesta que eu a responda e quer sempre dar a última palavra. Às vezes mamãe é tão patética.

— O que pensa que está fazendo, Molly?

— Enfiando meu pé numa mala imbecil que está no meio do meu caminho. – fiz ela revirar os olhos e bufar.

— Vai comer e deixa a mala da sua irmã em paz – minha mãe balbuciou, com impaciência.

— Com prazer – disse, em um tom irônico e fui pra cozinha em passos rápidos. Fiz um achocolatado de Nescau e sentei numa das cadeiras altas de frente pra bancada.

— Você não pode sobreviver de leite com chocolate pra sempre. – este é o meu pai. Reverenciem (ou não) Frederick Chase.

Frederick Chase, o tão renomado cientista, um ser humano genial com ideias brilhantes.

E um péssimo e desatencioso pai.

— Acabou o Toddy, estou sendo obrigada à tomar leite com Nescau, que nojo – disse, ignorando por completo o comentário dele.

— Eu compro mais tarde – respondeu, indiferente.

— A-hã – no momento eu estava achando mais interessante observar o que passava no televisor que meu pai pôs em cima do balcão pra ninguém mais dar a desculpa que quer comer na sala porque lá tem televisão. Ah, e estava passando um reprise do antigo programa da Oprah, onde ela conversava com dois caras sobre seus problemas pessoais.

Agora, me diz, tem como a vida ser mais interessante?

Enquanto terminava de beber meu leite a força e pensava sobre meus planos pro próximo fim de semana e se eu tinha escondido o maço de cigarros direito no meu quarto, havia chegado uma adorável flor da manhã:

— Hey! – um vulto feio e anêmico de tão magro entrou na cozinha com um sorriso no estilo coringa.

— Olá, querida – é claro que foi meu pai que respondeu, porque eu é que não ia responder.

E nem era minha mãe, era minha irmã. Imbecil, que frequenta o psicólogo, tem surtos de enxaqueca a cada dois dias, vomita por tudo, chora por tudo, ri de tudo, revira os olhos pra tudo, come demais, dorme demais, se distrai demais, estuda demais, gosta de organizar as coisas em ordem alfabética, tem obsessão por lápis de cor, tem coleções de livros de terror, é completamente doida por filmes dos anos 80, é fanática por pôsteres, gosta de fazer pinturas que quase sempre ficam ruins, acha a arquitetura antiga interessante, ouve música ruim, acaba com a minha reputação e que – graças aos céus – vai vazar de casa hoje.

E o MELHOR! Ela terminou o Ensino Médio no ano passado e conseguiu entrar em uma daquelas faculdades pra riquinho metido a gênio dos Estados Unidos. Não foi surpresa pra ninguém quando ela entrou pra uma faculdade da Ivy League, afinal, a garota sabe falar quatro idiomas fluentemente, toca uns cinco instrumentos e só estudou a vida inteira.

Isso talvez dê a impressão de que nossa família é rica, afinal, que família simples consegue dar tudo isso de educação pra filha. O ponto é que não temos muito dinheiro, mas meus avós têm, e eles bancam meus pais em todas as mordomias que nós temos, incluindo a escola particular em que Annabeth estudou e eu estudo e viagens pra fora da Inglaterra,. Inclusive serão eles que pagarão a faculdade da Annabeth. A queridinha da vovó. A esforçada. Puxa vida.

E não, eu não estou feliz por ela, estou feliz porque ela vai evaporar da minha casa, da minha cidade, do meu país, e pra falar a verdade, do meu continente. Ela vai pra América do Norte, afinal.

Vou usar o quarto dela pra guardar minhas tralhas (na verdade, não sei ainda, porque eu acho que minha mãe quer transformar lá num quarto de hóspedes, em uma mini-biblioteca e meu pai quer transformar em uma mini-academia para perder alguns dos quilinhos que estão sobrando). Mas a minha ideia (de transformar o quarto em um depósito de tralhas) era a melhor.

Fala sério, eles punham as tralhas num canto da sala, achando que ninguém ia ver ou notar, mas cada visita que vinha aqui reparava naqueles trambolhos debaixo da escada.

E eu não gostava da Annabeth por um simples motivo:

Eu sabia que meus pais gostavam mais dela.

Eu sei o que você deve estar pensando: bobagem sua, né? Pais não tem preferidos, é tudo coisa da cabeça dos filhos.

Mas não.

Ela sabia pintar, cantar, tocar violino, piano, clarineta, violão, já jogou vôlei, tênis, golfe, gosta de acampamentos, canoagem, livros e filmes, já fez aula de teatro, robótica, francês, alemão, italiano... e tem eu. Eu que não sei fazer nada, nunca fiz nenhum esporte além do requerido pela escola, nunca tive interesse por nenhuma extracurricular e não sabia tocar nenhum instrumento.

Eu.

Ela, cheia de interesses, conhecimento e especialidades. Eu, um poço eterno de inutilidade. E as pessoas insistiam em colocá-la em um papel maldito de coitadinha.

Ela era absurdamente inteligente e dolorosamente bonita. E sabia tocar aquela penca de instrumentos e jogar aquela penca de esportes, se isto não é talento, então não sei o que é. Isso sem contar o dom com tudo ligado a construções. Sim, ela sempre se deu muito bem com este papo de arquitetura. Leu milhões de livros e sabe a tabela periódica de cabeça. Fala sério.

E mesmo assim as pessoas insistiam que ela era a coitada. A rejeitada. A reprimida. A excluída. Ela é bem chata e desagradável, além de muito fechada, mas pensem: linda. Inteligente. Com um futuro de puro sucesso nas mãos, só esperando pra ser contornado. Acho que quando você é completamente perfeita, ser odiada não é mais tão importante assim.

Ai, quer saber? Esqueçam.

— Hã, pai, que horas você me leva pro aeroporto? – minha irmã perguntou, se encostando minimamente na mesma bancada que eu tomava meu leite, que a propósito, estava muito ruim, porque além de não ter achocolatado, não tinha leite integral. Francamente, leite desnatado não deve ter vitaminas ou fibras ou coisas do gênero, porque, cara, é transparente.

— É, papai, que horas você leva a aberração embora daqui? Ela tá com pressinha – oras, desculpa, eu não resisti a uma provocaçãozinha. E aberração pode até ofender bastante, mas nem sequer é um xingamento.

Ela ficou levemente corada de raiva. Ela fica vermelha muito fácil. Tanto de raiva quando de vergonha. A gente percebe a diferença porque, quando é vergonha, ela fica vermelha meio rosinha, e quando é raiva fica simplesmente muito vermelha, meio azul e meio verde, mas muito vermelha.

— Estou com pressinha sim, muita pressa de sair desse lugar e nunca mais trombar com você e sua falta dos mais irritantemente básicos princípios – irritou-se. Ai Deus, como eu rio disso. – E outra coisa: essas suas provocações... Por Deus, Molly, não me afetam.

— Oh, não? – dei uma risadinha de deboche – Poucas coisas, na verdade quase nada, me importam menos que isso.

— Escuta aqui, pirralha...

— PAREM, EU SÓ QUERO TOMAR MEU CAFÉ EM PAZ, SERÁ QUE AS VOCÊS ME DARIAM O CARALHO DA HONRA? – meu pai gritou, irritado.

— Agora me responde que horas vai me levar pro aeroporto – a minha irmã disse enquanto pegava um suco da geladeira e enchia um copo com ele.

— Às onze. – meu pai respondeu, já mais calmo. E esta foi o último trecho que eu ouvi da conversa dos dois, porque logo saí da cozinha e fui pra sala, bocejando e afagando meu cabelo, ainda com uma grande parcela de sono.

— Que gritaria foi aquela na cozinha? – minha mãe tinha uma sobrancelha arqueada.

— Sua filha mais velha só sabe aprontar escândalos por causa de uma ofensa ou outra – resmunguei, insatisfeita por não ter tido a oportunidade de seguir com a discussão.

— Ofensas dadas por você, eu aposto, não é mesmo? – indagou mamãe, suspirando.

— Na mosca – respondi com deboche e peguei o controle remoto, mudando de canal.

— Você tem que parar com isso, Molly! Eu estou falando sério, mocinha. – retrucou minha mãe, nervosa.

— Agora ela vai pra oooutro continente, daí eu paro. – minha mãe olhou-me atravessado e torto por alguns instantes, com um ar um pouco desconfiado, mas assentiu de leve.

— Só espero que não ofenda outras pessoas por aí. Já é horrível com a sua irmã, que te conhece desde que você nasceu, com a qual você tem intimidade, quanto mais uma pessoa que você nem conhece... – daí começou o discurso, que parecia mais uma proclamação de independência e eu parei de prestar atenção. Era sempre o mesmo papo: “sua irmã pode até relevar, mas as outras pessoas que não são da nossa família vão se irritar e você vai se arrepender” e mais dezenas de blá-blá-blás desnecessários. Continuei mudando de canal até minha mãe perceber que eu não estava prestando atenção e bufou, dizendo:

— Eu te dei uma educação melhor que essa, Molly – me fazendo sorrir ironicamente pra ela.

— Minha educação está em perfeito estado, mas só uso com quem realmente mereça.

— E eu não mereço? – ela trincou os dentes. Ah, mãe. Sempre tentando arranjar um microscópico motivo pra me enfiar um castigo.

— Não é você de quem estamos falando, é do xodózinho da sua filhinha mais velha – revirei os olhos para logo depois fazer uma expressão de nojo, eu havia usado dois diminutivos ridículos na mesma frase. Eu estava me tornando um ser patético nos últimos tempos.

— Sinto falta de Paul nessas horas. Ele te dava uns cortes – falou uma nova voz (fina e prepotente, diga-se de passagem) tomando conta do ambiente, até agora, confortável da sala.

— Eu tenho que concordar – minha mãe falou, fazendo uma careta de saudades. Caso você não saiba, uma “careta de saudades” é quando seus lábios se comprimem, sua testa se franze, você quase sente seus olhos marejarem e sua mente está em algum lugar distante, lembrando da pessoa da qual sente falta.

E Paul é meu irmão mais velho e saiu de casa com dezenove anos, indo morar em Londres. Ele é incrível e sempre me ajudava com os projetos escolares e ria das minhas piadas. Ele vem nos visitar em datas especiais (algumas) e em feriados.

Mas, na realidade, responsabilidade não é o ponto forte do meu irmão.

Ele, por mais que não admita, provavelmente prefere suas sagradas festas, bebidas e cigarros a vir fazer uma visitinha pra família em uma cidade chata e pacata com montes de nada. Afinal, pra que sair da esplêndida Londres para vir dar um passeio em Liverpool? Não tem lógica, provavelmente, pro Paul.

Aqui não é muito longe de Londres, mas também não é muito perto. É mais longe que perto, na realidade. E aquela coisa que Annabeth disse de “ele te dava uns cortes” é porque quando eu respondia pros meus pais, ele sempre me dava um choque de realidade. Então eu parava. Mas depois que ele foi embora, eu ando mais audaciosa que antes, segundo meus pais.

Annabeth também me corta frequentemente, mas não para em casa. Sempre que não está na escola, está enfiada na biblioteca da cidade, lendo livros e mais livros sobre arquitetura e jornalismo, ou na casa da sua melhor e provavelmente única amiga: Thalia (que sempre esqueço o sobrenome, será Prace? Wrace? Crace?). Enfim, na maior parte do tempo que não estou na escola, porque não saio muito, eu fico sozinha em casa com a minha mãe, que é dona de casa, e meu pai sai pra trabalhar.

— Vou sentir sua falta. É... é a minha s-se-segunda filha que sai de casa e se torna independente. Eu me orgulho, mas sinto saudades... – minha mãe disse, chorosa. Minha irmã logo a acolheu num abraço.

— Vou visitar vocês sempre, mamãe – ela disse baixinho, quase como um sussurro. Depois se ajoelhou na frente da minha mãe. – Até mesmo mais que o Paul, sério.

— Com Paul é muito diferente. Ele praticamente só saiu da cidade, mal saiu da região! Mas você não, você vai sair do continente. – agora, ao invés de chorosa, estava se debulhando em lágrimas.

— Annabeth, filha... Já são dez horas, acho melhor nós irmos – meu pai anunciou, interrompendo o momento pateticamente dramático ao entrar na sala.

— Quanto drama se a garota volta no Natal – eu falei, irritada.

— COMO ASSIM SÓ NO NATAL? – minha mãe praticamente berrou. É, mamãe estava mesmo bem nervosa naquele dia. Só de lembrar não sei se rio ou choro.

— Calma, mãe! Eu volto na Páscoa, não no Natal. Molly só está exagerando.

— A-acho bom... – minha mãe nem ficou assim quando o Paul foi embora, então pra que tanto drama na vez da Annabeth? Medo de ficar sozinha comigo e eu envenenar o café da manhã dela e do meu pai? Quanta lágrima pra pouco motivo.

— Vamos? – meu pai parecia nervoso. Não curtia draminhas, assim como eu.

— Vamos. – Annabeth respondeu em concordância e saiu de perto da mamãe, indo pegar seu malão. Nem conseguiu tirar ele do lugar. – Droga... – sussurrou.

— Eu levo isso pro carro. – papai disse e puxou a mala pra porta, sem tanta dificuldade como a Annabeth, mas fazendo bastante força, afinal meu pai está bem longe do estilo super-homem de ser.

E quando eu digo "bem longe", acredite, eu realmente quero dizer bem longe.

— Tchau, mãe – falou indo abraçar a minha mãe e sorrindo – Ahn... Tchau, Molly. – disse acenando, azeda.

— Adeuzinho, querida – e isso fez ela revirar os olhos e sair. – Finalmente paz.

E me estiquei na poltrona reclinável da sala como se não houvesse amanhã, com um sorriso maior que meu rosto.

Lar, doce lar.

***

 


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Notas finais do capítulo

sim, ficou muuuuito água com açúcar, mas é feito pra vocês conhecerem a molly. eu tenho algumas ideias já de como inserir ela futuramente na fic, mas falta um tempinho ainda. sobre aquele monte de irmãos da annabeth, eu tirei eles da fic (menos o mais velho, ele ainda existe, ele é o filho que não mora mais na casa da mãe e do pai) e eu tirei a madrasta da história e pus uma mãe biológica mesmo. a mollyzinha é uma personagem que eu baseei em uma amiga minha, e ela é meio que desse jeito ENFIM
xoxo see you