Nunca mais comentamos, até hoje.

Ele continuava me encarando. Algo em seus olhos não o deixava mentir. Ele ainda pensava mesmo no nosso beijo. Mesmo depois de ter ficado com várias outras meninas após aquilo. Eu não tinha dado motivos pra ele continuar investindo em mim, pelo contrário.

– A propósito, me desculpe ter fugido de você naquele dia... - deixei minha voz diminuir a um sussurro e continuei. - Foi meu primeiro e único beijo até hoje. - revelei em voz baixa, ele escutou, pois quando terminei de falar vi que ele arregalou os olhos, me senti corar levemente.

– Foi o meu melhor, pode apostar. Não se preocupe com aquilo, nós éramos apenas amigos, entendo que você tinha medo de me perder. - ele sorriu timidamente

Não falamos nada por um tempo. Ele passou seu braço em volta dos meus ombros e me puxou para um abraço. Afundei meu rosto em seu peito e me permiti chorar. Pela respiração de Liam podia sentir que ele também chorava. Ele me apertou em seus braços e apoiou sua cabeça em meu ombro direito, comecei a alisar seus cabelos tentando confortá-lo. Seus soluços aumentaram, eu tentava fazer de tudo pra ele se acalmar.

Ficamos um bom tempo assim, abraçados. A sensação era boa. Nós estávamos sempre brigando, discutindo, implicando um com o outro, nunca imaginei que um dia chegaria a ter Liam em meus braços chorando. Principalmente por minha causa.

Tentei ser forte e me esforcei ao máximo para parar de chorar. Essa tarde eu tinha que ser forte pelos meus amigos, eles precisavam disso vindo de mim. Segurança, confiança, força e apoio. E era o que eu estava disposta a dar para eles.

– Ei, não fica assim... - murmurei próximo ao seu ouvido.

Ele sussurrava coisas que eu não conseguia entender, me esforcei pra prestar atenção, quando de repente ele se solta e me segura com suas duas mãos em meus ombros, seu ato foi tão rápido que me assustei, levantei meus olhos em direção aos dele. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar, seus cabelos desalinhados deixavam sua aparência com um ar meio desesperado. E pelos seu olhar ele estava mesmo. Suas pupilas estavam dilatadas e seus olhos agitados. Sua cabeça deveria estar longe, seus olhos sem foco algum de repente se voltaram pra mim.

– Não posso deixar você ir embora de novo. Eu simplesmente não posso. - lágrimas grossas cruzavam o rosto dele, algumas descendo pelo queixo, outras por cima dos lábios, engoli em seco quando um soluço ameaçou sair pela minha garganta. - O que vai ser de mim sem você?

– Você tem Isabelle aqui. - falei com a voz mais tranquilizadora que consegui. - O mundo não vai acabar porque eu vou me mudar, vamos estar nos falando sempre e...

– Não é a mesma coisa! - ele me interrompeu gritando e virou-se de costas me soltando, ele parecia estar cogitando algo. - A-Amy... - ele se virou pra mim de novo. - Amy, mesmo sendo seu amigo, e eu sei que é só isso que você quer de mim, eu quero que você saiba que... - ele parou, levantou seus olhos de encontro aos meus, respirou fundo e continuou. - Eu quero que você saiba que eu te amo. - recuei um passo diante da declaração, por mais que eu soubesse, escutar isso saindo da boca dele me pegou desprevenida. Parecia que ele sabia que eu iria fazer isso, porque ele avançou um passo na mesma hora. - Eu sempre te amei! Desde a primeira vez que te vi, me lembro como se fosse ontem. Você sentada em baixo de uma árvore no pátio da escola com um livro encostado nas suas pernas. Você estava usando uma calça jeans preta e uma regata azul claro, sua bolsa rosa estava do seu lado esquerdo apoiada em seu corpo. - recuei outro passo e acabei me batendo no corrimão, ele avançou mais outro, nossos corpos estavam praticamente colados. - Lembro também que naquele dia saí perguntando pra todo mundo quem você era, as pessoas me diziam pra te esquecer, que você não dava bola pra ninguém, e estava sempre sozinha. Perguntei pros professores se eu poderia fazer dupla com você nas atividades. - ele fez uma pausa. - Depois daquele dia decidi mudar, ser diferente do que eu era. Ser diferente por você! Aumentei minhas notas, e quando percebi que você estava se aproximando de uma das minhas amigas pedi que ela nos apresentasse. Pensei que um bom primeiro passo era fazer você confiar em mim. - suas lágrimas continuavam caindo, me doía o coração vê-lo daquela forma.

– Liam eu...

– E sabe o que é mais engraçado? - era uma pergunta retórica, mas mesmo assim neguei com a cabeça. - Eu faria tudo de novo. Não mudaria nada. Todos esses anos que passamos juntos valeram a pena, mesmo que nós não tenhamos ficado juntos como eu queria, pelo menos tinha você ao meu lado, me apoiando, me aconselhando. Sabe, eu até tentei te esquecer. Juro que tentei, mas é impossível. Depois do nosso beijo, a única coisa que eu queria era poder senti-los de novo. - ele avançou mais um passo, acabando com o espaço entre nós. - Você não tem ideia de como foi difícil fingir que nada tinha acontecido depois do nosso beijo. Foi como se tudo o que eu sentia viesse à tona, tudo de vez. E toda vez que eu te via, e meu coração palpitava, eu só conseguia me sentir feliz, porque eu via que você estava feliz. - suas lágrimas aumentaram. - E eu me sentia feliz também porque estava ao seu lado, e agora não vou ter mais... - ele não conseguiu continuar, ele soluçava muito. Tentei acalmá-lo de todas as formas que conseguia, mas seu corpo colado ao meu me impossibilitava de mexer muito meus braços.

– Presta atenção, isso não é um adeus, é um até logo. Vou voltar sempre que puder passar uns dias aqui, você e Belle podem ir me visitar. Eu vou logo ali pra cima, e não pro outro lado do mundo. Podemos nos falar por celular, por compu... - Liam me puxa do nada e me beija.

Esse beijo foi diferente do primeiro, foi uma coisa mais desesperada, como se ele ansiasse por isso há muito tempo. Ele passou seus braços em torno da minha cintura, me puxando para mais perto, acabando com qualquer sinal de ar entre nossos corpos. Fechei meus olhos e deixei-me levar pela sensação do beijo dele. Nossas bocas se movimentavam com uma sincronia incrível. Passei meus braços ao redor do pescoço dele, uma das minhas mãos repousou em seus cabelos, que continuavam macios, exatamente como eu me lembrava desde a ultima vez, o que me fez entrelaçar meus dedos e puxá-los levemente.

Uma das mãos de Liam foi para baixo do meu cabelo, seus dedos passeavam livremente pelo meu pescoço, me fazendo arrepiar a todo o momento. Seu beijo era definitivamente muito bom. Liam tinha lábios macios, que fariam qualquer menina ir às nuvens com um beijo desses, e era exatamente lá onde eu estava me sentindo. Foi quando o ar se fez necessário que nos separamos. Liam não me soltou, tampouco eu o soltei. Nossas testas ficaram encostadas, sentia a respiração ofegante dele bater em meu rosto.

– Há muito tempo que eu imagino como seria fazer isso de novo. - ele quebra o silêncio que tinha se instalado entre nós.

– E foi como você imaginou? - pergunto abrindo meus olhos e olhando diretamente para os dele, que devolveu o olhar com a mesma intensidade.

– Foi melhor! - Seus lábios se abriram em um enorme sorriso, enquanto sua mão descia para o meu quadril, passando os dedos pelo meu braço e me arrepiando. - Desta vez você não fugiu. - Seu sorriso se alargou, o que me fez sorrir também.

– Queria saber o que acontece quando eu fico. - ele ri o que me faz rir também. Ele me da um selinho rápido de segura em minha mão, entrelaçando nossos dedos.

– Está ficando tarde, daqui a pouco seu pai vem com a guarda nacional te buscar...

Nós rimos e saímos do parque juntos e brincando, como se nada tivesse acontecido, nem existisse qualquer noticia ruim. Logo encontramos Isabelle, que se juntou conosco as nossas brincadeiras.

O tempo que eu tinha para ficar com eles passou muito rápido, nós ficamos na praça de alimentação conversando até Sr. Bones chegar avisando que estava na hora.

Nossa despedida foi normal, sem choros ou qualquer indício que dentro de um mês não nos veríamos mais com a mesma frequência de sempre. Isabelle e Liam saíram na mesma hora que eu, cada um foi pra sua casa. Não prestei muita atenção no caminho de volta, deixei minha cabeça divagar pra longe dali. Para outro país, onde eu começaria uma nova vida, sem minha casa, sem minhas livrarias favoritas, sem meus melhores amigos.

Como será viver nos Estados Unidos? Como serão as pessoas de lá? Será que eu vou me dar bem logo de cara ou vou ter muita dificuldade em me adaptar? Será que eu conseguiria fazer novos amigos? E o mais importante, será que depois de tanto tempo morando lá, distante dos meus amigos, eu me esqueceria deles? Ou eles de mim? E se nossa amizade esfriasse?

Afastei rapidamente essas perguntas da minha cabeça, não queria pensar nisso tão cedo, preferia ocupar minha mente com coisas mais importantes no momento. Depois quem sabe eu poderia falar com minha mãe sobre esse país, já que ela morou cinco anos lá quando tinha dez anos. Já era um começo, pelo menos saberia as respostas para algumas das minhas perguntas. Ou era com isso que eu contava.