Levantei os olhos do livro que eu lia assim que escutei as batidas na porta, disse que podia entrar e voltei a ler.

– Amy, senhorita Ashley está te esperando lá embaixo. Mando-a subir ou digo que já vai descer? - escutei Sam perguntar, levantei meus olhos do livro novamente e suspirei.

Já era sexta-feira, a festa de Damon era amanhã e Ashley quis sair pra comprar a "roupa perfeita" para a festa, e disse que escolheria meu vestido. Ela veio aqui em casa ontem só para olhar meu guarda-roupa por aproximadamente 30 segundos e dizer que eu não tinha nenhuma roupa para ir a uma festa daquele tipo.

Eu ainda estava contrariada, não queria ir a essa festa, mas como tinha perdido a aposta com ela teria que cumprir com a minha palavra.

A aposta.

Lembrei-me do momento em que a fizemos. Ela insistindo muito pra eu ir à festa e eu sempre recusando, até que ela propõe a aposta. Nunca gostei de ser desafiada, então sempre entrava em apostas, mesmo sabendo que as chances de perdê-las eram significativamente maiores do que as de ganhar. Então a fizemos. Se Chris e Damen me perguntassem novamente se eu iria à festa, eu teria que ir, ela que arrumaria meu cabelo e maquiagem e eu ainda usaria uma roupa a escolha dela. Se apenas um deles perguntasse eu deveria ir e poderia escolher a roupa e me arrumar a meu gosto, e se nenhum dos dois perguntasse, nós duas ficaríamos em casa assistindo filme durante a noite toda. Eu não gostei da primeira opção, mas acreditava que os meninos não iriam perguntar novamente, já que desde a terça que eles vêm me perguntando isso, e eles já tinham perguntado naquele dia antes da aposta ser feita.

Infelizmente não tive muita sorte. Quando a aula de química acabou e eu estava saindo da sala, Damen me perguntou novamente. E no estacionamento do colégio, quando as aulas já tinham acabado, Chris perguntou se me veria lá. Para melhorar minha situação, Ashley estava presente em todos os dois momentos, e tratou de responder espontaneamente um empolgante e exagerado "sim".

Não poderia desistir agora, eu tinha dado a minha palavra, e não voltaria atrás.

– Diga a ela que já vou descer. E peça pra não quebrar nada que já estou indo. - disse para Sam um pouco contrariada, ela assentiu sorrindo e saiu.

Eu tinha pedido para minha mãe conversar com a governanta pra Sam só fazer coisas relacionadas a mim. Antes ela tinha que lavar as roupas de cama, mesa e banho, limpar a casa e ajudar na cozinha. Agora ela só precisava fazer coisas para mim, e como eu não precisava de muita coisa, ela quase não fazia nada. Não gostava da ideia dela ter que trabalhar como empregada, mas ela dizia que gostava e que precisava do dinheiro para a faculdade. Então para ela não sair, pedi que fosse feita essa alteração. Embora a governanta não tenha aberto mão dos antigos trabalhos que ela fazia, os restringiu apenas ao meu quarto e às minhas coisas. E disse também que ela ficaria responsável por qualquer visitante que quisesse falar comigo, ou seja, teria que me avisar da chegada desse visitante antes que ele viesse falar comigo. Era uma espécie de castigo já que eu praticamente não saía do meu quarto e ele ficava no 3° andar. Mas disso eu cuidaria em breve.

Marquei a página que estava lendo, fechei o livro e deixei-o em cima da cama quando levantei. Vesti um vestido branco com a bainha de renda preta, coloquei um cinto preto na cintura, calcei um sapato fechado preto com um salto baixinho, deixei meu cabelo solto mesmo e só passei um brilho rosa. Peguei minha bolsa branca e preta que às vezes usava na escola e desci. Encontrei Ashley na sala conversando com Sam.

– Cheguei. - falei quando me aproximei, já que elas não tinham percebido minha presença.

– Aleluia! Já estava tentada a ir te buscar. - falou Ashley fazendo Sam rir, revirei os olhos.

– Vamos logo antes que eu desista. Sam, se meus pais chegarem antes de mim avise a eles, por favor, que eu saí com a Ash. - falei antes de ser arrastada pra fora de casa por ela.

– Vamos logo, já tá ficando tarde. - Ashley disse assim que entramos no Chevrolet do seu pai que ela provavelmente pegara emprestado apenas para ir ao shopping comigo.

– Ainda são 14:47. - protestei, mas coloquei meu cinto de segurança assim que ela deu partida no carro.

– Por isso mesmo. Já está tarde. Por mim teríamos ido direto da escola. Deveríamos aproveitar que nas sextas saímos mais cedo.

– Tanto faz. Por mim eu iria com uma roupa que eu já tenho.

– Não. Por você, você nem iria. - ela disse revirando os olhos. Sorri.

– Verdade. Continuo não querendo ir, mas sei quando perco uma aposta e vou cumprir com a minha palavra, pode ficar tranquila.

– Ótimo! - ela disse sorrindo. Ela e Isabelle eram iguais, ambas gostam de fazer coisas que eu não gosto, acredito que só pra me irritar. - Você nem me contou como foi na casa de Lindsey. Ela tentou te matar?

– Depende, se você acha que te dá algo ao qual você é alérgica uma tentativa de te matar então ela tentou. - respondi dando de ombros, ela virou o rosto pra mim.

– Como assim?!

– Prefiro acreditar que ela não sabia disso, embora a cara dela fosse de quem só queria testar alguma coisa. - falei me lembrando do momento. Ash voltou a olhar pra pista. - Sou alérgica a maracujá, e ela me deu um copo de suco de maracujá. Se eu não tivesse sentido o cheiro antes de beber estaria bem encrencada.

– Você fica inchada quando come qualquer tipo de coisa de maracujá?

– Não acontece nada externamente. - falei pausadamente. - Bem, minha laringe fecha e o ar não passa. Em resumo, eu não posso respirar caso eu coma alguma coisa. Da última vez, meus pais me levaram desmaiada ao hospital porque não sabiam o que eu tinha. Depois que descobriram sempre temos o antialérgico em casa. É uma injeção que eu levo diretamente na veia.

– Ai. - ela gemeu como se pudesse sentir a dor ela mesma, eu ri. - Então você sempre sai com essa injeção?

– Na verdade não. Só temos em casa. Mas estou pensando em começar a sair com ela.

– Por quê?

– Porque Lindsey meio que me ameaçou. - encolhi os ombros. Ash me olhou com o canto dos olhos. - Ela disse que a qualquer momento eu posso acabar comendo algo de maracujá sem querer, e é melhor prevenir. De certa forma ela tem razão. - dei de ombros.

– Pode ser. Mas nada de pensamentos negativos. Hoje vamos nos divertir. Tem alguma ideia de como quer seu vestido de amanhã? - ela perguntou sorrindo, revirei os olhos, o que a fez rir mais ainda.

– Algo não muito apertado e no máximo um palmo acima do joelho. Mas você quem vai escolher, esqueceu?

– Eu sei. Eu queria saber como você quer pra escolher um exatamente o contrário. - ela sorriu abertamente, olhei-a incrédula.

– Você tá doida?! - perguntei quase gritando. - Não vou usar um vestido que mal cubra minha bunda. - resmunguei

– Não se preocupe, a intensão é te deixar linda e não parecida com a Lindsey.

Revirei os olhos. Independente de qualquer coisa eu teria que usar a roupa que ela escolhesse. Afinal eu tinha perdido a aposta.

– Chegamos. - cantarolou ela estacionando o carro perto da entrada do mesmo shopping que nos vimos pela primeira vez. Lembrei que gostei dela assim que percebi que ela não se vestia como as outras.

Entramos juntas no shopping que não estava tão cheio, o que era estranho, já que era sexta à tarde. Ela me arrastou para várias lojas de roupas, me fez vestir vários vestidos e depois desfilar para ela. Devo admitir, foi divertido. Nós rimos, brincamos e resenhamos uma com a outra, eu a ajudei a escolher seu vestido, mas ela não me deixou escolher o meu. Eu o comprei sem nem saber qual era, já que ela me fez vestir pelo menos uns 20 só na loja que ela comprou. Sem contar com os que ela comprou nas outras lojas. Parecia que íamos para várias festas. Alguns vestidos eu até tinha gostado, não eram tão curtos e nem tão justos. Compramos dois pares de sapatos cada uma, jantamos na praça de alimentação, o tempo passara tão rápido que eu nem tinha percebido. Ela me deixou em casa por volta das 21:30 apenas com os sapatos e os vestidos que eu não usaria na festa de amanhã. Esse, ela disse, era surpresa.

Já tínhamos conversado com Isabelle no shopping, Liam estava com ela, então conversamos nós quatro. Ashley já era amiga deles, e eu percebi que eles confiavam mesmo nela. Até gostara dos apelidos que Belle deu, tanto pra ela, quanto para os meninos e para Lindsey. Parece que elas concordaram nesse último. Depois da conversa Ashley também percebeu que Belle gostava de Liam, pelo menos eu não era a única.

Fui direto para meu quarto, guardei as coisas que comprei, tomei um banho e fui, de pijama mesmo, procurar meus pais.

Tinha mais ou menos três dias que não nos víamos direito. Até onde eu sabia mamãe estava dando plantões à noite e papai chegava tarde da empresa. Eu jantava ou no meu quarto ou com Sam e Will na cozinha, já que se eu fosse pra sala de jantar certamente comeria sozinha.

Passei primeiro no quarto deles, mas estava vazio. Resolvi procurar no escritório do meu pai, como ele estava trabalhando muito ultimamente duvidava que não o encontrasse lá. Dito e feito. Estava chegando quando pude escutar algumas coisas da conversa deles.

– Eu vou contar. - era a voz do meu pai.

– O quanto antes ela ficar sabendo é melhor. - a voz da minha mãe parecia cansada.

– Eu sei. - se fez uma pausa, dava para ouvir alguns murmúrios, eles estavam sussurrando algo. Me aproximei da porta para escutar, aproveitando que ela estava fechada. - ... mais frequente só no meio do ano. Acho que a cada dois meses.

O que seria mais frequente? Sobre quem eles estavam falando? Pra quem é o que eles deveriam contar alguma coisa? Temia saber a resposta para o "quem" eles devoram contar alguma coisa, mas antes que eu saísse dali mamãe abriu a porta.

– Emily? - ela parecia... assustada?

– Vim dar boa noite. - falei abaixando a cabeça, estava com vergonha por ter sido pega escutando a conversa. Podia sentir meu rosto queimando. - Faz um tempinho que não conversamos. - disse e completei num sussurro. - E nem nos vemos.

– Tudo bem. - minha mãe sorriu, um sorriso doce. Aquele que sempre me acalmava quando eu acordava assustada de algum pesadelo ou quando estava com medo de alguma coisa. Ela beijou minha testa. - Boa noite, meu anjo.

Eu sorri quando ela passou por mim. O sorriso dela sempre me contagiou, ele me transmitia paz e tranquilidade. Eu sabia que poderia contar com ela a qualquer momento. Meu pai veio até mim também.

– Vai dormir agora bonequinha? - ele perguntou sorrindo também. Observei-o bem, dava pra ver em seus olhos o quão cansado ele estava, observando de perto podia ver algumas rugas que não estavam ali antes. Provavelmente a construção da empresa esteja o estressando muito.

– Vou sim, papai. - desde pequena eu os chamava assim, havia virado costume, eu simplesmente não conseguia larga-lo, e eles pareciam gostar. - Ah, amanhã me chamaram para uma festa. - comentei enquanto os acompanhava até as escadas, eles estavam indo pro quarto.

– Quem chamou? - minha mãe perguntou feliz por ver que eu estava me socializando.

– Chris e Damen, Ashley praticamente me obrigou a ir. - respondi dando de ombros, meus pais riram. Eles já tinham visto Ashley, e mesmo que não a conhecessem bem, já achavam ela parecida com Isabelle.

– Onde vai ser? - meu pai perguntou.

– Na casa do Damen. Disseram que é uma festa pra comemorar o início das aulas e que todos os alunos vão. - dei de ombros. - Ashley disse que vai me levar.

– Quer nossa permissão? - meu pai perguntou, já prevendo minhas próximas palavras, apenas assenti. Ele olhou para minha mãe que também o olhou. Eu sempre achei incrível quando eles faziam isso, era como se eles estivessem se comunicando com apenas um olhar. Chegando a mesma conclusão sempre, com apenas uma troca de olhares. - Você vai dormir em casa ou na casa de Ashley?

– Não combinamos nada ainda.

– Pode ir, mas assim que combinarem me avise.

– Ela vem aqui amanhã. Ela que vai me arrumar. - revirei os olhos. Mamãe riu.

– Não exagere na bebida, e leve seu remédio. Podem te dar algum drink de maracujá e você pode beber por engano. - ela disse sorrindo.

– Acho que nem vou beber. Vocês sabem que não sou muito fã de bebida. E fique tranquila, não saio mais de casa sem o remédio. - ou não iria mais sair. Essa última parte apenas pensei. - Então é isso? Nada de horário pra voltar pra casa ou aquela longa conversa sobre o que adolescentes inconsequentes gostam de fazer nesse tipo de festa? - perguntei meio brincando meio incrédula.

– Confiamos em você. Sabemos que você tem juízo e sabe bem se cuidar. - meu pai disse.

Nos despedimos assim que chegamos ao quarto deles, eles entraram e eu subi pro meu. Assim que cheguei meu celular apitou, informando a chegada de uma nova mensagem.

"Vai dormir logo! Não quero ter que gastar um pote de pó pra cobrir as olheiras que você vai ficar se não for dormir agora. Estou chegando aí às 11:30, vamos almoçar juntas, se você não se importa, e depois vamos nos arrumar. Vai dormir! Beijos, Ash."

Eu ri. E digitei a resposta enquanto deitava pra dormir.

"Okay mamãe. Já estou indo! Kkkkkk Aah, meus pais me deixaram ir pra festa, a propósito."

E enviei, sabia que ela iria responder. Provavelmente me dando uma bronca por não ter pedido antes.

"Como assim?! Você só pediu agora??! E se eles não tivessem deixado?! Você é louca?!"

"Conheço meus pais. Fique tranquila. Rsrsrs Agora vou dormir, se não alguém arranca meu couro amanhã. Beijinhos, Amy"

"Acho bom mesmo! Beijos, Ash"

Depois disso não demorou muito pra eu dormir.