Eu tenho uma vida normal, pelo menos eu a considero normal. Eu tenho pais, uma casa, freqüento a academia St. Vladimir como qualquer outro dhampir, exceto pelo motivo de que... bem, meus pais são strigois. Não eram, eles são. Eles não são do tipo que saem por ai caçando Morois, simplesmente se alimentam de humanos, não querem adquirir uma força suprema para poder dominar o mundo nem nada, até porque mesmo sem o sangue Moroi já são super fortes. Minha mãe era uma Moroi, alta, pálida, olhos cor avelã e com o cabelo castanho claro. Já meu pai, um ex dhampir: super alto, super pálido por natureza mesmo, agora que ele é um strigoi continua do mesmo jeito, para quem se lembra dele dhampir mal vê a diferença, exceto pelos olhos vermelhos, é claro. Ele tem um corpo bem trabalhado, cabelo castanho escuro e olhos verdes. Os dois haviam sido “acordados” há doze anos em um ataque a residência onde eles viviam. Eu só tinha quatro anos, quase cinco pensando bem. Como combinação da genética dos dois eu sou alta, alta de mais para uma dhampir, tenho praticamente a altura de uma garota moroi, tenho a pele clara, clara mesmo, pra valer, meu cabelo é uma espécie de castanho escuro e meus olhos verdes. Sou um pouco magra para a minha espécie, mas meu corpo é muito bem formado, uso sutiã tamanho quarenta e quatro e calço trinta e sete. Meus amados pais nunca tentaram me convencer a ser “acordada”, foram até eles que sugeriram a academia.

–Se quiser se formar e cuidar de um Moroi pro resto da sua curta vida de dhampir você pode, querida- Mamãe dizia. Ok, talvez eles tentassem sim.

–São meus últimos dias aqui antes de voltar às aulas mãe, poderíamos sair para fazer alguma coisa.

Um amigo do meu pai (um dhampir) cuidava dos meus assuntos escolares, me levava, buscava e ia as reuniões quando convocado. O nome dele era Tarif. Ele era árabe, tinha o cabelo preto até os ombros e uma barba mal feita, seus olhos eram em um tom de azul-turquesa.

–Claro querida- Mamãe disse amavelmente, bom, pelo menos ela tentou parecer amável- Vamos chamar seu pai e decidir juntos onde podemos nos divertir hoje- Ela sorriu esbanjando as presas. Ela não queria parecer assustadora, não comigo, mas isso devia ser meio difícil para ela- August venha aqui- Ela gritou.

Meu pai desceu a escada mais que rapidamente, sua blusa branca estava manchada de tinta, meu pai sempre adorou pintar, principalmente eu. Eu tinha cerca de três quadros pendurados na parede do meu quarto, dois deles exibiam cenas comigo. Era meio que uma droga, vergonhoso. Mas fazer o que? Eles são meus pais.

–Sim querida? Precisa de algo?

Meus pais eram loucamente apaixonados em vida e agora em “quase vida” tentavam manter aquele sentimento, mesmo ambos não tendo mais nenhuma emoção predominante no corpo.

–Anna quer sair para se divertir antes que as aulas comecem novamente.

Eu sempre achei a voz de minha mãe calma, sutil e dócil. Uma vez assisti a um filme “Coraline” era o nome dele, a voz da outra mãe da garota, enquanto ela ainda não tinha se transformado em uma aranha gigante do mal, era quase que exatamente a da minha mãe.

–O que você quer fazer Anna?

–Não sei pai, qualquer coisa divertida.

Acho que eles não entendiam muito o significado de “divertido”, pois a única coisa divertida para eles era sugar totalmente a vida de outras pessoas.

–Pense junto com Louise um pouco, talvez vocês duas cheguem a algum acordo.

Ele voltou para o andar de cima e deixou-me a sós com minha mãe no sofá novamente. Eu estava sentada ao seu lado com a cabeça encostada em seu ombro, ela aninhava meu cabelo e cantarolava alguma musica em outro idioma.

–Poderíamos ir ao shopping- Ela sugeriu.

–Isso seria legal.

Ela beijou minha cabeça e se levantou.

–Vá se trocar então.

Corri escada à cima até meu quarto. Ele era cheio de “bugigangas” como meu pai dizia, tinha vários apanhadores de sonhos pendurados no teto, um lustre chinês vermelho, e vários desenhos colados na parede. Abri o guarda roupa de madeira e tirei um jeans azul e uma bata indiana. Vesti minhas sandálias e fiz uma trança larga com meu longo cabelo. Era época de natal, alguns Moroi iam com seus guardiões aos shoppings fazer compras. Mamãe e papai não tinham medo disso, minha mãe quando ainda era totalmente viva havia aprendido a lutar graças a meu pai, e já ele era um dos melhores guardiões da corte. No ataque a nossa casa, bem, eram dezesseis strigois contra cinco pessoas, três dhampirs, sendo que um deles tinha quatro anos, e dois moroi: minha mãe e o irmão dela. Nós não sabemos o porquê tantos strigois se reuniram para atacar uma casa com tão poucas pessoas. Mas foi isso o que aconteceu.

O shopping estava bem cheio. August se separou de nós duas para ir à sessão de esportes, enquanto eu e minha mãe fomos primeiro a loja de roupas, ela me comprou diversos modelos para que eu usasse em St. Vladmir, e para minha maior felicidade, entramos em uma livraria.

–Segura essas sacolas para mim mãe?- Perguntei.

Ela as pegou e se sentou em uma das cadeiras da loja.

Corri pelos corredores quase gritando de animação. Fui até a sessão de romances. Escolhi três livros grossos e parti para dar uma olhada nos livros em promoção. Escolhi mais três deles. Andei até onde minha mãe estava e mostrei a pilha de livros que eu carregava abrindo meu maior sorriso.

Ela assentiu com a cabeça e andou até o caixa, compramos os livros e fomos procurar meu pai. Ele estava em uma das lojas que vendia materiais artísticos.

–Anna venha aqui- Ele me chamou. Obedeci e ele começou a pegar varias tintas e as colocar ao lado do meu rosto.

–Vou ter que misturar bege com branco casca de ovo para dar sua cor de pele- Ele riu.

Depois que meu pai se tornou um strigoi, ele meio que começou a ter mais tempo para si próprio e para fazer as coisas que ele gostava como pintar e tocar. Eu herdara esses dons dele, tocava e pintava perfeitamente, mesmo eu preferindo apenas desenhar em preto e branco. Voltei ao lado de minha mãe e fomos novamente em direção ao carro. Era um ecoesport preto com insufilm em todas as janelas. Colocamos as compras no porta malas e voltamos para casa.

Vocês devem estar se perguntando: “Mas como ninguém estranhou o desaparecimento de você e dos seus pais e do nada você reaparece em uma academia?” ou algo parecido, ai está uma resposta: Lembra que eu disse que haviam três dhampirs (contando comigo) na casa no dia do ataque? Um deles era amigo do meu pai ,Tarif, já falei dele. Ele meio que me adotou, os papeis da corte dizem isso, que eu sou filha adotiva dele agora, mas sem que a corte saiba eu vivo com meus pais, Tarif fez um grande favor para eles. Mesmo eles sendo strigois, qualquer guardião não pensaria duas vezes e empalaria meus pais em um piscar de olhos. Mas ele não fez isso. Ao contrario, às vezes ele ajuda a legalizar alguns documentos e tudo mais.

***

Eu voltaria para St. Vladmir hoje. Eu não gostava muito de lá, mas era melhor do que ter de agüentar meus pais o resto do ano.

–Você já está pronta querida?- Tarif perguntou. Ele tinha a idade de meu pai, mas como meu pai não envelhecia há doze anos, Tarif aparentava ser bem mais velho, estava rondando os quarenta. Como ele esteve presente na maior parte da minha vida, e era o melhor amigo do meu pai, eu o considerava praticamente meu tio.

Me despedi de August e Louise e entrei no carro, era uma longa viajem, dez horas dentro de um carro não era meu forte. Tarif também não era o melhor companheiro de viajem do mundo, então, a longa e tediosa viajem se passou em repleto silencio, nós não paramos para abastecer nem nada. Acabei adormecendo no meio do percurso e Tarif me acordou quando chegamos. Ah St. Vladmir, de fora mais parecia um castelo medieval, mas por dentro chegava a parecer um castelo futuristico com decorações antigas. Entramos na academia e Tarif estacionou o carro. Peguei três malas, duas delas eram de rodinhas e uma de ombro, enquanto ele pegou as caixas com meus “pertences pessoais”. Como não existiam muitas garotas dhampirs naquela escola eu poderia ter um quarto só para mim. Escolhi um no fim do corredor, com a janela para o pátio. Tarif colocou as caixas e perguntou se eu queria ajuda para desempacotá-las, eu neguei, nos despedimos e ele me deixou lá. Comecei a desfazer as malas, coloquei meus casacos e as calças no guarda roupa, as blusas guardei na cômoda, minhas maquiagens em cima da mesma e meus desenhos e fotos na parede, os sapatos ficaram em uma das partes do guarda roupa, pendurei um apanhador de sonhos na janela e me sentei na cama. Deu trabalho, mas estava tudo arrumado. Decidi descer e procurar meus amigos, quer dizer, minha melhor amiga e meu melhor amigo, Anthony e Clara. Clara era uma dhampir e Anthony um moroi. Como sempre eles deveriam estar na biblioteca. Corri até lá. Os dois estavam deitados nos sofás.

–Achei vocês.

–Anna!- Os dois exclamaram sorrindo.

–Cheguei tarde de mais?

–Claro que não. Ficou sabendo? A rainha Vasilisa virá passar o primeiro semestre aqui na escola, ninguém sabe por quê.

–Por quê?- Perguntei boquiaberta- Yeah, foi mal.

Eles riram.

–Sabe o namorado dela?- Clara perguntou.

–Sim, sei sim, o gatinho.

–Sabe o guardião dele?

–O gatão russo?- Perguntei.

–Isso, o gatão russo, ele vai vir também, aparentemente ele, a guardiã da rainha, a rainha e o gatinho.

–Nossa, de mais-Eu disse. Clara abriu um largo sorriso- Mas, vocês sabem que o gatão russo namora a guardiã gatona da rainha, não sabem?

Passamos o resto do dia na biblioteca, me retirei para tomar banho e me trocar. Vesti um vestido indiano que ia até acima do joelho, ele tinha alças largas e um pequeno decote em forma de “V’, o tecido era totalmente estampado em várias cores. O jantar dessa noite seria em um grande salão, para comemorar a vinda da Rainha Vasilisa Dragomir. Ela era cerca de quatro anos mais velha que eu e já era uma rainha, isso sim que era ter azar na vida, ter de comandar um enorme grupo, manter a ordem, aprovar leis, ser agradável e criativa, e principalmente sociável. Pobre Rainha Vasilisa.

Sentei-me ao lado de Anthony e Clara. Anthony sempre se vestiu estranhamente, usava blusas sociais brancas e jeans, tinha o cabelo castanho escuro até o ombro e olhos cinza, bom, de certa forma ele era sexy. Clara sempre foi um pouco desprovida de dons, ela era baixa, tinha o cabelo louro e olhos castanhos, alguns garotos Moroi a chamavam de “leitoa” por causa do tamanho dos seios dela, mas ela nunca deu muita bola pra isso. Anthony ainda era mais alto que eu, ele tinha mais ou menos 1, 84 de altura, enquanto eu media 1,76.

–Dizem que a rainha é bonita- Clara disse.

–Eu não sei.

–O que você acha?

–Ela é nova.

–Mas acha que ela é bonita?

–Rainha Vasilisa Dragomir- Um dos empregados exclamou. Todos nós nos levantamos.

Uma garota loira de olhos verdes entrou na sala, usava um vestido rosa que ia até os joelhos. A acompanhando um moroi de cabelos negros e olhos cinza, yeah, o gatinho Ozera. Atrás dos dois vieram os guardiões, Hathaway e Belikov. Todos diziam que eles eram os fodões. E sinceramente, eu não podia negar. Vasilisa cumprimento algumas pessoas e sorriu para o resto. Mas, do nada parou em frente a mim e meus amigos. Meu corpo gelou. Ela olhou fixamente para nós e encarou Anthony um pouco. Ok, se o objetivo daquilo era intimidar ela tinha conseguido. Os guardiões deles fizeram o mesmo. Clara engoliu a seco enquanto eu e Anthony ficamos paralisados.

–Você deve ser Anna Dracul, não?- Ela perguntou amavelmente.

Assenti com a cabeça. Vailisa fez uma pequena reverencia e voltou a andar, os guardiões logo a seguiram e nós ficamos lá, boquiabertos. A Rainha se sentou na “mesa dos importantes” como Anthony chamava, e quando eu finalmente achei que iria poder comer ela se levantou. Merda.

–Posso ter um minuto da atenção de vocês?- Ela perguntou.

Ninguém respondeu nada.

–Bem, tenho de agradecer a todos vocês por estarem me recebendo tão bem. Estou muito feliz em estar aqui. Alguns de vocês devem estar se perguntando o porquê de eu estar aqui. Estou aqui para estudar um pouco junto ao meu amigo, Adrian- Ela disse apontando a mão na direção de um Moroi mais que lindo- Sim estudar, mas não sobre a matéria de vocês, estou aqui para estudar o meu elemento, e o de alguns aqui, pelo que vejo- Ela sorriu- Espero que vocês não se incomodem com minha estadia aqui. Muito obrigada.

A Rainha se sentou e finalmente eu pude comer. Enquanto eu comia, as ultimas frases daquela mulher dançavam em minha mente. “E o de alguns aqui...” Espírito não era um elemento comum, alguns dizem que a Rainha não havia se especializado em nenhum elemento e fora assim que descobriu o dela. Anthony também não havia se especializado em nada até agora. Mas ele não me parecia ser um usuário de espírito, geralmente, pelos boatos que ouvi, usuários de espírito tendem a ser sociáveis, no caso de Anthony, bem, se ele fosse sociável não estaria andando com nosso “grupo de deslocados”.

Nas próximas seis semanas a única matéria para os dhampirs consistia somente em seguir um Moroi por onde ele fosse e o proteger contra “ataques de strigois”, em minha opinião era a melhor coisa daquela escola, mas seria muita falta de sorte eu pegar algum Moroi chato e exibido.

–Vocês ficaram sabendo?- Paul perguntou. Ele era um dhampir da nossa sala, tinha altura mediana, o cabelo e olhos castanhos.

–Do que?- Perguntei. O primeiro dia de aula sempre era cheio de novidades.

–Os guardiões da rainha vão ajudar a executar os “ataques” esse semestre.

–O que?- Clara cuspiu refrigerante na cara de um moroi a sua frente- Ai meu Deus, me desculpe!

O garoto limpou o rosto e aceitou suas desculpas, Brant era um cara legal.

–Eu vou tirar “F”- Murmurei.

–Vai ficar tudo bem- Anthony disse colocando a mão em minhas costas.

–Tomara que sim.