Yume Nikki - the story before the story escrita por Eloise Bruno


Capítulo 14
Caos crescente


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu SEI que demorei, e estou tendo que colocar as notas agora no carro pelo 3g, explicações nas notas finais.

Queria agradecer ao Onigiri Jake e a Madden pelas favoritações (e o bug de um favorito a mais permanece)



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– Foi como eu disse você está gravida – Stelle continuou a me encarar com olhos estreitos e com mais sadismo estampado em seu rosto – Meus parabéns.

Eu não consegui responder, estava estática sem uma resposta, abri e fechei minha boca várias vezes, mas nada saía.

– Bom vou deixa-la sozinha para pensar, qualquer coisa apenas de um grito – Disse ela se retirando da sala, não me virei, mas pude ouvir quando seus passos pararam alguns segundos depois e voltou a falar – Embora eu duvide que consiga até mesmo fazer isso.

Eu não sei quando ela realmente saiu da sala ou há quanto tempo estou aqui sem saber o que fazer, meus ouvidos parecem ter se trancado com o impacto de suas palavras. Em que momento me sentei no chão e me encolhi como uma criança amedrontada com as mãos envolvendo os joelhos com tanta força? Encostei minha cabeça no metal gelado do pé da maca. Eu estou com gravida, com uma vida dentro de mim, um ser humano que vai depender de mim pra tudo... eu não sei se posso fazer isso.

– Mado-chan? – Escutei uma voz chamando por mim, mas não sei identificar se está longe ou não – Mado-chan o que está fazendo no chão?

Olhei para cima e vi minha mãe agachada a minha frente, por um segundo me esqueci de tudo, queria apenas me agarrar nela como se fosse a última coisa segura na terra e nunca mais deixa-la ir.

– E por que está chorando? – Ela passou seus dedos gentilmente em meu rosto afastando as lágrimas que só notei agora que estavam caindo – Aconteceu alguma coisa?

– M-mamãe – Foi tudo o que consegui dizer. Me pendurei em seu pescoço desejando que ela dissesse que iria ficar tudo bem, que foi tudo mais um sonho ruim e que eu não estou sozinha nisso, por que estar sozinha é a coisa que mais me assusta em tudo isso.

– Mado-chan você está machucada? Por favor, me diga o que aconteceu.

– P-podemos, por favor, conversar em casa? – Disse de formar engasgada, eu não quero ficar aqui, sinto como se os olhos frívolos de Stelle pudessem me engolir a qualquer instante se continuar aqui.

– Claro que podemos meu amor.

Ela me ajudou a me levantar, foi então que percebi o quanto minhas pernas estavam fracas e vacilantes, ela passou seus braços ao redor de meus ombros e me ajudou a andar até a porta, onde meu pai estava parado com os mesmos olhos preocupados de minha mãe escondidos atrás de suas lentes grossas. Ele passou sua mão pela minha cabeça e beijou minha testa, fomos em direção à saída, eu não conseguia prestar atenção ao caminho que fazíamos ou ás pessoas pelas que passávamos, em minha cabeça só rodavam as palavras de Stelle, rodavam e rodavam como se não fosse possível de serem afastadas.

Eu podia enxergar a saída do outro lado da recepção agora, só mais alguns passos e estarei fora daqui.

– Cheguei pro meu turno – Enquanto cruzávamos o saguão ouvi aquela voz que fez com que todo o alívio abandonasse meu corpo de imediato, olhei para o balcão de atendimento e a imagem que encontrei fez com que o restante do meu sangue parecesse sumir. Gou estava atrás do balcão conversando com a atendente, ela usava a mesma roupa que a mulher e um crachá do hospital, isso só pode ser um pesadelo.

Nossos olhares se cruzaram, e por um momento ela pareceu surpresa em me ver tanto quanto eu, mas depois seu rosto foi preenchido pelo seu costumeiro sorriso sádico e cruel, aquele que era assustadoramente parecido com o de sua mãe.

Ela não me dirigiu palavra alguma apenas ficou me observando com olhos estreitos até que eu atravessasse a porta de vidro, eu pude ver meu rosto refletido no vidro, acho que nunca estive tão horrível antes, minha pele está pálida e meus olhos fundos e sem vida como covas. É como se a qualquer toque eu fosse desmoronar e virar pó.

Meus pais me guiaram até ao carro, e deixamos para trás o edifício branco que ironicamente agora parecia o lugar menos seguro do mundo para mim.

[...]

– Prontinho Mado-chan, consegue andar sozinha?

– Tudo bem mamãe, já estou melhor – Me soltei de seus braços e fui até o sofá apoiando-me nos móveis para chegar até lá. Eu não sinto como se devesse estar fraca deste jeito, me pergunto se estou assim pelo fato de estar, bem nesta condição, ou se é o puro medo que estou sentindo que impede que eu fique firme em meus pés. Eu já não sei mais nada.

– Mado-chan, quer nos contar agora o que aconteceu? – Como sempre minha mãe falava de forma suave, mas eu a conhecia tempo o suficiente para enxergar a preocupação e ansiedade por trás de suas palavras calmas.

– E-eu... – Comecei a falar, mas as palavras morreram quase de imediato. O que é isso? Medo? Eu estou tão assustada assim? Que engraçado, devo estar parecendo uma idiota agora.

– Mado-chan, sabe que pode confiar em nós para tudo – Ela tomou minhas mãos entre as suas, o metal de sua aliança deixava uma sensação incomoda em minha pele, mas eu não ligava pra isso, o calor de suas mãos o fez com que eu esquecesse minha covardia por alguns instantes, tempo suficiente para retomar minha fala.

– E-eu tenho algo muito importante para contar para vocês.

Minha mãe me olhou meio surpresa e meio receosa, eu nunca tinha sido tão séria em toda minha vida, era uma surpresa até mesmo para mim. Meu pai me encarava seriamente por trás das lentes grossas que sempre o faziam parecer mais bobo e ingênuo do que realmente era, mas agora elas o deixavam com um olhar severo e inflexível. Pensei que perderia minha coragem novamente até sentir as mãos de minha mãe apertarem as minhas com mais força e me lançar um olhar encorajador.

Coloquei uma de minhas mãos suavemente sobre meu colo, fechei meus olhos e respirei fundo, juntando toda a coragem que ainda tinha para finalmente proferir aquelas palavras.

– E-eu, tenho... eu estou... eu – As palavras se embaralhavam em minha boca, não conseguia dizer com clareza o que queria. Respirei fundo mais uma vez e fechei meus olhos com força até que só pudesse ver a escuridão absoluta, abri minha boca e falei de uma fez só – Eu tenho um bebê dentro de mim!

Não abri meus olhos continuei com eles fechados com o máximo de força que conseguia, eu não ouvi nada, nenhuma resposta, nenhum ruído, nada.

Senti a mão de minha mãe que ainda segurava com firmeza a minha se mover levemente, a pressão que antes fazia em minha pele se dissipou e foi ficando mais fraca e imperceptível.

Abri meus olhos lentamente, minha visão estava embaçada, algumas lágrimas começavam a surgir, pisquei algumas vezes e vi uma delas cair sobre a mão de minha mãe, que apesar de estar segurando a minha com suavidade parecia mais distante do que nunca. A gota parecia tê-la despertada de seus pensamentos longínquos. Eu quero olhar em seus olhos e encontrar algum sentimento de conforto, de segurança, qualquer coisa.

Consegui levantar meus olhos, mas quando olhei para sua face, vi ali refletida a minha, não por nossas semelhanças físicas, ou então por medo e ansiedade, mas por que vi ali em seus olhos a mesma expressão que vi refletida no vidro do hospital, como se tivessem arrancado a vida de seu corpo dolorosa e vagarosamente.

– Né, Mado-chan pare de brinca conosco – Suas palavras me atingiram como um soco no estômago, eu não esperava que ela dissesse isso – Nos diga a verdade Mado-chan, nos diga o que você realmente tem.

Eu não sabia o que dizer, eu a olhava com incredulidade, ela estava mesmo achando que eu estava mentindo? Ou apenas queria se convencer disso?

– Mado-chan, meu amor, por favor, nos diga o que você tem realmente, não brinque com sua mãe e seu pai dessa maneira.

– M-mas, e-eu estou lhe dizendo a verdade.

– Já disse para parar de brincar! - Sua voz se elevou, não chegou a ser um grito, mas foi o mais alto que já a ouvi falar.

Eu estava estática não sabia o que falar, eu não sei qual de nós duas desejava mais que aquilo fosse um sonho, uma mentira, só mais um dos meus incontáveis pesadelos. Mas a realidade é outra, a realidade não é como os pesadelos, que basta acordar deles que desaparecem, o que estava acontecendo não podia se resolver com um simples beliscão eu tinha que encarar aquilo, mas como? Se nem minha mãe me dá forças para isso.

De repente o silêncio desconcertante na sala foi quebrado, não por mim ou por minha mãe, e sim por meu pai, ele pigarreou e colocou suas mãos sobre o ombro de minha mãe. Seus olhos pareciam mais compreensivos do que eu esperava.

– Querida, vamos deixar a Mado-chan sozinha por um tempo, para pensarmos, agora não é o melhor momento - Ele disse calmamente sem elevar seu tom de voz, mas não chegou a dirigir seus olhos para mim – Mado-chan vá para seu quarto.

Eu soltei a mão de minha mãe um tanto receosa, mas obedeci, fui para meu quarto e tranquei a porta. Apoiei minhas costas na madeira e olhei para meu quarto escuro, escorreguei por ela e apoiei minha testa em meus joelhos. Eu queria chorar, mas as lágrimas simplesmente se recusavam a cair, meus olhos ficavam apenas marejados e nada mais, decidi fecha-los na tentativa de esvaziar minha mente.

Não funcionou.

As palavras e a ideia de esse corpo não pertencer mais somente a mim me deixavam inquieta, assustada e acima de tudo perdida. O que eu faço? Eu não posso ter um bebê, eu mesmo não sou uma adulta ainda. E terei que parar de ir à escola quando ele começar a crescer mais e mais.

A escola...

Gou me viu no hospital, e é só questão de tempo até que ela saiba por Stelle o que houve, e se ela contar a todas as pessoas de escola não poderei voltar lá, não conseguirei encarar a todos, será pior do que quando Shitai e Monoko se foram. Ela provavelmente irá contar a Poniko, o que ela pensará de mim? Será que ficará com raiva? Ou preocupada? Ou então apenas sentirá nojo de mim como imagino que a maioria das pessoas vai ficar?

Eu prefiro não pensar nisso...

Eu fiquei na varanda do meu quarto por muito tempo, até a noite cair, olhar para as estrelas e as luzes da cidade fez com que eu esquecesse um pouco sobre tudo e me concentrasse apenas em suas cores e no som das buzinas incessantes nas ruas.

Ouvi o som da maçaneta de minha porta, mas não me virei, não quero me virar e descobrir qual face de meus pais vou encontrar. O silêncio se propagou por mais alguns instante até que foi quebrado pelo som da porta de vidro que ligava o quarto a varanda deslizando, permaneci com meus olhos focados ás luzes dos prédios.

– É lindo à essa hora não é?! – Ouvi a voz de minha mãe se aproximando, ela repousou suas mãos na grade ao lado das minhas, não a encarei só assenti com a cabeça e esperei que ela retomasse a fala.

– Não quer me contar o que aconteceu? – Perguntou ela finalmente.

“O que aconteceu?”, acho que eu também não tenho a resposta para essa pergunta. Fiquei tentando achar uma o tempo que fiquei encarando os edifícios e carros passando como borrões de luz pela avenida, mas não consegui achar nenhuma.

– Desculpe - Ela disse me fazendo virar para ela surpresa. Ela estava com os olhos inchados e vermelhos, provavelmente estava chorando, e a culpa é minha.

– P-por que está se desculpando? – Perguntei confusa.

– Por ter gritado com você - Não disse mais nada. Eu não quero que ela se desculpe, eu é que deveria estar me desculpando, tudo isso é culpa minha, eu preciso me desculpar, mas por que as palavras não saem?

– Né Mado-chan - Continuou ela - Você pode me dizer quem fez isso com você?

– Q-quem? – O que as palavras de minha mãe sugeriam me deixaram confusa e assustada, ela estava sugerido que aquilo tinha acontecido sem meu consentimento, o que não era verdade.

– Sim meu amor, quero dizer, estou lhe perguntando se fizeram isso com você sem que você quisesse e ficou com medo de nos dizer alguma coisa.

– N-não é esse o caso – Hesitei por um instante, mesmo que diga para ela que eu fiz isso por vontade própria não posso contar a ela que o bebê que tenho comigo é de Masada Sensei.

Masada Sensei...

Com tudo isso acontecendo me esqueci completamente dele, não entro em contado com ele desde o hospital, ele deve estar preocupado. Não, não é esse o problema, o problema é que esse bebê é dele, e se eu contar a ele isso lhe trará imensos problemas.

Eu não quero causar problemas ao professor.

– Mado-chan? – Minha mãe segurou minha mão me trazendo de volta à realidade.

– E-eu... – Comecei a falar, mas as palavras foram contadas pela torrente de lágrimas que caiam de meu rosto. Eu não continuei apenas me agarrei em minha mãe e escondi meu rosto na curva de seu pescoço.

– Não pode me contar quem é? - Minha mãe passou sua mão por meus cabelos gentilmente e me abraçou forte. Eu não respondi apenas assenti negativamente com a cabeça e ela não fez mais pergunta nenhuma.

– M-mamãe, eu estou com medo.

– Eu sei meu amor, eu sei.

[...]

O dia amanheceu e eu não fui para a escola, mamãe disse que era melhor eu não ir à escola por um tempo, apesar de ela ter dito isso de uma forma gentil senti mais como se fosse uma ordem do que um conselho. De qualquer maneira não foi uma ideia tão ruim assim já que perdi a conta de quantas vezes já vomitei só hoje.

Estou deitada na minha cama com meus pensamentos vagos sobre tudo o que está acontecendo. Eu perdi o controle das coisas, não sei quando o perdi, mas sei que não sou capaz de consegui-lo de volta agora. Estou mais assustada do que jamais estive, por que dessa vez eu não estou sentindo medo apenas por mim mesma.

Peguei meu celular em minha mochila e chequei ele pela primeira vez desde a tarde de ontem, haviam mais de 10 ligações perdidas e mensagens de Masada Sensei, não respondi a nenhuma delas, não queria falar com ninguém agora, mas não posso deixa-lo sem notícias, por que mesmo que eu deseje que não, isso também tem a ver com ele, mas sei que meus pais não vão deixar que eu vá vê-lo, já devo me sentir grata por eles não terem feito mais perguntas sobre o pai dessa criança.

Me levantei e fui até minha escrivaninha, liguei a lanterna deixando que aquela fosse a única luz no quarto. Olhei para o único objeto além dela em cima da mesa, meu diário. Eu não escrevia nele a muito tempo, mas depois do acidente de Shitai e Monoko voltei a preencher suas páginas com meus pensamentos difusos.

Eu não gostava dele, era melancólico e cheio de amargura, mas me ajudava a esquecer das coisas.

Não paro de pensar em como vou contar tudo isso para Masada Sensei, como ele vai reagir, o que vai acontecer com nós dois, e como vamos “resolver” isso. Não posso evitar de pensar que estaria arruinando sua vida se fizesse isso e cogito não contar para ele.

Mais uma vez prefiro ignorar esses pensamentos e me afundar entre as cobertas grossas em minha cama.

[...]

Meus pais saíram para resolver alguma coisa sobre o trabalho. Eles voltariam a trabalhar daqui dois meses, porém devido a esse novo “imprevisto” eles obviamente decidiram que não poderiam me deixar sozinha por mais nenhum segundo.

Estou tentando desfazer os nós de meu cabelo que se formaram depois de eu passar tanto tempo na cama. Fiz minhas tranças – que ficaram meio tortas em conta da pressa – e coloquei um casaco qualquer, e saí de casa desejando que meus pais não voltassem antes de mim.

Já havia escurecido, mas não estava tão tarde assim, ainda transitavam muitas pessoas pelas ruas. Fui até o *metrô na esperança de não ter perdido o trem das 18:15, por sorte consegui embarcar antes que as portas fechassem completamente.

Depois de alguns minutos desci na estação e subi as escadas, desci a rua sem muitos problemas, eu ainda estava meio zonza e enjoada, mas consigo me manter em pé sem muito esforço. Encarei as portas de vidro a minha frente, hesitei antes de entrar, mas entrei e peguei o elevador antes que eu me arrependesse e voltasse correndo para casa.

As portas do elevador se abriram e eu saí dele já sentindo meus batimentos cardíacos pulsando em minhas têmporas, encarei a porta branca com os números dourados que me trouxeram calma tantas vezes, mas agora não era essa a sensação a única sensação que tinha era de receio e medo.

Respirei fundo duas vezes, segurando minhas pernas no lugar com sua vontade de sair correndo escada a baixo e voltar para casa antes que de tudo desse errado. Bati na porta e depois de alguns minutos Masada Sensei apareceu na porta.

– Mado-chan – Seus olhos se arregalaram em me ver e ele me abraçou forte, retribui o abraço sentindo o medo desaparecer, ele colocou a mão em meu rosto e me beijou desesperadamente.

Ficamos olhando um para o outro por um tempo ansiando por mais, mas então me lembrei o motivo de estar aqui e me afastei levemente.

– Preciso falar com você.


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Notas finais do capítulo

Minha avó fez uma cirurgia para retirar o joanete dos dois pés, e eu e minha mãe viemos para cá pra cuidar dela, tá até aí tudo bem, mas eu não achava que iam me colocar pra trabalhar na lanchonete dos meus tios enquanto minha prima tomava conta da minha vó -.-' então mal tenho tempo de respirar, sem falar que deu briga da minha mãe com a irmã mais velha dela e tivemos que ir pra casa da irmã mais nova, então foram dias extressantes, mas consegui fugir pra postar isso por causa do aniversário do meu primo. É isso ai galera desculpem por tudo.