Como nos velhos tempos, eu estava indo de skate para o parque de manhã, encontrar meus amigos. Thomas ainda estava dormindo quando eu saí. Ele é meio enrolado, na verdade mais que eu, e como vai de moto, acha que pode dormir até quando quiser que chega lá num pulo. Bom, é mais ou menos isso, já que daqui a pouco minha mãe ia dar uma de doida lá no quarto dele o obrigando a levantar.

Cheguei no parque, e vi Alicia sozinha no balanço. Ela estava com uma cara meio ansiosa, balançando os pés freneticamente, e tentando a cada segundo tirar seus longos fios de cabelo preto do rosto, que o vento insistia em bagunçar.

_ Qual o motivo de tanta agitação? – perguntei me sentando no balanço ao lado.

Logo as brisas já estavam fazendo com que meus cabelos, castanhos ao contrário dos de Alicia, balançar para todos os lados como o dela.

_ Tô esperando o Erick. – disse ela respirando profundamente.

_ Bom, isso eu também tô, mas qual o motivo de tanta agitação? – perguntei começando a me balançar fracamente.

_ Você trouxe a câmera não é? – ela me encarou de repente, alarmada.

_ Está no meu pescoço. E você ainda não me respondeu. – insisti.

_ É aniversário dele e eu não sei o que dar de presente. – ela disse frustrada.

_ Ah, você sabe que Erick ama jogos de videogame, ou então dá um relógio novo pra ele, pra ver se ele para de andar com aquela velharia. – falei.

_ Ele gosta da velharia. – ele retrucou me encarando fundo com seus olhos escuros, de um preto quase transparente – Mas eu queria dar algo diferente esse ano. Aliás é dezoito Claire! Dezoito anos! Tem que ser algo que ele queira muito.

_ Que tal um beijo? – sugeri.

Ela me encarou automaticamente, com um olhar nada divertido.

_ Foi só uma brincadeira. – justifiquei.

_ Não vou dar um beijo nele. – ela retrucou – Hoje não.

Me virei para ela com um enorme sorriso no rosto.

_ O que foi? – ela perguntou sem entender.

_ Não sei, talvez o “hoje não”. – ri depois de dizer isso – Tem dia agora? Vocês se gostam Ali, tá na cara!

_ O que você quer dizer com isso? – ele perguntou.

_ SE AGARREM LOGO! – gritei divertida, ainda rindo um pouco.

_ Quem? – Erick apareceu de repente, me assustando, atrás de nós.

_ Ninguém importante. – Alicia respondeu emburrada.

_ Nossa. – ele disse – Eu esperava pelo menos um abraço de feliz aniversário. – ele terminou fazendo biquinho como se fosse uma criança.

Eu e Alicia nos levantamos automaticamente e o abraçamos apertado. Cada uma de lado. Então depois de cinco minutos de um abraço apertado e vários beijinhos no rosto, Erick se arrependeu profundamente de ter pedido aquilo. Nós rimos, e eu tirei algumas fotos.

_ Pra não esquecer dia. – completei – Nunca.

Ele riu, e veio até mim me pegando no colo.

_ Me desce! – pedi desesperada.

_ Não! – ele respondeu rindo e me girando.

_ ERICK! – gritei tentando com uma tentativa falha de acertá-lo com um tapa.

Ele parou, e riu me pondo no chão.

_ Idiota. – resmunguei saindo para longe – Vai ficar sem presente!

_ Meus dois presentes já estão aqui comigo. – ele devolveu – Não preciso de mais nada.

Tentei não sorrir. Odiava quando estava tentando ficar com raiva de alguém e essa pessoa era fofa comigo. Ou então me fazia rir. Erick era desse tipo.

Alicia fez uma cara emburrada e se aproximou de mim.

_ Ele não tá ajudando. – sussurrou – Desse jeito nunca vou saber o que dar pra ele. Você já comprou um presente?

_ Já. – respondi baixinho – A noite você descobre.

Ela fez uma careta.

_ O que vocês tanto falam aí, hein? – Erick quis saber se aproximando – Que eu sou gostoso, lindo, bonitão, um pedaço de mal caminho...

_ Um mané. – concluí.

_ Sem dúvidas um mané. – Alicia concordou.

E rindo, nós seguimos caminhando rumo a escola, mais uma vez.