She'd Fly escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 8
Capítulo 07 — Desgraça particular.


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora! Não deu tempo de vir postar antes ): sinto muito, gente! Enfimm, agradeço de coração a todas as meninas que comentaram! Já respondi tudo e amei cada review! Obrigada por tudo, obrigada mesmo! Vocês são ótimas!
E eu quero pedir a quem não vem comentando que comente... de vez em quando o número de acompanhamentos passa o de comentários e tipo (?). Seria ótimo ver rostos novos, hahaha. Não mordo, hein?
Mais uma vez: obrigadaaa, suas lindas! Beijos *corações*



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Janeiro de 2013.

Edward.

— Edward! Edward! — April que também tinha acabado de chegar, gritou ao me chamar. Ela tinha um celular preso ao seu ouvido. — Onde a Bella está?

Bella, Bella, Bella…

— Comigo é que não está!

Ela arregalou os olhos verdes, desviando os olhos para a casa em chamas. A minha casa.

— Onde você estava? — Ela perguntou.

Comendo Tanya em um beco qualquer depois do trabalho…

— Estava no trabalho.

Mas April era intuitiva, ela sabia que eu não estava no trabalho por esse tempo todo só deduzindo coisas óbvias: minha camisa estava amassada demais, eu não estava com a farda, tinha um chupão roxo no meu pescoço. Todos os malditos dias em que Isabella estava aqui eu tentava chegar o mais cedo possível para que coisas desse tipo não acontecessem, mas hoje tudo pareceu atraente para que eu me atrasasse um pouco. Isabella estaria com April, eu estaria com Tanya por algumas horas. Tudo estaria bem quando eu chegasse.

Tudo estava ao contrário de bem quando eu cheguei.

Suspirei, prensando as minhas pálpebras até que as bolas de meus olhos estivessem doendo. Eu tinha de ir lá dentro.

— Você já está ligando para os bombeiros?

April, com os olhos esborrando lágrimas, apenas assentiu com o rosto. Eu me perguntei como ela havia se apegado tanto a Isabella em apenas uma semana a ponto de estar chorando caso algo acontecesse com a garota. Isabella nem sequer falava! Como podia ter feito amigos? Então me ocorreu que talvez ela só não falasse comigo.

— Eles vão demorar. Sempre demoram. — Eu sabia o que ela estava querendo dizer: “Vá lá, seu vagabundo.”.

Outra pergunta mental aleatória: Que tipo de pessoa sem coração eu havia me tornado? Por que eu não corri para a casa para salvar uma pessoa que continuava lá dentro? Eu teria feito isso por qualquer outra pessoa. A não ser Isabella. Eu não sabia qual era o meu problema.

— Você sabia, Edward, que a mãe dela morreu em um incêndio?

Eu neguei simplesmente com o rosto.

Enquanto eu corria na direção da minha casa, me dei conta que aquela também poderia ser uma tentativa de suicídio vinda de Isabella. Ela estava tentando morrer como a sua mãe morreu. Simplesmente. Parte de mim, a racional, disse-me que poderia ter sido um acidente e não uma tentativa de suicídio. A parte de mim que comandava se recusou a acreditar nisso. Tratando-se de Isabella tudo poderia acontecer. Ou ela poderia fazer tudo acontecer.

Coloquei minha camisa acima do meu nariz para não aspirar a fumaça e acabar sendo outro trabalho e dei um chute na porta principal que ficava no terraço e perto da sala que, aparentemente, não estava consumida pelo fogo. O fogo estava pior no corredor, tomando boa parte do teto de gesso que começava a despencar em alguns lugares. Iria ser um gasto e tanto para reconstruir…

Evitei pensar sobre aquilo enquanto chutava as portas para tentar achar Isabella. Ela não estava no seu quarto, não estava no meu quarto. Não estava em nenhuma porra de lugar.

Tossi enquanto entrava em meu quarto e ia checar no banheiro. Fui impedido quando notei que metade do meu guarda-roupa estava em chamas, assim como as cortinas da janela do meu quarto. E a metade do guarda-roupa que estava em chamas era a metade que tampava a minha entrada para o banheiro. Muito conveniente. Só Isabella passaria por ali.

Tossi mais uma vez e balancei meu rosto para afastar a névoa da fumaça que me impedia de ver. O pano da camisa não estava purificando o ar tão eficientemente quanto deveria estar fazendo.

— Porra, Isabella, porra. — Vociferei com os meus olhos ardendo.

Sua maldita filha da mãe.

As coisas começaram a dar errado a partir do momento que ela colocou os pés nessa casa. Tudo estava indo bem, eu estava indo bem. Ela era a minha desgraça particular da qual eu não conseguia me livrar. Ou não podia me livrar por motivos éticos. Minha antipatia por ela começou a crescer — se ainda fosse possível — a partir daquele momento. Daqui a pouco, eu sabia que a antipatia seria tão grande que iria explodir.

— Isabella? — Gritei, a chamando. Se ela estivesse dentro do banheiro, escutaria. — Isabella, você está aí?

Ela estava. Vi somente os seus calcanhares se moverem. Não para se levantar. Isabella parecia não ter essa intenção quando os moveu. Nem mesmo depois de um tempo. Eu respirei fundo. Se eu não a tirasse de lá com vida, provavelmente passaria o resto da minha vida me culpando, assim como April o faria. Se eu não a tirasse de lá com vida, seria minha culpa a morte dela. Ela morreu na minha casa, afinal.

Eu a vi e não tive coragem de passar por um espaço mínimo de fogo.

Um mês atrás, Emmett havia me dito para colocar um extintor na minha casa porque tinha coisas que pegavam fogo com facilidade. Fogo? Pelo amor de Deus, Emmett, não duvide da minha capacidade mental! Minha casa nunca vai pegar fogo.

— Vamos, Isabella, se levante! — Mandei com aspereza.

— Não. — Ela chorou. — Eu não quero.

— Isabella! Pare com essa porra e se levante! — Gritei. Algum pedaço do teto do corredor caiu, fazendo um estrondo que parecia que a casa toda estava desabando.

Eu pensei: Estou morto. Estamos mortos. Era isso que ela queria.

— Se levante agora mesmo! Pare com a sua maldita infantilidade! — Eu estava fora de mim, mal pensava que estava sendo grosseiro demais. Eu estava pensando na minha vida.

Raivoso e levemente irracional, passei pelo mínimo espaço quando o fogo recuou um pouco, voltando milésimos de segundos depois. Eu já estava dentro do banheiro quando ele voltou e se eu pudesse, estava gritando com Isabella para que ela parasse com aquela merda e se levantasse para sair daquele lugar.

Sabe a antipatia que eu sentia por ela? Sumiu quando eu abaixei meus olhos para a sua figura. Ela estava caída no chão do banheiro, os olhos pressionados com força, o rosto banhado de lágrimas que pareciam longe de serem paradas, encolhida do mesmo modo como dormia. E estava sangrando também. Isabella provavelmente batera a cabeça em algum lugar e queimara a mão porque a mantinha contra o peito, protegendo-a.

Suspirei. Ah, Bella… Não. Bella teria lutado para sair do banheiro, ela já estaria lá fora ou provavelmente tentando apagar o fogo.

— Olhe para mim, Isabella. Olhe para mim. — Eu mandei quando ela se debateu contra os meus braços.

Ela não o fez, apenas pressionou os lábios, tentando prender um soluço que saiu de qualquer jeito. Então, protelando, abriu os olhos azuis para mim, fitando-me com receio.

— Você consegue se levantar? — Perguntei, tentando soar calmo.

Ela não conseguiu apoiar a mão no chão para se levantar, por isso tentei apoiá-la. Sem sucesso. As pernas dela também pareciam ser feitas de gelatina e, se eu não tivesse visto a barra de sua calça queimada, teria mandando-a se levantar impiedosamente. Teria dito que era besteira de sua parte.

Peguei-a nos braços, indagando-me como passaria com Isabella naquela droga de passagem estreita. Não era possível. Não era possível. Não era. Não era. Permiti-me alguns segundos de pânico. Só alguns segundos. Fui acordado por Isabella que tremeu violentamente em meus braços, escondendo o rosto molhado em meu peito e chorando.

Por que eu estava resgatando uma garota que havia tentado se matar? Por que eu estava arriscando a minha vida por ela se ela havia tentado tirar a sua própria? Eu e Isabella éramos as pessoas mais incoerentes da face da terra. Tanto que eu nunca tive aquelas respostas. Ou tive e não quis ver. Eu não sabia bem.

Tomado pela adrenalina, puxei-a mais para o meu peito e formei, com as minhas costas, uma proteção entre ela e o fogo, jogando-me o mais rápido possível entre o espaço. Já estava começando a comemorar quando senti a quentura em minha nuca e as minhas costas queimando. Fogo. Trinquei meus dentes enquanto a dor se espalhava. Se eu soltasse Isabella, ela não conseguiria sair da casa.

Se eu a soltasse, eu não estaria queimando.

Isabella ergueu o rosto de meu peito e bateu em minhas costas repetidas vezes até que o fogo tivesse se apagado. A dor não havia passado, provavelmente tinha queimado.

— Obrigado. — Eu agradeci.

Ela pressionou o rosto novamente contra o meu peito, respirando o mínimo do dióxido de carbono que estava sendo produzido e impregnava essa casa inteira. O problema era que eu estava sem nada para filtrar o ar que eu respirava e eu não tiraria de Isabella a camisa que ela respirava. Não tinha tempo para dividir a camisa de jeito melhor. Em decorrência daquele fato, eu já podia sentir a comum tontura e a dor de cabeça.

Balancei meu rosto para tentar ficar consciente. A sala estava em chamas… a cozinha era a próxima. A cozinha com a droga do gás inflamável. Apressei meus passos e tropecei ao sair da porta que ficava na cozinha, andando em passos rápidos e urgentes até o mais longe possível daquela casa.

April estava chorando desesperada. Foi a primeira coisa que eu vi. E depois, o caminhão dos bombeiros cruzando a esquina. Tarde demais para fazer a droga do trabalho direito. Cedo o bastante para salvar a cozinha.

Assim que me viu, a senhora que parecera criar uma afeição imensa pela garota em meus braços, correu até onde eu estava. Não por mim. Não para mim. Ela acariciou os cabelos de Isabella, o rosto… os braços cobertos por sua camisa fina de algodão. Se não tivesse sendo carregada por mim e estar temporariamente incapacitada de andar, Isabella teria jogado-se nos braços de April e chorado até desidratar.

Eu revirei meus olhos discretamente.

— Vá para um hospital com Bella, Edward. Eu fico aqui e cuido das coisas de sua casa.

— Eu… — No primeiro segundo, desisti de tentar arranjar alguma solução que me agradasse.

Eu podia sentir bem as minhas costas lembrando-me de que eu também precisava ir, mesmo que pudesse arrumar por mim mesmo um jeito de ficar melhor. Estava indo apenas por Isabella.

No carro, ela ficou o mais silenciosa possível. A mínima simpatia que eu sentia começou a se esvair lenta, e então, mais rapidamente quando eu notei. Quando chegamos ao hospital, ela não fez nenhuma pergunta, não respondeu nenhuma pergunta que a fizeram sem ser com um simples balançar de rosto que afirmava e negava. E depois um pressionar de lábios que poderia ser um sorriso ou não para agradecer.

Parei de olhá-la quando percebi que estava fazendo por muito tempo. Na minha breve inspeção, Isabela estava bem. O corte em sua cabeça havia sido superficial e as suas queimaduras haviam sido de primeiro e segundo grau — na perna e na mão, respectivamente. O cabelo dela também pareceu ter pegado fogo no começo, bem no começo das pontas. Onde ficava o vestígio de mechas rosa de outrora.

O seu cabelo estava completamente escuro. Era como se a Bella tivesse ido embora de vez. Sem mais nenhum resquício dela naquele corpo.

Uma enfermeira logo tratou de minhas costas. Não havia sido nada demais, como eu já sabia. Queimaduras de primeiro grau.

Quando a tal da enfermeira saiu, Isabella se deitou brevemente na cama hospitalar onde estávamos aguardando a vinda do doutor que passaria os remédios que deveríamos comprar. Ela fechou os olhos, esticou as pernas longas na cama e cruzou as mãos em cima do estômago. Uma ótima posição para morrer, eu supunha.

Dez minutos depois, eu ainda continuava a observá-la. Tinha alguma coisa de fascinante em Isabella, algo que, ao mesmo tempo, eu não conseguia entender. Talvez fosse por aquele motivo que ela me perturbava tanto. Eu sempre soube, no Ensino Médio, que ela era complexa demais para que eu pudesse entender tudo. Eu nunca conseguiria. Duvidava até mesmo que ela mesma se conhecesse bem.

Ela tinha enigmas que nem ela mesma fazia a questão de desvendar. Eram perdas de tempo. Eu perdi três anos tentando o fazer.

— Edward? — Uma voz me arrancou dos devaneios.

Primeiro eu pensei que fosse Bella com sua voz doce me chamando, ela chamava daquele jeito que parecia estar implorando por atenção, mas ao mesmo tempo sorridente… ela se aproximaria e tocaria o meu rosto para completar o seu ato de chamar a minha atenção. Bella costumava ser bem… como eu poderia dizer? Ela gostava de manter contato seja por toques ou olhares significativos e sorridentes.

Só naquele momento, quando pressionei os olhos, que percebi estava dormindo antes e que aquela não era a Bella. Bella não era loira. Era Tanya e eu não sabia o que diabos ela estava fazendo aqui.

— Edward. — Ela sorriu boba e apaixonadamente. Daquele jeito que eu odiava que ela fizesse.

— Tanya. — Eu murmurei, confuso. — O que está fazendo aqui?

Tanya tocou meu rosto com a ponta dos dedos.

Tudo que eu lembrava era que ela… ela havia me visto hoje, tínhamos transado dentro do carro em um beco escuro e inabitado e fim. Isso foi tudo. Depois fomos embora sem marcar nenhum outro encontro porque era assim que as coisas funcionavam entre nós. Nada era certo — e eu não estava reclamando. Longe de mim. Eu gostava do descompromisso.

— Eu trabalho aqui.

— Você trabalha? — Indaguei, incrédulo.

— Faço mais porque gosto, é verdade. — Ela inclinou o rosto para o lado, sorrindo levemente. — Soube que você estava aqui… e vim saber o que aconteceu.

— Nada demais. — Eu não estava a fim de conversar ou ser tocado excessivamente como Tanya estava fazendo.

— Quem é aquela garota? — Ela perguntou, apontando com o rosto na direção em que Isabella estava deitada.

Tanya nem sequer deveria receber uma resposta. Ela não tinha a porra do direito de ficar com ciúmes de mim uma vez que era casada — e muito bem, por sinal. Eu queria dizer isso bem na cara dela, alertá-la sobre aquilo. Mas eu não podia. Eu não podia fazer porcaria nenhuma com Tanya Denali.

Ninguém. — Respondi.

Ela revirou os olhos azuis, impaciente por minhas respostas vazias.

Percebi tarde demais que Isabella estava acordada. Ela nunca dormia daquele jeito, nem mesmo quando ainda era normal e lúcida. Isabella estava apenas de olhos fechados. Ainda conseguia escutar tudo, e provavelmente, tinha escutado o que eu falei. Pela primeira vez em muito tempo, senti-me envergonhado de verdade.

É aquele sentimento que está presente principalmente em sua infância quando você sabe que falou algo errado muito alto e alguém escutou.

Isabella não comentou nada quando voltamos para a casa. Para a casa de April que havia nos oferecido abrigo enquanto a minha casa não fosse restaurada. Eu recusei, é claro. Iria ficar apenas por aquela noite, e depois procuraria um hotel para ficar. Eu não queria ter de ocupar ninguém e eu presumi que Isabella também não iria querer o fazer, por isso decidi, sem perguntá-la, que ela iria comigo.

— Você não manda em mim! — Ela exclamou assim que eu a comuniquei de minha decisão.

— Não seja patética. — Sussurrei para que April não escutasse a nossa discussão. Ela estava a somente um quarto de distância. — Você vai comigo.

— Não vou. — Cruzou os braços com força.

— Isabella, preste atenção no que eu estou mandando. Não é um pedido e não está aberto para discussão. Eu sinto muito por isso. — Eu não sentia nada, estava sendo sarcástico e ela sabia disso.

Respirei fundo quando ela me olhou, desprezando e recusando — como se tivesse esse maldito direito — a minha ordem. Coloquei o ar para dentro de meus pulmões que pareciam inchados de raiva com força, tentando relaxar a minha expressão assim que expirei o ar.

— Bella. — Sua maldita. Por favor, escute: eu estou responsável por você. Tenho que te levar para onde eu for. — Murmurei gentilmente.

Funcionou! Ela suspirou, rendendo-se.

— Eu já tenho 21. — Ela disse. Sua voz, porém, estava muito mais suave e tolerante.

Eu sorri internamente, vitorioso. Usaria sempre daquela tática.

— Não preciso que ninguém cuide de mim. — Ela continuou, olhando-me de olhos baixos.

— Claro que precisa. — A contradisse.

Se eu estivesse mais empenhado com a minha atuação teria tocado o seu cabelo que deslizava pelo seu ombro, teria acariciando e levantado seu rosto baixo. Eu teria sido mais convincente do que fui, teria demonstrado o afeto que deveria ter demonstrado. Mas eu não o fiz. Não porque talvez não conseguisse — eu tinha certeza que conseguiria — era porque eu não queria mesmo. Isabella perceberia se eu fosse muito apelativo.

— Tudo bem. — Isabella disse, por fim.

Forcei-me a esboçar um sorriso quando a olhei mais uma vez antes de sair do quarto. Ela não retribuiu, eu não esperava que ela o fizesse.

O incêndio da minha casa havia sido acidental, os bombeiros haviam dito que havia sido uma sobrecarga no abajur do meu quarto que ficava bem perto das cortinas que cobriam a janela. Perfeito para o incêndio se propagar. O acabamento em madeira de minha casa também havia facilitado muito mais. Eu, por outro lado, sabia que havia inúmeras formas de fazer um incêndio parecer acidental. Isabella também tinha conhecimento de várias técnicas. E, sim, eu desconfiava dela.

Apesar de tudo, eu queria que Isabella fosse comigo. Eu não sabia quão avançada a amizade dela com April estava e eu não queria que ela falasse nada do que deveria para aquela senhora que parecia conhecê-la mil vezes melhor. Eu estar levando Isabella comigo era um ato meramente de autoproteção.

— Você não gosta de Bella, gosta, Edward? — Perguntou April quando eu subi para o quarto onde estava hospedado por aquela noite.

Isabella estava tomando banho.

— Por que você está me perguntando isso? — Virei-me para olhá-la.

Ela suspirou.

— Se você não gosta, pelo menos seja gentil. Isabella passou por muitas coisas ultimamente.

Eu revirei meus olhos mentalmente.

— Que tipo de coisas? — Amenizei a minha raiva por causa de minha curiosidade que não estava sendo sanada.

— Vá perguntar a ela. — April deu de ombros suavemente e entrou na primeira porta do corredor, com Wreck lhe seguindo.

Alguns segundos depois, Isabella saiu do banheiro. Ela não sorriu ou me cumprimentou quando passou por mim, como faria, apenas olhou-me, franziu as sobrancelhas — provavelmente estranhando eu estar parado no meio do corredor florido — e entrou no seu quarto que ficava depois do de April. Sem falar nada e nem sequer desejar “Boa noite”. Eu não sabia por que ainda me surpreendia com aquelas besteiras.

Não consegui dormir naquela noite, como eu já suspeitava. Não pensava sobre Isabella apenas — embora ela fizesse parte de boa parte de meus pensamentos — pensava sobre coisas que, quando eu decidi me levantar, não consegui lembrar ao certo sobre o que foram. Apenas Isabella. E Isabella. Eu a detestava por me fazer pensar uma noite inteira nela. Eu tinha de parar com aquela droga porque, bom, os pensamentos não eram românticos ou até mesmo raivosos. Eram especulativos.

E se… E se… E se… Eu tinha de parar.

Quando eu entrei na cozinha, depois de um longo banho, ela tinha um quase sorriso nos lábios que estavam próximos a xícara de porcelana. Seu quase sorriso era direcionado April que sorria largamente. Isabella desviou os olhos para baixo assim que notou a minha entrada, encarando o seu prato parcialmente cheio. Ela estava comendo. Perguntei-me, naquele momento especialmente, se não era eu mesmo que deixava Isabella para deprimida.

— Bom dia.

— Bom dia, Edward! — April me cumprimentou de volta. — Como dormiu?

Ela sabia que eu não gostava de Isabella e mesmo assim me tratava com uma gentileza que não me parecia forçada. Poucas pessoas eram capazes de ser tão imparciais quanto ela. Inclusive eu. Se eu estivesse em seu lugar, provavelmente não olharia nem sequer na cara da tal pessoa. Eu era desses: rancoroso até seu último segundo. Ou me tornei, não sei bem.

— Bem. — Eu menti. — Obrigado.

A mesa de April era retangular e longa, mas ainda sim eu me sentei perto de Isabella para continuar a minha atuação de ontem. Eu pararia quando estivesse próximo o suficiente para saber tudo que queria, quando Isabella falasse para mim tudo que havia acontecido em Seattle desde que eu vim para cá. Depois, eu a diria que havia decidido que, ela estando com April, era a melhor coisa para ela própria. Fim. Livraria-me de Isabella e de minha curiosidade com uma só cajadada.

— Oi, Bella. — Eu a cumprimentei com um sorriso leve, não muito forçado.

Apesar de levemente, eu pude identificar o vermelho envergonhado em suas bochechas. Ela tinha corado.

— Olá. — Murmurou ela.

Por causa daquilo, ela não reclamou quando eu falei que estava indo arrumar minhas coisas para irmos para o hotel. Ela sequer estava rabugenta quando saímos da casa de April, mas também não estava falante — Isabella, na verdade, não falou nada no caminho, estava concentrada demais em ler um livro sobre… aprender a tocar piano. Algo desse tipo. Ela também escutava música num fone de ouvido que eu não sabia onde havia arranjado.

Decidi não me intrometer como se a intervenção fosse uma coisa acumulativa, quando, na verdade, não era. Eu sabia. Eu sei. Sempre soube. Mas, em minha mente, Isabella era sempre o outro caso, uma exceção para tudo. Na minha infância, ela era a única garota de quem eu fui amigo. Na adolescência, a única com a qual eu namorei. E agora, ela era a única com a qual eu tinha de ser cordialmente gentil.

Isabella sempre foi “a única” de tudo. Pelo menos para mim.

Ela se trancou no seu quarto até a hora do jantar.

— Não estou com fome. — Isabella franziu o cenho quando eu fui procurá-la.

— Nem para me acompanhar? — Ergui as sobrancelhas, sorrindo.

Ela titubeou, mordendo o lábio inferior involuntariamente. Pela primeira vez em quatro anos — que eu tivesse percebido — senti vontade de puxá-la para um beijo. Forcei-me a desviar meus olhos para outra parte de seu rosto que não fossem os lábios e quando eu me deparei novamente com os seus olhos, eles estavam levemente curiosos. Estando como estivessem, ela ainda não parecia a Bella. Forcei-me a esquecer daquele detalhe.

— Por que você está sendo gentil comigo?

— Eu fui um idiota antes, Bella. — Saiu involuntariamente, era a coisa certa a se dizer. Não verdadeira, mas certa.

— Por quê?

Perguntar aquilo era a cara da Bella, ela perguntava o porquê de coisas que não tinham explicação. Simplesmente aconteciam. Eu nunca a explicava. Antes. Agora, eu tinha de explicá-la porque existia, sim, uma explicação coerente. Eu que não queria dá-la por ser uma mentira deslavada.

— Porque… — Eu franzi meu cenho. — Eu não conseguia aceitar que você queria se matar. Você não era disso. — Avancei até estar dentro de seu quarto, uma mão estendida para pegar a trança que caia por seu ombro direito.

Eu acabei pegando apena o ar. Isabella se afastou três passos, seus ombros levemente encolhidos.

— Não…

— Nós não podemos querer tirar a nossa própria vida. — Eu continuei, abaixando meu tom de voz. Tudo que eu queria era introduzir o assunto que me daria às queridas respostas. Assim, rápido. Que pessoa incrivelmente tola que eu era! — A vida é um presente e não temos esse direito…

Não temos esse direito? — Ela praticamente explodiu, o rosto avermelhando-se. Foi a primeira vez em minha vida que vi Isabella Swan gritar. — Podemos morrer tomando um veneno, asfixiados ou sangrando até morrer! Se não tivéssemos esse direito não seria tão simples assim!

— Você está sendo equivocada. — Murmurei.

Aquela teoria da simplicidade era ridícula. Ela estava insana.

— Não me diga o que eu sou ou o que deixo de ser, Edward!

E saiu do quarto em disparada.

Eu a dei um tempo, é claro. Dei-me um tempo também, minha paciência não era tão elevada como Isabella achava que era, gritando descontroladamente daquele jeito por um motivo banal ao extremo. Eu estava com raiva, sequer conseguia respirar do tanto que aquela coisa me suprimia. A raiva praticamente implorava para que eu fosse atrás dela e agarrasse o seu braço até que ela escutasse tudo que eu queria dizer.

Isabella parecia uma criança que, quando perdia um de seus brinquedos, se debatia contra o chão em uma crise de raiva e histeria ao mesmo tempo. E, de fato, ela queria se debater contra o chão na primeira noite que eu a vi. A diferença era que ela só bateria uma vez, definitivamente. Ela não choraria ou se levantaria.

Eu não sabia por que eu a havia impedido.

Vinte minutos depois, eu fui à sua procura. A recepcionista disse que a havia visto andar rapidamente na direção esquerda, não parecia transtornada ou descontrolada, então já descartei a possibilidade de ela ter se jogado na frente de um ônibus em alta velocidade enquanto eu não estava por perto.

Eu não demorei muito a achá-la.

Isabella estava em um parque habitado por crianças e seus pais com cachorros, sentada sozinha em um banco e olhando as crianças brincarem com uma expressão tranquila em seu rosto de choro recente. Ela parecia a Bella sentada com seus braços ao redor de suas pernas, seu queixo fino e anguloso pousado levemente nela. E também tinha os olhos azuis pressionados por causa de sua alta sensibilidade ao sol — se é que ela ainda o tinha.

Parecia saudável e sã mais uma vez. Eu acho. Não duraria por muito tempo.

Quando eu me sentei ao seu lado, calmamente, ela sequer desviou o rosto na minha direção, como pessoas raivosas como ela faria. Ela apenas… suspirou.

— Por que você não me deixa em paz, Edward? — Perguntou.

— Porque eu não quero.

Aquela poderia chegar a ser uma das maiores verdades que um dia já a falei.


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Notas finais do capítulo

A Tanya tem um emprego? A Bella está em um parque com crianças e seus pais? Por quê ela parou exatamente aí? Quero ouvir teorias, HUASHAUSHAU. O próximo capítulo é sobre a morte da mãe de Bella.
Boa noitee!