She'd Fly escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 13
Capítulo 12 — Partindo-se.


Notas iniciais do capítulo

Gente, esse capítulo é mais "calmo", mas o próximo que é narrado pela Bella conta com a participação especial no nosso querido Charlie Swan. Isso mesmo, SDF precisa de ao menos um capítulo com a participação dele! "corações" e esse daqui tem o nosso ~doutor~ Carlisle Cullen que não é tão ruim quanto o Edward faz parecer. Ele melhorou, sim? Enfimmm, quero agradecer às meninas lindaaaaaas que comentaram no capítulo anterior. Fiquei muito feliz mesmo! Vocês são 10! Venham todas aqui me abraçar, por favor! HAUSHAUSHU. Sério, suas lindas, vocês são ótimas! Nem sei como expressar o quanto gosto do apoio de vocês! Beeeeeeijos! Até mais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/450868/chapter/13

Junho de 2006.

Bella.

Edward sorriu infantilmente, procurou meus olhos e me beijou uma última vez ao me deixar na porta da minha casa. Eu estava corada, é claro, naquela hora eu achava que as minhas bochechas haviam se acostumado com o excesso de sangue nelas e decidido adotá-los como um visual permanente. Que ótimo.

Abri a porta da minha casa pensando sobre o quão desconfortável eu me sentia notando que toda a Seattle High School sabia do meu namoro com Edward. A sensação não era uma das melhores.

Dois dias antes havia acontecido o tal jogo que Edward me convidara, ele até comprara uma camisa dos Tigers para mim e um chapéu roxo que tinha as cores do seu time. Achei, com a minha percepção boba de garota perdidamente apaixonada, adorável a atitude. O time que ele participava ganhou, como ele me dissera, e em meio a euforia de ter sido autor do ponto campeão, assim que saiu do vestiário onde ele tirara as ombreiras, ele apertou-me em um abraço de urso e me ergueu do chão, beijando-me os lábios ansiosamente. Nós ainda estávamos na arquibancada cheia de alunos que nos olhavam. A expressão deles era chocada e levemente divertida, eu percebi quando Edward me soltou e eu olhei ao meu redor.

E ele parecia tão desnecessariamente bonito quando sorriu de modo travesso na minha direção com as bochechas coradas pelo exercício físico e os cabelos um pouco molhados de suor, os olhos estavam sorrindo eufóricos e brilhantes. Lindo demais para um garoto de apenas 15 anos.

Depois de tomar um banho em sua casa, ele me puxou até uma lanchonete para comemorar o jogo que ele sabia que ia ganhar. Alice foi com Jasper, um amigo de Edward o qual Edward dizia ser velho demais para ela, ele também fazia parte do time de futebol americano. A irmã adotiva apenas revirava os olhos e ignorava, agarrando-se ao braço de Jasper e saindo de perto da desagradável companhia de seu irmão, segundo ela.

Já eu, não. A companhia de Edward era uma das melhores ou a melhor.

O baile foi no dia seguinte e Alice me chamou para a sua casa de manhã cedo, ela dizia que precisávamos nos preparar de agora. Tudo que eu fiz, quando eu finalmente cheguei depois de tanto protelar em minha casa, foi me deitar em sua cama e dormir. Eram oito horas da manhã de um sábado, pelo amor de Deus!

De dez horas eu finalmente atendi aos chamados raivosos dela e saí da letargia que me envolvia e me chamava de volta ao sono. Ao passar no corredor, Edward riu do meu rosto superanimado e me beijou nos lábios antes de Alice me chamar de novo porque estávamos atrasadas para o horário que ela tinha marcado em um salão.

Eu detestava escovar o cabelo, gostava — e Edward gostava também — dele ondulado, mas Alice insistiu que ficaria mais bonito daquele jeito. E implorou também. Ela sabia que eu não conseguia insistir em uma coisa por muito tempo — mesmo sendo teimosa de vez em quando — e sorriu com vitória antes mesmo de eu concordar.

Fizemos as unhas e a maquiagem. Coisas que garotas fazem quando vão para o baile. Eu não podia estar mais entediada.

Meu vestido era bonito, bege com brilhos prateados na barra do vestido longo e sem alças. Alice, quando tínhamos ido comprar, tinha dito que era a minha cara. Eu concordei vagamente, mas naquele dia, quando eu me olhei no espelho do quarto de visitas, eu me senti linda. Tipo, de verdade. Como se, após aquele dia, eu nunca mais fosse ficar feia novamente.

Eu ainda estava me olhando no espelho quando escutei três batidas em minha porta. Era Edward, eu sabia disso porque Alice provavelmente não tinha terminado de ser arrumar ainda, eu ainda não entendia o porquê de ela levar tanto tempo para colocar um vestido e arrumar seu cabelo. Eu havia feito isso apenas em vinte minutos, demorando mais por causa do zíper do vestido que era difícil de fechar sozinho.

No meu cabelo eu fiz apenas uma trança fina que caia na parte de trás, Renée costumava fazer daquele jeito em mim quando eu era pequena e meu cabelo não parava de ficar armado. Ela dividia meu cabelo de lado, pegava uma mecha de cada lado e fazia uma trança fina e simplória na parte de trás na tentativa de controlar a juba que era antes. Meu cabelo ficou mais controlado com o passar do tempo e Renée parou de se preocupar com isso.

Edward estava lindo, é claro. Ele sempre estava. Naquele dia, ele estava lindo de uma maneira diferente… Eu nunca o havia visto de terno nem muito menos com o cabelo totalmente alinhado. Estava estonteante. O terno que ele usava era preto e caía perfeitamente, sem sobrar ou faltar espaço, ele também usava uma gravata borboleta preta.

— Eu sou a pessoa mais sortuda desse mundo. — Ele disse e deu poucos passos até conseguir enlaçar o braço em minha cintura e me puxar para um abraço que, juntamente com os saltos, me desequilibrou. — Estou com a garota mais bonita da festa. — Murmurou, enterrando o rosto em meu pescoço.

Eu sorri e toquei a sua nuca, procurando os fios bagunçados nos quais eu gostava de afundar os dedos. Não os achei, eles estavam arrumados demais.

— Você também está lindo. — O disse.

Ele sorriu.

— Estou me sentindo ridículo nesse paletó e com esse cabelo. — Resmungou.

Só hoje.

Beijei a sua bochecha e depois os lábios. Abri um sorriso quando percebi que o meu batom avermelhado havia manchado a pele branca de suas bochechas. Limpei com o dedão.

Esme fez questão de tirar várias fotos, sorrindo para nós com o máximo de empolgação que poderia demonstrar.

O baile se passou previsível. Basicamente era um monte de gente dançando numa pista de dança abarrotada, escura o bastante para poderem se agarrar sem serem vistos. Edward foi o Rei do baile — isso eu não esperava, embora soubesse de sua reputação — e Chelsea, com seus longos cabelos loiros quase brancos, foi a Rainha que subiu com soberba no palco para pegar a sua coroa de plástico.

Então, tudo ficou pior — ou quis ficar pior, eu não soube bem — quando a plateia clamou por um beijo entre Edward e Chelsea. Meu rosto esquentou tanto que minhas orelhas arderam. De raiva. Era o calor do ódio que lhe sobe o rosto, os punhos. Eu esperei. A plateia esperou com ansiedade, mesmo algumas pessoas sabendo que ele tinha uma namorada — e ela, por acaso, estava lá, assistindo àquela palhaçada.

Edward, sempre cortês, beijou Chelsea na testa quando ela se inclinou, os lábios vermelhos já formando um pequeno bico para receber o beijo. A plateia fez um som de desapontamento e Edward logo tratou de sair do palco, com Chelsea atrás de si, furiosa por não ter ganhado o esperado e sonhado beijo.

Ela era patética.

Foi a mim que ele beijou nos lábios quando chegou até onde eu estava parada, emburrada. Se alguém tinha dúvida de que namorávamos, ela foi extinta naquela hora que ele puxou a minha cintura e me abraçou forte o bastante para que ele sentisse a minha pulsação acelerada. Edward me beijou longamente, puxando meu rosto para perto toda vez que eu tentava me afastar, envergonhada.

Ignorei todos os olhares chocados que me encaram quando Edward se separou de mim, sorrindo astuciosamente para o meu rosto vermelho. Eu sorri mais uma vez, erguendo minha mão para limpar o batom que havia marcado os seus lábios. Ele pegou a minha mão e beijou a palma, carinhosamente.

Enquanto ele me olhava ao beijar meus dedos, eu percebi: Eu o amava. Eu o amava.

Eu sabia que provavelmente mal sabia o que era amor, mas, em minha falta de experiência, eu amava Edward Cullen. Era isso.

Bebemos ponche, dançamos, nos beijamos longe dos olhares curiosos e depois, quando já era tarde o bastante para que o céu estivesse começando a clarear minimamente, fomos para casa.

— Você saiu também, mãe? — Edward perguntou, franzindo o cenho quando Esme foi nos pegar de carro.

— Não… — Ele negou, mas eu vi Edward avaliando o rosto dela, percebendo a sombra clara que ela usava, as roupas sofisticadas demais para ficar em casa, os lábios com algum brilho labial.

Esme era uma péssima mentirosa. Alice, para sorte de Esme, estava distraída demais mandando mensagem de texto para o seu par do baile, Jasper, para fazer alguma pergunta também.

Dormi na casa deles por ser tarde demais para voltar para minha casa e tentei distrair minha mente do tempo que estava deixando minha mãe sozinha. Eu consegui fazer isso com mais facilidade do que qualquer outro dia. Ou melhor, Edward conseguiu.

Eu me arrependi ao pôr o pé dentro da minha casa por minha enorme displicência. Arrependi-me por sempre pensar em mim primeiro, me condenei por ser tão… desse jeito com a minha mãe quando ela precisava de mim. Eu não deveria ter ido para baile nenhum, não deveria ter dormido na casa de Edward, deveria ter permanecido em casa, vigiando a minha mãe porque era isso que a impedia de…

Tudo começou quando eu fui procurá-la assim que pus os pés dentro de minha casa. A cozinha permanecia do mesmo jeito, a sala não parecia ter sido habitada desde a minha saída. Eu suspirei. Que boba eu era ao pensar que Renée se alimentaria sem eu estando por perto… ela precisava de monitoramento vinte e quatro horas e eu estava farta. Eu não sabia se conseguia… aguentar aquilo por muito mais tempo.

Tudo que eu queria era ser uma adolescente normal que cuidava, no máximo, de si própria e fazia seus deveres a tempo. Queria namorar e ficar na rua quanto tempo eu quisesse, queria sair e não ter de me preocupar com a hora de voltar. Queria ser apenas… normal. Como todo mundo o era. Eu estava cansada.

A porta do quarto dela estava trancada e eu chamei seu nome várias vezes para que ela a abrisse para mim, é claro. Nenhuma resposta. Eu suspirei e encostei minha testa na porta, fechando meus olhos para que as lágrimas não caíssem. Era incrível o quanto eu podia ser feliz em um dia e desesperadamente triste em outro. Eu estava cansada daquela troca de humor, eu queria estabilidade, pelo amor de Deus!

— Mãe… — Eu roguei, a voz fraca por causa das lágrimas. — Abre a porta, por favor.

Nenhuma resposta. Eu não estava escutando nem mesmo uma respiração. Preocupada, eu me afastei da porta e me joguei contra ela, batendo o meu ombro na madeira sólida, escura e envernizada com força. Gemi ao sentir a dor se alastrar por todo o comprimento do braço. A porta sequer se mexeu. Tentei dar chutes, cotoveladas que acabaram não fazendo nada além de me machucar.

Respirei fundo, frustrada e trêmula. Era demais para mim. Aquilo era demais para mim.

Não tínhamos nenhuma chave extra, Charlie não gostava de fazer desses tipos de chaves para quartos, ele prezava demais a privacidade.

Joguei-me contra a porta mais uma vez, movida por todo o desapontamento que eu sentia com a minha vida. Fui empurrada bruscamente para frente, e consequentemente, para dentro do quarto escuro e que já estava começando a ficar com cheiro de mofo pela quantidade de dias que ela não me deixava entrar nele para, ao menos, passar uma vassoura e tirar a poeira.

Respirei fundo e reprimi minhas lágrimas antes de fechar a porta atrás de mim e passar os olhos pelo quarto, a procura de qualquer rastro de minha mãe. Eu encontrei um rastro, é verdade. Mas não o que eu estava procurando exatamente.

Da cama dela até a porta da suíte que tinha em seu quarto havia pingos de sangue. Vermelho sobre o branco do carpete. Meu coração disparou dentro de minha caixa torácica e soltei o ar que eu prendia pela boca, arfando de surpresa. Não estou pronta para perdê-la. Não estou pronta. Não estou. Nunca estarei.

Eu também não estava pronta para a cena que vi no banheiro, assim que abri a porta dele. Quero dizer, eu só tinha catorze anos, catorze, existiam várias coisas que eu não estava preparada ainda! Duvidava até que os adultos estivessem prontos para ver sua mãe caída no chão do banheiro, os dois pulsos cortados horizontalmente e uma poça de sangue ao seu redor.

Minha garganta travou, eu travei, meu corpo todo travou.

Eu não conseguia respirar, nem muito menos raciocinar. Estava tentando acordar daquele pesadelo que minha vida havia se tornado.

Acho que demorei muito para tatear meus bolsos, atrás do meu celular, mas o fiz em algum momento do meu choque e pânico. Liguei para a ambulância e algo em minha voz trêmula, esganiçada e falha fez com que eles chegassem em dez minutos. Tempo demais para eu que fiquei parada, travada e incapaz de me aproximar um centímetro que fosse dela.

Decorei aquela cena em meu cérebro, eu nunca a esqueceria. Era impraticável.

Vinte minutos depois eu estava lá no hospital, sentada numa das cadeiras acolchoadas que a sala de espera possuía. “Perdeu sangue demais” foi a única coisa que eu escutei quando eu estava dentro da ambulância, sentada perto da maca onde Renée estava desmaiada. Ela ainda estava viva, me informaram com um olhar piedoso e que despejava pena sobre mim quando eu não precisava. Eu já sentia pena de mim o suficiente para precisar das de outras pessoas. Obrigada.

Chorei baixinho nas cadeiras, o rosto molhado enterrado em minhas mãos para demonstrar um pingo de dignidade. Eu chorei até que meus lábios estivessem rachados, minha garganta, seca por causa dos baixos soluços que eu soltava. Meus olhos já tinham parado de produzir lágrimas também quando alguém se sentou pesadamente ao meu lado, tocando a parte de trás de minhas costas.

Eu me recompus antes de levantar o meu rosto, respirando pela boca e pegando uma lufada de ar para me controlar.

Era Carlisle, eu reconheci mesmo com os olhos ardendo em lágrimas que queriam se formar mais uma vez. Os olhos verdes os quais o filho tinha herdado estavam complacentes, piedosos como se quisesse me ajudar e não soubesse como o fazer. Era o mesmo olhar que Edward me mandou no enterro do meu pai.

— Bella. — Ele cumprimentou.

Eu desviei os meus olhos marejados para o chão, envergonhada. Era um péssimo momento para os meus canais lacrimais voltarem a funcionar.

— Não se envergonhe de chorar. Todos nós fazemos isso algum dia.

Continuei em silêncio e limpei o meu rosto molhado com a mão antes de voltar meu rosto para cima.

— Renée… — Ele hesitou e olhou para o lado, tencionando a mandíbula. — Ela está bem agora, mas perdeu muito sangue.

Eu assenti.

— Eu entendo que você faz o possível para cuidar dela. Entendo que você faz o máximo, Bella, mas isso não é saudável para você. — Carlisle falou calmamente. — Você só tem catorze anos e deveria estar sendo cuidada, não cuidando de outra pessoa. O Serviço Social vai perceber essa situação assim que ficarem conhecendo o motivo da hospitalização de Renée… você ainda não tem dezoito anos…

— Não. — Eu sussurrei.

— Eu sinto muito.

— Eu sei me cuidar. — Eu disparei. — Se minha mãe… Se eu for para a lista de adoção, ela não vai ficar bem.

— Ela não está bem nem agora, Bella. — Aquela informação que eu estava me cegando para não ver era verídica e dolorosa ao mesmo tempo. Eu não estava sendo o suficiente para fazer a minha mãe ficar bem.

Nunca seria. Não entendia o porquê de ainda estar tentando.

— Ela vai ficar pior sem eu para ajudá-la.

Se Renée não ficava bem nem comigo tentando e fazendo todos os esforços para ajudá-la, por que ficaria com alguém que não a conhece? Talvez fosse o certo, mas ainda me parecia extremamente incoerente. Talvez eu não fosse especializada, talvez eu não fizesse as coisas do jeito certo. Talvez eu fosse mesmo uma inútil. Eu já estava conformada.

— Bella, é melhor para vocês duas. Você vai para um lar onde não tem de cuidar de ninguém… Renée vai ser cuidada…

Eu neguei com o rosto nervosamente.

— Você não pode se esconder por muito mais tempo.

— Eles não vão me levar à força. — Eu disse, embora não tivesse muita certeza disso.

Carlisle suspirou, apertando uma mão contra a outra.

— Por que você não procura uma psicóloga e uma psiquiatra para ela, Bella? As coisas podem melhorar… — Ele ponderou, passando os olhos verdes pelo chão. E, depois, passou a falar com mais fluidez e agressividade, quase como se estivesse com raiva: — Sabe, eu realmente entendo que a morte de Charlie foi um baque para a sua mãe, mas foi para você também. Ela tem que estar consciente disso. Você só tem catorze anos e está lidando com a situação com mais maturidade que ela.

Isso porque ele não sabia dos longos banhos em que eu passava chorando até chegar a ponto de desidratar, não sabia de todos os pesadelos, das aulas escolares em que eu simplesmente… tinha vontade de chorar. Do nada. Ele não sabia do tanto de pensamentos assustadoramente autodestrutivos que eu tinha. Se aquilo fosse encarar a situação com maturidade, eu não sabia a definição correta do que era ser maduro.

Apesar de seu tom, eu concordava com ele. Não podia negar para a minha própria mente. Minha mãe havia apenas… se entregado à tristeza, eu chegava a pensar que aquele era o jeito dela de partir junto com Charlie.

Mas eu estava bem. Eu tinha de estar.

— Carlisle, eu não estou…

— Eu vou lhe dar um tempo para pensar. — Ele falou calmamente, aninhou as minhas mãos geladas com as suas que estava quentes, tão carinhoso como um pai podia ser com sua filha. — Se você precisar de alguma coisa, Bella, de qualquer coisa, você pode contar comigo e com Esme.

Eu assenti.

— Renée não vai se acordar hoje. — Ele murmurou. — Talvez você devesse ir para casa e descansar um pouco, pegar umas roupas.

— Não posso deixá-la sozinha. — Eu disse de imediato, automático.

— Olhe só, meu plantão só acaba amanhã. Eu vou ficar de olho em sua mãe.

Eu hesitei.

— Vou ligar para Esme para que ela peça para o Edward vir te buscar aqui.

— Não, não precisa. — Eu me apressei a dizer.

— Bella… — Ele me censurou.

Tomei um café na cantina do hospital porque eu estava morrendo de sono e de fome, chorar desesperadamente gastava uma energia da qual eu não poderia dispor. Depois, quando terminei a breve refeição, despedacei em meus dedos um guardanapo branco, olhando-o como se fosse a coisa mais interessante a se fazer.

Eu não sabia onde minha mente estava e não queria encontrá-la. Normalmente, a covardia era mais acolhedora.

— Você deveria ter me ligado.

Eu suspirei ao escutar a voz de Edward, atrás de mim. Não queria que ele passasse seu sábado em um hospital só por causa de mim, ele devia ficar em casa e descansar por ter acordado cedo demais para me levar de volta para casa. Eu não queria ser um sacrifício na vida de ninguém.

Estava exausta demais para responder alguma coisa e Edward não esperou que eu o fizesse, seus olhos estavam calmos e nada exigentes quando se sentou à minha frente na mesa circular que só dava para duas pessoas. Eu abaixei meus olhos para a mesa, não por estar querendo chorar — eu acho que já tinha passado dessa fase — e sim por não saber o que fazer ou falar. Era por isso que eu não queria que ele viesse. Eu não sabia como tratar as pessoas quando eu estava triste ou abalada, sempre acabava sendo uma idiota que não falava nada.

— Bella… — Ele me chamou.

Ergui meus olhos para ele, sentindo o toque morno de sua mão na minha, abrigando-a.

— Vamos para casa.

Eu assenti, suspirando. Naquele momento eu achava que não aguentava mais nada por todo aquele dia, não aguentava mais nada por todo o ano porque tudo que havia acontecido já me levara ao máximo limite que eu conseguiria. Estava sobrecarregada. Eu sabia. O que eu não sabia mesmo era como pararia de estar. Tinha de continuar aguentando até…

Edward envolveu o braço ao redor de meu ombro quando eu me levantei da mesa minúscula e eu acabei o abraçando também, com força e com o rosto enterrado em seu peito. Não chorei ou solucei. Fui controlada pelo menos um dia em toda a minha vida. Acho que o “controle” se devia apenas a incapacidade de uma pessoa chorar tanto em tão pouco tempo, os meus canais lacrimais eram outros que estavam sobrecarregados.

— Você não está sozinha. — Ele me falou. Era o que eu mais queria escutar. — Você tem a mim.

Eu assenti. Edward beijou a minha testa longamente.

Ele ficou comigo enquanto eu arrumava as minhas coisas junto com as coisas de minha mãe, almoçou comigo e me convenceu a parar para assistir a um filme qualquer que estivesse passando na tevê. Minha mãe estava internada! Eu não deveria nem sequer estar parando em casa, tinha de ir logo para o hospital…

— Bella. — Edward me interrompeu, franzindo o cenho. — Você é rígida demais consigo mesma.

— Não sou. — Neguei.

— Você sabe que é.

Ele me puxou pelo casaco até que eu estivesse sentada no sofá. Eu suspirei, desistindo e me aninhando contra os seus braços que estavam abertos e confortáveis o bastante para que eu esquecesse por um segundo — um mísero e breve segundo — o motivo de eu ter de voltar para o hospital.

Ele beijou o lado da minha cabeça.

— Você tem de pensar em você mesma algumas vezes. — Edward disse calmamente, tombando o rosto para a parte de trás do sofá.

— Carlisle me disse isso hoje. — Meu olhar se perdeu na televisão ligada. — Só que eu penso em mim mesma. Penso em quem eu vou ser sem minha mãe, se eu vou… Eu não sei de nada. — A verdade e a percepção colocada em palavras foi uma tapa forte na cara. — Se eu ficar sozinha, eu não sei o que vai acontecer…

Quando meu pai era vivo eu sabia de tudo, tinha certeza para onde no futuro eu iria, eu sabia onde moraria, o que aconteceria. Eu tinha certezas e gostava de tê-las, na verdade. Sempre me apeguei ao fato de minha vida ser certa e planejada, eu iria para a universidade de medicina, iria arranjar um emprego e ter minha própria casa. Era o plano perfeito e agradável para mim.

Eu respirei fundo, tremulamente.

— Não pense nisso agora.

Eu assenti, silenciosa.

Acabei dormindo com a cabeça encostada no ombro de Edward, o filme se mostrando entediante demais para prender a minha atenção. E, além do mais, eu estava sendo acariciada no braço o suficiente para provocar arrepios — o que me causava sono. Foi inevitável não sentir minhas pálpebras pesarem e serem fechadas com um pouco de resistência de minha parte.

Não sonhei com nada — ainda bem! — e acordei confortavelmente deitada no peito de Edward em um lugar que era muito mais espaçoso do que o sofá. Eu choraminguei em minha mente, o sono estava tão leve e profundo que eu não queria me acordar nem tão cedo, poderia passar aquele resto de dia dormindo, eu não ligaria — embora me culpasse pelo resto de minha vida por ter deixado Renée por tanto tempo sozinha.

Fechei meus olhos de novo, absorvendo a calma do momento por uma última vez antes de levantar meu rosto. A primeira coisa que eu percebi foi que Edward era lindo dormindo, a segunda, que eu estava em meu quarto, deitada na minha cama com Edward. A situação foi tão imprópria que em milésimos de segundos minhas bochechas coraram violentamente.

Esperei que meu rosto estivesse pálido novamente para levantá-lo, fitando-o mais uma vez antes de soltar-me de seu torso.

Eu estava saindo da cama quando senti uma mão se prender ao meu casaco e o puxar. Edward. Sorri ao me deixar cair no travesseiro, o rosto pousando no mesmo travesseiro que ele estava usando. Tão próximos… na cama — minha mente não pôde se desprender a esse detalhe inconveniente.

— Por que você simplesmente não dorme, Bella?

— Talvez — Fingi pensar, o cenho franzido. — porque a minha mãe está no hospital?

Edward suspirou.

Dei-me conta de que eu era cheia de problemas demais para ter uma convivência normal com qualquer pessoa. Não foi por causa do suspiro que ele soltou, de modo algum. Eu me escutei falar e percebi que, poxa, eu realmente não gostaria de ficar com alguém tão amarga desse jeito, não gostaria de aguentar tantos problemas.

— Esme está cuidando dela, você não tem de se preocupar com isso.

Eu que tenho que cuidar dela, não outras pessoas. — Subi meus olhos para o seu rosto tranquilo.

— Se dê um tempo, Bella. — Ele apelou.

Ele e Carlisle pareciam incrivelmente parecidos nas suas falas. Talvez fossem mesmo parecidos por serem pai e filho, mas o modo como eles falavam é que me perturbava de verdade. Quero dizer, eu sabia que tinha de me dar um tempo, que pessoas nessa idade não tinham tanta preocupação, mas a minha vida deixara de ser normal há um tempo. Meu pai morreu, minha mãe passava a maioria de seu tempo dentro de um quarto, ignorando a minha existência… Eu não podia nunca me abstrair dessas realidades.

Eu queria falar isso tudo para Edward, mas me dei conta de que eu já estava o estressando demais com as minhas besteiras. Ele merecia alguém mais… livre.

— Me desculpe. — Eu pedi, sussurrando.

De relance, vi seu rosto se virar na minha direção, um grande ponto de interrogação em sua expressão digna de um anjo preocupado.

— Você não tem de se desculpar por nada. — Ele disse pacientemente.

— Tenho, sim! — Levantei-me, ficando sentada na cama enquanto tentava fazer meus olhos pararem de marejar. — Você deveria apenas… arranjar alguma garota com menos merdas do que eu.

Ele passou uma mão pelo seu rosto, respirando fundo.

— Isabella. — Edward me chamou, sua voz assumindo uma autoridade que normalmente não possuía ao proferir o meu nome. Ele se levantou da cama e eu quase sorri com o seu cabelo bagunçado. — Eu me preocupo com você, entendeu? Com merdas ou sem merdas, eu vou gostar de você mesmo assim.

Eu desviei meus olhos marejados para o canto do meu quarto onde estava a poltrona onde meu pai costumava me observar dormir quando eu era mais nova o bastante para cair da cama durante o sono.

— Acho que não há mais nada para você fazer sobre isso. — Ele concluiu.

Edward ergueu uma mão para o meu rosto e acariciou a minha bochecha com o polegar, sorrindo docemente em minha direção quando eu o olhei. Fui eu quem praticamente pulou em seu pescoço, abraçando-o com os dois braços, um abraço quase desesperado — ou completamente, eu ainda não sabia a definição certa.

Ele beijou o meu maxilar e fechou seus braços ao redor de minha cintura em um abraço.

— Você não sabe o quanto eu amo você, Bella. — Ele me segredou.

Pela primeira vez, eu senti o amor que eu sonhava em sentir. O amor que Charlie sentia por minha mãe, o amor que ela sentia por ele… um amor sólido e denso, intenso, impossível de escapar ou de recusar.

Amor o qual Edward sentia por mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O próximo capítulo promete, em ordem de acontecimento e tamanho:
— Pegação ~posso escutar o coro de aleluia?~
— Cartas nunca abertas.
— Revelações.
— Beward em dose 100000!
Não é ladainha não, hein? Então... Vamos fazer assim... Se vocês comentarem beeeeem muito, eu posto o próximo capítulo na segunda ou na terça! Rapídissimo, não é? É isso.
Beijos. Não se esqueçam de comentar! *corações*