Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 20
20


Notas iniciais do capítulo

AEEEE finalmente 20 capítulos! aposto que não esperavam isso tão cedo, hmm? pois é, fiquei inspirada :v
espero que chor- ops, gostem, q esse é ~pov aber



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É fácil dizer que a coisa mais embaraçosa que jamais me aconteceu foi ter sido cutucado por um Avox até acordar na cama da escolta dos tributos. Eu saltei da cama ainda enrolado em um lençol e quase dei um soco na cara da coitada; a Avox devia ter uns vinte e poucos anos, e pareceu completamente alienada ao fato de ter um cara de quase quarenta anos praticamente nu na frente dela, com uma mulher tão nua quanto ele deitada na cama, de olhos arregalados.

– Ai céus, me desculpe – Effie começou – Nós não-

Com isso a Avox adquiriu uma expressão de total descrença. Fiquei confuso por um momento, mas logo percebi que Effie não estava falando com sotaque nenhum.

– Ah, fala sério! – protestei – Você está completamente ok com acordar duas pessoas desse jeito – apontei para os lençóis, ultrajado – mas acha esquisito quando uma Capitalista fala sem sotaque?!

A Avox continuou de boca aberta, encarando Effie, que suspirou e se virou para mim:

– Pode ir se vestir, Aber? Dá pra assistir aos Jogos na sala, mas pelo menos bote umas calças.

Assenti relutante, resmungando:

– Ontem você não estava aborrecida pela minha falta de calças...

Sem nem precisar virar-me, pude imaginar Effie ficando vermelha como um tomate. Ri para mim mesmo e entrei no banheiro do corredor, ao lado do quarto dela. Deixei ambas as portas entreabertas, pois iria apenas lavar o rosto, mas parei o que estava fazendo quando ouvi Effie começar a conversar com a Avox.

– Mil desculpas por ter de nos encontrar assim... eu teria acordado mais cedo se o alarme estivesse... ah, deixa pra lá. Eu gosto de dormir até tarde, mesmo – essa é a minha garota – Enfim... qual o seu nome?

Ouvi algo como um aparelho sendo desbloqueado; aquele sonzinho esquisito que você faz quando desliza o dedo na tela pra abrir, e depois certa pausa.

– Ena? De que distrito você é? 9? Mesmo? O que você para, sabe... ah. Entendo. Bem, de qualquer jeito, sinto muito por tudo isso. Ah, não me olhe assim! – ela riu – Não é como você pensa. Não, realmente não é – ouvi o som de tecido sendo manuseado e supus que Effie estivesse se vestindo – Ah, eu sei muito bem o que você acha. Um par de colegas de trabalho esmagados pelo estresse que precisam de sexo pra aliviar e só tem um ao outro, certo? Não, não é assim. Não posso contar a história inteira, mas nos conhecemos faz bastante tempo e... bem, eu, pelo menos, gosto mesmo dele. Espero que ele corresponda, mas sinceramente? Já nem importa mais. Com ambas nossas imagens na mídia e o ato de ódio que formamos, é impossível fazer qualquer tipo de relação oficial, quanto mais pública – Effie suspirou, provavelmente pensativa – Se os Jogos acabassem, eu não seria escolta nem ele mentor; seríamos apenas Effie e Haymitch. Preferivelmente Effie com Haymitch, mas acho que nunca saberemos – ela deu uma risadinha, mas eu queria dizer que saberíamos, sim. Eu fiquei tão feliz em vê-la de novo que, em pouco tempo, poderia dizer que a amava. Se pudéssemos ficar juntos, eu não hesitaria em contar ao mundo, mas infelizmente Effie estava certa; era impossível tornar nossa relação pública.

Depois de me vestir com a roupa mais distrito 12 que encontrei, me joguei no sofá com uma taça de vinho e bebi metade de uma garrafa até que Effie viesse para a sala e se acomodasse ao meu lado, com a cabeça loira deitada no meu ombro. Fiquei ridiculamente feliz que não precisássemos assistir aos Jogos inteiros na Sala de TV e cobri seus ombros com meu braço, pedindo a Ena que ligasse a televisão. Bufei quando começou o hino da Capital e fiquei dublando em cima de Caesar para algo como “Olá, cidadãos de Panem! Queremos que saiba que eu e Claudius estamos sem calças por baixo dessa mesa porque acabamos de ter uma rapidinha aqui no estúdio. Não é mesmo, Claudius?” até que Effie, rindo como se não houvesse amanhã, me falou pra parar.

Quando a Arena apareceu, Effie agarrou-se ao meu braço com tanta força que tive certeza que ficaria vermelho por um bom tempo. Eu mesmo não tive tempo de processar o que estava na tela antes do primeiro canhão soar, quando, no canto inferior, apareceu a foto azulada de uma garotinha de uns doze anos de idade com o número 7 embaixo. Senti meu estômago embrulhar e inclinei-me para frente, arrastando Effie comigo. Alcancei o controle remoto e escolhi assistir apenas os meus tributos, me deparando com uma visão à qual eu estava horrivelmente acostumado: dois adolescentes do distrito 12 sendo perseguidos por um tributo de um dos menores distritos, transformado em um assassino, carregando armas letais.

Effie soltou uma exclamação de surpresa e se agarrou ainda mais a meu braço; percebi que ela começara a tremer, mas não me aproximei ou tentei confortá-la. Era sua primeira vez com tributos, e eu não conseguiria atenuar a repentina e inesperada dor da perda. Levávamos aquelas crianças para a morte, mas ainda enlutávamos quando esta ocorria. Os Jogos eram uma coisa doentia e cruel, e mesmo eu, que deveria ter me tornado um coração de pedra muito tempo atrás, sentia uma feria reaberta cada vez que uma daquelas crianças morria.

Effie apertava meu braço como se a vida dela dependesse disso, mas em certo momento, simplesmente afrouxou. Foquei minha atenção na tela e prendi minha respiração ao ver a tributo girar o corpo e cortar as costas de Henry com sua espada. Sailee gritou e parou de correr. Com o rosto marcado pelo terror e total surpresa, ela encarou o corpo caído de Henry e a tributo que avançava para atacá-la. Em um óbvio impulso, ela agarrou a espada usada para desferir o golpe em Henry, caída no chão ao lado dele, e segurou-a na frente de seu corpo. O olhar de realização que atingiu o rosto da outra tributo for tarde demais; ela não teve tempo de se desviar.

O canhão soou imediatamente. A foto da garota morta, com o número 10 embaixo, apareceu na tela, mas eu logo virei minha atenção para Sailee, que se ajoelhava ao lado de um Henry moribundo. Eu não conseguia ver quão profundo era o corte, se ele sobreviveria, mas do jeito que ele tentava respirar, não duraria muito tempo.

– Henry? – Sailee sussurrou, com voz de choro.

– Sailee – ele disse, resfolegando – Sailee. Você tem que vencer. Me escute, olha... olha pra mim. Você tem que ganhar os Jogos. Volta pro Evan.

– Eu não consigo! – ela disse, as lágrimas começando a cair – Eu não posso ganhar. Sem você, não tenho chance.

– Tem sim. Sailee, você tem que voltar pro Evan. Voltar pra casa. Eu sei que você consegue, eu sei. Eu acredito em você. Volta pro 12. Você tem que voltar. E fala pro Evan que eu sinto muito... volta pra ele, Sailee. Por favor. Volta pra casa...

Quando o canhão soou, Effie já tinha a cabeça aninhada em meu peito, suas lágrimas molhando minha camiseta. Eu a abraçava forte, sem tentar fazê-la parar de soluçar, mas mantive meus olhos na tela. Se bem conhecia os Carreiristas, eles estariam espreitando meus tributos até que um deles morresse para acabar com o segundo.

Dito e feito. O garoto do 2 surgiu de um arbusto, correndo na direção de Sailee levando um machado pronto para o golpe.

– Não – eu sussurrei, involuntariamente. Effie tirou o rosto da minha camiseta a tempo de ver o tributo atingir o pescoço de Sailee, soltando uma exclamação surpresa quando o canhão soou. Dessa vez, quando ela se afundou em meu abraço, eu enterrei meu rosto em seus cabelos e beijei o topo de sua cabeça, segurando-a mais perto de mim. Não permiti que nenhuma lágrima escorresse.

Ena apressou-se em desligar a televisão, mas eu não me importava mais. Os soluços de Effie tornavam-se esparsos, mas eu realmente precisava de uma bebida. Esperei que ela silenciasse, acariciando-a como podia, e afastei-a. Beijei sua testa e levantei-me, o frescor do apartamento me atingindo como uma nevasca; tendo perdido o calor do corpo dela e estando molhado por suas lágrimas, ajeitei a camiseta e me dirigi até a cozinha. Não dirigi nenhuma palavra aos Avox, que se alinhavam perfeitamente, como em um funeral e com expressões de quem estava em um. Peguei o licor mais forte do refrigerador e uma garrafa do melhor gim e voltei para a sala.

Effie, sentada no sofá abraçando suas pernas, tinha o rosto marcado pela desolação completa. Sentei-me ao lado dela e estendi a garrafa de gim, envolvendo-a com um dos meus braços. Ficamos em silêncio por muito tempo até que ela dissesse, com a voz já contida:

– Eu entendo porque você é assim. Só sinto que tenha passado por isso tantas vezes sozinho.

Eu simplesmente assenti. Não conseguia retaliar com nenhum comentário sarcástico, muito menos comentar as outras escoltas. Uma pontada de afeição por ela me atingiu; nenhuma das escoltas anteriores parecia minimamente abalada pelas mortes que haviam causado.

Mais tarde, fizemos uma aparição na Sala de TV, ela com muita maquiagem, e eu com muitos martínis. As pessoas nos olhavam com escárnio, triunfo, uma ou duas com pena, mas nenhum com compaixão. À noite, dormimos na minha cama, abraçados e envoltos em pesar.

– Eu estarei com você da próxima vez – ela me prometeu em sussurro.

– E eu com você, princesa. Eu com você.


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Notas finais do capítulo

e aí? choraram? :3
não me matem, pfvr, obrigada
ah, não sei oq fazer no próximo capítulo - dar um pulo gigante no tempo e já jogar kat e peeta aí ou mostrar mais um pouquinho dos outros tributos? deixem suas opiniões nos comentários!
abraços infinitos! o/