Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 12
12


Notas iniciais do capítulo

1.048 VIZUALIZAÇÕES
1.048
MEU DEUS
OBRIGADA PRA CAR*ALHO
SÉRIO
AMO TODAS VCS
bom, ~pov Haymitch procêis o/
Aproveitem!



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Depois de nos abraçarmos, eu e Effie ficamos sentados de frente um para o outro na sala do prédio da prefeitura. Estávamos em silêncio, mas não um silêncio constrangedor, e sim uma quietude confortável. Ela parecia feliz em me ver, mas, mesmo que não mostrasse, eu estava infinitamente mais feliz. Fazia tantos anos que eu sentia sua falta, lamentando por ter perdido uma chance de um amor verdadeiro, que agora que ela estava sentada na poltrona oposta, parecia irreal. Ela até estava bonita, mesmo com o vestido bicolor e a peruca lilás, mas eu sabia da sua beleza natural. Mesmo que a última vez que a tivesse visto fora quando ela tinha quinze anos, eu me lembrava de seus cabelos loiros, de seus longos cílios naturais e seus olhos... ah, aqueles olhos azuis que me fitavam na sala da prefeitura. Ela era a coisa mais bonita daquela sala. Provavelmente do distrito inteiro, se estivesse com outras roupas.

Opa, opa, opa; a voz da minha consciência interveio: Quem disse que ela quer alguma coisa com você? Um bêbado inútil e debochado, além de fracassado. Ela deve ter sentido falta de conversar com você, não de te beijar. É, mas ela veio até aqui; ela se tornou escolta pra me ver de novo. Isso não conta alguma coisa? E se ela só quiser ajudar os tributos? É bem capaz de já ter se casado e tido uma ninhada lá na Capital com um filho da mãe hipócrita. E se isso não tiver acontecido? Como diabos eu vou saber se ela está disponível? Pergunte. Não, não, eu vou parecer idiota. Pergunte. Tá, vou perguntar. Cala essa boca, consciência.

– Então – eu quebrei o silêncio delicadamente – Como vão as coisas lá na Capital?

Ela suspirou.

– Não vão. Meu pai está quase morrendo, minha mãe já foi – ela fungou – meus amigos não são grande coisa. Antes de voltar a estudar pra ser escolta eu trabalhava de secretária, garçonete, qualquer coisa. Pelo menos tenho meu próprio apartamento.

– Você divide esse apartamento com alguém?

– Eu dividi com um amigo meu ano passado, mas ele se casou – ela fez uma careta – Foi o pior casamento gay que eu já fui. Muito brega.

– Então o seu namorado mora em outro apartamento?

Ela fez que ia responder, mas franziu o cenho e me encarou por um momento, antes de cair da risada.

– Namorado? HÁ! Que namorado?

– É que eu achei que...

– Não, Aber. Eu estou solteiríssima – ela riu – O último foi há um tempão, meu Deus. Não, não, sem namorado. O mesmo se pode dizer de você, não é?

– Eu nunca teria um namorado – respondi, só pra fazê-la rir. Com sucesso, ela deu uma risadinha e disse:

– Você sabe o que eu quis dizer.

– Sei. E não, não tenho ninguém faz muito tempo. A não ser, claro, as que cobram.

Ela pareceu um pouco desconfortável, mas revirou os olhos.

– Está demorando um pouco pra essa Colheita começar, né?

Tive a impressão de que ela queria ter dito outra coisa, mas mudou o rumo e resolveu falar do trabalho dela.

– É. Mas é sempre demorado por aqui. Os pacificadores são meio molengos e ainda tem muitos homens na mina a essa hora.

Ela assentiu.

– Aber?

– Diga.

– Como trabalharemos juntos?

Parei um momento. Não poderíamos ter uma relação aberta se quiséssemos que os tributos vencessem.

– Acho que o simples fato de termos nos conhecido antes de hoje já deve ser mantido em segredo.

– Você tem razão. Eu acho que poderíamos agir como se nos odiássemos – ela deu um sorriso malicioso – Seria divertido.

– Eu não diria divertido– dei um gole na garrafa novamente – Pra você, pelo menos, não seria. Eu sou um bêbado bem inconveniente.

– Você não está bêbado agora?

– Ah, não, o prefeito ficou me regulando hoje de manhã. E é preciso mais de uma garrafa pra me derrubar.

– Você tem sorte – ela sorriu – Meia garrafa e a ressaca do dia seguinte é de matar.

– Tenho é experiência – dei outro gole.

– Srta. Trinket – o prefeito abriu a porta pela metade – Já pode vir, estão todos aqui. Você também, Haymitch. Pegamos uma cadeira pra você.

Quando o prefeito desapareceu da porta, Effie se levantou para segui-lo e eu disse no ouvido dela:

– Se prepare para ver o bêbado inconveniente.

Dito e feito. No momento em que Effie se aproximou do microfone, eu dei um jeito de tropeçar no meu pé e cair na cadeira que o prefeito arranjara para mim, jogando-a no chão junto comigo. Quando Effie virou-se, fez uma cara de nojo, mas um brilho de divertimento acendeu seus olhos.

– Boa tarde, povo de Panem! Meu nome é Effie Trinket, sou a nova escolta da Capital para seus tributos! Hoje, aqui estamos no distrito 12 para a Colheita da 71ª edição dos Jogos Vorazes! Mas, primeiro, um filme! – ela olha para a tela com um sorriso congelado enquanto o filme sobre a rebelião e o começo dos Jogos é reproduzido - Bem, damas primeiro, não? – ela se dirigiu ao aquário de vidro que continha inúmeros papéis dobrados e enfiou o braço pela abertura. Mexeu um pouco, bagunçando os papéis até pegar um que lhe pareceu bem aleatório. Ela voltou para a frente do microfone e abriu o papel, dizendo em voz clara e acentuada – Sailee Herett!

O silêncio reinava. Uma garota de uns catorze anos começou a andar na direção do palco, com os olhos escuros arregalados de pânico. Ela tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo que prendia só metade, deixando o resto dos fios loiros soltos embaixo do rabo. Ela vestia o que deviam ser suas melhores roupas: um vestido creme de manga curta que ia até o joelho. De jeito nenhum que essa menina venceria os Jogos.

Ela se juntou a Effie no palco, parecendo em transe.

– A tributo feminina do distrito 12! – Effie tentou parecer animada – Qual sua idade, querida?

– Ca-catorze – Sailee respondeu.

– Adorável! Agora, veremos o garoto! – ela repetiu o processo do aquário e, ao alcançar o microfone novamente, leu – Henry Paleck!

O garoto que se moveu parecia ter uns dezessete anos. Tinha os olhos azuis meio aguados e cabelos castanhos cinzentos. Pobre coitado. Ele quase escapara da Colheita.

– E você, meu querido? Quantos anos você tem?

– Tenho dezessete anos.

– Esplêndido! Bem, senhoras e senhores, eu lhes apresento os tributos do distrito 12 dos 71º Jogos Vorazes!

Ela tentou começar aplausos, mas o silêncio foi mais forte. Effie tocou os braços dos tributos e indicou a porta atrás de nós, lançando-me um olhar triste quando passou. Eu os segui cambaleando, mesmo não estando tão bêbado quanto poderia estar.

– Bem – ela disse, ainda com o sotaque da Capital – Temo que tenham de se despedir de suas famílias. Os pacificadores cuidarão disso. Entrem, entrem. Sailee, pode ficar naquela sala. Não, Henry, querido, você vai na outra sala. Sim, obrigada. Até logo, eu e Haymitch estaremos esperando no trem.

No momento em que a porta fechou, ela começou a soluçar.

– Eu sabia que era ruim... mas nunca imaginei... – ela cobriu o rosto com ambas as mãos. Eu não pude evitar abraçá-la e, assim como na prefeitura, eu fui transportado de volta para o telhado do prédio dos tributos.

– Pelo menos agora você sabe – sussurrei.

Ela fungou e se afastou, limpando embaixo dos olhos com os dedos.

– Ainda bem que minha maquiagem é a prova d’água – ela brincou, esboçando um sorriso.

– Vamos, os tributos devem estar terminando de se despedir.

Olhei para trás para ver, pela janelinha da porta do trem, uma mulher morena com um bebê nos braços sair da sala de Henry e um homem segurando duas menininhas pelas mãos saindo da sala de Sailee. Ao vê-los, não pude evitar de lembrar da minha mãe com meu irmão quando foram se despedir de mim. Meu irmão não era de colo, mas era pequeno para sua idade e ficou em silêncio total enquanto minha mãe chorava em meus braços.

Indiquei a sala a Effie, dizendo que iria pegar um pouco de vodca no meu quarto. Ela revirou os olhos.

– Você não tem que estar sóbrio pra ajudar os tributos?

Eu não pude evitar uma risada.

– Teoricamente, queridinha, teoricamente. Já volto.

Quando retornei, já tendo dado uns cinco goles na garrafa, os dois tributos estavam sentados frente a frente, conversando com Effie. Joguei-me no sofá vago ao lado do garoto e tomei mais um pouco.

– Haymitch – Effie disse – Você tem algum conselho para Sailee e Henry?

– Olhem – eu suspirei – Assim como eu disse a todos os tributos antes de vocês dois, direi agora – me aproximei deles com um ar confidencial – Puxem o saco daqueles idiotas e talvez alguém te mande um presentinho inútil pra te fazer sentir melhor.

Effie fechou a cara.

– Algum conselho útil? – ela retrucou.

Dei um sorriso debochado.

– Certo. Sejamos úteis. Quais são suas habilidades? Conseguem esfaquear alguém? Sabem encontrar água? Têm alguma noção de sobrevivência?

Ambos os tributos abriram as bocas sem emitir um som, parecendo peixes.

– Maravilha – falei, tomando mais vodca – Vão dormir. Precisam descansar.

Sailee assentiu, mas antes que pudesse se levantar, Henry segurou seu braço, ainda com os olhos em mim.

– Sailee é boa com facas.

A garota olhou para ele, atônita.

– Para de falar besteira – ela sussurrou – Abater um boi não é nada pra filha de um açougueiro.

– Pode não ser, mas você deixou o boi bem mortinho.

Ela suspirou e deu de ombros.

– Tá, eu sei usar uma faca. E...? Não sou eu quem treina com o machado duas vezes por semana.

Henry ficou vermelho.

– Aquilo não é treinamento. Eu só corto as toras para o meu pai...

– Não é grande coisa, então? Sendo assim, estamos quites – ela levantou-se e foi até seu quarto, trancando a porta atrás de si.

Depois de um momento, eu falei um “Uau” bem exagerado, só pra irritar o garoto. Ele me lançou um olhar de desprezo e repetiu a ação da garota, deixando eu e Effie sozinhos na sala.

– Bem – ela disse, ainda com a voz aguda irritante típica – Isso foi constrangedor.

– Sotaque – lembrei-a, tomando mais um gole.

– Ah, certo – ela abandonou o sotaque e relaxou os ombros, como se falar normalmente fosse um alívio – Você não precisava ter sido tão rude.

– Ora, amorzinho – dei um sorriso de lado – Ser debochado é o que eu faço. Sem o sarcasmo, não serei nada.

– Mas precisa ser tão inconveniente o tempo todo?

– Suponho que sim – disse, mudando de posição para ficar mais confortável.

– Você não precisa ser assim comigo – ela disse, suavemente.

– Suponho que não – sorri – Mas entenda, se vamos fingir que acabamos de nos conhecer, terei de ser o mais irritante, inconveniente, babaca e cafajeste possível com você. E você terá de usar todo o seu sotaque e sua alegria idiota da Capital contra mim.

Ela deu de ombros.

– Sem problemas. Você sabe que aquilo não sou eu.

– Graças aos Céus não é – entornei a garrafa mais uma vez.

Ela esboçou um sorriso.

– Dá isso aqui – e arrancou a garrafa das minhas mãos. Ela roubou a minha garrafa!

– Ei!

Ela deu alguns goles até a garrafa ficar vazia e, ao afastar o gargalo dos lábios, soltou uma risadinha e um soluço.

– Eu acho que *hic* vou ter que fingir que *hic* quero que você pare *hic* de beber – ela falou molemente, entre soluços – Mas beber é tão *hic* legal...

Peguei a garrafa da mão dela.

– É, legal pra quem tem resistência. Vai com calma, Trinket.

Ela levantou um dedo igualzinho um bêbado que brigara comigo duas semanas atrás havia feito quando ainda estava tentando ser civilizado.

– Eu tô calma *hic* que nem *hic* um... – ela franziu o cenho, tentando imaginar algo calmo o suficiente para usar de exemplo.

– Saquei, Effie. Anda, vai pro seu quarto que eu vou te levar uma água daqui a pouco.

Ela deu de ombros e foi até seu quarto, jogando os sapatos gigantescos para debaixo da cama e se jogando no colchão d’água.

– Tá aqui a sua água – estendi um copo para Effie, mas ela abanou a mão em recusa.

– Deixa pra lá – ela se espreguiçou – Já tô melhor. Viu, não tô nem soluçando. Eu não tô bêbada... – sua voz foi baixando a cada palavra e quando vi, ela estava dormindo. Suspirei. Não era eu quem deveria ficar cuidando dos bêbados.

Cobri-a com um lençol qualquer que vi dentro do armário e saí do quarto.

– Boa noite, Effie Trinket – sussurrei antes de fechar a porta.


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Notas finais do capítulo

eu sei que a effie bêbada não tá aquela coisa maravilhosa, mas eu prometo que eles vão se pegar alguma hora (eu sei q vcs querem isso :} safadenhas)
muitos abraços! e... é, recomendem, favoritem, aquela coisa toda ;) até o próximo capítulo o/