The Forgotten escrita por Panda Chan


Capítulo 44
Querido Diário Otaku


Notas iniciais do capítulo

BOOOLINHOS! Esse capítulo está sendo postado às pressas porque eu fiquei atrasada ~~pra variar~~, mas não queria atrasar a postagem então me avisem sobre qualquer erro de português.
Após a quebra de tempo(-x-x-x-x-x) a leitura se torna opcional já que não vai ter grande relevância na história principal.
Para alegria daqueles que liam Querido Diário Otaku temos a aparição de Jundy nesse capítulo ♥
Boa leitura



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Existem coisas que você nunca cogita ter que enfrentar na vida, nos últimos dias eu enfrentei duas dessas coisas: ver meu namorado morrer para me salvar e voltar para a cidade onde passei toda a minha vida com a minha amiga vampira e um servo da Morte. Um dia vou fazer um flashback mental para saber quando as coisas ficaram tão estranhas.

Stella me ligou assim que soube sobre o Morfeu e disse que iria me visitar, eu disse a ela que não precisava e expliquei que estaria indo a Sparks com Nana, ela me deixou usar a nossa antiga casa caso tenha que dormir por lá e eu agradeci.

Parece que quando você perde alguém uma enorme plana neon escrita “Tenha pena de mim” se acende sobre a sua cabeça sem que você perceba, descobri isso quando Marina veio me dar os pêsames mesmo sofrendo com uma virose horrível.

– Estão prontos? – perguntei para Alex e Nana .

Nana estava de volta a toda sua glória de loira linda, inteligente e alegre. Ela vestia roupas emprestadas por Pudim e carregava uma garrafa térmica na mão na qual continha sangue. Todas as marcas de mordidas em seu corpo desapareceram por completo e sua pele voltou a ser lisa e bela como antes.

– Depende do que você entende como “pronta” – Nana sorriu timidamente – Estou com medo, mas pronta para encarar meus pais. Isso é estar “pronta”?

Sorri com a demonstração de sinceridade e bom-humor da minha amiga.

– Acho que é o mais próximo disso que você vai conseguir.

Ela sorriu com minha resposta.

Alexander se mantinha calado, ele vestia uma blusa azul claro com um coelho gigante mordendo um cupcake em cima de uma nuvem voadora igual a do Dragon Ball e a frase “ Genki dama ou Cupcakes?” escrita em cima. Parecia tanto com o garoto que apareceu na minha escola quando tudo ainda era normal que senti meu peito doer.

– Sua gêmea está vindo – Nana alertou.

Minha melhor amiga surtou completamente quando eu expliquei sobre a Lizzy e contei que ela tentou me matar. Ela não consegue compreender como eu posso conviver normalmente com a pessoa que tem a mesma face que eu e tentou me matar, nem mesmo eu sei como faço isso.

Elizabeth não estava com seu horrível coque o que dava uma visão completa do corte de cabelo bizarro dela. A franja estava grande e caía parcialmente sobre seus olhos, as mechas frontais do cabelo eram longas indo até o final dos seios enquanto a parte de trás era mais curta alcançando o meio da nuca dela.

– Oi – ela cumprimentou.

– Oi – respondi tentando ignorar Nana fugindo para longe da Lizzy.

– Está com o medalhão? – perguntou.

– Nunca o tiro – respondi séria.

Desde que saímos para o castelo do Drácula, minha irmã demonstrou um grande interesse pelo meu medalhão que estava escondido sobre um véu mágico. Não sei o que ela pode desejar fazer com ele e isso me assusta.

– Cuide bem dessa velharia – ela colocou as mãos dentro dos bolsos da calça – Era importante para a nossa mãe.

Não consegui controlar a expressão de choque que passou pelo meu rosto ao ouvi-la falar sobre nossos pais de forma tão direta, devo estar me aproximando mais dela.

– Confie em mim – sorri.

Alex me chamou. Acenei rapidamente para Lizzy e fui até ele.

– Hora de partir, meninas.

Nana segurou a mão direita dele e eu a esquerda, não demorou muito para que a escuridão nos engolisse.

–x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

Sparks é quente durante seis meses do ano, congelante durante dois e um vulcão durante os quatro restantes. Adivinha em qual período nós estamos?

– Que lugar quente – Nana já estava incomodada com o calor.

Estávamos atrás da minha antiga casa, em um local aonde ninguém iria nos ver. A grama estava grande, as folhas das árvores se acumulavam no chão e tive a impressão de que um esquilo estava morando nos degraus da porta dos fundos, mas aquele lugar ainda era meu lar.

– Bem vinda à Sparks. População nada amigável e a temperatura de um fogão são nossas principais atrações – tentei soar engraçada sem sucesso.

– Acho que eu já vou ver meus pais – Nana sorriu sem graça.

– Eu tenho que comprar um livro novo – olhei para Alex que estava quieto encarando um amontoado de folhas se decompondo no chão – Vai fazer alguma coisa, Alex?

Ele ergueu seu rosto em nossa direção, seu olhar parou em Nana e depois veio para mim. Senti um calafrio percorrer toda a extensão da minha coluna como se ele estivesse olhando através de mim.

– Não tenho nada para resolver aqui – a voz estava desanimada – Acho que o melhor é com você comprar o livro, caso alguém te ataque novamente.

Nana me olhou com a expressão confusa perguntando o que estava acontecendo, mexi os lábios formulando um silencioso “não sei” antes de olhar novamente para Alex que havia voltado a encarar as folhas em decomposição.

Mesmo que eu tenha passado mais de um mês longe da pequena cidade de Sparks, pude perceber que nada havia mudado. As ruas continuavam calmas e bem cuidadas, vizinhos faziam churrascos em frente a suas casas ou apenas brincavam com seus cachorros. Alguns corredores passaram perto de nós enquanto uma deliciosa brisa levantava meus cabelos.

– Esse lugar é tão pacífico – murmurei sem perceber.

– Senti falta disso – Nana sorria – Por pior que algumas pessoas daqui sejam as coisas boas dessa cidade compensam tudo.

O sorriso da loira desapareceu quando avistou sua casa no final da rua. Pude ouvi-la engolindo em seco enquanto mordia seu lábio inferior.

– Cadê a sua coragem? – dei um tapinha amigável nas costas dela.

– Acho que deixei junto com meu coração quando David arrancou de mim – ela conseguiu dizer essa frase sem desviar os olhos da casa onde viveu a vida toda.

– Se quiser posso ir com você – ofereci.

– Não – ela balançou a cabeça dando ênfase a resposta – Isso é algo que precisa fazer sozinha.

Abri os braços e a abracei com força o suficiente para ouvir suas costas estalando.

– Boa sorte, Nana.

– Obrigada, Alice.

Observei enquanto ela seguia para a sua casa parando diante da porta e apertando a campainha, quando sua mãe a viu gritou de alegria e a abraçou ali mesmo.

– Vamos indo – Alex tocou meu ombro direito com a ponta de seus dedos. Senti outro arrepio com aquele pequeno toque.

Não trocamos nenhuma palavra após isso enquanto andávamos até a livraria no centro da cidade.

Como no shopping local não havia nenhuma livraria, o pequeno sebo na avenida principal se tornou uma. A fachada da loja é propositalmente parecida com a da Shakespeare and Company , uma famosa livraria em Paris, e o interior agradável com estantes cheias de livros, mesas com lançamentos, poltronas vermelhas para aqueles que querem “provar” o livro e uma cafeteria no fundo que deixa o agradável aroma de café no ar.

Alex olhava para os livros com curiosidade enquanto passeava seus dedos pelas lombadas de couro. Reconheci a seção como sendo a de filosofia, aqueles exemplares deviam ser lembranças de quando o lugar era apenas um sebo.

– É como a minha livraria favorita de Paris – ele parecia mais animado.

– Isso é proposital – apontei para o lado oposto da livraria – Vou ver se encontro meu livro naquele lado.

Alex assentiu e voltou a olhar, encantado, os livros.

A seção dos livros atuais não tem todo o glamour do couro que a outra, mas tem todos os livros que me interessam. Meu olhar passeou pelo lugar buscando a capa do livro que tanto quero. Sorri ao reconhecer o exemplar do meu livro favorito.

“Querido diário”

De J. Foster

O livro estava em uma prateleira mais elevada e apenas meus dedos conseguiam encostar nele. Estava pronta para pedir ajuda do Alex quando uma grande mão tatuada pegou o exemplar e me entregou.

– Aqui está, ruivinha – disse a voz grava e levemente rouca.

– Obrigada – agradeci olhando pela primeira vez para o homem que me ajudou.

Aquela pessoa era muito maior do que eu, os cabelos pretos estavam bagunçados de um jeito charmoso que harmonizava com a camiseta preta sem mangas onde se lia “Venere o deus supremo, a Pizza” com uma fatia ilustrada abaixo e as calça jeans com rasgos em pontos estratégicos.

O que me deixou sem fala ao olhá-lo não foi sua incrível beleza, os olhos azuis ou as tatuagens que cobriam sua pele branca, mas sim o reconhecimento que senti.

– Você... – não consegui completar a frase e apenas fiquei boquiaberta encarando os olhos azuis.

Caramba, quando eu morrer quero reencarnar em alguém que tenha olhos azuis tão lindos quanto esses.

– Eu? – o divertimento no seu tom de voz me fez lembrar do Morfeu.

Depois que Felicidade me abençoou a dor pela perda do metamorfo se tornou aturável, mas ainda existe.

– Você é o marido da Jullie Foster! – imagens dos dois estampavam diversas revistas e programas de fofoca na televisão – Andrew Kyle Foster!

– É o que diz na minha carteira de habilitação – ele riu batendo em sua testa – Quase tinha me esquecido disso, você é a primeira pessoa que me reconhece primeiro como o marido da Jullie e não como o vocalista gostoso de uma banda de rock famosa.

Fiquei boquiaberta encarando a naturalidade com a qual ele agia comigo. Percebi que ele não estava sendo sarcástico, mas estava realmente feliz por ter sido reconhecido como o marido da J. Foster.

– Eu sou uma grande fã dos livros da sua esposa – me apressei em dizer e ergui o exemplar que ele pegou para mim como se aquilo explicasse tudo – Também adoro as suas canções principalmente a “Grace”.

– Obrigado – ele tinha um sorriso tão lindo quanto o do Thomas – Essa é a canção favorita da Jullie.

– Sério? – ter algo em comum com minha autora favorita? Será que alguém me jogou um feitiço de ilusão e não avisou?

Andy não me respondeu. Alex parou ao meu lado com cara de poucos amigos enquanto analisava o vocalista.

– Acho que seu namorado está com ciúmes – Andy colocou uma mão na frente da boca como se aquilo ajudasse a abafar o som da sua voz.

– Não sou o namorado dela – Alex estava sério. Resolvi intervir.

– Andy, esse é o Alexander, meu grande amigo. Alex, esse é o Andy o marido da minha autora favorita. Por último, eu sou Alice Knight – estendi minha mão amigavelmente – Uma grande fã do casal Foster.

– Eu adoro quando alguém nos chama de casal Foster – um grande e orgulhoso sorriso iluminou o rosto dele – Amo quando me lembram que consegui a mulher perfeita.

A expressão de Alex relaxou quando ele percebeu que Andy não oferece nenhuma ameaça a minha vida e é apenas um bobo apaixonado com estilo de bad boy.

– Alice, é melhor você pagar logo por esse livro enquanto não tem fila no caixa.

Olhei para ele com cara de cachorrinho pidão, mas Alex ignorou e se virou para conversar com Andrew. Suspirei descontente enquanto me dirigia ao caixa para efetuar a compra do meu livro.

Se eu não tivesse rasgado o outro para esconder o amuleto não teria que comprar um novo agora, mas nunca teria encontrado um astro de rock.

Quando voltei para o lugar onde eles estavam tive certeza que minha boca ficaria aberta para sempre na forma perfeita da letra “o”.

A mulher tinha quase o mesmo tamanho que eu, os cabelos castanhos estavam cortados pouco abaixo dos ombros e parecia deixa-la ainda mais bela assim. Usava um vestido bege de corte reto que mostrava com perfeição a barriga arredondada de grávida.

– Aquela é a garota de quem eu falei, Jullie – Andy passou os braços ao redor dos ombros dela em um gesto de carinho.

As palavras desapareceram da minha boca no mesmo instante em que os olhos avelã olharam para mim. Um sorriso tímido apareceu em seu rosto.

Os olhos dela lembravam os de Thomas.

– Você é a Alice, certo? – a voz doce e meiga dela deixou claro que não estava incomodada com minha presença – Estou muito honrada em te conhecer, sou Jullie Anne Elizabeth Way Foster.

A única coisa que consegui pensar ao ouvir o nome completo dela foi: tudo isso coube em apenas uma carteira de identidade?

– Meu nome é fã e sou uma grande Alice sua – as palavras saíram atropeladas – Quero dizer, meu nome é Alice e você é uma grande fã minha – bati com a mão na minha própria testa.

Em momentos assim tenho vergonha de ter nascido.

– Tive a mesma reação que você quando encontrei o autor do meu mangá favorito – Jullie estava radiante mesmo com a barriga que parece prestes a explodir – Os garotos me falaram que você acabou de comprar um livro meu. Se você quiser, posso autografa-lo.

Palavras desapareceram da minha mente e se Alex não tivesse arrancado a sacola plástica com o livro das minhas mãos, teria perdido essa oportunidade.

Eu me interessei pela Jullie quando soube que ela morou em Sparks durante boa parte de sua vida. Além de ter estudado na mesma escola que eu, ela é herdeira dos hospitais da família, esposa do Andrew, otaku e uma das poucas pessoas nascidas em Sparks que se tornaram alguém na vida.

– Aqui está – ela me devolveu o livro. Assim que eu o abri encontrei o seu autografo com vários chibis de anime e corações ao redor. Que mulher fofa.

– Obrigada – gaguejei.

Andy e Alex estavam entretidos em uma conversa sobre camisetas e lojas boas para compra-las. Não sei se o estilo estampa de coelhinhos combina bem com um vocalista famoso, mas acho que ele gostou.

– É tão estranho ver um namorado se dando bem com o Andy – Jullie comentou observando a interação dos dois.

– Alex não é meu namorado – quase em um sussurro completei – O meu namorado morreu há alguns dias.

Jullie ficou surpresa. Por que contei isso a ela? Algo tão pessoa não deve ser dito para uma desconhecida.

– Você passou por muitas coisas difíceis? – pensei na morte dos meus pais e do Morfeu antes de mover a cabeça afirmativamente – Então vou te dar um conselho: pegue todas as experiências ruins que teve e escreva um livro de sucesso, é a melhor maneira de homenagear quem você perdeu no caminho e humilhar aqueles que te fizeram mal.

Olhei com admiração para a mulher de sorriso doce ao meu lado. Esse conselho mais parece um desabafo, como se ela estivesse dizendo sua própria filosofia de vida. Virei o livro observando sua contracapa com o nome “Lucca” chamando minha atenção.

– Lucca era o nome do seu irmão, não é mesmo?

– Sim, esse livro é dedicado a ele – ela respondeu com o olhar nostálgico – Esse conselho deu certo para mim, espero que também sirva para você.

Eu já li o livro “Querido diário” algumas vezes sei que Lucca é o mocinho que termina com principal no final. De repente, uma frase dos agradecimentos me veio a mente.

– “Lucca foi o herói quando estava vivo, eu só estou dando a garota que ele merece” – recitei sem perceber.

– Eu sinto falta dele – ela riu como se achasse graça de seus sentimentos – Esse é o lado mais terrível da morte, ela fode com a sua mente mesmo depois de anos!

– Finalmente alguém que me entende!

Conversamos um pouco sobre trivialidades enquanto os garotos continuavam passando nomes de locais com estampas diferentes de camiseta e discutindo sobre quem venceria uma luta entre o Goku, do Dragon Ball, e o Eren, de Shingeki no Kyojin.

Jullie colocou a mão sobre sua barriga e se apoiou em uma mesa de lançamentos que estava perto.

– Droga – ela murmurou.

– O que houve? – coloquei as mãos em seus ombros. Será que tem algo errado com o bebê? Talvez eu deva usar um feitiço de cura.

Percebi que a frente do vestido dela estava um pouco molhada e um liquido transparente escorria por duas pernas.

– Ai caramba – murmurei.

– Andy! – ela gritou – A hora chegou, o bebê vai nascer.

– O que? – os olhos de Andy estavam brilhando de alegria – Caralho, eu vou ser pai – ele começou a dar socos no ar comemorando.

– Agora não – Jullie revirou os olhos e segurou minha mão apertando-a com força.

– Certo, amor. Sinto muito.

Alex e Andy apoiaram Jullie levando-a até o carro do Andy enquanto eu os seguia com a mão doendo.

– Seu carro é um Mercury 1950? – Alex perguntou animado ao olhar o carro azul de modelo antigo.

– Esse é o Mercúrio – Andy estava radiante, se era pelo filho que estava vindo ao mundo ou por Alex reconhecer seu carro não sei dizer – Amo esse carro.

– Mercúrio? – Alex repetiu o nome confuso.

– O cabeça de pudim dá nome de super heróis para todos os seus carros – Jullie gemeu de dor com outra contração.

Os meninos a deitaram no banco de trás do carro quando iam fechar a porta ela os interrompeu:

– Os dois vão conosco – ela olhou de um jeito tão psicoticamente ameaçador para Alex e eu que não pudemos dizer não.

Coloquei a cabeça dela sobre o meu colo enquanto Alex se sentava no bando do passageiro.

Um fato sobre mulheres grávidas: elas falam muito palavrão quando sentem dor e apertam muito a mão de garotas ruivas como eu.

O caminho para o hospital foi feito em tempo recorde com muitas leis de transito sendo desrespeitadas. Assim que chegamos a grande maternidade Way, uma equipe de médicos correu até o carro ajudando Jullie.

– A equipe desse hospital é muito eficiente – comentei enquanto eles colocavam a gravida maluca em uma cadeira de rodas.

– Eles precisam ser – Andy sorriu enquanto terminava de digitar algo em seu celular – Ela é a filha do patrão deles.

Andrew passou todas as informações sobre os intervalos das contrações para os médicos. O bebê da Jullie estava bem apressado para vir ao mundo o que colocava a vida dela em risco e aumentava ainda mais a dor que a pobre mulher sentia.

Não sei dizer quanto tempo se passou até que ela fosse levada para a sala de cirurgia com Andy logo atrás. Descobri que a mensagem que ele digitava no celular era para sua mãe que chegou ao hospital com uma grande mala preparada para o parto.

– Esse é o dia mais estranho da minha vida – sussurrei para Alex – E olha que eu sou uma fada e moro com sobrenaturais.

Alex riu.

– Não apenas o seu – o olhar dele ficou vago – Nasceu.

– O que?

Vários gritos de comemoração encheram o lugar. Olhei para Alex sorrindo.

– Acho que devíamos ficar para ver como é esse bebê – ele sorriu timidamente para mim.

Andy saiu sorridente da sala onde o parto aconteceu, conversou rapidamente com sua mãe e veio até nós.

– Muito obrigada por ficarem aqui, crianças – ele deu um tapinha no ombro do Alex – Meu filho é lindo como a mãe, esse garoto vai dar trabalho.

– Parabéns novo papai – o abracei.

– Nós podemos ver o garoto? – Alex perguntou.

– É claro que podem! – Andy estava radiante, chamou sua mãe e pediu para que o seguíssemos.

Andamos até o berçário e através do vidro pude ver o pequeno Lucca Kylle Way Foster.

Os olhos dele ainda estavam fechados e poucos fios pretos de cabelo apareciam em sua cabeça, mas de alguma forma eu sabia como ele seria. Pude vê-lo com os olhos avelã como os de Jullie caminhando com uma roupa de dinossauro, andando de bicicleta com Andrew ao seu lado em um skate. Eu o vi sentado no banco do motorista do Mercury dando o seu primeiro beijo, vi seu casamento com Jullie e Andy mais maduros chorando de felicidade. Consegui ver a vida toda daquele garoto como se fosse um filme e me afastei do vidro.

Andy e sua mãe continuavam a olhar o pequeno com grande admiração.

– Vamos embora? – perguntei para Alex que assentiu.

Não nos despedimos de Andy ou Jullie, apenas caminhamos para fora do hospital e nos sentamos na calçada.

– Eu consegui ver a vida inteira daquele garoto – confessei para Alex.

– Você é uma serva da Vida, isso é algo normal.

Alex não estava animado como quando conversou com Andy na livraria, parecia pensativo e triste.

– Aconteceu alguma coisa?

– Quando o irmão da Jullie morreu eu fui buscar a alma dele e hoje senti a presença dessa alma no filho dela. Foi a primeira vez que eu senti alguém nascendo e isso foi incrível.

– O irmão dela reencarnou no filho dela?

– Sim, ele a amava muito e deve ter pedido para a minha senhora deixa-lo perto dela.

Sorri com a ideia de que alguém que eu amo pudesse voltar para perto de mim mesmo que em outra vida.

– Vida e Morte são duas imortais estranhas – murmurei.

– Tudo é estranho nesse mundo.

Ficamos sentados na calçada fria admirando as estrelas que brilhavam no céu acima de nós.

Será que algum dia Thomas irá voltar para mim como Lucca voltou para Jullie?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Eu me diverti bastante escrevendo sobre meus antigos e novos personagens, mas estou um pouco decepcionada porque queria escrever ainda mais kkkk
Notem que a descrição sobre o parto e o hospital foi bem superficial porque não acho que seja algo realmente importante na história ( e a Alice não tem conhecimento médico para narrar com precisão a situação).
Mandem as opiniões de vocês nos comentários lindos ♥
~~ percebi que algumas pessoas só aparecem quando eu mato personagem, por que fazem isso? Quer que eu transforme essa história em Game of Thrones?~~
Beijinhos com minhoquinhas fini, o melhor lanche para autoras atrasadas kkkkk