Depois do café, a Rosa disse que ia se encontrar com o Vicente, a Ofélia foi conversar com o João Miguel e eu fiquei na sala assistindo televisão, até que a Tininha chega gritando:
– Malú, vamos brincar! - disse ela, segurando minha mão.
– Tá bom, vamos, princesa. - disse, desligando a televisão e a seguindo - Vamos brincar de quê? - perguntei, me sentando na grama.
– De pega-pega! - disse a Tininha, correndo.
– E quem é que pega primeiro? - perguntei.
– VOCÊ! - gritou ela.
– Não vale, você está me roubando! - disse, tirando a sandália e correndo.
– Vale, sim! - disse ela, correndo junto com o cachorrinho.

[Narração do João Miguel]

Quando eu fui buscar a Malú, sabia que não seria fácil, mas foi mais difícil do que eu imaginei! Ela é muito geniosa e tem uma personalidade forte, eu tive que carregá-la para que ela pudesse vir, eu e ela tivemos uma discussão daquelas, gosto muito do jeito dela, esse jeito agressivo, seguro de si, porque eu sei que no fundo, ela é uma menina doce e meiga que, se eu conseguir, a Malú vai deixar que ela se solte, para encantar a todos.
A Ofélia entrou no meu quarto:
– Aconteceu alguma coisa, João Miguel? - perguntou ela.
– Eu preciso que você me ajude a vigiar a Malú, ela precisa ficar aqui em casa, não pode sair de jeito nenhum até que eu tenha plena certeza de que ela não vai fugir, ou fazer alguma besteira. - disse.
– Mas essa menina é assim? - perguntou ela, espantada.
– Sim, ela é. Você acredita que hoje mesmo, ela mal chegou e já veio discutindo comigo, ela se fantasiou de Diabinha ontem na festa dela de 18 anos, ela faz de tudo pros pais ficarem mal, ela é a minha nova meta! - disse.
– Meta?! - perguntou ela.
– Sim, eu vou transformar essa menina, eu tenho certeza que vou conseguir! - disse.
– Boa sorte então, João Miguel! - disse ela, sorrindo.
– Ofélia, eu preciso que você me faça outro favor... - disse.
– Pode falar. - disse ela.
– Bom, é que hoje, antes de virmos pra cá, ela disse algo pros pais como se eles tivessem dito que eu sou um "bom partido" pra ela, ou alguma coisa assim, e eu preciso que você descubra se isso é verdade. - disse.
– Pode deixar, eu vou descobrir. - disse ela.
– Não conte nada pra Rosa, tá bom? É que ela pode entender tudo errado... - disse, sem jeito.
– Fique tranquilo, não direi nada! - disse ela - João Miguel, como você consegue ficar aqui com essas janelas fechadas? - disse ela, abrindo as janelas.
– João Miguel, vem aqui, rápido! - disse ela, me chamando.
Quando cheguei na janela, vi uma cena linda: Estavam a Tininha e o Quilate em cima da Malú e ela se acabando de rir, a Tininha saiu correndo com o Quilate e a Maú corria atrás deles.
– Você tem certeza que essa é a menina rebelde de quem você me falou? - perguntou a Ofélia.
Eu fiquei sem palavras, a Malu é mais interessante do que eu imaginava.

[Narração da Malú]

Fiquei brincando com a Tininha até a hora do almoço, quando a Balbina anunciou que o almoço já ia ser servido, eu disse pra Tininha pra ir tomar banho e fui pro "meu quarto", pra tomar banho e trocar de roupa (porque eu estava imunda!). Como aqui no quarto já tinha um balde pra roupa suja, então coloquei minha roupa ali e já tinha uma toalha em cima da minha cama, peguei e me enrolei, procurei minhas malas e quando fui até o Closet, minhas roupas já estavam lá todas arrumadas (se fosse lá em casa, eu que teria que desarrumar todas as malas), escolhi uma roupa, vesti, terminei de me arrumar, quando estava terminando de arrumar o cabelo, a Tininha entra no meu quarto com o Quilate:
– Vamos almoçar, pra depois irmos brincar mais! - disse ela.
– Tá bom, estou vendo que vou sujar muita roupa aqui nesta casa... - disse.
– Com certeza, a Balbina fica maluquinha quando eu sujo um monte de roupas! - disse ela, rindo.
– E você continua sujando, né mocinha? - disse, fazendo cócegas nela.
Ela ficou se acabando de rir.
– Senhorita Velarde, o almoço está sendo servido. - disse a Balbina.
– Nós já vamos, Balbina, mas me faz um favor? - perguntei.
– Claro, senhorita, o que você desejar. - disse ela.
– Me chame só de Malú. - disse, sorrindo.
– Como quiser, Malú... - disse ela, sorrindo.
– Vamos, Tininha? - perguntei.
– Me carrega, me carrega! - disse ela, estendendo os bracinhos.
Eu peguei e dei um beijo em sua bochecha, ela era tão linda, tão fofa, eu fiquei pensando em como a Viviana teria sorte se tivesse ficado viva, em cuidar da Tininha, ela é a pessoa mais doce e meiga que conheço, eu a adoro!
Quando descemos, já estavam todos na mesa nos esperando.
A Tininha no meu colo e o Quilate latindo e correndo na nossa frente, eu me acabei de rir, porque parecia que ele estava com ciúmes. A Rosa e a Ofélia, quando me viram com a Tininha, abriram um lindo sorriso, nem fiz questão de olhar pro Médico de Loucos.
Sentei ao lado da Rosa e a Tininha foi pra perto do Cura-Loucos, comemos em silêncio, quando terminei pedi licença a todos e fui pro meu quarto.
Quando me deitei, só fiquei pensando em como minha vida pôde ter mudado tanto em menos de 1 dia, ontem era o dia mais feliz da minha vida, e hoje foi o pesadelo, o Médico de Loucos não vai aliviar pra mim de jeito nenhum, sei que ele vai se empenhar em pegar no meu pé, em transformar minha vida num inferno, apesar da Tininha, Ofélia e Rosa serem muito legais comigo... Eu sinto tanta falta da Candinha, se ela estivesse aqui, estaria dizendo que ficaria tudo bem, e me abraçaria forte, como se eu fosse uma garotinha indefesa, ela cuida de mim desde que eu me entendo por gente, sempre esteve comigo em todos os momentos, bons ou ruins, ela sempre foi o meu alicerce, a pessoa com a qual eu sempre podia contar para o que fosse, eu não posso nem ligar pra ela e muito menos vê-la, estou sendo uma prisioneira!