Cuidado com o Anjo escrita por Ana Paula Puridade


Capítulo 14
Capítulo 14




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Me aproximei dela e me sentei na cama. Ela parecia um anjo dormindo! Sorri ao lembrar dela fantasiada de anjo, toquei seu rosto e ela foi abrindo os olhos...
– O que você está fazendo aqui? - perguntou Malú distanciando-se de mim.
– Eu vim conversar com você. – disse.
– O que você quer? Anda, fala! Deve ser algo muito importante pra você vir aqui e interromper meu sono! - disse ela.
– Malú, eu vim pedir perdão. – disse.
– Só isso?! Você poderia ter deixado pra depois, você interrompeu meu sono só pra isso? Agora pode ir! - disse ela.
– Eu venho aqui na humildade pra te pedir perdão e você me trata assim? – perguntei.
– Médico de Loucos, não tente enganar minha inteligência, ok? Eu tenho certeza que quem te pediu pra vir aqui foi a Rosa ou a Ofélia. - disse ela.
– Malú, eu quero te ajudar, eu quero te livrar desses seus medos, de suas angústias! Eu quero te ajudar a esquecer o desprezo dos seus pais, a esquecer o sentimento de abandono que tem dentro de você. Por favor, tente pelo menos uma vez acreditar que eu estou sendo sincero! – disse.
Ela tinha ficado paralisada. Ela me olhava espantada, eu tinha mexido nas feridas dela, eu tinha voltado todas as suas feridas.
– Co... Como você soube? – perguntou.
– Isso não vem ao caso. – disse.
– A Rosa, foi ela que te contou? - disse ela.
– Foi, mas não brigue com ela, ela quer te ajudar. - disse.
– Mas a pior parte, ela não sabe. - disse ela.
– Que parte? – perguntei.
– Não, não! Por favor, não me faça falar disso, eu te imploro! - disse ela se encolhendo.
– Isso é tão horrível assim? – perguntei.
– Sim, sim! Mais do que você imagina. - disse ela.
– Você quer conversar comigo um dia desses? Pra ver se consegue me contar alguma coisa, pra que eu possa te ajudar! Nós vamos no meu consultório e eu faço uma sessão de psicanálise com você. – disse.
– Não sei, quem sabe um dia! - disse ela.
– Tenha certeza que eu só quero te ajudar, não quero te magoar, te fazer sofrer, nem nada disso! Só quero tentar ajudar você a superar os seus medos e traumas. – disse.
– Obrigada! - disse ela.
– Olha, eu me importo com você, eu só quero o seu bem. - disse segurando a mão dela.
– Obrigada mesmo! Eu queria ter encontrado alguém que pudesse me ajudar naquela época. - disse ela.
Eu fiquei sem entender.
– Te ajudar como? – perguntei.
– Me proteger. - disse ela.
Ela parecia tão desprotegida, tão desamparada. Lágrimas já rolavam de seus olhos, ela tinha um olhar sombrio, como se ela estivesse revivendo algo, como se ela estivesse sentindo pavor no que via.
– Eu sempre faço de tudo pra esquecer, pra apagar da minha memória, mas eu não consigo! Tem mais ou menos um ano que eu não penso nisso, pra não me lembrar de tudo que aconteceu, pra não ter os pesadelos... - disse ela.
– Quais pesadelos? – perguntei.
– Os pesadelos que eu tenho toda vez que eu me lembro disso. - disse ela.
– Me fale, como é esse pesadelo? – perguntei.
– Não, não... Por favor, não! - disse ela se afastando de mim.
– Tudo bem, não falaremos sobre isso, mas um dia você terá que me contar. - disse ele.
– Mas não hoje, por favor, não hoje. - disse ela.
– Como você quiser, Malú... Mas fique bem, tá bom ? – disse.
– Vou ficar bem. - disse ela.
– Isso quer dizer que demos uma trégua? – perguntei.
– Pode-se dizer que sim! - disse ela sorrindo.
Concordei e saí do quarto dela. O que será que ela esconde? Que segredo é esse que a fez se encolher de medo?

[Narração da Malú]

Não! Nunca vou contar o que aconteceu comigo naquela noite, ele nunca saberá, ninguém nunca saberá! É horrível se ele souber, ele sentirá pena de mim... Não, ele nunca saberá e eu odeio que sintam pena de mim.

1 mês depois...
Os pesadelos voltaram desde o dia que o Médico de Loucos me perguntou sobre eles. É horrível, todas as noites eu acordo gritando. Logo no começo, todos acordavam pra saber o que é que eu tenho, mas eu nunca dizia. Eles sempre me perguntavam o que este pesadelo representava, ou como era ele, mas eu não conseguia dizer, eu só chorava. Eu e o Médico de Loucos não temos brigado, também não somos amigos, apenas estamos em paz. Ele insiste em conversar comigo, mas eu sempre digo que não. Ainda não estou preparada pra contar toda a minha vida pra uma pessoa que eu não tenho muita intimidade, isso vai requerer tempo, muito tempo. Meus dias se resumem em ajudar a Balbina com a sobremesa (coisa que já se tornou rotineira, o povo está adorando as sobremesas que eu tenho feito, mas a Balbina nunca fala que sou eu), almoçar com o pessoal, depois converso com a Ofélia e a Rosa, brinco com a Tininha de novo, janto e vou dormir. Tenho que admitir, está sendo muito monótono, fazendo sempre as mesmas coisas, eu queria sair ir numa festa, conversar com outras pessoas, poder ver a Rua um pouco, ao invés de ficar trancafiada nesta casa que eu só posso ir até o jardim.
Acordei, levantei-me, arrumei-me, desci pra tomar café, e fui fazer um dos meus bolos maravilhosos, (hoje era sábado, então, eu esperava encontrar alguém em casa).
– Bom dia, Balbina. – disse.


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