Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 46
Love's even more wild when you're angry


Notas iniciais do capítulo

BITCH I'M BACK BY POPULAR DEMAND
ahhhhhhhhhhhhh, mulekeeeeeeee, OLHA QUEM VOLTOU!!!!!!! Sim, gente, demorei, mas caramba, eu tô TÃO enrolada com trabalhos e provas que honestamente nem sei o que vai ser de mim só por eu ter pedido um tempão desse final de semana escrevendo pra essa fanfic. Mas honestamente, EU NÃO LIGO, porque esse capítulo estava pela metade praticamente desde que eu postei o último e ninguém é obrigado a destruir sua vida por causa de faculdade. No fim vai dar tudo certo, e se ainda não deu certo é porque não chegou ao fim #filósofa #frasesmotivacionais
Esse capítulo é continuação do anterior e um presente para os Peeniss/Everlark shippers que leem esta fanfic hehehe. Eu acho que vocês vão gostar bastante (eu pelo menos gostei).
AH SIM, a música tanto do título como do capítulo é Just in Love, do Joe Jonas (sdds Jonas Brothers camp rock Joe e Demi namorando etc) na carreira solo. Eu recomendo que vocês vejam esse clipe porque é realmente muito bonitinho e a música é gostosa.
Até as notas finais!



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“You're just running from the truth
And I'm scared of losing you
You are worth too much to lose
Baby, if you're still confused

Girl, I'm just in love with you
Girl, I'm just in love with you
No other words to use
I'm just in love with you
I'm just in love with you”

 

 

Quando Katniss terminou de contar detalhadamente a briga com o pai, a sala do pequeno apartamento no centro ficou morbidamente silenciosa. Peeta a encarava inexpressivamente, e ela não tinha mais o que dizer, então apertou os lábios e esperou que o loiro dissesse algo para romper o silêncio.

Abaixou os olhos cinzentos e colocou os pés no sofá, apoiando o queixo nos joelhos e abraçando o corpo com força. Peeta continuava sem dizer nada, e ela começou a ficar preocupada.

— Quer dizer que ele queria armar um flagrante falso pra mim. – Não foi uma pergunta.

Ela assentiu, sem ter certeza que ele perceberia o movimento e seus olhos se levantaram para encará-lo timidamente. Ele a olhou de volta sem expressão e em seguida deu de ombros.

— Eu não tenho nem o que falar. – Ele disse, e se ajeitou no sofá.

Eles ficaram em silêncio por instante, e Katniss se desesperou. Ela sentiu que eles deveriam estar falando, tagarelando; Peeta deveria estar xingando seu pai ao ponto de ela ficar chateada, mesmo com a armação que Haymitch aprontara; eles deviam estar gritando e ela chorando; eles precisavam desabafar o absurdo da situação de alguma forma.

Mas nenhum dos dois conseguia.

Ela sabia exatamente porque tinha ido procurar justo por ele, mas não era bem aquele silêncio que ela tinha em mente quando tomara a decisão de ir atrás de Peeta. Ao mesmo tempo, ela também não sabia ao certo o que esperava.

— Eu sei. – Ela respondeu, e sentiu a voz tremer novamente, mas se conteve. Não aguentava mais chorar.

— Eu fico pensando se você não tivesse chegado em casa naquela hora. – Ele divagou, a voz distante. – Se desse certo. Se você me visse na em algum lugar com essa garota que eu não faço ideia de como é a cara em alguma situação que pudesse mesmo me comprometer.

— Eu ia conversar com você. – Ela respondeu, de pronto. – Eu ia perguntar, e você ia me explicar que foi tudo um engano.

— Mas quanto tempo ia demorar até você acreditar?

— Isso ia depender do que eu visse. – Ela respondeu, mas se arrependeu logo em seguida. Não queria entrar naquela discussão, não era para isso que ela tinha ido lá. Não queria duvidar da honestidade de Peeta quando ele vinha tentando com tanto afinco provar que merecia sua confiança novamente. Não queria deixar sequer uma mísera impressão de que acreditava que ele fosse capaz de abrir a guarda para essa desconhecida contratada por seu pai para afastá-los.

Ele soltou uma risada sem humor algum, e Katniss fechou os olhos com força. Merda. Por que tinha dito aquilo?

— Peeta, não... – Ela começou, mas ele a interrompeu.

— Deixa para lá, Katniss. – Ele disse. – Deixa.

Ela sacudiu a cabeça furiosamente.

— Não. – Ela repetiu. – Não. Eu não quero que você ache que eu penso essas coisas de você.

— Mas você acabou de deixar claro que pensa. – Ele rebateu, e ela sabia que ele tinha razão. – E eu dei motivos.

— Não. – Ela sacudiu a cabeça com tanta força que chegou a doer. – Não, Peeta. – Ela sentiu as lágrimas molharem seus olhos novamente. Não ia suportar que tudo desse errado com Peeta também. – Eu confio em você. Eu sei que isso nunca ia para frente porque a gente ia conversar e você ia me explicar tudo. A gente não está numa novela, ninguém ia te dopar e jogar numa cama e colocar a garota do lado bem na hora que eu estivesse entrando aqui. E mesmo que eu te pegasse exatamente nessa cena, eu ainda ia te ouvir. – Ela fez uma pausa, refletindo, e depois se corrigiu. – Depois de gritar e bater a porta na sua cara, mas eu ia.

Ele não respondeu, e a expressão continuou contraída. Ela bufou e agarrou seu ombro direito, que estava a seu alcance, sacudindo-o firmemente.

— Olha para mim. – Ela exigiu, e ele virou o rosto. – Eu não teria vindo para cá se não confiasse em você. Eu tinha um milhão de lugares para os quais eu poderia ter corrido; a casa da Annie, da Johanna, um hotel... Mas eu vim para cá, porque você era a única pessoa que eu queria ver. – Ela admitiu, os olhos graves encarando-o intensamente. – A. Única. – Ela repetiu, a voz firme. – É de você que eu preciso agora. – Ela admitiu, os ombros arriando e a sensação de derrota a tomando completamente.  

Os olhos azuis de Peeta vacilaram, pegos de surpresa com a declaração e se tornaram cautelosos logo em seguida. Katniss pegou sua mão e entrelaçou os dedos dos dois, se agarrando àquele foco de calor vindo dele como se fosse um bote salva vidas.

— Eu preciso de você. – Ela repetiu, pausadamente para o caso de ele ainda não te entendido. – Não quero brigar.

Eles dois tiveram a sensação de que aquele era um momento muito importante e não só pelas coisas que estava dizendo um ao outro, mas pelas atitudes que tinham e pelas coisas que sentiam. Peeta se sentia dilacerado só de pensar na possibilidade de ser afastado de Katniss por meio de um plano tão mesquinho, e se sentia ainda mais arrasado só de pensar no quanto ela se magoaria com ele se desse certo. Katniss estava praticamente admitindo a força de seu sentimento por ele, e como aquilo a derrubava sempre que ela se dava a oportunidade.

De quantas maneiras diferentes você pode dizer “eu te amo” sem usar as três palavrinhas mágicas?

Ele levou suas mãos entrelaçadas ao rosto e beijou delicadamente a parte mais externa da de Katniss.

— Eu estou aqui sempre que você precisar.

Eles sorriram em sincronia, ela com os olhos ainda meio úmidos e vermelhos e ele sereno como o bom porto seguro que sempre seria quando ela precisasse. Nenhum dos dois soltou os dedos.

O celular de Katniss gritou, vibrando em seu bolso e assustando-a. Ela fechou os olhos e suspirou, sabendo que o momento tinha chegado: a hora em que viriam procurar por ela.

Ela tirou o celular lentamente do bolso, apenas para confirmar o que já sabia: sua mãe lhe ligava insistentemente, e ela quase era capaz de ver Effie decidida a não parar de ligar enquanto Katniss não atendesse.

— Não vai atender? – Peeta perguntou suavemente, os dedos ainda entrelaçados os dela.

— Não sei. – Ela respondeu, jogando o celular no sofá.  – Não quero, não agora. – Katniss choramingou. Ela não queria falar com ninguém que não fosse Peeta.

— Ela deve estar preocupada. – Peeta argumentou, usando seu melhor tom condescendente. – Ela não vai parar de ligar até ter notícias suas. Atende. – Ele sugeriu. – Vai ser ruim, mas vai ser rápido.

Katniss olhou para ele com os olhos imensos como uma criança amedrontada.

— Só diz que você está bem e que precisa de um tempo para pensar. – Ele disse, e o celular ainda não havia parado de gritar. Devia ser a terceira chamada seguida que sua mãe fazia para seu celular.

Katniss continuava com aquele olhar de criança que tinha sido chamada a dizer as respostas da lição em voz alta na frente da turma toda. Peeta a encarou com doçura e ergueu as sobrancelhas como quem diz “vamos lá, eu sei que você consegue”. Como ela ainda não havia se mexido, ele apertou suavemente seus dedos contra os dela em mais uma demonstração de apoio, e ela respirou fundo mais uma vez e catou o celular do estofado com a mão livre.

— Alô? – Ela disse, a voz já cansada da conversa que ainda nem acontecera.

— Katniss! – O grito de alívio de Effie fez com que Katniss percebesse que tinha tomado a decisão certa não ignorando a ligação da mãe. Não que a mãe fosse deixa-la em paz até que ela atendesse o telefone, mas de qualquer modo tinha feito bem em não prolongar a angústia de Effie por muito tempo. – Katniss minha filha, pelo amor de Deus volta para casa.

Era isso que Katniss queria evitar. Não queria, mas sentiu suas entranhas se revirarem com um resíduo de irritação. Ah, então quer dizer que agora ela tinha que ser a magnânima e voltar para casa só para tranquilizar todo mundo? Era ela quem tinha que ceder? Ela sabia que o pedido era resultado do desespero de sua mãe, mas não pôde deixar de pensar que fez sua família acreditar que ela era muito mais capaz de passar por cima de seus próprios sentimentos em nome dos outros do que ela de fato era.

Ela era sempre a heroína que andava na corda bamba para equilibrar as tensões. Era sempre ela responsável por abrir mão de suas vontades em nome da felicidade geral. Mas agora ela havia acabado de encontrar algo do qual não pretendia desistir, mesmo que isso significasse desestruturar sua família por um tempo.

— Não posso, mãe. – Ela respondeu, a voz dura. – Você já sabe o que aconteceu?

— Sei. – Effie respondeu, a voz entrecortada. Katniss não sabia dizer se ela havia chorado. – O Haymitch me contou.    

— Então você sabe exatamente porque eu não posso voltar para casa. – Katniss respondeu. – Eu não vou aturar isso, mãe, e você sabe que eu tenho razão.

— Mas onde você vai ficar? – Effie perguntou, o desespero tremendo a frase. – Eu... Eu não quero você longe de casa, Katniss, eu... – Ela gaguejou, nervosa. – eu fico tão preocupada! Por favor, Katniss, volta!

— Eu não posso, mãe. – Ela fincou pé. – Eu não quero olhar pro meu pai.

— Eu já falei para ele não dormir aqui hoje. – Effie disse, e Katniss sentiu um tremor descer por sua espinha. Será que Haymitch tinha conseguido estremecer seu casamento também, além de ter estragado a relação com a filha? Ela não queria que os pais se separassem de jeito nenhum, por mais que ainda estivesse com raiva de Haymitch. – Ele é o errado e você tem todo o direito de não querer ficar perto dele nesse momento. Pode vir para cá tranquila. Só... volta para casa, filha.

Katniss sentiu sua garganta se apertar com o pedido da mãe, e Peeta sentiu o corpo da morena se enrijecer ao seu lado. Apertou suavemente a mão delicada mais uma vez, para mostrar que ainda estava ali por ela.

Mas a garganta de Katniss não se apertara porque ela se sentiu tentada a aceitar a proposta da mãe, e sim porque ela não queria causar sofrimento à família. Por mais que soubesse que não era culpa sua, ela não podia deixar de pensar que estava causando ainda mais dor com sua decisão de sair de casa, e não só ao pai, como era o plano desde o início. Agora ela acabava de receber a notícia que Effie tinha expulsado Haymitch de casa por aquela noite. O que mais faltava para sua família se esfarelar? Será que se ela voltasse, as coisas melhorariam em algum grau?

— Eu... – Ela disse, e seu olhar se esgueirou para Peeta de modo que ela só pudesse vê-lo de canto de olho. Ela a fitava atentamente, parecendo preocupado. – Mãe, me desculpa se eu estou te deixando preocupada por não estar em casa, mas eu não posso voltar. – Ela fez uma pausa. – Eu não quero voltar. – Ela se corrigiu. – Eu preciso ficar um pouco longe de casa para esfriar a cabeça. Eu estou bem de verdade, você não precisa se preocupar... – Ela hesitou, e se virou de modo que pudesse olhar Peeta bem nos olhos. – Eu estou bem. – Ela repetiu, olhando para ele. – Eu estou exatamente onde eu preciso estar.

Ele sorriu, e beijou suavemente a mão de Katniss que segurava.

— E onde você está, afinal? – Effie perguntou, já dando indícios de ter percebido que a filha estava resoluta.

Katniss respirou fundo e um meio sorriso escapou por seus lábios. Finalmente, depois de toda a confusão, algo do qual ela realmente queria falar.

— Eu estou no Peeta. – Ela respondeu inocentemente, esperando ansiosa pela resposta da mãe logo em seguida.

Depois de uma pausa relativamente longa, Katniss estava prestes a perguntar se a mãe ainda estava na linha quando uma gargalhada estrangulada estourou em seus ouvidos. Era um eco fraco das gargalhadas ruidosas e borbulhantes típicas da mãe, mas, bom, pelo menos ela estava rindo.

— Ai, ai, é assim que eu comprovo que você realmente saiu de mim. – Effie comentou, entre gargalhadas. – Debochada. – Ela acusou a filha, e Katniss não resistiu, estourando em uma gargalhada também. A risada era meio vazia, com uma cara de riso de nervoso e de tensão que estourou a bolha e vazou, mas ainda era sincera.

E foi assim que, com duas frases, Katniss soube que a mãe tinha entendido exatamente seu plano. E que podia contar com ela para fazer Haymitch ficar sabendo onde ela estava, o que era sua intenção desde o início.

Peeta relaxou um pouco diante da risada de Katniss, e ela também pareceu mais calma depois da aparente aprovação da mãe em relação à sua escolha de onde passar a noite. Ela se inclinou para trás, deitando-se no peito de Peeta e ele prontamente se ajeitou no sofá para posicioná-la da maneira mais confortável possível. Sentiu sua voz vibrar os ossos do peito dele quando falou novamente:

— Eu só preciso pensar em algumas coisas, mãe. Não quero você preocupada.

— Ah, como se isso fosse possível. – Effie reclamou. – Acho que foi a briga mais séria que eu tive com o seu pai, mas pelo menos ele ouviu tudo calado. Ele estava bem mal quando eu cheguei e ele teve de me explicar tudo.

— Eu também fiquei bem mal quando peguei ele no telefone armando um falso flagrante pra me distanciar do Peeta. – Ela rebateu de pronto.

— Eu sei, filha. Só quero que você saiba que eu fiquei quase tão magoada quanto você com tudo que ele fez, e que ele não vai estar aqui caso você queira voltar.

— É, mãe, ele não vai passar essa noite em casa. Mas e a próxima? A de depois de amanhã? Eu não quero voltar praí e ficar tensa pensando que posso dar de cara com ele a qualquer momento. Essa ainda é a casa dele, e como eu não quero que vocês se separem, a solução que me resta é ficar longe por um tempo.

— A casa é sua também. – Effie contestou, mas logo depois sua voz adquiriu um tom triste. – Você pretende ficar muito tempo fora?

— Ainda não sei, mãe. Preciso ver, mas vou te dando notícias. – E aí ela se viu prometendo fazer coisas que justamente jurara que não faria mais: se apegar ao que deixara para trás quando decidira procurar Peeta. Mesmo que fosse sua mãe, a intenção era sair completamente daquele ambiente e se dar férias forçadas do ambiente “casa”. Mas ela não conseguia resistir, não ouvindo a voz da mãe tão saturada de tristeza.

— Tudo bem. – Effie respondeu, resignada. – Tire o tempo que precisar, filha, mas não esqueça da sua mãe, tá? Pode me ligar se tiver saudades.

— Pode deixar, mãe. – Ela respondeu, fungando mais uma vez.

— Não que eu ache que você vá ter, considerando onde está... – Effie provocou, e Katniss riu novamente.

— Beijo, mãe. Eu te amo.

— Eu também te amo, minha filha, muito.

Katniss finalizou a chamada e se aconchegou nos braços de Peeta, que estreitou o abraço em volta dela.

— Não foi tão ruim, foi? – Ele perguntou.

— Não. – Ela respondeu, virando a cabeça para olhá-lo. – Acho que estou aliviada.

— Eu disse. – Ele respondeu, e ela sorriu. – “Eu estou exatamente onde eu preciso estar”? – Ele citou, em tom de pergunta, um sorriso lutando para cruzar seu rosto.

— Acho que eu já disse isso algumas vezes hoje. – Katniss admitiu, escondendo o rosto no peito dele.

Talvez fosse um momento propício para um beijo, e só Deus sabe o quanto Peeta queria beijá-la, mas isso não era bem novidade visto que ele queria beijar Katniss o tempo todo que seus olhos estavam nela. Mas ele sabia que não era disso que Katniss precisava no momento. Sim, ela tinha vindo até ele e sim, isso significava muito, talvez até significasse que ele estava perdoado e que ela se rendia, mas não era naquele momento que aquilo seria sacramentado. Ele não seria egoísta ao ponto de aproveitar-se de sua dor para voltar ao assunto da relação dos dois.

E, por mais que fosse quase impossível, preferiu esquecer todos os “talvez”, tudo que a presença de Katniss ali poderia significar, todas as declarações que ela acabara de dar. Ela não precisava do Peeta namorado agora. Talvez mais tarde ela pudesse explicar melhor e eles pudessem discutir como ficaria a situação entre eles, mas agora ele se concentraria em ser a pessoa que ela procurou.

E o resto ficaria para depois.

~~

— Acho que eu não me esqueci de nada. – Peeta disse, coçando a nuca e parecendo desajeitado depois de separar as coisas para forrar o travesseiro e a cama onde Katniss dormiria. É lógico que ele cederia a cama do quarto para ela e ficaria no sofá. O arranjo daria certo já que Finnick tinha saído para viajar, quando ele voltasse eles dariam um jeito.

Katniss estava ajoelhada na cama, encarando o lençol e a fronha dobrados ao seu lado. Ela tocou o tecido azul claro suavemente e permaneceu em um silêncio meio incomodado enquanto encarava o pano.

— Pode me chamar se precisar de qualquer coisa. – Ele continuou diante o silêncio da morena, que escorregou os olhos do lençol para ele. – Eu vou ficar na sala o tempo todo. Pode fuçar a geladeira ou o armário se tiver fome, só não sei se vai ter alguma coisa dentro do prazo de validade.- Ele disse, em tom de desculpas. – O Finnick saiu e eu não estava esperando ninguém, então acabei nem indo ao merc...

— Peeta. – Ela chamou, suavemente. Era nítido que aquele silêncio dela estava cheio de palavras borbulhando por baixo da superfície dos olhos inquietos.

Ele se interrompeu para deixa-la falar. Já estava olhando para ela, então foi perfeitamente capaz de ver os olhos cinzentos que encaravam insistentemente o lençol calmamente se grudarem a ele novamente. Era como se ela tivesse tirado toda a coragem necessária daquele tecido, e quando voltou a encará-lo seus olhos eram decididos e ardentes, mas daquele fogo lento e profundo típico da Katniss decidida que ele conhecia tão bem. Aquele fogo que o incendiava sem ele nem perceber, que o quebrava no meio, que era tão natural e ao mesmo tempo tão extraordinário, que era exclusivo dela, da mistura perfeita entre sua decisão violenta e sua doçura inabalável.

— Eu não vim para cá para dormir sozinha. – Ela disse, a voz baixa, porém mais nítida que um grito jamais seria.   

Peeta piscou duas vezes depois desse tiro, completamente aturdido. É lógico que ele sabia que aquela visita tinha tudo para acabar daquele jeito, mas ele estava tentando com muito afinco se segurar para não tornar aquilo tudo algo sobre eles dois. Não era daquilo que Katniss precisava, ou pelo menos, ele achava assim. Mas agora ela estava dizendo justamente o contrário ou será que ele tinha entendido errado?

Silêncio. Ele esperou que ela explicasse melhor a declaração, mas percebendo que ela não ia fazê-lo, achou melhor assumir o papel que ele costumava deixar nas costas dos outros: o da pessoa sensata.

— Katniss... – Ele suspirou. – Eu não sei se essa é uma boa ideia...

— Eu vim para ficar com você. – Ela fincou pé, e caminhou de joelhos na cama até a beira para ficar mais perto dele.

— Você está triste. – Ele disse. – E eu não quero ser o cara que vai se aproveitar da sua tristeza para me dar bem.

Os olhos dela ficaram graves por um momento, mas depois o fogo lento e profundo voltou a arder em suas íris.

— Eu sei que estou triste. – Ela respondeu. – E eu não sou incapaz de decidir que quero ficar perto de você só porque estou abalada com o que aconteceu. Eu vim para cá porque quero ficar com você, porque preciso ficar com você. Eu briguei com o meu pai porque ele queria me afastar de você, e agora você é a única coisa pela qual eu quero lutar. – Ela disse e grunhiu, frustrada porque na verdade aquelas palavras eram apenas 1% do que se passava dentro dela. Ela parecia decidida e furiosa, daquela fúria lenta e assustadora, mas na verdade estava lutando com muita força para conseguir se explicar bem o bastante para que Peeta entendesse que aquele pedido não era reflexo de carência ou de fragilidade, muito pelo contrário, mas sim de uma decisão surpreendentemente arrebatadora.

A cada declaração daquele tipo, Katniss tirava o chão de Peeta a ponto de fazê-lo sentir-se tonto por dentro.

— Eu achei que, se tinha alguma luta acontecendo, ainda era minha por você. – Ele respondeu com um sorriso discreto no canto da boca.

— Parece que eu precisei entrar na briga também. – Ela disse, pousando os pés descalços no chão e se levantando para poder caminhar até ele. – Não se trata mais de você lutar por mim ou eu por você, Peeta. – Ela disse, séria, seus olhos grudados nos dele com muita gravidade. – Se trata de eu e você juntos lutando por nós.

Mais um tiro. Ele já tinha perdido as contas de quantas balas tinha levado durante aquela noite.

 Ele passou o braço por sua cintura assim que ela chegou perto o bastante para que o gesto fosse possível.

— Eu te amo. – Ele disse.

Os olhos cinzentos dela se iluminaram como nunca antes, a surpresa se misturando com a ternura enquanto a declaração entrava por seus ouvidos e assentava calmamente em seu cérebro, depois em seu coração, e ia se espalhando para cada pedacinho de seu corpo até se tornar uma certeza absoluta. Peeta a amava. Ela não precisava mais ter medo, nem ser cautelosa, nem tentar ser sensata. Ele a amava e isso resolvia tudo, todas as dúvidas, as incertas, os pés atrás. 

A coragem de finalmente falar o que precisava ser dito era a única coisa da qual ela precisava para ter a mais absoluta certeza – se é que isso era possível – de que estava no lugar certo. Finalmente era recíproco, e agora dito com todas as letras.

— Eu também te amo. – Ela respondeu, olhando fundo em seus olhos azuis e admirando o zumbido silencioso e eletrizante de seus olhos sempre tão vivos.

Os lábios se encontraram em um percurso doce, calmo, que preencheu os dois de uma doçura quente típica do amor contido por bastante tempo e finalmente revelado. Muito embora aquilo fosse apenas uma formalização do que os dois já estavam cientes há muito tempo, ainda era importante.

Peeta não fez menção nenhuma de tirar as roupas de Katniss, nem ela fez nenhum movimento que indicasse que queria avançar além de beijos naquela noite com ele. Eles se conheciam bem o bastante para saber que não era com sexo que selariam as revelações daquela noite, e Peeta sabia que, apesar de tudo, Katniss não estava com muito humor para isso.

— Vem. – Ela o chamou, e eles se apertaram na cama de solteiro do quarto, se aproximando o bastante para que nenhum dos dois ameasse cair do espaço limitado.

Katniss não soube muito bem como caiu no sono tão rápido depois de um dia como aquele, mas desconfiava que o calor de Peeta junto a ela ajudou a tirar de sua cabeça as possíveis reflexões que um quarto escuro e uma madrugada provavelmente fomentariam em sua cabeça. Ela não pensou na mágoa, na raiva, nem na decepção, e foi aí que entendeu completamente, um pouco antes de cair definitivamente no sono, porque tinha ido até a Peeta.

Porque só ele era capaz de trazê-la de volta para a paz, mesmo quando tudo ao seu redor parecia desabar.

~~

No dia seguinte, Katniss pediu que Peeta a contasse alguma história capaz de distraí-la de toda a zona que sua vida tinha virado nas últimas 24 horas e, felizmente, Peeta estava munido de uma bomba que daria conta bastante bem ao pedido da morena. Decidiu disparar o tiro, bastante ciente de que Finnick havia lhe pedido segredo, mas mais ciente ainda de que jamais pretendera de fato guardar aquela história só para ele. Então, enquanto preparava um misto quente ara o café da manhã, contou para Katniss todas as revelações que Finnick lhe fizera na noite de sua viagem, incluindo a briga entre os dois. Agora, ele estava diante de uma Katniss boquiaberta, que não conseguiu fechar a boca nem depois de ele ter-lhe servido seu misto quente.

O lanche diante de Katniss tinha parado de fumegar quando ela foi finalmente capaz de ter alguma reação.

— Você não está falando sério. – Ela duvidou, os olhos ainda vazios com o choque.  

— Eu queria não estar. Mas o Finnick nunca inventaria uma história dessas, e faz todo o sentido. Eu bem estranhei essa história dele começar a trabalhar como modelo, ele nunca foi dessas coisas, mas deixei pra lá porque as desculpas que ele me dava faziam sentido. “Ah, o dinheiro do estágio está caindo atrasado”. “Ah, as comissões do Señorita estão diminuindo cada vez mais”. Mas ele ter terminado com a Annie foi a gota d’água para eu ter certeza de que tinha algo a mais. Daí a Cash veio conversar comigo, e eu percebi que não era o único que estava desconfiado, e aí descobri tudo.

— Peeta, você tem noção de que isso é quase escravidão? – Katniss, disse, inclinando-se na direção dele, a voz urgente. – Isso é chantagem, ameaça. Sei lá, pode até ser violação de Direitos Humanos.

— Tenho. – Peeta assentiu, se enrolando com um pedaço de queijo derretido que não desgrudou da mordida que ele tentava abocanhar. – E é por isso que eu preciso pensar em alguma coisa para ajuda-lo.

— Essa desgraçada destruiu a vida dele, destruiu tudo que ele construiu com a Annie! – Katniss exclamou, indignada. – Meu Deus, Peeta, você tem noção que a Annie deve estar em casa agora ainda triste pensando que o Finnick nunca gostou dela de verdade e só voltou com ela esperando a oportunidade de magoá-la de volta para se vingar? Porque é isso que ela acha agora.

Peeta não respondeu, em parte porque, apesar de compreender a gravidade das coisas às quais Coin submetera Finnick, ele nunca tinha visto os efeitos práticos dessa chantagem e em parte porque começou a ficar assustado com a aparente fúria de Katniss.

— Eu não acredito que ele não contou isso para ninguém até agora! Passando por tudo isso sozinho! Ele pretendia se livrar dessa maluca como? Matando? Ou ele estava pensando em viver o resto da vida acorrentado a ela? – Katniss parecia verdadeiramente indignada, e Peeta não sabia dizer se devido à noite anterior ela estava particularmente sensível a qualquer relato que envolvesse histórias de amor perversamente interrompidas ou se ela estava apenas indignada com a situação de Finnick. Ou talvez as duas coisas. – A gente precisa fazer alguma coisa, Peeta! – Ela exclamou, piscando furiosamente.

— Eu sei! – Peeta respondeu, aturdido com a veemência da morena. – Eu estou pensando nisso desde o dia que ele viajou.

— Mas você não vai conseguir nada sozinho. – Katniss observou, agora mais calma. – Se uma pessoa só fosse suficiente para parar a Coin, o Finnick não estava passando por isso.

— E no que você está pensando? – Ele perguntou.

— Em nada, ainda. – Ela respondeu, finalmente resgatando seu misto quente do prato e dando a primeira mordida. – Mas não dá para a gente chegar na polícia e fazer uma denúncia, nem abrir uma investigação. Não vai ser prático e só a palavra do Finnick contra toda a reputação que ela tem não vai ser suficiente nem para desconfiarem dela. A gente precisa pensar em algo mais imediato e impactante. – Katniss disse, a voz ficando distante enquanto ela se perdia em seus pensamentos. – E acho que a gente devia colocar a Johanna e o Gale na jogada. A Johanna é advogada, ela pode pensar em algo mais inteligente e efetivo do ponto de vista das leis, e o Gale, bom, porque ele merece saber.

— Ah, que ótimo. – Peeta debochou. – O Finnick me pede segredo e aí eu vou e armo uma conferência para discutir o que vamos fazer da vida dele.

Os olhos de Katniss se iluminaram.

— Isso! – Ela exclamou. – Uma conferência. Eu, você, a Johanna, o Gale, a Cashmere, já que ela estava metida nesse plano junto com você... – Katniss se interrompeu por um instante, mas logo emendou o último e mais importante nome. – A Annie também.

— A Annie não. – Peeta rebateu, de pronto. – É justamente por isso que o Finnick está fazendo tudo que está fazendo, para protegê-la. A gente não pode jogá-la assim no meio do que ele estava tentando mantê-la longe.

— A gente não só pode como deve, Peeta. – Katniss respondeu, a voz séria. – Você sabe que ela, de todos nós, é a que mais precisa saber da verdade.

Peeta suspirou, contrariado. Sim, ele sabia, mas era justamente isso que Finnick vinha tentando evitar.

Mas já que, ao que tudo indicava, eles estavam prestes a começar uma guerra ainda não anunciada contra um inimigo que não fazia ideia de que eles estavam se preparando para começar a revolução, talvez a única solução fosse, de fato, chutar o balde.     

Eu já li em algum lugar que toda revolução começa com uma faísca e, pelo que parecia, as duas primeiras cabeças a preparar o motim acabavam de entrar no modo planejamento.


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Notas finais do capítulo

PERSONAGENS DAS FANFICS DE TODO O MUNDO: UNI-VOS!!!!!!!!!!
Queeeeeeem aí tá sentindo cheirinho de queimado??? Alguém?? Alguém??????? É A FAÍSCA QUE O NOSSO TORDO ACABOU DE ACENDER. Ai, ai, acho que tanto nas fanfics UA tanto nos livros, a Katniss é sempre a melhor pessoa pra começar as revoluções, né nom???????
É, gente, tá o bagulho tá sério (vai rolar um adultério) (não) (sorry não consegui resistir)!!!!! O que acharam dessa mobilização para salvar a pele do nosso anjinho Finnick?
Vejo vocês nos reviews! Ahh: AMO VOCÊS!!
Um cheiro no cangote e um cafuné no cabelo ♥



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