Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 28
Apenas mais uma de amor


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, PESSOAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!! EU VOLTEI!!!!!!!!!
OS CACHORRÃO CHEGOU TCHUTCHATCHATCHUTCHUTCHA
Os cachorrão, no caso, somos eu e vocês, queridos leitores. Ou talvez os personagens dessa querida fanfic. Vocês escolhem.
Acho que sou a única escritora do Nyah! que sauda seus leitores com funk carioca após um mês de demora. Eu sinceramente não sei como vocês ainda não desistiram de mim.
Nem preciso dizer os motivos da demora, né? Não quero mais encher o saco de vocês com essas coisas.
Maaaaaaas, a boa notícia é que eu entrei de férias!!!!!! SIM!!!!!!!!!! ACHO QUE NÃO HOUVE UM DIA MAIS AGUARDADO POR MIM ESSE ANO DO QUE ESSE! (tirando o das minhas férias de fim de ano). Falo um pouco mais sobre isso nas notas finais (NÃO PULEM!!) (ou pulem, né, vocês que sabem.).
Sobre esse capítulo: Ele é um dos que estavam planejados desde o início da fic. Eu já tinha ele escrito no meu computador antigo (sim, o que queimou) e fiquei bem puta por saber que eu já tinha tudo isso aqui pronto e não poderia usar. Mas talvez isso tenha sido bom, porque eu teria que fazer umas adaptações para seguir o ritmo que a história está agora e como eu tive que reescrever tudo, acho que ficou legal. É um capítulo mais de bad mesmo, e eu tô escrevendo ele desde o dia PRIMEIRO desse mês (pra vocês terem noção de como a escola me destrói: eu só consegui terminar hoje). Eu tomei um extra cuidado pra ele ficar perfeito, porque ele mexe muito comigo, visto que é basicamente uma representação fiel de tudo que acontece na minha vida amorosa (VOCÊS JÁ VÃO ENTENDER).
Enfim, chega de falar. Música do título e do capítulo: Apenas Mais Uma De Amor, do gênio Lulu Santos. Também conhecido como música dos amores platônicos (ou música dos MEUS AMORES).
Espero muito que vocês gostem. Ficou bem pessoal e eu coloquei muita coisa pra fora aqui baseada na minha própria vida.
Vejo vcs nas finais



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“Eu gosto tanto de você, que até prefiro esconder

Deixo assim ficar subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito isso ser abstrato, baby

A beleza mesmo, tão fugaz

É uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer”

– Ai, como eu adoro a hora do rush do Rio de Janeiro. – Johanna comentou, olhando a rua engarrafada através da janela do apartamento de Gale. As buzinas soavam enlouquecidamente, formando uma sinfonia com as freadas bruscas e o ruído dos motores esquentando sempre que a fila de carros se deslocava minimamente.

– Será que algum dia a gente vai conseguir voltar para casa? – Katniss perguntou, sentada no sofá ao lado de Gale, que se encontrava em uma estranha posição entre o sentado e o deitado, esparramado no estofado com os pés no chão e as costas praticamente no assento. Katniss se perguntou como ele ainda não havia arrumado um torcicolo.

– Lá pras sete e meia já dá pra pegar um ônibus. – Gale comentou, distraído. – E o trânsito só vai ficar pesado mesmo no Rebouças. – Disse Gale, referindo-se ao Túnel Rebouças, que ligava a Tijuca, onde se localizava sua casa, à Zona Sul da cidade.

– Você acha que eu vou me enfiar em Túnel Rebouças a essa hora, Gale? – Kartniss estrilou. – Eu vou pegar um ônibus até o metrô e de lá eu vou feliz e contente para casa por debaixo da terra.

– Túnel Rebouças nunca está sem trânsito. – Johanna concordou.

– Ai, tá bom, faz o que vocês quiserem. – Ele respondeu, dando de ombros.

Johanna riu do abatimento do amigo.

– Dia ruim, né? – Ela perguntou, saindo de perto da janela e voltando para perto dos dois, sentando-se no chão frio.

– Eu não aguento mais espirrar. – Ele reclamou, fungando forte. A gripe havia o agarrado com força e não parecia disposta a soltá-lo tão cedo.

– É foda. – Katniss respondeu, simplesmente. Ela não tinha forças para estabelecer uma conversa depois do dia exaustivo que tivera.

Uma pausa agora se faz necessária para explicar o cenário descrito acima, o qual você, leitor, deve estar estranhando bastante. O que diabos Johanna e Katniss estavam fazendo, num fim de tarde de uma quarta feira, na casa de um Gale gravemente gripado e incapacitado de terminar uma frase sem um acesso de tosse ou espirro?

Johanna havia tido sua primeira participação oficial em uma audiência jurídica. Ainda como assistente de seu chefe, mas significava muito. Significava que ela começara a ser, de fato, respeitada onde trabalhava. Vista como algo mais do que alguém que apenas ficava com as partes chatas do trabalho porque os outros advogados achavam um desaforo ter de cuidar dessas burocracias depois de tantos anos de trabalho. Johanna, aos poucos, depois de muito trabalho exaustivo, deixava de servir somente para revisar contratos à procura de cláusulas maliciosas que pudessem prejudicar a empresa. Talvez em breve até lhe dessem um processo!

A audiência fora na Tijuca, e ela convidara Katniss e Annie para comemorar a vitória depois que fosse liberada do trabalho. Annie não conseguiu organizar seus horários na loja, então só restaram Johanna e Katniss. Depois de pedirem seus cafés favoritos no Starbucks – sem olhar muito para o preço, afinal, era uma comemoração – as duas passaram algumas horas conversando e, logo em seguida, entraram em algumas lojas à procura de algo em que torrar uma quantidade considerável de dinheiro, porque não existe sensação melhor do que ultrapassar os limites para se dar um presente depois de ter feito algo bem sucedido.

Já tinha anoitecido quando as duas saíram do shopping, e elas notaram que haviam perdido a hora. E, no Rio de Janeiro, perder a hora de voltar para casa significava bem mais do que somente se atrasar. No momento em que ambas botaram o pé para fora do shopping e não viram nenhum raio de sol iluminar suas lindas perninhas, Katniss e Johanna entenderam que estavam destinadas a protagonizar cenas de dor e sofrimento presas no trânsito carioca se encarassem a estrada naquele momento.

Elas voltaram para o shopping, resignadas com a ideia de que teriam que matar mais uma ou duas horas até que pegar algum transporte se tornasse minimamente viável. Depois dos perigosos primeiros segundos da volta ao shopping, onde as duas se sentiram impelidas a gastar tudo que haviam tentado controlar na primeira expedição ao prédio cheio de lojas brilhantes e convidativas, Johanna sentiu seu celular vibrar. Era Gale perguntando como havia sido a audiência. Sim, ele também sabia. É lógico. Johanna tinha feito questão de deixar todos com quem ela tinha contato cientes de sua ascensão como advogada. Ela contou rapidamente que estava presa no shopping com Katniss e Gale respondeu que não tinha ido para faculdade devido à gripe.

– Vem pra cá. – Ele disse, quando ligou para o celular de Johanna após algumas mensagens trocadas.

– Pra sua casa? – Johanna estranhou.

– É. – Gale confirmou. – Você e a Kat. Até vocês poderem voltar para casa.

Johanna ficou muda por alguns instantes.

– Bom, acho que é melhor do que ficar aqui encarando esse monte de roupa que eu não posso comprar. – Ela concluiu, se despedindo de Gale e arrastando Katniss até a casa do amigo, a apenas algumas ruas dali.

Então era isso. Foi assim que as duas foram parar na casa de um Gale doente, em um fim de tarde de meio de semana.

O celular de Katniss apitou e ela se apressou para conferi-lo. O sorrisinho enquanto ela encarava a tela logo revelou quem havia sido o destinatário. Depois de digitar alguma coisa, ela guardou o aparelho e bufou, impaciente.

– Nem encontrar o mozão você consegue, né, amiga? – Johanna perguntou, em tom de brincadeira.

Katniss riu.

– Pelo menos alguém está se dando bem hoje. – Katniss comentou. – Porque pro resto de nós – Ela apontou rapidamente para si mesma e Gale. – está bem difícil.

– Eu estou doente. Não para de sair catarro do meu nariz. Acho que eu ganho de você. – Gale comentou.

– Ahhh. – Katniss fez um muxoxo. – Fiquei realmente triste por perder a competição de que está tendo o pior dia.

– Vocês não respeitam ninguém mesmo! – Johanna exclamou. – Eu tive o meu primeiro grande dia desde que entrei naquele escritório e as duas madames ficam me botando para baixo.

Os dois riram.

– Desculpa, Jo. – Katniss disse. – Eu só quero encontrar meu namorado depois de um dia estressante na faculdade. Sabe, hoje tinha tudo para ter sido perfeito. Você teve um dia lindo e a gente saiu para comemorar juntas e agora estamos nós três aqui, lindos e contentes, como três melhores amigos devem estar, mas eu não consigo voltar para minha casa. Ou pro meu namorado. Enfim, tanto faz. Ele acabou de me mandar uma mensagem dizendo que me busca no metrô e me leva para casa. Você quer carona? – Katniss perguntou.

Gale fingiu não notar a palavra “namorado”.

– É, bonita, mas eu não moro perto do metrô, né? – Johanna rebateu, pensando se a amiga já havia até esquecido onde ela morava. – Vocês iam ter que dar uma puta volta pra me deixar perto de casa. Fica tranquila, eu espero mais um pouco aqui.

– Tem certeza? – Katniss perguntou.

Como se ficar sozinha com Gale fosse ser um enorme sacrifício para ela.

– Absoluta. – Ela respondeu. – O Gale não vai se importar de me abrigar mais uma meia hora. – Não foi uma pergunta.

Intimidade é uma porcaria mesmo.

– Achei bonita a sua preocupação de me perguntar antes. – Gale ironizou.

– Ah, você se importa, então? Ok. – Johanna levantou-se e andou na direção da mesinha mínima encostada no canto da parede para pegar sua bolsa e as sacolas com suas recentes compras. – Kat, eu vou com você. Já percebi que estou incomodando.

– Eu estou brincando, sua exagerada! – Gale aumentou o tom de voz e tossindo logo em seguida. – Fica aí.

– Não. – Johanna respondeu. – Você não me quer aqui.

– Meu Deus, como você é chata, Johanna! – Gale reclamou, mas logo seu olhar se suavizou e ganhou um ar pidão. – Fica. Eu estou no meu leito de morte. Estou pedindo.

– Fica, Johanna. Vai que ele morre hoje? Imagina viver com a culpa de saber que você negou o último pedido de um moribundo? – Katniss argumentou, contendo uma risada. – Ela só quer que a gente peça bastante pra ela ficar, assim ela se sente amada. – A morena sussurrou para Gale, alto o suficiente para que Johanna ouvisse a provocação.

– Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico. – Johanna declarou, empostando a voz.

– Viu? – Katniss disse. – Show dado, declarações de amor feitas, eu estou indo, meus amores. – Ela se despediu, jogando beijos para os amigos. Katniss sacudiu a cabeça para afastar do rosto uma mecha de cabelo que havia se soltado de seu penteado – sua tradicional trança que caía sobre o ombro direito. – e Gale não pode deixar de notar que, ultimamente, Katniss parecia cada vez mais confiante. Quase uma atriz famosa, distribuindo sorrisos e jogadas de cabelo como se estivesse pronta para a qualquer momento ser parada por algum fã para dar um autógrafo ou um abraço.

Se parar de encarar a Katniss tímida já era difícil, lidar com a versão exuberante era ainda mais custoso.

Johanna se despediu da amiga com um abraço, seu olhar seguindo o de Gale sorrateiramente. E ela notou as íris cinzentas do amigo movendo-se repetidamente na direção de Katniss, mesmo que ele parecesse tentar desviar o olhar o tempo todo. Katniss, parede, televisão. Katniss, parede, televisão. Era esse o caminho que os olhos de Gale percorriam repetidamente, a parede e a televisão fazendo papéis de pontos de fuga para que não ficasse tão na cara o quão fixado nela ele estava, ou gostaria de estar.

E em um segundo, em um mísero segundo, um cadeado foi destravado na mente de Johanna e ela percebeu absolutamente tudo tão claramente que foi quase como se Gale tivesse acabado de olhar em seus olhos e confessar que gostava de Katniss. Mas agora, ela não precisava de confissão falada. A relutância dele em deixar de encarar a morena que agora saía pela porta já fazia esse papel.

Sua cabeça girou com a percepção, e por um momento Johanna se sentiu vazia. Oca. Era o choque. Era como se ela estivesse vendo aquilo tudo sob a perspectiva de outra pessoa e não conseguisse esboçar nenhuma reação ou ter nenhum tipo de sentimento. Mas depois, tudo fez sentido em sua cabeça. Claro.

Nunca seria ela.

Agora, com a ideia já na cabeça, algumas cenas passaram pela cabeça de Johanna, e ela pôde perceber como fora burra de achar que todas as gracinhas que Gale lhe dirigia eram algo mais do que amizade e intimidade. Risadinhas forçadas das piadas sem graça da amiga, a maneira como ele sempre parecia tentar prolongar qualquer conversa que estivesse tendo com ela... É claro. E Johanna se odiou por ter sido tão burra, por achar que havia uma chance ou que as coisas poderiam se encaminhar para que a dita chance surgisse. Ela imaginou quantos sorrisos bobos ou quantos olhares idiotas ela havia dirigido a Gale em todo esse tempo, pensando que estava investindo e que mais cedo ou mais tarde ele perceberia que ela estava ali, enquanto, o tempo todo, ele estava ocupado demais pensando em Katniss. Pensou em quão idiota ela devia parecer para os outros, porque se naquele momento ela havia percebido a ligação de Gale com Katniss só com um olhar, ela podia apostar que todos do grupo já sabiam sobre como ela se sentia.

Mas então Johanna se lembrou que, apesar de parecer, ela não era uma mocinha de comédia romântica. Nem sempre o cara ia se apaixonar por ela. Na verdade, na maioria das vezes, o cara não se apaixonava por ela.

Ela ouviu a porta se fechando e viu Gale caminhando pesadamente na direção do sofá, esparramando-se no estofado novamente e espirrando contra uma almofada.

– Saúde. – Ela respondeu, automaticamente, mas seu olhar parecia vazio com todas essas reflexões em sua cabeça.

– Obrigado. – Ele respondeu, com a voz anasalada. – Quer comer alguma coisa?

– O que tem aí? – Johanna perguntou, o olhar ainda perdido na parede de frente para o sofá onde agora se achava sentada.

– Sei lá. Pão velho. Margarina. Mas dá pra esquentar e fazer pão na chapa. – Gale comentou.

Mesmo não querendo, Johanna riu. Ela estava tão acostumada a rir das gracinhas de Gale que mesmo agora, que sua cabeça estava a dez mil quilômetros de distância, ela não deixava de cumprir seu papel de garotinha apaixonada.

– Tem banana? – Ela perguntou abruptamente, seus olhos finalmente ganhando foco e encarando o torso de Gale, agora deitado de bruços.

– Banana? – Ele estranhou a pergunta. – Deve ter.

– Vou fazer banana com canela e açúcar. – Ela anunciou, se levantando e pensando que aquela era mesmo a melhor ideia que ela poderia ter. Se havia alguma coisa que podia salvá-la de entrar em depressão depois da revelação que tivera há poucos segundos atrás, essa coisa era uma banana assada com canela e açúcar.

Apesar de ter muito em comum com as mocinhas das comédias românticas, Johanna diferia no que tange ao curador universal de decepções amorosas e corações partidos. Para ela, não era chocolate ou brigadeiro. Seu antidepressivo comestível favorito era banana caramelada.

– Não tem canela. – Ele avisou. – Faz uma pra mim também?

– Faço. – Ela confirmou, andando até a cozinha. Poucos segundos depois, ela ouviu passos atrás de si. Gale estava caminhando atrás dela. Pela primeira vez, a perspectiva pareceu irritá-la.

Johanna sabia que não estava exatamente irritada com ele, apesar de uma pequena parte de seu íntimo dirigir uma raiva irracional para Gale. Mas era isso: irracional. Ela sabia que ele não tinha escolhido gostar de Katniss, até mesmo porque ela namorava seu melhor amigo. Ela entendia que aquilo devia ser difícil para ele, e isso ficava perfeitamente claro sempre que ele insistia em desviar os olhos da morena quando que seu olhar escorregava para ela. Apesar de querer muito, ele sabia que encarar Katniss da maneira como ele gostaria de encarar era um prazer reservado apenas à Peeta. Johanna entendia tudo isso, mas sua parte irracional não conseguia deixar de se irritar com Gale por ele simplesmente não perceber que ela estava ali. Por que gostar de Katniss, namorada de seu melhor amigo, quando ela estava ali, em sua frente? Solteira, linda, engraçada. Ela estava ali. Disposta a resolver todos os problemas, consertar todos os sentimentos mal direcionados. Estava tudo perfeitamente encaminhado: um grupo de seis pessoas, três homens e três mulheres, dois casais formados. Só restavam eles dois. Era tão simples. Todos que conheciam eles seis sabiam que era questão de tempo para que Johanna e Gale se acertassem também. Era o caminho natural! Mas não. Ele tinha que complicar tudo. Ele tinha que tornar tudo impossível e doloroso e frustrante e idiota.

– Essa banana não está madura o suficiente. – Johanna reclamou, como se isso fosse culpa de Gale.

– E você quer que eu faça exatamente o que para resolver isso? – Ele perguntou.

Ela revirou os olhos.

– Vai ficar meio ruim.

– Não vai, não. Eu confio em você. – Ele disse, tocando os ombros de Johanna e sacudindo-os levemente.

Ela descascou as duas bananas e as partiu ao meio verticalmente, enchendo as metades de açúcar. Em seguida, colocou o prato no forno e o ligou.

– Quanto tempo será que tem que ficar? – Ela perguntou, enquanto regulava a temperatura. – Eu só sei fazer no micro-ondas.

– Quando a casa começar a ficar com cheiro de banana a gente tira. – Ele solucionou a questão, e Johanna não pode deixar de sorrir. Um sorriso triste, vá lá, mas um sorriso. Ele era sempre assim, tão prático e tão inábil com sentimentos. Totalmente o oposto dela.

Agora ela percebia que não era tão simples assim. Talvez ela tivesse sido quem errou ao se apaixonar por alguém tão diferente. Talvez, mesmo que parecesse, um relacionamento com Gale não fosse o caminho natural.

Ela jogou os cabelos para o lado, aproveitando o momento de silêncio entre os dois para refletir se deveria falar alguma coisa. Ela queria muito, porque se sentia prestes a sufocar, mas não sabia se seria útil. Falar pra quê? Para ouvir uma confirmação dele? Para confessar o que sentia? Não havia mais muito sentido em nada disso.

Mas o ser humano tem uma mania irritante de se torturar. Ainda havia uma esperança. E se ela tivesse entendido tudo errado? E enquanto ainda há uma esperança, o ser humano vai até o quinto dos infernos para apostar que ela vale alguma coisa.

– Gale... – Ela começou, os olhos grudados no chão. – Eu preciso te perguntar uma coisa. – Ela travou. Sentiu que deveria dar mais explicações, mas não conseguiu.

– Fala. – Ele disse, sendo cortado por um espirro.

– Talvez você não queira me responder e vou super entender se você ficar chateado comigo ou mentir. – Ela disse, e ele franziu o cenho.

– Você está me deixando assustado, Johanna.

Johanna se arrependeu. Muito. Muito mesmo. Boca grande. Boca enorme! Pra que isso ia servir além de deixar um clima estranho entre ela e Gale? E lá se ia a chance de ela pelo menos tê-lo como amigo. Lá se iam as piadas, as gracinhas, as coisas que acontecem entre dois amigos quando não existe nenhum clima ruim ocasionado por uma conversa profunda demais que não deveria ter acontecido. Até isso ela estava colocando a perder.

– Fala logo, Johanna. – Ele pediu, diante do silêncio da garota.

Ela cruzou os braços e colocou o cabelo atrás da orelha.

– Você... você, por acaso... – Ela hesitou. – Assim, totalmente sem intenção... – Ela parou mais uma vez, diante da expressão séria de Gale. Ela teve a impressão que ele já sabia o que ela ia perguntar. Ela respirou fundo. – Você, por acaso, olha pra Katniss de um jeito diferente? Eu estou falando de gostar mesmo. Ser a fim. – Ela detalhou. Já que era pra jogar a merda no ventilador, que ligasse logo no máximo.

Os olhos de Gale esfriaram 95 graus e ela não tinha como descrever o quanto se arrependera de abrir a maldita boca para pronunciar aquelas palavras.

– Por que você está me perguntando isso? – Ele rebateu, a voz absolutamente neutra e o olhar impenetrável.

Um alerta piscou na mente de Johanna. Se fosse tudo um mal entendido, ele não reagiria desse jeito. Era da namorada de seu melhor amigo que os dois estavam falando. No mínimo, ele negaria com muita convicção e ficaria muito preocupado de estar passando essa impressão. Se não fosse nada daquilo. Mas Johanna estava cada vez mais convencida de que era.

Johanna não sabia, mas havia acabado de dar um soco na boca do estômago de Gale. Era assim que ele se sentia. Sem fôlego, confuso e tonto, tentando entender como ela tinha percebido se ele tomava tanto cuidado para não dar bandeira. Tendo agora que decidir se era sincero com a garota à sua frente ou se continuava guardando seu segredo.

Ele gostava muito de Johanna. Ela era uma garota incrível e ele sabia que podia confiar nela. Que ela não ia sair dali e fazer fofoca do que acabara de ouvir com as amigas, porque ela não tinha interesse em destruir a harmonia já estabelecida entre o grupo. Annie e Finnick, Katniss e Peeta. Estava tudo certo. Gale era o único que destoava, com aquela montanha de sentimentos escondidos por Katniss, mas ele se esforçava muito para não transparecer e perturbar o que já estava mais do que estável. Ele se mantinha sempre à margem, porque sabia que era o único errado entre os seis, e não se sentia no direito de estragar tudo. Katniss já havia encontrado seu príncipe e estava feliz com ele. Ele não tinha vocação nenhuma para ser o vilão que tenta sequestrar a princesa, principalmente quando o príncipe era seu melhor amigo.

– Porque eu notei alguns olhares... – Johanna justificou e, agora que ela falava em voz alta, percebeu como havia sido precipitada e como seus motivos eram insuficientes. – E eu te conheço bem. Ela, então, eu conheço melhor ainda. Eu percebi... uma atmosfera esquisita. – Ela explicou e fez uma pausa. – Esquece. – Ela sacudiu a cabeça. – Esquece. Estou falando merda. Finge que eu não disse nada.

– Como eu vou fingir que você não disse nada? – Ele perguntou. – Você acabou de me perguntar se eu sou a fim da namorada do meu melhor amigo. – Ditas em voz alta, as palavras pareciam mais contundentes do que só em pensamento.

Ótimo. Johanna pensou. Agora ele vai achar que eu penso que ele é um filho da mãe fura olho.

– Desculpa. – Ela disse, o desespero começando a vazar por sua voz. – Desculpa. Eu não... Eu só pensei que, se fosse verdade... você fosse querer falar com alguém. Eu sei como é difícil guardar um sentimento assim. – Ela explicou, desviando o olhar para o chão. – Mas eu não devia ter me metido, porque obviamente não é verdade e eu falei uma merda colossal agora. Me des...

– Não falou, não. – Gale a interrompeu.

Johanna paralisou no fôlego que ela estava tomando para terminar a palavra “desculpa.”. Sua boca permaneceu entreaberta, seus olhos agora fixos em Gale.

O momento em que a sua última esperança se prova falsa é sempre o pior momento.

– Não falei. – Ela repetiu.

– Não falou. – Ele confirmou, sacudindo a cabeça.

Ela colocou uma mecha de cabelo castanho acobreado atrás da orelha. Agora fora sua vez de tomar o soco na boca do estômago.

– Eu... gosto dela. – Ele disse, devagar, como se aquelas palavras lhe custassem uma vida para sair. Colocar tudo para fora naquele momento ia um pouco contra a política de sempre esconder que ele adotara para a harmonia geral dos envolvidos. – Desde que eu pus os olhos nela. Desde aquele open bar que a gente se conheceu, há um milênio atrás. Mas desde esse open bar eu também sabia que ela não ia ficar comigo.

– Aquele que a gente se encontrou e ela já conhecia o Peeta. – Johanna se lembrou.

– Esse mesmo. – Ele confirmou, um sorriso triste no rosto. – Eu não tenho como competir com uma coisa dessas. O Peeta já estava anos luz na minha frente, então eu não ia transformar a coisa numa disputa. Ele é meu melhor amigo. Se ele estava a fim dela, eu nunca ia me meter.

– E você gosta dela desde essa época. – Johanna afirmou, mais para si mesma do que esperando obter uma confirmação de Gale. Para ela poder ter exata dimensão do tempo que perdera pensando que ficar com Gale era somente uma questão de paciência.

– Mais ou menos. No começo era só atração, sabe? Vocês três são muito lindas, então quando o Finn começou a namorar sério com a Annie e vocês passaram a sair com a gente eu tomava um tiro na cabeça a cada encontro. – Ele disse, sorrindo. Johanna não pode evitar sorrir com o elogio, e isso só fez com que ela se odiasse ainda mais. Como ela conseguia se contentar com tão pouco? Como só um “linda” já conseguia arrancar-lhe um sorriso? – Mas é o tipo da coisa que a gente não consegue explicar. Se fosse só uma questão de atração, eu podia ter ficado a fim da Annie ou de você. Mas quando a gente saía, eu só me sentia estranho perto da Katniss.

Johanna sentou no chão da cozinha, mandando a merda toda a moral e as regras de etiqueta que mandam uma garota sentar de pernas cruzadas quando está de saia. Ah, era uma saia tubinho. Nem ia aparecer muita coisa. Ela só precisava sentar. De repente, o peso daquela conversa foi demais para ela aguentar.

– Eu estou dando muita bandeira? – Ele perguntou, parecendo assustado.

– Não, não. – Ela se apressou em negar. – Eu só reparei porque... sei lá. Eu conheço vocês. E sou desconfiada pra essas coisas.

Ele assentiu. O cheiro suave das bananas assadas começou a encher o ar, mas nenhum dos dois se moveu na direção do forno.

– Ninguém pode saber disso, Johanna. – Ele disse, sério.

– Eu sei. – Ela respondeu. - Eu nunca faria isso com você. – Não faria mesmo. Ela não tiraria dele a chance de ficar perto de Katniss, pelo menos como amigo. Ela sabia perfeitamente bem que para ele era melhor tê-la desse jeito do que não tê-la de jeito nenhum, e sabia também que se vazasse aquela informação ela destruiria a relação de amizade entre eles dois.

– Eu sei que não. Eu confio em você. – Ele respondeu, e o peso da conversa parecia ter aumentado ainda mais. Johanna queria deitar agora.

Johanna encarou as mãos, que repousavam no colo e sorriu para si mesma. Gale a encarou. A blusa vermelha escura de botões para dentro da saia preta justa até os joelhos, os cabelos castanhos na altura dos ombros. Na luz certa, Johanna parecia até meio ruiva. As pernas esticadas e os tornozelos cruzados um sobre o outro, os pés descalços. As unhas pintadas daquele vinho sóbrio típico das advogadas bem sucedidas. Podia ser ela. Podia tanto ser ela... Aliás, por que não era? Ele se perguntou repetidamente porque não era ela, sentindo vontade de bater a cabeça na parede até desmaiar ou até conseguir gostar de outra pessoa e deixar para trás aquele inferno de gostar da namorada de seu melhor amigo.

Johanna ergueu os olhos e encontrou o olhar de Gale, que ainda a encarava. Ele reparou o quão espertos eram os olhos dela, sempre agitados, sempre denunciando o mundo de coisas que tomava lugar dentro dela. Johanna sustentou seu olhar sem falar nada. E os dois ficaram ali se olhando, Johanna atirada no chão, Gale encostado na parede. Ambos sem saber o que fazer com tudo o que sentiam. Os dois perdidos, tentando entender o que fazer com aquele monte de sentimentos confusos que, por algum motivo, haviam sido entregues aos destinatários errados. Um monte de amor, de atração e de culpa, só que pelas pessoas e pelos motivos errados.

Johanna abriu um sorriso triste.

– Vamos nos consolar com umas bananas assadas. – Ela disse, quando o cheiro das frutas ficou forte demais para ser ignorado.

Depois daquela conversa, talvez ela precisasse comer mais de uma.


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Notas finais do capítulo

VOCÊS TÃO OUVINDO MEU CHORO?????? SÉRIO GENTE ESSE CAPÍTULO ME DESTRUIU MUITO!!!!
A Jo e o Gale são personagens que eu gosto muito (na verdade, eu amo todos os meus filhos) e nunca dei muito destaque, mesmo que vocês já meio que soubessem que existe uma história meio confusa com eles. A grande verdade é que, apesar de eles não aparecerem tanto, eles são responsáveis por grande parte dos desencontros amorosos dessa fanfic, e movimentam bastante a história. Eu tava esperando ansiosamente esse capítulo porque eu finalmente ia poder mostrar pra vocês a essência desses dois que representam tão bem os fracassos cotidianos das nossas vidas amorosas. Porque afinal, nem sempre tudo se encaixa e dá certo, né? Acho esses dois mais reais por isso.
Sobre a mudança no ritmo de MMHS por causa das minhas férias: Ok, são só duas semanas e eu tô lotada de trabalhos pra fazer, mas eu pretendo mesmo dar uma atenção mais reforçada aqui. Quero ver se consigo postar pelo menos mais dois capítulos até voltar às aulas, mas preciso ver isso com calma justamente porque tenho bastante coisa pra fazer. Espero de todo o meu coração poder cumprir essa meta.
E aí??? O que acharam?? Já ansiosa para os comentários de vocês.
Um beijo molhado na boca e na nuca. Vocês são TOP!!!!!!!