Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 27
Wonder if you know, you're on my radar


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, MINHAS QUERIDAS
BIBAS
FROM
BRAZIL!!!!!
COMO ESTÃO??? BEM?? EU?? TÔ MORRENDO DE SAUDADES, CLARO!!!!!!!!!!!!!!!!!
É, gente, eu sei que pesei a mão nessa demora. Mas vocês me conhecem e sabem que (quase) nunca eu demoro por vontade própria, e minha vida de vestibulanda não tem ajudado em nada, né? Tempo pra vir aqui, matar as saudades e escrever sobre esses personagens que eu tanto amo que é bom NADA.
Enfim, domingo passado eu fiz meu primeiro vestibular oficial e: ARRASEI. LACREI. FUI MUITO BEM. Acho que pelo menos isso me mostra que eu tô no caminho certo, né? A vida tinha que me compensar de alguma maneira. Então, eu passei essa semana inteira finalizando esse capítulo que tava devendo pra vocês há tanto tempo, e gostei bastante do resultado final. Teremos de volta uma personagem que eu AMO (mas acho que vocês não gostam tanto assim...) e algumas situações de atrito... (É DISSO QUE CÊS GOSTAM NÉ???)
Espero de coração que vocês curtam. Música do título: Radar - Britney Spears e música do capítulo: Don't cha - Pussycat Dolls (sdds).
Vejo vocês nas finaaaais



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Don't cha wish your girlfriend was hot like me?
Don't cha wish your girlfriend was a freak like me?
Don't cha?
Don't cha?
Don't cha wish your girlfriend was wrong like me?
Don't cha wish your girlfriend was fun like me?
Don't cha?

– Então agora você trabalha nos fins de semana. – Annie disse, não como uma pergunta, nem muito como uma afirmação. Mais como um comentário.

– É o único momento que eu tenho para trabalhar. – Finnick respondeu, enquanto vestia uma calça jeans e olhava em volta buscando alguma camiseta razoavelmente limpa perdida num canto qualquer do quarto do apartamento que dividia com Peeta.

Eles tinham um esquema de revezar quem dormia no quarto e quem dormia na sala, porque os dois chegavam em casa em horários muito diferentes e geralmente atrapalhavam o sono um do outro. Como universitários não têm hora de dormir, eles simplesmente apagam em qualquer momento em que dê para estar dormindo, não tinha como prever em que momento alguém estaria dormindo, e raramente os cochilos dos dois coincidiam. Para diminuir os problemas e otimizar as já escassas horas de sono, em uma semana Finnick dormia no quarto, na semana seguinte era Peeta quem aproveitava o cômodo. Quem estivesse na sala, dormia no sofá.

Naquela semana, o quarto estava nas mãos de Finnick, de modo que a maioria de suas roupas estava espalhada por lá. E agora que ele e Annie haviam voltado, ela também tinha virado presença constante no quarto do apartamento dos dois. Desde a volta, não houve um único dia em que Annie não tivesse dado ao menos uma passadinha para ver Finnick.

Recuperando o tempo perdido, é o que parece.

Annie suspirou.

– Eu vou ficar sem você até no fim de semana? – Ela perguntou, num tom levemente magoado.

Finnick sorriu enquanto puxava uma blusa vermelha de trás da cabeceira da cama.

– Eu só trabalho à noite.

– Mas você fica um zumbi durante o dia. Você precisa dormir em algum momento.

– Quando eu aceitei esse emprego, não tinha uma namorada para dar atenção na grade de horários. – Ele comentou, vestindo a blusa e ajoelhando na cama de frente para Annie. – Mas eu vou arranjar tempo pra gente, você sabe.

A expressão preocupada de Annie não suavizou diante da tentativa de Finnick para tranquiliza-la.

– Eu não gosto disso. – Ela disse, a boca ainda esticada em um biquinho quase involuntário. – Você já quase não tinha tempo para nada só com a faculdade. Agora você enfia um emprego aos fins de semana na conta? Não estou falando isso porque sou a namorada mimada que quer atenção 100% do tempo. Eu fico preocupada com você. – Ela discursou.

Finnick sorriu e acariciou o rosto perfeito de Annie.

– Não precisa se preocupar comigo. – Ele disse, como se pedir isso Annie fosse de fato adiantar alguma coisa. – Eu aguento o tranco, já passei por coisa pior.

– Não passou, não! – Ela rebateu.

– É, não passei mesmo. – Ele voltou atrás, franzindo o cenho e subitamente se conscientizando que estava vivendo a fase mais difícil de sua vida. Nunca foi fácil, mas agora os níveis de exaustão subiam rapidamente e os de motivação decresciam na mesma velocidade. – Mas eu me conheço o bastante para saber que consigo levar isso até onde eu precisar.

Será? Agora que Annie questionara, Finnick parou de fato para pensar no que sua vida se tornara recentemente. Ele vivia correndo de um lugar para o outro: de casa para a faculdade, da faculdade para o estágio, do estágio de volta para a faculdade ou para o trabalho. E ele estava o tempo todo ocupado com tantos afazeres e problemas a resolver que sua mente nunca havia verdadeiramente parado para analisar seu estado atual. Enquanto sua mente estava ocupada demais para se aperceber do quão ruim as coisas estavam, ele não se preocupara com o fato de só estar dormindo cinco horas e meia toda noite. Agora que Annie o forçava a pensar em sua situação e incutia em sua mente que havia algo errado na maneira como as coisas estavam acontecendo, ele não conseguiria deixar de pensar nisso.

E se ele não aguentasse? E se ele surtasse, tivesse uma crise nervosa, sua cabeça entrasse em colapso? Agora que ele considerava a possibilidade, Finnick se apercebeu o quão perto ele estava de realmente afundar em uma dessas opções.

– Você sabe que pode contar comigo, não sabe? – Annie perguntou. – Que eu posso te ajudar com isso.

– Você já ajuda só por existir. – Ele respondeu, mas a ruga entre as sobrancelhas de Annie não se desfez nem com essa declaração fofinha.

– Não estou falando disso. – Ela rebateu, mas expressão se suavizou em um sorriso que não durou muito. Depois de um revirar rápido de olhos, a preocupação voltou a seu rosto e a expressão séria dominava as feições de Annie novamente. – Eu estou falando de dinheiro mesmo, Finnick. Você pode largar esse emprego se você quiser. Sua parte no aluguel daqui é 400 reais, não é? Eu posso te dar esse dinheiro todo mês enquanto seus pais organizam a vida deles de novo.

Finnick ficou mudo com a surpresa. Ele não sabia, mas Annie passara um bom tempo pensando em como fazer essa proposta da melhor maneira possível para que ele aceitasse. Ela sabia que não era uma coisa fácil de se falar, porque envolvia dinheiro e, pior de tudo, com certeza mexeria com o orgulho de Finnick. Ela não queria que ele pensasse que ela o estava diminuindo, ou dizendo que ele não era capaz de bancar as próprias despesas. Annie só queria que ele pensasse, por um segundo que fosse, o quão insana sua vida estava sendo, e soubesse que ela estava ali para tentar tornar as coisas menos difíceis.

– Eu não posso aceitar. – Ele respondeu, a voz absolutamente neutra, mas Annie podia perceber que por baixo de toda a neutralidade algo fervia. Ela só não sabia o quê.

Para ser sincera, nem Finnick sabia exatamente qual sentimento se apoderara dele naquele momento. Ele só sabia que a proposta de Annie o incomodara de alguma forma, e ele esperava que fosse só pela surpresa. Mas ele sabia que não era, e se odiou por isso. Se odiou porque odiou ouvir aquela proposta sair da boca de Annie, mesmo que soubesse que ela só estava preocupada com ele. Se odiou por saber que o incômodo que o cutucava naquele instante era, grande parte, resultado do pensamento machista de que aceitar dinheiro de sua namorada infinitamente mais rica que você é humilhante. Se odiou porque sabia que estava reagindo da pior maneira possível às palavras de Annie, e agora a única coisa que lhe restava era mascarar a voz e fingir que ele não era tão ridículo quanto todos aqueles sentimentos lhe diziam que ele era.

– Eu preciso resolver isso sozinho. – Ele disse, a voz ainda extremamente contida. – É a minha vida, eu preciso lidar com ela. – Ele acrescentou, suavizando a voz para que Annie não pensasse que ele estava sendo ingrato, mesmo que na verdade ele estivesse. – Mas obrigado, mesmo assim. Obrigado por se preocupar.

Ela o encarou por um instante, os olhos profundamente verdes brigando como numa batalha de esgrima. Depois de um longo momento dos olhares se cutucando e investindo um contra o outro, Annie fechou as pálpebras e ergueu as sobrancelhas, numa clara demonstração de que não insistiria mais.

– Faz o que achar melhor. – Ele disse, largando os ombros numa expressão de derrota. – Mas eu não vou desistir de te convencer que essa é a melhor opção.

– E eu não vou desistir de te explicar porque eu não posso aceitar.

Annie fixou seu olhar em Finnick novamente, dessa vez, porém, menos acusadoramente.

– Que horas você vai sair? – Ela perguntou, encerrando a discussão.

– Umas seis.

Annie apertou um botão de seu celular para ver que horas eram. Cinco e quinze.

– Você vai ficar comigo até a hora de sair, não vai? – Gramaticalmente, a frase era uma pergunta devido ao ponto de interrogação que a encerrava. Semanticamente, por outro lado, Finnick sabia que aquilo estava mais para uma intimação.

Ele sorriu diante da recusa de Annie em deixa-lo. Era bom sentir que ela estava ali por inteiro e tão envolvida quanto ele.

– Não vou desperdiçar nossos últimos quarenta e cinco minutos. – Ele deitou na cama e se ajeitou em baixo do lençol que servia como cobertor, abrindo os braços para que Annie se encaixasse neles.

E foi o que ela fez. E os dois conversaram. Riram. Se beijaram.

E mesmo que o diálogo que acabara de acontecer não tenha saído de sua cabeça, Annie decidiu não se incomodar com ele naquele momento. Não quando faltavam apenas quarenta e cinco minutos para que ela se separasse definitivamente de seu namorado pelo resto do dia inteiro.

~~

– Ai, titia, adorei que cê me trouxe pra passear aqui nessa praia de Icaraí! – Paulo Gustavo, vestido como Dona Hermínia e falando com sua típica voz intensa e afeminada berrava na televisão da sala da casa dos Everdeen. – Fazia tempo que eu não vinha aqui, ótima ideia! Essa praia, sabe o que é bom dela? É que essa calçadão só tem gente bonita.

Pausa.

– Um ou outro que destoa. – Prim repetiu a fala ao mesmo tempo em que Dona Hermínia, diante de um transeunte não tão bem afortunado fisicamente que passava justamente no momento da conversa.

Prim gargalhou. Ela sabia 90% das falas daquele filme (Minha Mãe É Uma Peça) de cor, mas periodicamente o revia e ainda achava graça na afetada Dona Hermínia. Aliás, repetir as falas junto com os personagens se tornara outra forma de diversão ao ver o filme. Gargalhar com as falas hilárias era muito pouco. Atuar junto com o filme era muito melhor.

A campainha tocou, interrompendo o filme e Prim bufou. Levantou-se do sofá e correu, tropeçando nos próprios pés, na direção da porta. Katniss devia ter esquecido a chave de casa, como de costume.

Mas não foi com Katniss que ela se deparou quando abriu a porta.

– Peeta? – Ela perguntou, surpresa.

– Oi, Prim. – Ele cumprimentou a loirinha, que mal conseguiu disfarçar a boca que teimava em se abrir. – Sua irmã está aí?

– Hmm, não. – Ela respondeu, e a frase soou quase como uma pergunta. – Ela combinou de te encontrar aqui?

– Mais ou menos. A gente ia se encontrar para ir ao cinema, mas eu estava de bobeira e resolvi passar aqui para ver se ela ainda estava em casa e a gente ir junto.

– Putz, eu nem sei pra onde ela foi. – Prim disse. – Mas ela deve voltar daqui a pouco. Ela não estava com cara de quem ia direto para o cinema. Se você quiser esperar aqui... – Prim sugeriu, um leve arrepio percorrendo seu corpo ao pensar em estar sozinha em casa com Peeta.

– Desculpa ter aparecido sem avisar. – Ele começou, vendo o filme pausado na televisão.

– Não, pô, de boa. – Prim respondeu, andando rapidamente nas pontas do chão, tentando encurtar o contato dos pés descalços com o chão gelado. Ela se jogou novamente no sofá e se enrolou no edredom rosa que tinha levado do quarto para cobri-la durante a sessão do filme. – Não precisa se desculpar por tentar ser romântico e surpreender sua namorada. – Ela disse, sorrindo de lado.

Peeta bem que tentou, mas não conseguiu controlar a expressão de desagrado que ameaçou se formar em seu rosto à menção da Palavra com N. O máximo que ele conseguiu foi reduzir o que seria uma enorme careta a um discreto franzir de lábios.

Mesmo assim, Prim percebeu a sutil mudança no clima.

– Ihh. – Ela fez um som parecido com um assobio e seu rosto se arrumou em uma careta de desculpas. – Foi mal. Falei alguma coisa errada?

– Não. – Ele respondeu, suspirando. – Eu é que sou um merda mesmo.

– Olha lá, hein? Você não está vacilando com a minha irmã, não, né? – A loirinha perguntou, a voz se elevando a um tom ligeiramente ameaçador. – Se estiver, é melhor nem me contar, porque eu vou quebrar a sua cara. – Prim advertiu.

Peeta não queria, mas acabou rindo. Ele se sentia um tiozão conversando com Prim, mas ao mesmo tempo ela era bastante madura para uma garota que havia acabado de completar 17 anos. Ele sentia como se Katniss pudesse ter outra pessoa muito chata como irmã mais nova, então de certa forma, Prim era uma coisa boa para ele que tinha tanto medo de se aproximar da família de qualquer garota com quem ele estivesse envolvido.

Ele obviamente nem imaginava a quantidade de pensamentos impuros que rondavam a cabeça de Prim tendo ele como protagonista. Se soubesse, talvez Prim caísse um pouco em seu conceito. Ele nunca conseguiria encará-la do mesmo jeito.

– Mais fácil você quebrar a mão quando tentar quebrar o meu nariz.

– Eu posso furar seu olho. – Ela rebateu, esticando as mãos em forma de garras e deixando à mostra as compridas unhas pintadas de rosa escuro. – E chutar seu saco.

– No olho, não. – Ele pediu.

– Ah, então no saco pode? – Ela perguntou, e os dois riram. – Bom saber. Sem olho, mas eu vou dobrar os chutes lá, então.

– Vai com calma, tá? Não precisa se incomodar em escolher algum lugar para me bater. Eu não estou vacilando com a sua irmã. Nem pretendo.

– Acho bom. – Ela aprovou. – Então por que o climão quando eu falei de ser romântico? Ela fez alguma coisa com você? – Ela perguntou, esperançosa, mas se sentindo imediatamente culpada por sentir essa esperança brotando dentro de si. Tentou se convencer de que o sentimento só surgiu porque uma briga entre o casal significaria um desabafo vindo de Peeta, e ela se sentiria feliz só por bancar a psicóloga e emprestar seu ombro para que ele chorasse suas pitangas.

Nem era mentira. Prim sabia exatamente o que sentia por Peeta, e sabia exatamente o quão difícil era controlar aquela atração tão arrebatadora, mas ela também sabia que, mesmo se o loiro e sua irmã terminassem naquele exato instante, ela jamais investiria sério para colocar Peeta na sua. Nunca. Ela nunca faria isso com Katniss. Prim estava perfeitamente ciente que morreria com sua queda por Peeta, e estava tudo bem pra ela quanto a isso. Ela tinha muitos outros caras em quem descontar a frustração.

– Não, ninguém fez nada com ninguém. – Peeta disse. Será que ele queria mesmo ter essa conversa com Prim? Provavelmente não, mas ele conhecia a loirinha o suficiente para saber que ela não largaria o osso até saber o que estava havendo. – Tá tudo certo por enquanto, mas eu sinto que eu vou cagar tudo em breve.

Prim ergueu uma sobrancelha e desviou o olhar para a TV, encarando a tela com a cara de Paulo Gustavo congelada em uma expressão engraçada.

– Você ainda não pediu ela em namoro, né? – A loirinha disse, muito séria, depois de alguns segundos de reflexão.

– Ela já te falou alguma coisa sobre isso?! – Ele perguntou, parecendo realmente assustado.

– Não, mas eu não sou idiota. E ela me contou que você disse pra ela que nunca tinha conhecido a família de nenhuma outra garota antes.

– Ela contou?! – Ele perguntou, exasperado. – Não era para ela ter te contado isso! – Ele exclamou. – Mas o que isso tem a ver? – Ele perguntou, confuso, rendendo-se a curiosidade por um momento depois de passada a exasperação.

– É muito simples. Você nunca namorou sério. Gosta dela, mas está com medo de oficializar. Ela ainda não falou sobre isso, mas você sabe que em breve isso vai ser uma questão e vocês vão ter que conversar sobre. E já está sofrendo por antecipação. – Prim resumiu com a perícia de uma terapeuta de casal.

Peeta franziu o cenho, parecendo assustado com a precisão do diagnóstico de Prim. Ele se perguntou se a coisa estava assim tão evidente. Se estava, por que Katniss ainda não tinha demonstrado sinais de que pretendia tocar no assunto? Talvez ela estivesse tão confusa quanto ele.

– Ela vai me cobrar uma posição mais cedo ou mais tarde, e eu não consigo nem pensar no que dizer pra ela quando a gente tiver essa conversa. – Ele disse, pensando que talvez a irmã de sua ficante (já que ele tinha tanto medo da palavra com N) não fosse a melhor pessoa para fazer esse desabafo. Mesmo que Prim parecesse disposta a manter a imparcialidade, ele não devia deixa-la ciente de suas confusões nesse nível de detalhes.

– Ué, você não quer assumir nada sério com ela? – Prim fez a pergunta maldita, e Peeta passou um tempo calado. Ele não saberia explicar a Prim - nem a ninguém – como se sentia, e nem sabia se queria. – Tá, não precisa me responder isso, se não quiser, ou se não souber. Só pensa com carinho e, por favor, pensa nela quando decidir qualquer coisa.

– É só nela que eu penso sempre. – Ele respondeu, e Prim abriu um sorriso largo, que irrompeu por seu rosto inesperadamente e, até certo ponto, contra sua vontade.

Ele era tão fofo. E tão lindo, sedutor, com um sorriso tão meigo e ao mesmo tempo safado. Ela sentia que Katniss não tinha exata noção da sorte que tinha, e não poda evitar o pensamento egoísta de que cuidaria muito melhor de Peeta se o tivesse só para ela.

– Quer pipoca? – Prim ofereceu, encerrando o assunto, porque não queria dar bandeira e sabia que insistir nessa conversa com Peeta não seria produtivo para ninguém.

– Quero. É bom que aí eu não preciso comprar pra mim no cinema e sobra dinheiro pra eu comprar mais pra Katniss.

Prim gargalhou enquanto se levantava, ainda enrolada no edredom rosa, e caminhava até a cozinha à procura de um pacote de pipoca de micro-ondas.

~~

Finnick fechou a porta da saleta onde os funcionários abarrotam seus pertences durante as cansativas madrugadas de trabalho no Señorita e esbarrou em alguém.

– Oi, seu Crane. – Ele cumprimentou o patrão.

– Finnick. – O senhor com a barriga saliente respondeu. – Vou precisar de você no bar hoje.

– Tudo bem. – Finnick respondeu, confuso. Ele sempre trabalhava no bar, servindo drinks e outras bebidas.

– Não. Eu vou precisar de você no bar, como barman.

Finnick arregalou os olhos verdes, uma expressão de terror desenhando-se em seu rosto.

– Mas... Não... Seu Crane... Eu... – Ele gaguejou. – Eu não sei... fazer as bebidas.

– Você não vai ficar lá sozinho. – Seneca Crane respondeu, caminhando pelo corredor de modo a fazer Finnick acompanhá-lo. – É que hoje as meninas vão voltar e vai ser uma noite de comemoração. A casa vai estar cheia.

– A 66 vai voltar hoje? – Finnick perguntou, referindo-se à Rota 66 (banda de Clove, caso vocês não estejam lembrados) com o apelido pelos quais os íntimos costumavam chamar a banda.

As meninas da banda haviam passado duas semanas sem se apresentar no Señorita, o que tinha sido um alívio para Finnick, que não saberia como lidar com Clove agora que havia retomado sua história com Annie. Por outro lado, adiar seu encontro com Clove depois de tudo que havia acontecido parecia ter potencializado todo o seu nervosismo agora que o momento aparentemente chegava.

Ele não fazia ideia do que vinha pela frente. Ele passou duas semanas encontrando Clove somente quando vinha trabalhar, e ela não demonstrava nenhuma intenção de estender os beijos e os flertes que os dois trocavam para fora do Señorita. Depois, sem aviso, a Rota 66 não apareceu para se apresentar pelas próximas duas semanas, e nesse meio de caminho, o cenário da vida de Finnick mudara completamente. Clove não dera notícias, mas não era como se Finnick tivesse lamentado seu sumiço. Na verdade, parecia bastante adequado a ela. Intensa, contundente, mas ao mesmo tempo volátil e escorregadia. Era a cara dela sumir só para deixar um cara pensando no gosto de seu beijo. Ela achava a atraente a ideia de se perder e não passar de uma lembrança saudosa das vidas por onde ela passava – e geralmente, bagunçava -.

– Vai. Acho que as meninas já até chegaram. – Finnick perdeu o ritmo das passadas por um segundo, mas logo recobrou a velocidade para acompanhar o patrão, que o levou na direção do bar. – Eu já avisei todo mundo que hoje você vai ficar aqui no bar por enquanto.

Finnick caminhou atrapalhadamente até entrar na área restrita do bar e se posicionar atrás do balcão, onde seu colega de profissão e barman Julio o aguardava para passar as primeiras instruções do Curso Básico de Preparação de Drinks que ele seria obrigado a sair praticamente graduado até o fim da noite se não quisesse perder o emprego.

Ele passou um tempo pegando as noções básicas de como preparar um Sex on the Beach e alguns outros drikns mais pedidos do Señorita quando a viu.

Ela subiu no palco com a guitarra na mão, encostando o instrumento na parede do fundo. Com as mãos livres, ela procurou os fios para ligar a guitarra ao amplificador e, depois de conectar os fios em uma velocidade que só uma profissional conseguia, seus dedos correram a corda, fazendo com que um delicado acorde soasse no ouvido de todos os presentes.

Clove ergueu os olhos da guitarra e seu olhar varreu rapidamente o recinto inteiro até parar exatamente onde Finnick sabia que pararia. Nele.

Ela abriu um meio sorriso, os lábios hoje pintados de vermelho escuro emoldurando os dentes brancos e pequenos. Ela estava tão, tão linda. Os cabelos negros brilhando, o olhar insaciável como sempre, um par de brincos compridos e cor de cobre combinando perfeitamente com o top estampado que deixava a barriga a mostra. Um bracelete dourado apertava seu antebraço; a calça de cintura alta fazendo um contraste engraçado com os pés descalços. Como sempre, vestida para ficar na memória, já que ela gostava bem mais de se manter presente por meio delas do que da presença física.

Ele sorriu de volta, porque não havia outra opção, mas logo voltou sua concentração para fazer seu primeiro Señorita (drink oficial do estabelecimento) sozinho sem causar muitos estragos.

Ele não deixou de sentir os passos de Clove descendo do palco e andando na direção do bar. Ele sentiu cada passo, até que ela estava perto o bastante para que ele pudesse ouvir sua voz.

– Oi. – Clove cumprimentou, franzindo os lábios na tentativa de conter um sorriso. Havia muito mais a ser dito, ela sabia, mas gostava mais de deixar a linguagem corporal dar conta do que as palavras não alcançavam.

– Oi, sumida. – Ele respondeu, sorrindo um pouco. Ele não queria abrir muito a guarda porque estava prestes a abrir o jogo e deixar claro para Clove que o quer que eles tivessem estava encerrado, mas não via motivos para não responder ao convidativo sorriso de Clove. Era só um sorriso, afinal.

Para ele, talvez. Para ela, nunca era “só” nada.

– Sentiu saudades? – Ela perguntou, encarando-o divertidamente por sob os olhos maquiados.

– Você sentiu? – Ele devolveu a pergunta. Os olhos de Clove se enrugaram para acompanhar a tentativa de conter o sorriso que ameaçou se alargar com a resposta de Finnick. Ele parecia sempre dizer exatamente o que ela queria ouvir.

– Não sei. Eu fiquei muito bem onde estava.

– Para onde vocês foram? – Ele perguntou.

– A gente foi tocar em um festival em Cabo Frio. Era no fim de semana retrasado, mas o cara que estava organizando curtiu o nosso som e levou a gente pra outra parada que ele estava montando em Saquarema. A gente passou uma semaninha maneira, vários shows, bebida de graça, quarto de hotel pela metade do preço... – Ela enumerou.

– Cachê legal?

– Cachê legal. – Ela confirmou, sorrindo abertamente. – Essa foi a melhor parte.

Bom, isso ela tinha em comum com Annie. O dinheiro colocava um lindo e mortal sorriso no rosto das duas.

– Acho que sentiram sua falta. – Ele comentou, apontando com o queixo para o lugar cheio com o anúncio da volta da 66 para os palcos do Señorita. – Estou tendo que dar uma de barman só para dar conta de todos os fãs de vocês.

Clove sorriu.

– Como é doce o sabor da fama. – Ela cantarolou, encostando no balcão. – E você não me deu nenhum beijo desde que a gente se viu. – Ela observou, a voz incrivelmente neutra para alguém que mudara de assunto com tamanha velocidade.

A mão de Finnick escorregou pela garrafa de Grey Goose que ele acabara de abrir e ele perdeu um segundo do ritmo que vinha imprimindo à execução do drink.

– Eu precisava falar com você.

Ela ergueu uma sobrancelha, esperando.

– Agora não. – Ele disse, terminando o drink e colocando-o de lado para que quem quer que fosse servi-lo o pegasse e levasse até a mesa de quem o pedira.

– Agora sim.

Finnick suspirou, sabendo que não tinha sentido discutir com Clove. Ele se debruçou sobre os copos e taças limpos para chegar mais perto da morena.

– Eu tinha um lance com uma pessoa. – Ele começou. – Uma história complicada. A gente tinha terminado mal, muito sofrimento e todas essas bobajadas. Aí aconteceram outras doideiras na minha vida e eu acabei vindo parar aqui. E eu te conheci. A gente ficou e estava tudo ótimo...

– Mas enquanto eu estava fora, você voltou com a sua ex. – Clove completou, curta e grossa, o olhar impassível parecendo perfurar Finnick como uma metralhadora.

– Sim. – Ele confirmou.

Ela passou alguns segundos olhando para ele, até dar de ombros, um sorriso cortante nos lábios.

– Ué. – Ela soltou uma risada. – O que é pra eu responder numa hora dessas? – Ela perguntou, sacudindo a cabeça enquanto ria um pouco.

– Não sei. – Finnick respondeu, porque ele não sabia mesmo. Ele duvidava já ter passado por uma situação mais estranha do que essa. – Mas eu precisava te falar, porque... você sabe... a gente... eu não queria pisar na bola com você.

Ela estreitou os olhos, a expressão indecifrável. Qualquer coisa podia estar passando na cabeça de Clove naquele momento, e, sinceramente, Finnick não sabia se queria descobrir.

Realmente, para ele talvez fosse melhor não saber. Sob aquele olhar fulminante, a cabeça de Clove trabalhava arduamente.

Ela não fazia questão de compromisso nem de exclusividade, o que a incomodava de verdade era deixar de ter Finnick. Ele era engraçado e bonito e ela gostava da maneira como ele reagia à suas investidas. Ela sentia que ainda tinha uma infinidade de coisas que podia explorar com ele, mas agora ela seria impedida de fazê-lo porque o bonito tinha se enfiado em um namoro.

Ela quase se arrependeu de ainda não ter feito tudo que podia com Finnick. Ela vinha se segurando, comendo pelas beiradas, cercando, porque era isso que ela gostava de fazer. Talvez, se tivesse abusado de todas as suas armas, ele ainda estivesse solteiro. Não porque ele se descobriria loucamente apaixonado por ela, mas porque ele não ia conseguir ficar sem ela. A coisa podia ser completamente carnal e ela não se importaria nem um pouco com isso, ela só queria marca-lo. Provocá-lo. Deixá-lo pensando nela.

– Só me responde uma coisinha. – Ela pediu. – É, assim, um relacionamento monogâmico? – Ela perguntou, forçando a expressão séria e Finnick riu.

Ela acompanhou a risada, porque reconheceu que a pergunta soou engraçada.

– É. – Finnick respondeu. – Eu gosto muito dela, Clove.

A morena ergueu uma sobrancelha.

– Ama?

– Amo. – Ele respondeu, sem hesitar.

Um segundo de silêncio. Aquele silêncio típico das conversas que envolviam Clove: cheios de significado e afirmações borbulhando pelo ar, prestes a irromperem do teto e atingir os dois na cabeça.

– Você sabe, uma pessoa pode amar outra e se sentir atraído por outras ao mesmo tempo. – Ela disse, enrolando uma mecha dos cabelos curtos entre os dedos. – Uma pessoa pode amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Isso não significa que você não é fiel ou leal a quem você ama, ou que o seu sentimento é menor.

– Não precisa me explicar como funciona um relacionamento aberto, Clove. – Ele disse, sorrindo. – Não é isso que eu tenho com a Annie, nem pretendo sugerir isso para ela.

Annie. Era estranho ouvir o nome dela.

Clove bufou pelo nariz.

– Achei que fosse te enrolar com essa. – Ela respondeu, e os dois sorriram. Ela era muito bonita, ele não podia negar.

Mas tendo Annie ao seu lado, ele não precisava de mais ninguém.

– Boa sorte para vocês. – Clove desejou, o olhar se suavizando. – De verdade. Mas você sabe que eu estou por aí. – Ela disse, sugestivamente.

Finnick sabia. E, de um jeito estranho que o fazia até se sentir culpado, ele ficava feliz com isso.

Clove sabia muito bem disso. Era essa a reação que ela causava nos homens: ela os confundia. Ela podia fazer até o mais fiel dos caras tremer na base quando aparecia.

Era isso que ela gostava de fazer, afinal. Fazer os caras pensarem nela enquanto estavam com suas namoradas.

– Eu sei. Mas eu não estou mais. – Ele respondeu, e ela assentiu. – Passei por muita coisa para saber que é só com ela que eu quero ficar.

– E ela é muito sortuda por isso. – Clove comentou, e as luzes do Señorita abaixaram suavemente. A plateia reagiu com aplausos, e Clove reconheceu sua deixa.

– Vai lá. Eles estão esperando vocês.

Ela piscou e jogou um beijo no ar na direção de Finnick. E, enquanto a via caminhar, os cabelos curtos balançando no ritmo das passadas rápidas, a calça justa emoldurando as curvas de seu corpo pequeno, porém esguio, ele agradeceu por não ter sido tão complicado quanto ele achou que seria.

Mas, em seu íntimo, Finnick tinha a intuição de que as coisas não seriam assim tão fáceis. Ele sentia que ela estaria sempre rondando por sua cabeça simplesmente por existir e ser do jeito que era.

Afinal, era essa a intenção de Clove, sempre. Complicar.


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Notas finais do capítulo

QUEEN CLOVE IS BACK YOU BETTER WATCH YOUR ASS OUT!!!!!!!!!!!!!!!!
Não tenho muito a dizer além de: A CLOVE VAI TE PEGARRRRRRRRRRRRRR.
As músicas kkkkkkkkkkkk Eu decidi escolher músicas que serviriam tanto para a situação da Prim (estamos de olho nessa loirinha também) tanto para a da Clove. Eu, sinceramente, amo essas duas músicas e escrevi o capítulo inteiro ouvindo as duas. Altas doses de GIRL POWER!
Gostaram? Odiaram? Já esperando ansiosamente os comentários de vocês. VOCÊS SÃO TOPS E EU TAVA COM MUITA SAUDADE!!!!
Um beijo e um arranhão na nuca. Amo vocês