Apenas mais alguns centímetros era tudo o que precisava.

Ela ficou na ponta dos pés, seu corpo ereto e o braço alongado na tentativa de alcançar o objeto. Podia sentir a textura aveludada da capa roçando a ponta de seus dedos, mas esse era o máximo que conseguiria chegar.

Dobrou parcialmente os joelhos e impulsionou-se para cima, sendo rápida em erguer o braço e arrancar o livro da estante empoeirada — deixando-o livre de suas próprias mãos enquanto ele caia numa direção que não foi capaz de enxergar.

Quando seus pés tocaram novamente o chão, ela buscou pelo item perdido, satisfeita ao encontrá-lo próximo ao balcão de mogno que avistara ao entrar.

A recepcionista olhou-a com reprovação evidente, mas a menina foi rápida em recolher o livro do chão e retirar a carteira da bolsa.

— Esse livro é caro — observou a senhora de pele plisada; seus cabelos possuíam um tom desbotado de cinza, mas apesar da idade as orbes azuis impactantes brilhavam com intensidade.

Ela assentiu, consciente. Havia se ocupado obstinadamente em completar o maior número de missões possível — quase todas envolvendo altas recompensas — , tudo apenas para este momento.

Seria vergonhoso se agora, em frente ao caixa, fosse incapaz de pagar.

— Quanto?

A mulher girou o livro entre os dedos delgados, e com a outra mão apontou uma miúda etiqueta no canto esquerdo da capa.

— A Juvia vai levar — ela confirmou a compra, retirou as moedas do recipiente e após contá-las postou-as no balcão.

A atendente esticou a mão e arrastou a quantia em sua direção. Após uma minuciosa inspeção, decidiu que o valor entregue estava correto e estendeu uma delicada sacola azulada de papel a sua frente.

— Obrigada — a maga ergueu a mão, pronta para tomar para si o conteúdo da bolsa, mas a senhora não pareceu disposta a soltar.

Ela ergueu o olhar e se surpreendeu com a forma que a mulher encarava o livro. Era quase como se estivesse hipnotizada, tomada pelo instinto de proteção sobre algo de grande apego emocional ou valor simbólico.

Deu um leve puxão na sacola, começando a se irritar com a insistência da mulher em não soltá-lo. Voltou a mirar o objeto apetecido, pigarreando levemente ao notar que a senhora, gradativamente, puxava-se para fora de seu estranho e momentâneo transe.

Sem uma palavra, o peso a bolsa recaiu completamente sob suas mãos, e ela prensou a alça contra a palma, lançando olhares desconfiados à bibliotecária.

Sucumbindo à exaustão e ao ávido desejo de ler seu livro, Juvia migrou na direção oposta, pronta para atravessar a sala e abandonar a livraria.

— Senhorita... — a voz rouca murmurou por detrás dela, mas a menina não se virou.

Alguns sons de mudança de páginas foram ouvidos, e palavras voltaram a ser ditas.

— Tome cuidado... conhecimento pode ser mias perigoso do que imagina.

Deu uma última olhada no livro e o deslizou por dentro da bolsa entreaberta. Foram segundos antes que as palavras entalhadas em dourado fugissem de seu campo de visão e fossem ocultadas pelo tecido negro, ganhando significantes vislumbres de um olhar agora curioso.

Por fim, decidindo que tudo não passara do delírio de uma pobre e atormentada vendedora, ela girou a maçaneta e saiu porta afora, sem se preocupar em olhar para trás.

Seus passos ganharam velocidade à medida que sentia a brisa gélida contra a pele descoberta, intensificando o arrepio; mas o real motivo era o simples desejo de se afastar.

Subitamente, quase se arrependeu por sua compra.

Tinha um mal pressentimento em relação àquele livro, quase como se algo tentasse alertá-la a voltar à livraria e devolvê-lo — quase como se houvesse algum perigo na simples junção de frases organizadas e unidas por uma capa dura.

Ergueu a cabeça, tentando livra-la dos pensamentos, e marchou em direção à Fairy Hills.