→ Part I: The Games

Minha mandíbula trincou.

Você não vai gritar, Johanna. Não vai dar esse gostinho para eles, pensei. Mas, como sempre, um maldito gemido escapou dentre os meus lábios.

Meus pulmões enchem-se de água cada vez mais e mais. Minha cabeça lateja de dor e posso sentir o sangue se esvair do profundo corte que há em minha testa. Rapidamente, a escuridão do aquário gelado foi se tornando vermelho. Vermelho de sangue. Do meu sangue.

— Vamos, bonitinha. — a voz do desgraçado da Capital inundou meus ouvidos. Ele me tirou de dentro d’água. — Você só precisa falar.

Mais adiante, perto da porta de metal, eu pude vê-lo. O querido Coriolanus Snow me encarava com seus olhos azuis, a barba roubada do bom velhinho e o nojento cheiro de rosas e sangue. Seus olhos brilhavam de raiva.

Senti um dos pacificadores chutando minhas costelas, o que provavelmente me proporcionou o dano de um ou dois ossos quebrados. Meu rosto se contorceu de dor involuntariamente.

— Vocês... — minha voz soou mais fraca do que eu esperava — Vocês ainda vão arder em chamas.

Gargalhei de minha própria piada.

Senti a raiva daquele presidente nojento.

— Mais uma vez. — ele ordenou

Merda, merda, merda! O inferno vai começar novamente.

Quatro homens vestidos de branco — pacificadores — prenderam meus braços e pernas com cordas, enquanto eu me debatia freneticamente. Bando de fodidos. Queria ver se fosse com eles. Mal tive tempo de manda-los para bem longe, quando outra vez me jogaram no aquário cheio d’água e fecharam a tampa acima de mim.

Minha respiração estava presa: uma tentativa totalmente superficial de não perder o pouco oxigênio que meu corpo ainda possui.

Idiotas. Podem me afogar quantas vezes for preciso.

Um misto de pavor e ansiedade toma meu corpo quando, através do vidro do aquário, vejo o presidente Snow rir.

Ali, naquele ponto bem no finzinho do cérebro, naquela minúscula parte da cabeça, cujo nomearam de consciência, tenho certeza de que algo de ruim está por vir. Ainda pior do que as torturas que eles já me fizeram passar.

Quando minha mente está se perdendo em meio ao frio gélido da água, eles me puxam de volta ao chão. Cuspo o máximo de água que consigo, mas sei que meus pulmões ainda estão inundados de liquido.

— Onde ela está? — Snow me pergunta, ríspido.

Eu apenas sorri para o velho a minha frente. E então puxei o resto da água que ainda havia em meus pulmões e cuspi em seu rosto.

A face do presidente tornou-se púrpura e ele se aproximou de mim com uma mão levantada, pronta para bater em meu rosto. Meio segundo depois sinto o soco atingindo minha boca. Rio internamente. Como se aquilo fosse me afetar... tão ingênuo.

Confiro mentalmente meus ferimentos. Primeiro: o corte em meu antebraço, um desperdício de sangue, já que não consegui tirar o rastreador. Segundo: a cratera que tem na minha testa, um pequeno presente de Brutus. Terceiro: esses meus dois ossos quebrados. E por último, mas não menos importante: não posso ver, mas sei que meu lábio inferior está rasgado e sangrando, graças ao soco do presidente.

É claro que a mão dele está pior. Idiota. Poderia ao menos ter aprendido a socar alguém decentemente.

— Onde ela está, Mason? — ele pergunta novamente, com mais ameaça em seu tom de voz. — Eu sei que você sabe, vadia, você tirou o rastreador do braço dela.

— Ah, não, meu querido Snow. — cuspo as palavras, enquanto sorrio falsamente. — Eu apenas rasguei o braço da Katniss por que é muito divertido ver o sangue de pessoas jorrando. — minha doce voz começa a soar com sarcasmo e raiva. — Aliás, mais divertido do que isso, somente assistir a vinte e quatro adolescentes se matando. Quero dizer, você é especialista nisso, como não percebeu que aquilo só fazia parte do show?

Seus olhos, que antes penetravam os meus com tamanha intensidade, se viram para os pacificadores e ele assente com a cabeça.

Certa vez, lembro-me de Finnick contando como era a dor do choque de uma enguia elétrica.

— Não importa o quanto você tente sair, Joh, seus músculos ficam paralisados enquanto sua pele queima lentamente por dentro. — ele dissera. — É uma dor horrível, quase não tem como descrevê-la. Você sente o seu coração se acelerando e chega uma hora em que pensa que ele vai parar e você vai morrer.

— Você já sentiu isso? — perguntei.

— Só uma vez. Eu fui nadar no 4, e uma enguia pegou o meu pé.

Sem dúvida nenhuma, o que eu senti foi pior do que aquilo, multiplicado por vinte e quatro, talvez.

O número de tributos levado aos Jogos.

Choques elétricos percorreram todo o meu corpo, enquanto eu me contorcia desesperadamente de dor. Dessa vez não consegui prender ou abafar meu grito, aquilo era insuportável. Tal como Finn descreveu, meu coração ia à mil. Chegou um momento em que pensei que ele não conseguiria força o suficiente para continuar batendo. Eu pensei que ele fosse parar. Na verdade, tentei concentrar minha mente em meu coração, para não pensar na dor e não enlouquecer tão rápido.

O que era inútil.

Eles me eletrocutaram mais uma vez, e então meu corpo relaxou. Mesmo assim, meus músculos estavam paralisados e eu arfava de dor.

— Fale, Mason. — ordenou pela terceira vez, o Snow.

— Só quando eu puder te eletrocutar lá onde o Sol não bate. — consegui forças para abrir um meio sorriso desafiador, enquanto ele me encarava.

E mais um grito de dor.

Felizmente ou não, mas o grito não pertencia a mim.