Dark as night. escrita por ThEmzi


Capítulo 15
Vamos brincar.


Notas iniciais do capítulo

Demorei, sim, porque criatividade me faltava e eu quase morri por conta disso. :c Sem falar na preguiça.
Mas agora que as aulas voltaram, naturalmente a criatividade voltou junto. IAUHSAUIASH Aí está o capítulo pra vocês, boa leitura!



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Eu duvidava que dragões realmente lançassem bolas de fogo pela boca, mas Lael meio que fez isso, mas não foi bem uma bola de fogo. Uma luz cinza saía de dentro da boca do dragão e formava uma pequena esfera que caberia dentro de minha mão fechada, esta flutuou por alguns segundos e voou numa velocidade incomum até a porta, explodindo-a. Estilhaços da madeira voaram em todas as direção, me protegi com o braço e esperei a poeira baixar até que pudesse avançar junto à criatura para fora da cela.

Não foi preciso que ele me dissesse, corri na frente dele, deparando-me com guardas vindo em minha direção. Estava em êxtase, a adrenalina passava por todo meu corpo. Desviei do golpe da espada do primeiro que me atacou, Lael surgiu na parede exatamente ao meu lado e saltou no segundo guarda, mordeu seu pescoço e arrancou boa parte de sua carne; sangue espirrou e jorrou do homem. Outros três ainda vinham, olhei para trás e notei que não havia saída senão a qual os guardas usaram.

– Chute-os. – Disse Lael, eu podia ouvi-lo sorrir em minha mente.

– Como é? – Indaguei.

– Chute-os. Agora! – Gritou o dragão.

Chutei o primeiro dos três que vinham e o vi voar para trás, levando os outros dois consigo até que tivessem atingido a parede. Seus ossos emitiram um som audível quando quebraram e, em seguida, ouvi o barulho que os demais prisioneiros naquele lugar faziam de dentro de suas celas.

– Você consegue soltá-los, Lael?

Ele afirmou com a cabeça. Corri para a única saída e fitei o corredor no qual estavam todas as celas e observei enquanto o dragão ia até o final. Uma a uma, as portas eram explodidas por ele. Quando soltos, os urros e gritos histéricos de empolgação me invadiram os ouvidos e logo vi os agora fugitivos vindo atrás de Lael, ele bem mais à frente. Eu corri para fora dali, deparando-me com mais um dos vários luxuosos corredores do castelo.

A gritaria e bagunça que faziam os fugitivos perturbava até mesmo a mim, mas realmente não me incomodavam a ponto de me fazer parar de correr.

Eram homens e mulheres, até mesmo adolescentes e algumas poucas crianças, os fugitivos vinham em meu encalço, eu já não sabia onde estava Lael. Por onde passavam, levavam consigo algo do lugar ou deixavam marcas de destruição.

O vestido me incomodava durante a agora caminhada, podia-se dizer que eu estava bem vestida, porém maltratada, o que me livrou de ser algo dos prisioneiros em fuga, os quais acertavam todos os que estavam pelos corredores e que eram criados e até mesmo ajudantes de Dieo Merno. Sem contar os guardas que por ali estavam e que a cada novo segundo surgiam na tentativa de pará-los.

Ouvi soarem um alarme dentro de poucos segundos, e logo um marchar forte fez-se audível por todo o castelo.

– Lael! – Gritei à procura do dragão, olhando em volta.

Ele veio do alto, voando, agarrou-me pelos ombros com as garras e jogou-me no ar de modo que caísse em suas costas.

– Eu falei para não se separar de mim, Thena. – Advertiu ele, senti uma pontada de dor na cabeça. – Aprenda a se controlar. Você pode sozinha e eu também, mas somos melhores juntos.

– Desculpe-me.

Lael avançou ainda mais rápido em seu voo, ele parecia saber onde ia, ao contrário de mim.

– Aprenderá a ver o que vejo, não se apresse. – Disse ele, mergulhando por um lance de escadas.

Éramos só nós dois ali agora, e tudo que eu podia ouvir eram os gritos e sons de luta entre fugitivos e guardas nos corredores que havíamos abandonado.

– Onde pensa que vai, Thena?

Era Refioh, a poucos metros abaixo de mim, ele ria. Consegui entender pela mente de Lael que tentaríamos passar direto, ignorando-o, mas meu dragão entrou em estado de alerta e pousou diante do garoto.

– O que houve? – Perguntei mentalmente.

– Tenho vasculhado sua mente e sei que que se pergunta como o garoto enxerga. Bom, ele é realmente cego, mas não está sozinho. – Disse-me Lael. – Você não poderia sentir porque assim como apenas Nascidos sentem uns aos outros, apenas um dragão sente o outro.

Olhei diretamente para o garoto pálido de cabelos e olhos claros diante de nós assim que pousamos.

– Observe bem, Thena. – Lael mandou, estreitei os olhos.

Como se houvesse mais nitidez e claridade, lá estava o pequeno réptil enrolado ao pescoço de Refioh como um lenço, a pele era branca e lisa, com a mesma tonalidade de seu nascido.

O garoto fez-se falsamente inocente e sorriu com verdadeira alegria.

– Ah, vocês podem vê-lo? Cardo não é linda?

– Cardo? Linda? Isso é fêmea? – Resmunguei.

– Esse não é o ponto, Thena. Não poderemos sair tão facilmente. – Advertiu-me meu dragão negro. – Ele é um nascido experiente com seu dragão, e nós acabamos de nos unir.

– Será que o rei Dieo me deixa matá-los? Voil e Zaaer não devem se aborrecer também. – Seu tom de voz me lembrou uma criança mimada.

A maneira que Refioh disse aquilo não me agradou, e não tive muito tempo sequer para piscar quando sua expressão mudou. Rugas ficaram visíveis em sua testa e os olhos estavam estreitos.

– Fique alerta, Thena. – Sussurrou Lael.

Um segundo, foi o tempo que demorou para o dragão branco lançar-se contra mim como uma flecha, rápida e certeira. Lael empurrou-me e eu caí rolando. Refioh gargalhou e correu rapidamente até mim, totalmente fora do normal, mas já não me era mais uma surpresa. Num momento estava a metros de mim, no outro estava em cima de mim. Seus olhos estavam azuis, e suas mãos formavam estacas de gelo. Minha cabeça era o alvo. Desviei do primeiro golpe, o gelo furou o chão.

– Aguenta aí, eu já... – Lael foi atingido por Cardo antes mesmo de terminar sua frase.

Ainda em uma boa dose de adrenalina, me vi sorrindo larga e sadicamente, Refio pareceu e estava surpreso. E mais: assustado.

Com o punho direito, acertei seu queixo em cheio, o garoto voou contra a parede ao meu lado, quase fazendo um buraco na mesma. Cardo voou até se Nascido como que em desespero. Lael se colocou à minha frente e rosnou, esperando que eu ficasse em pé também e, quando o fiz, mantinha o sorriso no rosto, de orelha a orelha.

– Está se descobrindo, garota. – Riu meu dragão.

Cardo ajudou Refioh a se recompor e logo nos encarávamos novamente.

– Você é boa, mas não tem controle e não sabe do que é capaz. – Disse o menino em tom de ameaça.

Seus dentes estavam visíveis em demasia, e me lembrei de Hyth imediatamente. Não me era uma boa lembrança. Recuei um passo e Lael fez-me parar com o rabo, seus espinhos tocando minha coluna e me fazendo ficar ereta. Quis fuzilá-lo com os olhos, mas tinha algo mais importante para me preocupar, e esse algo a mais era realmente letal.

– Respire e se acalme, você é melhor e mais forte que eu. Eu sou melhor e mais forte que ela. – Lael dizia em minha mente, enquanto isso eu via o garoto modificar sua face, os caninos crescendo bem diante dos meus olhos.

Não bastasse Refioh, Cardo começou a crescer, alcançando o tamanho de meu dragão e até mesmo ultrapassando-o, fazendo-me engolir em seco conforme a via aumentar cada vez mais e fazer com que Lael se tornasse quase uma pequena lagartixa se comparado a ela.

– Tem certeza? – Indaguei irônica. – Como ela faz isso, Lael?

– Todos nós fazemos!

– Como?

– Assim como ele faz aquilo. – Apontou com o focinho para um Refioh mais selvagem. – Você pula alto, muito, muito em três, dois...

Lael não finalizou a contagem e pulamos juntos no exato momento em que Refioh e Cardo atacaram. Destruímos o teto e alcançamos o andar superior no pulo, não senti dor alguma, apenas um leve baque quando meu corpo atingiu a estrutura. Destroços caíram e começamos a correr. A dupla inimiga surgiu no segundo seguinte e não precisei que meu dragão negro me instruísse a pular em suas costas, simplesmente o fiz.

Disparamos em fuga, algo me dizia que a perseguição não acabaria até que algum de nós acabasse morto. Eu estava mais que certa de que seria eu ou Lael.

Ri comigo mesma e Cardo gritou, abrindo a bocarra e lançando estacas de gelos contra nós. Então eles tinham realmente uma relação, e tudo voltado ao gelo. Lael quebrou uma janela e observei a lua no céu. Então era noite. Lael gargalhou em minha mente. Tive outras prioridades, depois perguntaria o motivo da risada.

Não havia nuvem alguma no céu, tive tempo de perceber. As ruas estavam vazias, ao menos as que eu conseguia enxergar, tamanho era o castelo. As torres se erguiam à nossa volta e nos faziam ter que desviar a todo instante, a cada novo ataque de Cardo e Refioh com suas estacas de gelo. Eu não queria virar uma escultura gelada se acabasse sendo atingida.

Voamos alto, os dois ainda vindo atrás de nós. Me coloquei de joelhos sobre Lael e vi o dragão branco abrir a boca novamente, mais estacas de gelo, pensei. Meu dragão negro era bem menor, mas era rápido e parecia não se cansar, então não era de grande esforço desviar e fugir das investidas. Ele pareceu contrariado quando me virei na direção de Cardo e aos poucos comecei a inclinar o corpo.

Saltei e me lancei contra o garoto, mas vim do alto, colando os braços ao corpo e ganhando cada vez mais velocidade. Lael me advertiu, mas não fui capaz de realmente ouvi-lo. Alcancei Refioh em dois segundos e o derrubei de Cardo. Em seus olhos azuis, fui capaz de vez os meus próprios: negros como a noite.

Ele urrou contra meu rosto e eu o atingi com um soco.

– Não deixei você abrir a boca! – Zombei.

Minha mão estava revestida por uma grossa camada como quando havia lutado contra as sereias, mas estava preta e cada vez mais espessa. E eu sentia cada vez mais meus nervos e músculos se retesando. Era uma sensação maravilhosa, a qual eu não queria que parasse. Refioh urrou uma segunda vez e atingiu-me no braço com uma estaca de gelo, a qual fez um corte que logo começou a sangrar.

Descíamos em alta velocidade até que caímos sobre uma das torres, destruindo e derrubando-a. Caímos logo ao lado sobre o telhado, ambos rolando. Eu tinha meu braço ferido enquanto Refioh parecia conter os gemidos do único murro que recebera. Olhei para o lado a tempo de ver Cardo se aproximar em alta velocidade, minhas opções estavam entre correr na direção oposta ou avançar contra ela ou até mesmo contra Refioh. Logo atrás dela estava Lael, mas ele não conseguiria chegar até mesmo antes dela. Não pensei muito e saltei, alto mais uma vez, o suficiente para poder ver melhor toda Allter. Logo abaixo de mim Cardo abriu a boca, pronta para me mastigar, mas Lael apanhou-me no ar.

– O que está fazendo? – Indagou ele, incrédulo.

– Me divertindo. Faça um pouco disso também. Aposto que não vive algo assim há muito tempo.

– Nossas vidas não são brinquedos, Thena.

– As deles são para nós. Vamos.

Lael revirou os olhos, e só fui capaz de notar pois pulei na frente dele rumo a Refioh novamente. Eu não era realmente capaz de explicar o porque de me sentir daquela maneira, só me sentia segura o suficiente para saber que não correria mais riscos de morte e que não deixaria ninguém mais morrer por minha causa. Lembrei de minha família e de meus amigos, papai e Neah, Joko e os outros ficariam orgulhosos de mim. Tudo que eu esperava é que estivessem vivos e perfeitamente bem. Infelizmente não havia como ter certeza, mas esperança era tudo que eu tinha para agora.

A camada escura sobre minha mão ficou ainda mais grossa quando alcancei o telhado novamente, frente a frente com Refioh, esmurrei a estrutura para apaziguar minha queda, mas o som estrondoso foi, certamente, uma surpresa para qualquer pessoa nas proximidades e dentro do castelo.

– Vamos brincar. – Bufou o garoto, vindo até mim em questão de segundos mais uma vez.

Consegui desviar, ainda sem ter certeza de como, apenas o fiz, como se previsse seus movimentos, ou como se simplesmente o tivesse sentido se aproximar de mim. O garoto agora estava revestido por uma camada de gelo a fim de se proteger, como uma armadura, e foi fato que isso dificultou meu ataque.

O gelo apenas rachou quando investi, esmurrei-o uma, duas, três vezes até que uma rachadura fizesse realmente com que o gelo parecesse a ponto de quebrar. Praguejei mentalmente e pude ouvir Lael fazendo o mesmo, mas isso enquanto lutava contra Cardo. Onde estava a história de que éramos melhores juntos? Não era aquele o ponto principal. Foquei-me no garoto quando foi sua vez de vir até mim. Suas mãos me lembravam o rabo de Lael, espinhos de gelo sobressaíam e aumentavam a cada vez que eu desviava ou me defendia com minhas mãos, agradecendo pela camada que as revestiam. Meu braço cortado havia sido curado e o rosto de Refioh já não parecia ferido.

O garoto dava um passo e mais outro, e mesmo sendo menor que eu, era difícil conseguir me concentrar realmente no que ele estava fazendo devido a velocidade que ele exercia em seus movimentos. Seu rosto era um misto de fúria, sadismo e selvageria. Provavelmente meu rosto não tinha uma expressão muito diferente. O vestido era realmente um problema, mas eu ainda conseguia pular e abaixar todas as vezes que Refioh tentava me atingir pela lateral. Consegui segurar seu pulso e o levantei, girei-o e o lancei contra uma das torres próximas. Cardo desviou sua atenção de Lael e correu para o Nascido. Meu dragão fez o mesmo, eu saltei sobre suas costas e quando dei por mim, ele havia aumentado de tamanho. Suas asas estavam enormes e ele parecia mais rápido, eu já não sabia dizer. Cardo havia “abraçado” o garoto com as asas após diminuir seu tamanho. Ele tinha o rosto rachado e um grande corte na bochecha e nos braços agora visíveis, fui capaz de ver de onde estávamos. Mas também fui capaz de notar algumas breves mudanças que não me eram sinais positivos.

Refioh contorceu-se por alguns segundos até seus olhos tornarem-se vermelhos como sangue, o mesmo aconteceu com Cardo.

– É bom se preparar de verdade agora, não é mais uma brincadeira. – Disse Lael.


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